Blog do Pedro Hauck: julho 2009

28 de julho de 2009

Videos do Sajama

Fizemos alguns poucos videos com as câmeras fotográficas durante nossa asceção ao Sajama e nossa espera por um tempo melhor.

Com disse anteriormente foi muito dificil esperar sob tais condições. Aí está um pouco do que passamos essa semana na montanha. Pra vocês sentirem o que é vento e o que é frio!!!

:: Veja o tracklog do Sajama no Rumos: Navegação em Montanhas!
:: Leia o relato da ascensão ao Sajama

Video mostrando a tempestade de vento na Villa Sajama. Imagine lá em cima!!!

Video do cume do Sajama com tudo congelado!

Tempestade no altiplano


Cordilheira ocidental nevada, algo raro nessa época do ano!

Regressando em La Paz e acompanhando os blogs e recebendo emails de meus amigos, reparei que esta temporada de escalada está um tanto quanto comprometida pelas anormais chuvas de inverno.

Pois bem, o mês de Julho também é a alta temporada de escalada na Bolívia e por aqui o tempo está muito estranho...

É normal nesta região dos Andes termos dias frios, mas sem nuvens. Entretanto em uma semana nevou muito por aqui, ao ponto do altiplano ter ficado branco.

No dia em que eu e o Max fizemos cume no Sajama aconteceu uma das piores nevascas por aqui. No dia seguinte, quando dirigíamos à La Paz pela Pan Americana, vimos aquela paisagem desértica do altiplano virar uma tundra, veja as fotos!


A cordilheira ocidental toda nevada!



Quem acompanhou este blog, viu estas duas montanhas (Payachatas) quase negras. Tá certo que isso já derreteu, mas é muito anormal ver o Parinacota e o Pomerape brancos.



Pan americana nevada próximo à Patacamaya



Isso não era assim na ida!



Muito frio!!!



El Alto branco!!


Agora mudando de assunto...


Muito astral a feira na periferia de El Alto, mesmo com frio, se vende e se compra de tudo!



Muita bagunça e muita barganha!



Achei muito engraçado e triste isso. Falei muitas vezes que a Bolívia melhorou muito estes anos... Mas eles precisam melhorar muita a higiêne. Ficar doente por aqui ainda é normal e muitos lugares não tem sequer um chuveiro para tomar banho, como é o caso da cidade de Villa Sajama. Lá não tem nenhum chuveiro!!!!



O tradicional e o moderno. Apesar de resistir à modernidade, aos poucos os costumes indígenas vão ficando para trás. Mesmo assim a Bolívia continua sendo um destino pitoresco.

27 de julho de 2009

Sajama muito sofrido

:: Leia a parte que antecede este relato



Ontem, dia 26/7, eu e o Maximo alcançamos o cume da montanha mais alta da Bolívia, o Sajama de 6547 metros de altitude.

Estivémos muito tempo fora do ar, por conta que esta montanha fica 300 Km longe de La Paz, na fronteira com o Chile, na Cordilheira Ocidental, um lugar muito remoto onde a única comunicação é um telefone muito precário.

Achávamos que a escalada iria ser curta, como é normalmente. Entretanto o tempo (metereológico) resolveu dar uma sacaneada. Na segunda feira pegamos neve em Villa Sajama (cidade que dá acesso à montanha), na terça o tempo limpou, mas o vento resolveu dar sua cara. Na quarta, com o tempo melhor, fomos à montanha, mas nossa sorte durou pouco.

Saímos tarde de Villa Sajama, eu, Max, Diogo e Gabriel de Santa Catarina, outros loucos que vieram pra Bolívia de carro. Chegamos no campo base (4200) bem cedo e logo montamos nosso acampamento.

O lugar não é nem um pouco agradável. Apesar de ter água, algo que está ficando cada vez mais raro na Cordilheira Ocidental, ali é muito seco e há muita, mas muita poeira mesmo!

