Blog do Pedro Hauck: julho 2014

30 de julho de 2014

Viagem de carro para a Bolívia passando pela Argentina

São cerca de 3400 km de estrada, muito chão e muitas paisagens.

Saímos de Curitiba, Maria Ulbrich e eu, rumo a Barracão (PR) num dia com muitos imprevistos, estrada em obras, acidentes e chuva torrencial. Primeira noite na fronteira com muita neblina e frio do inverno paranaense.

No dia seguinte, muita descida até a calha do rio Paraná em Eldorado, província de Misiones. Em Posadas já chegamos a 200 metros de altitude e mais tarde, em Corrientes, onde passamos o rio, apenas 80.
Longa noite saindo da pampa úmida para a pampa árida, região natural do Chaco argentino, noite na cidade de Pampa del Infierno que no inverno é bastante fria.

Mais um dia de muita planície adentrando a província de Salta, mas passando longe de sua bonita capital, indo parar em Jujuy, onde começamos a subir a cordilheira, na quebrada de Humahuaca. Pegamos o anoitecer em Tilcara, mas só fomos dormir na fronteira em La Quiaca, minha terceira vez por lá.

Foi a primeira noite na altitude da viagem, 3500 metros. Sono difícil, frio, secura no ar. Acordamos cedo para chegar rápido na Bolívia, ilusão, demoramos 3 horas para fazer os tramites.

Uma vez na Bolívia, parada a cada 15 minutos para "tirar água do joelho", pois beber água é a estratégia para aclimatar rápido. Graças a isso evitamos uma multa por excesso de velocidade. Nunca tinha visto a polícia boliviana com radar móvel. A estrada é boa e nova e corta a região Sul da Bolívia, um local pouco habitado, mas cheio de pequenas vilas.

Não foi preciso tomar mais cuidado com os radares móveis, passado 30 minutos da fronteira a estrada fica sinuosa e é impossível chegar a 100. Assim, lentamente, chegamos em Potosi no final da tarde, onde abastecemos pagando quase 3 vezes mais caro que os bolivianos pagam na gasolina.

Foram mais uns 150 km de curvas até chegar em Challapata, onde a estrada passa a acompanhar o lago Popoó, ali acaba a curvas e é possível chegar com rapidez em Oruro e dali, com muita paciência, cuidado e cansaço até La Paz, pela estrada que está sendo duplicada. A Bolívia mudou desde que estivemos aqui há 5 anos atrás de carro.

Continua....

Mapa do itinerário. Curitiba x La Paz.
Atravessando a pampa argentina.

Em Purmamarca. Camadas sedimentares basculadas ao fundo

... e falhas inversas.

Igrejinha em La Quiaca

Deixando a Argentina...

Ponte que liga a Argentina e Bolívia
Não é Bony e Clide, é a secura da altitude na estrada.

Paisagem na estrada

Paisagem boliviana

Maria Ulbrich e eu em nosso jipinho na Bolívia.


Perto de Tupiza, Bolívia

Minas de Prata em Potosi
Centro histórico de Potosi e o cerro Rico ao fundo.

Maria  Ulbrich e eu perto de Potosi.

Atravessando o lendário rio Pilcomayo, que faz fronteira Arg x PY.

Passando por cidadezinha boliviana.
Chegada em La Paz.
Continua....

1 de julho de 2014

Futebol, publicidade e xenofobia

A Copa do Mundo é uma oportunidade de negócios para as empresas. Devido a paixão pelo esporte as campanhas de publicidade exploram bastante o evento esportivo para expor seus produtos e marcas. Uma das campanhas mais divertidas foi da cerveja Skol, que fez uma boa campanha explorando alguns fatos engraçados sobre a Itália, França e Inglaterra. O bom humor, no entanto virou ofensa quando veio a propaganda da Argentina. Nela, os argentinos são presos numa casa e ela é lançada para fora da terra em um foguete. Era pra ser engraçado? Não foi...

Assisti este comercial ao lado de um amigo argentino que não gosta de futebol, não tem nenhum time e não está nem aí pra Copa. Ele se sentiu ofendido. Outra vez, eu estava caminhando com uma amiga argentina em Curitiba, falando castelhano, língua que falo fluentemente e um pedestre chamou ela de “puta” e quase me agrediu _ Desculpe, achei que você fosse argentino.

Quantas e quantas vezes os argentinos são mal tratados ao visitarem o Brasil? O brasileiro tem fama de ser hospitaleiro e gentil com os estrangeiros e de fato é, menos com argentinos e culpa disso é o futebol...

O futebol é o esporte favorito dos brasileiros e a seleção da Argentina é uma das maiores rivais de nossa seleção. Brasil e Argentina é como um Fla x Flu, um Corinthians e Palmeiras, Cruzeiro e Atlético, Grenal e por aí vai. Quando alguém faz uma piada de palmeirense, todo corinthiano acha graça. A idéia da piada com argentinos é igual a essa, mas no caso é um país contra outro. O problema é que tanto quem faz a piada como quem dá risada dela anda exagerando e o que era pra ser divertido se tornou humilhação. Dá vergonha de ver o comercial da Skol e outras de extremo mal gosto.

Eu conheço muito bem a Argentina, de La Quiaca a Ushuaia. Já estive em todas as Províncias e esta experiência está bem relatada aqui no Blog. Posso dizer com autoridade depois de anos visitando e conhecendo argentinos que a rivalidade Brasil x Argentina é unilateral. O Argentino não odeia o brasileiro como o brasileiro odeia o argentino. Pelo contrário, o Brasil é um país em moda por lá. Os argentinos querem visitar o Brasil, eles acham que somos um país mais desenvolvido e melhor para viver. Eles adoram ter sandálias havaianas com a bandeirinha brasileira (aliás outro que faz piadinhas infames sobre os Hermanos). Eles conhecem nossas músicas, nossos escritores e assistem a nossos filmes. Infelizmente, mesmo a Argentina tendo uma cultura maravilhosa, ela não chega aqui como a nossa chega por lá.

Hoje o José Simão, que há muito tempo tem feitos piadas sem graça, fez um comentário jocoso sobre a Argentina. Embaixo, uma legião de fanáticos por futebol dava sua contribuição raivosa contra minha opinião de que não deveríamos ofender nossos vizinhos do Sul. 

Como uma multidão de desmiolados falaram que eu era um idiota, e que eu deveria ser expulso do Brasil por gostar de lá. Ainda acabavam seus comentários dizendo que os argentinos se achavam superiores e arrogantes e isso justificaria aquele ódio mortal contra nossos “indesejáveis” vizinhos. Mas ao afirmarem isso com tanta convicção, eram eles os próprios arrogantes e intolerantes. 

Gostaria muito que estas pessoas fossem um dia visitar a Argentina e que sentissem a vergonha por terem promovido tanta calúnia. Gente idiota existe no mundo inteiro, inclusive na Argentina, mas acho que em época de Copa do Mundo elas vestem uniforme.