Blog do Pedro Hauck: abril 2017

30 de abril de 2017

Neve na trilha

O dia amanheceu preguiçoso no lodge em Tengboche. Mas foi olhar pela janela da construção para  ter uma grande surpresa: tudo estava branco!

Tomamos nosso café da manhã e já nos colocamos à marcha. A nevasca deixou tudo muito mais bonito e mágico.

O primeiro trecho era composto por uma Matinha. Teríamos que caminhar por seu sub bosque. O branco da neve deu uma cara de filme de conto de fadas. Os locais caminhando de um lado a outro e a arquitetura medieval das casas eram ingredientes para essa sensação.

Chegamos no fundo do vale. O Dudh Khosi estava com uma cor celeste. Tivemos que esperar uma caravana de dzopkio cruzar uma ponte suspensa. Foi outra cena de filme.

Paramos para almoçar em Shomane. Parte do grupo demorou a aparecer e os que vieram antes começaram a passar muito frio. Mal terminei de comer e já voltei a caminhar.

Cruzamos a cidade de Pengboche e entramos num planalto. Estava tudo branco e quando percebi estava andando no meio de monges tipicamente vestidos e uma caravana de yaks. O sino no pescoço deles ditaram meu ritmo até perto de Dingboche, nosso destino.

Ficamos num lodge modesto, porém muito confortável para a região. Comemos muito bem e ficamos tranquilos, pois o próximo dia era de descanso.

Mesmo assim todos despertaram cedo. O dia amanheceu lindo com céu azul pela primeira vez. Podíamos ver e nos impressionar com a beleza e opulência do Ama Dablan em nossa cara.

Eu queria subir algo para melhorar a aclimatação. Acabou que o grupo todo gostou da minha idéia de subir uma montanha de 5 mil metros e foi o passeio do dia.

No entanto um vento gelado soprou forte das grandes montanhas. Este vento mandou para longe as nuvens, mas impediu que subissemos além dos 4700 metros, mas ok.

Voltei ao hotel e deixei o tempo passar. Conhendo a vila e sua paisagem.  No final até me encontrei com a Lisete Florenzano que também estava guiando um grupo.

No entanto nem todos estavam bem. Alguns clientes não se deram bem com a altitude e sofreram bastante, mesmo com os dias de descanso e a ascensão lenta e gradual. Thiago era o quem menos se aclimatou. O dia seguinte seria uma provação para ele.

Yaks na trilha

28 de abril de 2017

Tengboche o mosteiro mais importante do Khumbu

Após um dia de descanso em Namche enfim partimos da capital sherpa para adentrar mais no vale do khumbu.

Deixamos a cidade pra trás com o belo mirante que dava para ver o Kongde e o Thamserku, duas belas montanhas de 6 mil metros. Porém uma poeira encobriu o céu e não pudemos ver o Ama Dablan, que no alto de seus 6817 metros é a montanha mais impressionante da região.

No entanto o caminho não deixa de ter seus encantos.  Religiosos, os locais entalharam nas pedras mantras budistas. Stupas, muros de orações e as próprias construções no caminho são belezas do local.

Após um trecho sem desníveis chegamos em Sanasa, onde a trilha se divide. Para cima se vai para Gokio e para baixo é o caminho normal para o base do Everest.

Ali a trilha desce vertiginosamente. Rodrigo Madá,  um colega de Curitiba contou 119 curvas até o rio que é atravessado por uma bela ponte suspensa.

Pouco adiante paramos para almoçar em  Phungitanga num agradável restaurante na beira trilha.
O tempo até então agradável começa a dar cara que vai mudar. Nuvens escuras fecham o céu e um vento gelado obriga a todos se agasalhar.

Reúno um grupo de pessoas e decido partir antes que todos terminassem a refeição. A idéia era se aquecer e chegar em Tengboche antes da chuva.

Dali a trilha ganhava altura bruscamente, em zigzags intermináveis. Bem alimentado, não tive dificuldades até enfim chegar no portal do mosteiro onde Raats, um de nossos sherpas nos esperava assinalando para onde iríamos dormir.

