Blog do Pedro Hauck: junho 2007

17 de junho de 2007

Detalhes sobre a nova expedição: Planejamentos



Finalmente, depois um longo tempo de espera e indefinições fico tendo certeza sobre o que eu vou fazer nesta temporada de inverno nos Andes.

Os planos mudaram completamente. De principio iria eu, o Maximo e o Fabinho para a Cordilheira Blanca no Peru. Entretanto houve vários problemas com meus companheiros.

O Fábio teve que fazer uma cirurugia no apêndice e não pôde mais, e o Maximo teve problemas com seu visto e questões relacionadas à uma série de trâmites burocráticos na Inglaterra.

Fiquei sem parceiros e apavorado, pois desde 2004 tenho vontade de conhecer a Cordilheira Blanca.

Sozinho, não me passava mais pela cabeça enfrentar uma montanha técnica, pois me falta equipamento e coragem. Pensei então em ir para a Bolívia e encarar velhas montanhas já conhecidas por mim em outras viagens em 2001 e 2002.

O desafio era ir sozinho. Entretanto outras dificuldades me esperavam, pois como há anos escalo com o Maximo e compartilho os equipamentos de camping em montanha dele, tive que fazer um investimento e comprar um fogareiro de benzina e uma barraca.

O Fogareiro já está em minhas mãos, mas a barraca ainda não, e pior, o vendedor de quem eu comprei no site do ebay, me mandou a barraca errada!

Por grande sorte, inesperadamente recebi o convite de um amigo que conheci em 2004 na Argentina, dizendo estar precisando de um companheiro para ir à Bolivia. Topei na hora.

Para minha felicidade, este amigo, o Márcio Carrilho, está querendo ir de carro para lá. O que me encheu de ânimo, pois assim poderemos escalar bastante tendo a liberdade de ir e vir das montanhas que escolhermos.

Empolgado, peguei meus mapas da América do Sul e tracei um roteiro, já pensando na aclimatação e em nosso tempo disponível.
Nosso planejamento inicial é este: Confira!

  • Curitiba x Barracão, atravessar a fronteira
  • Barracão x Posadas, Posadas x Resistencia
  • Resistencia x Salta, Salta x Cachi (passando pela cueste del Obispo e P. N. Los Cardones)
  • Cachi x Cuesta del Acay (onde fica o Nevado del Acay, de 5900, onde faremos parte da aclimatação)
  • Acay x San Antonio de los Cobres, S.A.de los Cobres x Paso de Sico (fronteira Chile)
  • Paso de Sico x Socaire (descanso a 3500 metros e escalada em rocha)
  • Socaire x San Pedro de Atacama (descanso)
  • S.P. Atacama x Arica (litoral do Pacífico)
  • Arica x Paso Chungara (Fronteira com a Bolivia)
  • Chungara x Vila Sajama (escalada do Sajama, Parinacota e Pomerata)
  • Sajama x La Paz (escalada na Cordilheira Real, provavelmente Peq. Alpamayo)


Este planejamento, obviamente é provisório. Dependerá de nossas condições físicas e tempo.

Se houver condições escalaremos várias montanhas na Cordilheira Real. Na minha lista de intenções tenho além do Peq. Alpamayo, pela via diretíssima, o Ancohuna e o Illimani.


Entretanto ainda tenho coisas a resolver, como o problema da barraca, da falta de uma bota de trekking (estou tentando firmar um apoio para resolver isso) e também minhas obrigações na universidade. Pois tamanha é minha empolgação que não consigo estudar para fechar meu semestre.

Mapa do roteiro que iremos (provavelmente) seguir nesta expedição

Vou aproveitar este espaço e agradecer a Eportateis por ter me cedido um apoio na qual consegui um aparelho de GPS para esta viagem. Agradeço também ao Tacio por ter me ajudado nesta importante aquisição.

Em breve postarei mais noticias!

3 de junho de 2007

Outra relação escalador mídia: Patrocinios!

Patrocinio, algo tão desejado por uns, e por outros execrado!

Dentre as várias críticas, uma é que tem gente que não aceita se "vender", o que é uma grande besteira, pois dentro de nosso modo de produção capitalista e acumulativo, nós pobres mortais nada mais temos na vida a não ser nossa pouco valorizada mão de obra, a não ser que o escalador "revoltado" não participe desta esfera do sistema (aí também quem se venderia?).

Outra crítica é que o patrocinado perde sua autonomia, e precisa ficar aparecendo toda hora na mídia fazendo macaquices para vender e se adaptar ao público, e não o público à realidade da escalada. Traduzindo, o cara tem que aparecer na mídia fazendo rapel, enquanto que o que ele queria era escalar a Trango Tower.

É galera, se a gente tem que dançar a música, então é preciso rebolar... Não dá pra sonhar com o patrocinio sem ficar dependendo da mídia, mas isso é ético?