Dia seguinte arrumamos as mochilas e rumamos para o Campo Alto, à 5700 metros. Maximo, como sempre, foi na frente, mesmo com a mochila mais pesada. Isso despertou a inveja dos carregadores que levam as mochilas dos gringos. Quando Maximo passou eles pela trilha, todos ficaram falando:


_ Mirá el Gringo, mirá!!

O vento na subida começou a ficar insuportável. Para me proteger eu tive que usar um anorak e ficar com o rosto escondido no capus. Por conta disso eu só olhava para o chão e acabei subindo pelo caminho de descida, o que significa que acabei tendo que andar pelos famosos "acarreos" dos Andes, que são aqueles locais inclinados com muita pedra solta: Um inferno. Em um determinado momento em que acarreo se juntou com vento para me ferrar, acabei sendo arremessado ao chão e machuquei meu rosto.


Passado a aproximação ao campo alto, que tardou apenas 4 horas, já com a barraca montada, começamos a perceber como seriam os próximos dias: O mal tempo estava se formando...

Passei a noite com os vento mais fortes da minha vida, não houve um minuto sem as fortes rajadas que fazia o teto da barraca encostar em nós. Ainda bem que nossa barraca se chama "west wind"! Azar teve o guia UIGM Eduardo, que teve sua barraca destroçada... Foi o fim da expedição dele e de seus clientes.

No dia seguinte, além da expedição de Eduardo, desceu também a do guia Juan José Miranda e de nossos amigos catarinenses Gabriel e Diogo, eles tinham que regressar ao Brasil para trabalhar.

Mais tarde sobem mais outras expedições, que desceram outro dia por conta de mais uma noite de ventania que destroçou outra barraca. Ao todo foram 14 pessoas que subiram e desistiram depois da primeira noite ruim. Todas, com excessão dos nossos colegas, eram expedições comerciais, que mostra que cada vez menos há pessoas independentes escalando nos Andes. Também cada vez mais há pessoas folgadas por aqui, pois os clientes não fazem nada, não carregam suas mochilas, não cozinham, não montam barracas, não fazem nada até mesmo quando o vento destroem suas barracas e de seus guias, mostrando a fragilidade destes "montanhistas" perante as montanhas que eles querem escalar.

Só depois da terceira noite o vento resolveu parar de soprar. Eram 4 da manhã quando eu e Max saímos da barraca. Olhando para o céu não vimos estrelas, o que mostrava que as nuvens estavam lá ainda, entretanto a ausência de vento nos motivava.

Em pouco tempo de ascensão ultrapassamos uma expedição comercial que havia saído do acampamento duas horas antes que nós. Eles não foram muito para frente e logo desistiram.

O Sajama tem um trecho de escala em gelo fácil com uma inclinação de 45 graus apenas. Fizemos este tramo solando para ganhar velocidade, ainda de noite. Em seguida, temos que passar por um trecho de "trepa pedra", fácil, porém exposto, não pode cair! Confesso que fazer estas escalaminhadas com bota dupla, crampon e luvas não é nem um pouco legal, mas o jeito é não olhar pra baixo e continuar.

Em seguida, chegamos ao filo que leva ao cume, que tem uma amplitude de 500 metros. Parece fácil, mas essa mer... de deglaciação transformou o gelo em penitentes, que são torres de gelo de difícil progressão. Deixamos o trecho de trepa pedra pra trás e começamos o trecho de trepa gelo, muito cansativo e ingrato.

Passando este tramo, chegamos ao mais fácil, de gelo glacial de boa qualidade de inclinação pequena, caminhada de altitude... Apesar de fácil foi lá que a gente mais se ferrou!