Entrei no lodge, tomei um chá e fiquei sabendo que estava ocorrendo um ritual no mosteiro. Fui até lá ver.

A sala onde estava os monges estava cheia, com vários membros de nosso trekking também.
Encostei numa parede e comecei a ver o ritual. Os monges entoavam mantras, tocavam sinos e as vezes ficavam em silêncio.

De repente mais gente chegou e comecei a ficar incomodado. Ao ponto de aproveitar a carona de algumas pessoas que estavam saindo para sair também.

Preferi ficar ao ar livre fotografando e observando a bela construção budista por fora.

Foi quando alguns membros de nosso trekking saiu para jogar bola num campinho onde monges devidamente vestidos batiam um bolão. Eles gostaram de quando os brasileiros chegaram e nos chamou para a pelada.

Fiquei no começo só observando o jogo surreal.  Mas a altitude cobrou seu preço ao Felipe  (o japonês de nosso grupo) e eu entrei em seu lugar.

Perdemos de 1 a zero. Deus deve ter ajudado eles. E também punido o Bruno que deu uma entrada num pequeno mongezinho. Bruno vinha bem até então, mas depois da dividida com a bola sua aclimatação piorou muito.

O jogo acabou por que enfim começou a nevar.

Mosteiro de Tengboche
Jogo de futebol

25 de abril de 2017

Bate papo com Pasang Tamang Sherpa

Pasang é o mais divertido e extrovertido dos guias locais. Ele é meio Tamang e meio Sherpa, que são etnias diferentes aqui no Nepal. Diferente da maioria dos outros guias, ele fala um inglês melhor e estudou fora. Fez informática na Índia.

Várias dúvidas me assolavam sobre minha experiência até então no trekking.  Muitos me diziam que o Nepal era muito pobre, mas até então o que eu vira se assemelhava mais à suíça que um pobre país asiático. No entanto a existência dos carregadores,  que mais pareciam homens formiga me indicava que ali era o Nepal mesmo.

Qual será o impacto de tanto turismo no vale do Khumbu e seus dólares para os povos da montanha? Será que essa aparente Suíça é real ou é apenas para inglês ver.

No caminho à Lukla, fizemos uma parada forçada em Ramjatar e lá pude ver como é uma vila realmente rural, produtora de alimentos. Uma pessoa que trabalha com turismo, não trabalha produzindo alimentos, será que isso não resultaria numa desestruturação da sociedade sherpa? Será que o turismo não é atraente o suficiente para tirar o homem do campo, provocar migração e desestruturar o setor produtivo rural?

De acordo com Pasang,  sim, o turismo atrai muita gente por conta dos altos salários em dólar. Mas a migração não é tão fácil no vale do khumbu.

Apesar de Namche ter crescido muito, o alto custo de vida de lá impede uma migração ainda maior. A maioria dos trabalhadores vem de vilas distantes, trabalham na temporada, mas depois retornam à seus locais de origens.

O bom do trabalho com o turismo na temporada é que eles podem ter um incremento de renda e reivestirem em suas terras e em suas casas. O problema é que a maioria trabalham em empregos que ganham pouco, como os carregadores. Então seria necessário muitos anos para que pudessem prosperar realmente.

A comida é um grande problema no khumbu. Como o vale é muito alto e escarpado, a produção de alimentos é limitada. O turismo por sua vez absorve bastante a mão de obra local, fazendo que de fato locais como Namche ficasse dependente das vilas mais baixas e de toda a cara e complicada logística para que os alimentos cheguem ali.

É por isso que, quanto mais alto, mais caro.

Isso por sua vez impede uma massiva ocupação do vale dificultando a migração. A construção de uma estrada facilitaria e baratearia a chegada de alimentos e todos os produtos. No entanto poderia inchar o vale de maneira insustentável.

De fato a logística atual, de pôr tudo em pequenos aviões, depois, no lombo de animais e nas costas dos pobres carregadores não paresse sustentável, mas é isso o que impede a invasão das terras altas do Nepal.

O turismo transformou o sherpa numa etnia rica no Nepal. Sorte deles serem de um local tão procurado pelo turismo, mas a mesma sorte não tiveram outros povos que habitam regiões mais baixas.