Novamente caímos naquela velha questão! E aqui as coisas se divergem.

Patrocínios não são filantropia. O Patrocinador tem interesses de marketing com o patrocinado.
O marketing esportivo é uma super ferramenta para se criar mercados. Tanto é que anualmente as empresas gastam uma fortuna divulgando suas marcas em atletas, eventos, equipes etc... Quem é que não consegue fazer uma analogia entre a seleção brasileira e a Nike, a Vodafone e a Ferrari, a Toyota e a Copa Libertadores.... a lista é grande, não preciso ficar citando exemplos.

Você sabe quanto custa no horário nobre da Televisão uma cota de 30 segundos para a divulgação de um comercial na Globo? Uma fortuna, algo como uns 200 mil reais!
Imagine quanto que o patrocinador de um time de futebol não iria gastar para fazer um comercial de 90 minutos no domingo à tarde? Muito mais que dar um patrocínio para o Corinthinas! pode ter certeza!!!

São estes os cálculos que fazem valer um patrocínio. O quanto aparece a marca, por quanto tempo e qual a potencialidade de consumo deste espectador.

Agora imagine que a final da Copa do mundo foi televisionada em todos os países do mundo. Até o Bin Laden deve ter assistido!
Imagine o quanto que uma empresa querendo vender seu produto não gastou para ter seu nome no estádio do final da Copa!

Pois bem, com o escalador a lógica será a mesma, mas em uma escala muito menor, é claro! Afinal as marcas que produzem equipamentos de escalada e montanhismo tem um público muito mais restrito, e os escaladores aparecem na mídia muito menos que o Ronaldinho.

Os escaladores patrocinados tem uma missão: aparecer, para vender e conseguir sobreviver!

Para que isto ocorra, num cenário nacional, muitas vezes é preciso apelar para um público muito mais abrangente, e assim ser rotulado não como um escalador, mas como um esportista "radical", e aí vc vai ter que fazer um monte de coisas para aparecer e sua montanha vai ficando cada vez mais distante.

Obviamente tem as pessoas que são muito boas no que faz e conseguem um "patrocinio" na base da filantropia mesmo. No próprio montanhismo há pessoas completamente anônimas para o público geral, mas que têm patrocínios, mas cara merece, mesmo que ele não apareça na mídia!

Mas por que no Brasil há tão poucos escaladores profissionais?
Isso é realmente uma lástima, pois temos evoluído muito nos últimos anos com gente se destacando em todos os segmentos da escalada, seja esportiva, tradicional, alta montanha etc...
Posso citar o caso do meu amigo e companheiro de cordada Maximo Serantes. Ele tem se destacado e virado "lenda" das histórias de acampamentos bases mundo afora, fazendo escaladas técnicas, inéditas e solitárias em vários lugares no mundo, como no Ama Dablan no Nepal, Quitaraju no Peru e Korjenevskoya no Tadjiquistão.

No Brasil ele ralava como técnico de informática e professor de espanhol, mal dava pra ganhar a vida. Ele acabou migrando para a Inglaterra e trabalhando muito, cerca de 70 horas por semana, conseguiu comprar seus equipamentos e ter dinheiro para as expedições no Himalaia, ao ponto de ter o reconhecimento de expedições no Himalaia, que ele tem trabalhado como guia internacional, algo que não sei se outros brasileiros já conseguiram.

O Maximo conseguiu algo que poucos latino americanos conseguiram, entretanto não conseguiu se livrar de um problema que atinge 9 entre 10 atletas da América Latina, a falta de apoio.

Muita gente acha injusto alguém com o "curriculum" que o Maximo tem não ter patrocinio. Pior, não podemos culpar a falta de divulgação dos feitos do meu amigo, pois junto comigo editamos um dos websites mais conhecidos e completos sobre alta montanha no Brasil.

O que faltou neste caso?

Melhor eu nem dar minha opinião... (Qual é a sua?)

Bom, este pode ser um outro motivo para os escaladores execrarem os patrocinios. Juntem todos os outros fatores que eu citei para se chegar ao final e não ganhar nada, só perder tempo fazendo rapel para aparecer na TV e não dedicar nosso tempo e dinheiro (conseguido trabalhando) para ir à Trango Tower.

A lógica do patrocínio eu falei, não se trata de filântropia, mas sim de um marketing ético (tem que ser!). A mídia faz parte deste universo, mas a receita do bolo que faz existir um professionalismo no cenário das escaladas nacionais, parece que não sai da assistência filantrópica... infelizmente!

Maximo em 2000 escalando na Patagônia. piolet de madeira, anorak de brexó, calça costurada à mão com preenchimento de lã de vidro, tênis e um crampon (a gente só tinha um par, eu estava com o outro pé!). Por grande ironia esta foi nossa expedição mais bem divulgada...