Acabamos por entrar na nuvem de tempestade e a temperatura caiu drásticamente. Tivemos que usar nossas jaquetas de pluma de ganso para nos proteger dos ventos que carregavam neve. Nossas mãos começaram a congelar e quase desisti por não sentir mais meus dedos, nunca havia presenciado uma temperatura tão baixa. Max que tem uma ampla experiência no Himalaia e nos Alpes, falou que a sensação térmica estava fácilmente na cota dos -30 graus!

Caminhando com dificuldade e com a mão no bolso da jaqueta de pluma, acabamos chegando no cume debaixo de um branco total. O cume do Sajama é enorme, tem o tamanho de 4 campos de futebol e é bem plano. Pela altitude que marcava o GPS e pelo fato que estavamos neste lugar plano, constatamos que estávamos no topo, entretanto não fomos para o centro deste cume amplo, primeiro por causa do frio insuportável e depois porque não dava pra ver onde ficava este "meio" do cume.

Descemos às cegas a zona do cume, sendo guiado pelo GPS. Em seguida conseguímos nos auto guiar com as abertura do tempo que mostrava onde estávamos e também como era alto este lugar. Foram visões rápidas da gradiosidade do Sajama, visões que tenho em minha mente e que apenas com o talento de um poeta poderia descrever, uma visão do paraíso em meio ao inferno do frio e do vento intempestivo.

Fomos descendo devagar até chegar ao acampamento por volta das 12:30, foi uma ascensão rápida, mesmo diante de tantas dificuldades. Aliás foi apenas por conta de nossa força e resistência que conseguimos fazer este cume, por não dizer paciência, pois é muito raro alguém passar 3 noites no Campo Alto apenas esperando o tempo melhorar.

No mesmo dia em que fizemos cume nós saimos da montanha, numa decisão difícil, por conta do cansaço, mas acertada, pois o tempo só piorou. Por conta de nossa agilidade, tivemos a redenção de poder dormir em uma cama depois de tanto esforço. Faltou só um banho, coisa que não existe em Villa Sajama.

Estamos muito bem, apesar do cansaço. Vamos descançar alguns dias em La Paz e depois vamos para a próxima montanha. Fiquem ligados com as próximas atualizações. Abraços desde as alturas!


Sajama com o sol se pondo.

O "Everest boliviano" visto desde Villa Sajama depois de uma tempestade de neve.

Pôr do Sol em Villa Sajama.

Sajama com mal tempo.

Ruas de Villa Sajama com mal tempo.

Ventania em Villa Sajama.

Matando tempo com Gabriel e Diogo durante as tormentas.

Subindo para o campo base do Sajama.

Vista do Sajama chegando ao campo base.

Vicunhas perto do campo base.

Vista do Sajama desde o campo base.

Pedro, mal tempo (atrás) e a barraca do Maximo no campo alto, à 5700 metros.

Uma cena se tornando comum nos Andes: Guias virando mordomos dos gringos na montanha. Onde está o espirito do montanhismo?

Quem esteve comigo na montanha!

Eu com Gabriel e Diogo um pouco antes deles descerem.

Vista para os Payachatas desde o campo alto do Sajama.

Vista para o Everest boliviano.

Subindo o trecho mais técnico à noite.

Subindo os penitentes: Trepa gelo!

Trepa pedra!

Trecho final sob "white out"

Maximo no cume!

Eu congelado!!

No topo da Bolívia com as piores condições!!!

Descendo os penitentes!

Tudo congelado, prestem atenção no bastão de trekking enfiado na mochila!

Chegando de volta à barraca. Agilidade foi o determinou nossa subida.

18 de julho de 2009

Fotos da viagem


Estou postando um álbum com fotos dos últimos dias, nossa viagem até Villa Sajama, a aproximação do Nevado Parinacota (6300) e nosso retorno à La Paz. Estamos voltando para lá amanhã para fazer o Sajama.

As coisas aqui estão tudo ok, só o derretimento das geleiras que não. Dá para dizer que nos Payachatas (Vulcão Parinacota e Pomerape) já não existe geleira, apenas penitentes. Muito triste isso, sem falar na dificuldade que faz que com qualquer ascensão seja muito sofrida.