Para eles resta produzir bastante para os turistas e os vizinhos de cima. O farto número de pessoas permite emprego tanto na produção quanto na complicada logística que só não é mais cara, pois eles ainda aceitam trabalhar naquela condição.

A temporada é dura aos carregadores. Eles trabalham duro durante o dia e ficam em lugares insalubres a noite. Passando frio e sem ter dinheiro para, por exemplo tomar um banho quente. A comida que comem e a água que bebem é cara e  economizar para sobrar dinheiro no final é certeza de muito sofrimento e pouco conforto.

Os animais, como yaks, estão mais caros que a mão de obra humana, isso por que não há pasto suficiente lá em cima e é necessário levar muitos animais com fardos para alimentar a tropa. Por isso os carregadores humanos ainda são essenciais.

Melhorar as condições de trabalho dessa gente impactaria muito os custos das expedições em montanhas e de trekking.  Talvez ficando insustentáveis, uma vez que já são caríssimas. Sem turismo a frágil situação financeira do nepal se deterioraria rapidamente e isso poderia ser ainda pior para o povo pobre.

Ainda não sabemos aonde isso tudo pode levar. Porém fico tranquilo que estamos aqui fazendo tudo diferente, doando todo o lucro do trekking para a melhoria da educação do povo sherpa.

Quem sabe no futuro algum sherpinha Quem estudou na escola de Pattle possa equilibrar melhor as variáveis para que o turismo possa não apenas encantar o estrangeiro, mas também deixar a sociedade nepalêsa mais justa a todos.

Pasang Tamang Sherpa
Aeroporto de Namche. Transporte aéreo
Transporte tradicional
Meninas carregadoras
Animais de carga

18 de abril de 2017

Chegando na capital dos Sherpas

A etnia Sherpa é uma das dezenas de etnias do Nepal. Eles vivem nas regiões mais altas das montanhas, em vales longos onde não há estradas, apenas trilhas.

Por estarem acostumados a andar tanto e por nascerem em lugares altos, eles se tornaram montanhistas perfeitos. Sem eles escalar ou fazer um simples trekking no Himalaia seria muito mais difícil.

Eles descendem dos tibetanos e vivem no Himalaia há 500 anos. Tempo suficiente para terem desenvolvido genes que lhes permitem uma adaptação mais fácil às grandes altitudes.

Namche Bazaar é considerada a capital deles e como tudo na vida de um sherpa, para chegar lá é preciso andar muito.

Começamos a caminhada pela manhã e logo vamos conhecendo melhor a estrutura daquela trilha que é como uma estrada. Há muitas casas, lojas, tea houses e hotel. Uma estrutura urbana.

Infelizmente havia uma névoa no ar e estava difícil avistar as montanhas. Vou percebendo as pessoas que frequentam a trilha. Gente do mundo todo e em grande quantidade.

Há muitos orientais. Japoneses e chineses em grandes grupos. Os indianos são sempre os mais lentos e pior equipados.  Europeus são os mais rápidos.  Há famílias também.  Vejo um casal russo com duas meninas entre 10 e 12 anos com olhos claros como a cor do Dudh Khosi  (o rio principal que nasce no Everest ). Dois sherpinhas esticam o pescoço para as ver passar.

As vilas são bem bonitas, esteticamente dizendo. As construções são rústicas, mas bem acabadas. Há muitos tea houses com placas de café espresso italiano.  Estas construções e a paisagem me fazem pensar estar na Suíça. Porém os sinos não são tocados por vacas gordas, mas sim por bois peludos e chifrudos que carregam a carga dos turistas, o dzopkio uma mistura do yak com a vaca tibetana.

Porém a carga pesada é carregada mesmo pelos portadores.  Provenientes de vilas mais abaixo nos vales, eles são de outras etnias, como o Rai e o Tamang. Alguns impressionam pela quantidade de carga que conseguem transportar.

Muitos carregadores amarram os duffel bags dos turistas, fazem uma alça com a corda e saem andando pela trilha.  Outros levam um cesto nas costas, empilhando acima dele várias mochilas das expedições.

Não deixa de ser um contraste estes homens e mulheres se sujeitando a tão penoso trabalho, transitando por uma trilha com infraestrutura da Suíça.

O começo da caminhada desde se dá percorrendo um vale, com muitas travessias por ponte suspensa. O tamanho dos cabos de aço impressionam. Fico imaginando como o material usado na construção destas pontes chegaram lá...

Em certo ponto a trilha começa a subir e chegamos na mãe de todas as pontes, atravessando uma garganta de mais de 100 metros de altura. Algumas pessoas ficam até com vertigem.

Após este cruzamento de rio, a trilha segue abrupta, ganhando altura rapidamente.  Como subir é minha especialidade nem me importo com o esforço e quando vejo já estou entrando em Namche Bazaar para chegar em nosso confortável hotel.

Ainda é cedo e aproveito para conhecer melhor a interessante cidade com alguns clientes.

Descemos uma viela e chegamos numa rua plana, há uma bela loja de equipamentos de escalada, caixas eletrônicos, pousadas, restaurantes, lojas e cafés.  Paro em um para tomar um espresso com torta por cerca de 8 dólares.

Depois disso vamos andando pelas várias vielas de onde avistamos uma pedra bonita onde pensamos ter vias de escalada. Para chegar lá vamos passando pela periferia da vila, saímos da "Suíça" para entrar na "Bolívia" em poucas quadras.

Entramos num quintal e damos de cara com um homem amassando latinhas de bebidas. Ele nos permite passar. Olho dentro de sua casa e vejo o chão batido e a iluminação deficiente.

Chegamos na tal pedra mas nada de escalada, mas um belo mirante para o vilarejo. Sherpa escala muito bem, mas faz isso para obter renda.

Quem gosta mesmo de escalada por recreação somos nós gringos.

Voltamos a tempo para nosso confortável hotel para o delicioso jantar. As sapatilhas de escalada não saíram da mochila. 

Vila no caminho da trilha
Animais de carga
Trilha do acampamento base do Everest
Carregadores
Pedra com mantra

Namche Bazaar a noite
Rua de Namche Bazaar
Namche Bazaar
Dentro do hotel

17 de abril de 2017

Vôo pra Lukla e primeiro dia de trekking

Acordamos cedo e como era de se esperar houve bastante muvuca para organizar a bagagem de todos os 45 membros do trekking.  Nos dividimos em várias vans e driblando o trânsito da rua chegamos ao aeroporto

O terminal de vôos domésticos estava lotado, tipo filme indiano. Ficamos um tempão esperando o desembaraço para voar. Enfim quando entramos no terminal de embarque Ficamos sabendo que nosso vôo havia sido remarcado para as 11 horas. Mas qual?

Como o grupo era grande, tivemos que fretar 3 aviões. Isso porque o aeroporto de Lukla é minúsculo e só pousa teco teco.

Meu avião foi o último a decolar.  Depois das 13 horas. Um ônibus nos levou até a pista onde embarcamos num bi motor. Ele tinha um corredor e de um lado apenas uma fileira de cadeiras, e no outro duas.

Após mais uma enrolação, enfim decolamos e o caos urbano de Kathmandu foi ficando pra trás. Fomos entrando numa periferia com ruinhas de terra onde casas se alternam com plantações de arroz e enfim passamos a sobrevoar colinas, estas ainda bastante habitadas.

Bum determinado momento o avião fez um rasante para atravessar um passo e pouco tempo depois a aeromoça nos informa que iríamos pousar.

O avião vai descendo um vale e enfim toca a pista, chega na cabeceira e começa a retornar.  Não parece Lukla. Em inglês ouço "this is not Lukla". E não demora para repercutir em nossa língua.
O avião estaciona e o piloto nos informa: Em Lukla está ventando muito. Vamos esperar o tempo melhorar para decolar de novo. Talvez às 15 a gente consiga voar....

Ligo o celular e vejo que pega 3g.  Pelo Google vejo que estamos em Ramjatar. O aeroporto é menor que uma rodoviária, não tem nada a fazer a não ser esperar. Tomados pela preguiça deitamos embaixo da asa do avião e ficamos batendo papo e descansando.