Vejam as fotos!

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Morros basculados na estrada até o Sajama

Mais dos morros basculados

Nossa rodonave e o Sajama ao fundo

Indo em direção aos Payachatas

Vista para os vulcões Payachatas

A igreja de Villa Sajama


Entranhas construções pré colombianas ao lado da estrada

E olha o que tinha dentro!
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15 de julho de 2009

Aclimatando no Chacaltaya


Refúgio Chacaltaya e nosso carro à 5300 metros!


Aclimatação é o pior momento de uma expedição à alta montanha. Todo mundo que deseja ir à altitude tem que fazer seu corpo acostumar com as condições de pressão e falta de oxigênio e isso só acontece indo para a altitude.

O corpo não se aclimata de um dia pra outro, então subimos até um lugar alto e ficamos lá sem fazer nada até que a gente sinta que estamos bem, isso significa dizer que ficamos em um lugar alto até não ficarmos mais ofegante por nada e não termos mais dores de cabeça e outros problemas relacionados...

Passamos diversas noites acampados à uma altitude de 4700 metros próximo à represa de Zongo e depois que já estávamos bem, resolvemos subir até os 5300 metros da ex. estação de esqui do Cerro Chacaltaya.

Passamos duas noites lá em cima. Ficamos todo esse tempo sem fazer quase nada, apenas conversando, escrevendo (eu estudei um pouco!) e bebendo água. A primeira noite ventou e fez muito frio. De dentro do refúgio eu já me preocupava com o carro lá fora.

Na manhã seguinte fomos ver como estava e meu receio estava certo: O carro estava congelado!

Isso é um grande problema, pois se a água do carro congela, ela pode dilatar e quebrar o radiador e as mangueiras do sistema de arrefecimento, além é claro de danar a bomba d'água. Claro que quando você está perto de casa isso é fácil de resolver, mas aqui em cima de uma montanha e ainda em um país que não tem carros Ford, a preocupação aumentava, pois como faríamos para encontrar peças de reposição de um Ecosport?

Por fim conseguimos fazer o carro descongelar, colocando no sistema de arrefecimento água fervendo e fazendo-a circular, coletando no final a água que estava com fluido anticongelante (??). Aliás, que merda de fluido é esse que vende no Brasil que não agüenta uma temperatura negativa?

Resolvido o problema, passamos mais uma noite na altitude. Eu e o Hilton dormimos no refúgio e o Maximo dentro do carro, fazendo-o funcionar de tempos em tempos durante a madrugada para que ele não congelasse novamente. Mesmo no "conforto" do refúgio, não pude deixar de me preocupar com o Maximo, quero dizer, com o carro... Ele é nosso meio de transporte e, além disso não é nem meu. Eu que nem tenho tanto dinheiro pra ficar aqui, iria ter que desembolsar uma grana pra importar a peça dele caso algo desse errado. Ainda bem que o carro é bom e nada aconteceu.

Agora iremos para nossa primeira montanha, finalmente! Tantas coisas aconteceram nesses últimos dias, doenças, problema com carro, aclimatação... Enfim agora é só escalar, ou seja, fazer o mais fácil!

Onde estarei não há internet, assim que só na volta a La Paz poderei dar noticias, espero que nossa má sorte tenha se esgotado!

Abraços e até a próxima!

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Eu estudando durante a aclimatação no refúgio Chacaltaya.

Estrada para o Chacaltaya e o Huayna ao fundo.

O refúgio e o pessal dando um jeito no carro congelado.

Vista para a cidade de El Alto e o canyon de La Paz desde o Chacaltaya.

Illimani desde o Chacaltaya.

Opa, o carro tá bom!!

Camas à 5300 metros! Ótimo lugar pra aclimatar...

Cozinhando no refúgio!

Huayna Potosi ao entardecer.