Lá pelas 4 o piloto voltou e enfim conseguimos voar e pouco depois de 20 minutos fizemos um pouso tranquilo no famoso aeroporto de Lukla.

Apressados comemos alguma coisa e logo começamos a andar o resto do grupo já havia saído. Tínhamos uma reserva num lodge em Phakding, 2:30 horas depois.

Saímos quase tropeçando do aeroporto e cruzamos a cidadezinha de Lukla,  que tinha um centrinho muito charmoso com lojas, restaurantes e cafés.  A atmosfera é excelente, uma energia muito positiva. Estava no começo do trekking do mais famoso do montanhismo que já lia a respeito desde que era adolescente.

Saio na trilha junto com Pemba e a Karina e aproveito para perguntar tudo para nosso Sherpa. O nome das árvores, dos animais e das montanhas que dava pra ver.

A caminhada flue tranquilo. Todos andando com bom ritmo perdendo tempo para fotografar e filmar a pitoresca paisagem até que  noite nos pegasse.

Um sherpa começou a se destacar pela felicidade e bom humor. Pasang na verdade era filho de um sherpa com uma tamang.  Ele falava além das duas línguas, o nepali, que descende do hindu e inglês muito bem. No caminho fomos ensinando português pra ele:

_ Vai corinthians 
_ mexe a bunda 
_ Vamos vamos Brasil.


Foi isso o que ele aprendeu na primeira noite.

Chegamos em Phakding a tempo de jantar com o resto do grupo.

Conversamos bastante e logo fomos para nosso primeiro pernoite na trilha

Esperando no aeroporto de Kathmandu
Tirando uma fina com a montanha

Aeroporto de Ramjatar
Aeroporto de Lukla
Centrinho de Lukla
Enfim trilha!
Enfim trilha

7 de abril de 2017

Abençoado

Desta vez acordei bem disposto às 6 da manhã, à tempo de tomar uma ducha quente que só fica disponível deste horário às 9 e das 18 às 21. Fui correndo aproveitar o café da manhã arregado do hotel.

Na volta encontro Marcelo e Karina no corredor, que me contam que iriam participar de um puja. Ouço bastante interessado e me convido a participar, se tivesse lugar. Minutos mais tarde ela me confirma que sim e pouco depois nos encontramos com o Pemba que nos levaria na casa do monge fazer o ritual.

Pemba foi o sherpa que escalou o Everest com a Karina em 2013 e é na vila dele, Pattle, onde estamos construindo a escola com o dinheiro desta expedição.

A casa do lama era um pouco distante, fomos apertados no táxi. Neste pouco tempo em Kathmandu já era impossível não comparar a cidade com outra conhecida. A mais plausível era La Paz na Bolívia. Porém apesar de igualmente caótica e de ter uma "arquitetura" favelática, La Paz é cheia de morros e ladeiras, Kathmandu é plano. Aliás Kathmandu está bem mais mais para El Alto cidade vizinha da capital boliviana, famosa por abrigar o aeroporto. Elas se assemelham, tanto na arquitetura, como pelo relevo, poeira e pobreza. Com a diferença que a cidade asiática têm templos bonitos e a sulamericana não.

Chegamos na casa do Lama, deixamos nossos sapatos para fora e fomos no quarto onde o sacerdote rezava. Sentamos de joelho e ele começou o ritual, rezando e cantando.

Ficamos em frente do Lama para que ele colocasse uma khata no pescoço junto também com um amuleto. Ele pegou a palma de minha mão e colocou um chá aromático que tomei e espalhei o que sobrou no que sobrou do meu cabelo.

Ele repetiu a cerimônia com todos, inclusive com o filho do Pemba de 1 ano, que não deu muita bola para o sacerdote.

Saímos do puja com a permissão dos deuses para escalar as montanhas e fomos aproveitar para conhecer a stupa de Boudhanath que é o maior monumento religioso budista do nepal e que ficava lá perto.

Caminhamos junto com a família de Pemba e chegamos na stupa com suas bandeirinhas e rodas de oração, além dos famosos olhos de Bhuda.

Foi novamente um caldeirão cultural, com monges e turistas do mundo todo contrastando com aquela paisagem urbana tão pitoresca.

O que estou achando mais legal dessa viagem é  a diversidade cultural do Nepal.  Não me ligo em religião, mas é muito marcante como as religiões influenciam nos valores das pessoas do Nepal que são fiéis a estes valores.

Claro que os tempos estão mudando e já estão aparecendo ladrõezinhos e gente maliciosa pela cidade, porém o que noto é que as pessoas ainda não tem ambições materiais e se dedicam muito mais à sua espiritualidade.

Menos os políticos.

Estes valorizam outras coisas.

Recebendo a benção do lama.
A grande stuppa.
Praça ao lado da stuppa
Roda de oração
Pemba, Marcelo, Karina Oliani e eu
Os olhos de buda

Passeios por Kathmandu

Após 36 horas de viagem na qual enfrentei 3 noites, enfim acordei em Kathmandu, porém de ressaca.
Tomei um banho quente para ver se melhorava e fui tomar café, que era um verdadeiro banquete. Ovos mexidos, legumes refogado, arroz, pães,  bacon,  vina. Tinha de tudo! Porém a maldita dor de cabeça afetou meu estômago e tive que sair para não vomitar.

Voltei ao quarto. Me hidratei, tomei um analgésico e fiquei sentado na beira da cama até dormir nessa posição.

O descanso deu certo e pude voltar ao café para enfim comer algo. Lá encontrei a Karina e o Marcelo. Tomamos café juntos e logo após fiquei sozinho para conhecer a cidade.

Era minha primeira vez no mundo oriental e fiquei me sentindo um total estranho naquela multidão de hindus, budistas e muçulmanos. Caras e rostos exóticos, falando línguas exóticas e dirigindo na mão inglesa de maneira caótica nas empoeiradas e estreitas ruas da cidade.

Estava hospedado em Thamel, que é o bairro mais turístico da cidade. Precisava sair de lá e chegar na Durbar Square, um local o de há uma concentração de templos hindus.

Fui andando pelas ruazinhas. Olhava o comércio e ao mesmo tempo tomava cuidado para não ser atropelado por uma moto ou um rickshiw.

Entro em algumas vielas e logo chego na praça, dando de cara com uma cancela, onde tive que pagar 1000 rupias. Um guia tenta me vender seus serviços. Ressabiado, me livro dele e sigo meu caminho, dando de cara com uma carroça rústica gigante que carregava um pinheiro e que estava repleto de crianças em seu interior brincando e escalando o objeto que parecia um monumento e estava lá por uma festividade.

Fico sem saber o que fazer. Em meu lado sadhus, que são homens santos, mendigam,  turistas japoneses tiram fotos e na multidão se misturam várias pessoas com trajes hindus.

Dou meia volta e veja a entrada de um palácio, o de entro e me deparo com um guarda usando roupas Goulag, que eram guerreiros que impediram o avanço dos britânicos no passado.

O palácio pertenceu ao antigo rei, hoje deposto. Tem uma arquitetura indiana rica em detalhes de madeira. Janelas com persianas ornamentadas, balcões e paredes finamente acabada. Porém a obra arquitetônica está bastante arruinada.

Várias partes do telhado, paredes e  rebocos foram abaixo com o terremoto de 2015. Aliás todo o conjunto arquitetônico está pessimamente preservado e tomado de cocô de pombos que infestam a praça.

Saio do palácio e encontro um senhor que me abordou mais gentilmente para ser meu guia, cobrando menos que o guia da entrada da praça. Diante de tanta curiosidade sobre o lugar aceito sua proposta e ele passa a me conduzir pelo local.

No entanto para minha decepção ele fala mais da religião do que da história daquele local. No entanto isso não deixa de ser interessante. Aprendi um pouco do hinduísmo numa maneira bem turista.
Enfim chega a hora de voltar ao hotel e gastar tempo com outras coisas, como comprar um chip de celular nepalês e fazer pequenas compras.

Após o primeiro dia de bater perna enfim consigo estar cansado para dormir no horário local normal.

6 de abril de 2017

Volta ao mundo para chega ao Nepal

Finalmente, após muitos anos consegui conhecer o Nepal, o país das montanhas mais famosas do mundo. Demorou tanto assim porque é longe (e caro) pra caramba.

Pra chegar aqui tive que dar uma volta ao mundo de avião. Saí de São Paulo à 1:20 da madrugada com Fly Emirates rumo à Dubai nos Emirados Árabes Unidos.

Dormi enquanto sobrevoava o Atlântico, acordei sobre o Lado Tchad, na fronteira do Niger, Nigéria, Chade e Camarões. Infelizmente todos dormiam e além disso  estava na fileira central do avião, um gigantesco A380. Fiquei decepciondo pois prefiro ver o mundo lá fora do assistir filmes na TV. Só fui ver o Sahara da janela da porta de embarque,  onde pude ver também o Rio Nilo. Fiquei extasiado por isso.

Cruzamos o grande rio no ponto em que ele faz uma curva de S, facilmente identificável no mapa. Lá observei o motivo: falhas geológicas. Pude também observar vilarejos e plantações tímidas neste trecho sudanês do rio.

Infelizmente tive que ficar preso ao assento na hora de cruzar o mar vermelho. Também estava com fome. Alcançamos a Arábia Saudita à noite novamente, no dia mais curto de minha vida, correndo contra o relógio a 1000km na altitude de cruzeiro.

Chegamos nos Emirados tarde da noite e dormimos num hotel dentro do aeroporto super moderno. O quarto era luxuoso e incluiram no preço todas as alimentações. Porém a longa viagem cansou muito e tive bastante dor de cabeça e nem aproveitei tanto que queria.

Acordamos relativamente tarde, já nem tinha café da manhã. Passeamos pelo aeroporto gigantesco saindo de um terminal a outro e vendo aviões de vários países que são estranhos a nós.  Além dos vários A380 da Emirates, haviam aviões mais modestos de países como Arábia Saudita, Afeganistão, Malásia, Indonésia, Iraque, Kuwait . Imagino a quantidade de cidades que daria para conhecer dali que fazem parte de um mundo tão diferente do nosso que gostaria tanto de conhecer.

Em nosso novo terminal funcionava praticamente a empresa Fly Dubai que nos levaria à Kathmandu.  Ali havia muita gente diferente, além dos árabes com seus turbantes, muita gente como cara de indiano e alguns com cara de asiático.

Quase todos tomaram o mesmo vôo que nós.  Todos nepaleses de diferentes etnias que trabalham pesado nas obras de construção de Dubai, são a mão de obra barata junto com paquistanêses e gente de Bangladesh e filipinas.

No vôo vi as cidades da costa dos emirados, todas muito ricas. Cruzamos o golfo pérsico, cheio de embarcações e logo voamos o deserto do Irã onde vi apenas uma cidade. Mergulhamos na noite novamente e só deu para ver luzes quando já cruzavamos as planícies indianas.

No nepal as luzes se apagaram. O comissário avisou que iríamos pousar e em baixa altitude consegui ver a cidade, bastante apagada apenas com as luzes das modestas residências. Tocamos o chão e já estávamos finalmente em Kathmandu.

Descemos na pista e rapidamente entramos no modesto aeroporto que leva o nome de um antigo rei. O Nepal era uma monarquia até 2008, quando uma revolução transformou o monarca, que era um administrador ruim em civil. No lugar entraram civis que são piores administradores e tão corruptos quanto.

No saguão do aeroporto fiz o requerimento de visto. Paguei 100 dólares,  pois fico no país 36 dias. O oficial que me entrevistou foi simpático e perguntou minha religião.  Queria ser simpático também, porém não sabia o que responder. Não sou religioso,  mas sou ocidental, obviamente sou influênciado pelo cristianismo disse então que eu era corinthiano.

Estávamos com sorte, nossas bagagens não demoraram para chegar na esteira e na saída já tinha gente nos esperando. Fomos ao hotel onde nos encontramos com a Karina Oliani e seu marido Marcelo, a tempo de comer um nachos num restaurante mexicano de Thamel e voltar para tentar dormir.