Blog do Pedro Hauck: maio 2013

28 de maio de 2013

Ensinamentos do Waldemar Niclevicz

Em Janeiro desde ano, quando estava escalando o Monte Pissis, terceira montanha mais alta dos Andes, na Argentina, aconteceu uma coisa engraçada que vira e volta me recordo e que se tornou a maior aprendizagem que levei da expedição Teto das Américas, onde eu e o Waldemar Niclevicz escalamos 10 montanhas.

Estava eu, Waldemar e a Silvia no acampamento base da montanha num final de tarde. Apesar de ainda estar dia, já havia passado das 19 horas, pois no verão os dias são mais longos. Estávamos conversando distraídos enquanto a Silvia preparava um jantar gostoso, de repente, não me lembro porquê, entramos no assunto de ter sorte na vida e com isso conseguir realizar nossos sonhos...

Bom, acho que o Waldemar sempre foi uma pessoa que inspira este tipo de sentimento, tanto é que ele dá palestras motivacionais e é referência no assunto. Sempre achei que para ele foi fácil se tornar o maior montanhista brasileiro, mas não é bem assim a história. 

Como todos, ele sofreu e ainda sofre muitas dificuldades. Tanto é que nesta viagem não conseguimos patrocínios, mas ele persegue os sonhos e com dedicação e muito trabalho e ele sempre chega lá... Obviamente que uma das consequências disso foi ele ter se tornado um exemplo de pessoa e outra consequência negativa foi ele ter se tornado uma pessoa invejada, que já sofreu muito com isso também.

Quando eu falei que eu achava que a vida dele havia sido fácil, por ele ter sido um pioneiro, ele discordou e me contou uma história, que é um curioso ditado chinês. Rindo ele me falou mais ou menos assim:

_ É muito difícil, veja bem, muito difícil, não impossível que, você, imóvel, encostado num barranco, venha um pato assado, veja bem assado, e voando, entre dentro da sua boca...

Pois bem, este foi o ensinamento. É simples, mas é uma lei. Não adianta você apenas querer uma coisa e não perseguir este sonho. Os invejosos apenas querem e esperam imóvel o sonho bater em suas portas e não gostam quando você consegue chegar lá antes deles. Minha história, assim como a do Waldemar, não foi nada fácil e a cada passo que dou, fica ainda mais difícil, mas não desisto... 

Desisti de muitas coisas, mas persegui outras e hoje colho o fruto, esta expedição, inclusive, foi uma consequência disso. Ainda enfrento muitas dificuldades em varias esferas da minha vida. Viver é difícil, é incerto. Quando passo por uma grande dificuldade, me lembro daquele fim de tarde na montanha e me desencosto do barranco...

Final de tarde na Base do Pissis. Nunca esqueço essa cena....

19 de maio de 2013

Review calça Pró Mountain da Hard Adventure

Sou um dos montanhistas que fazem parte da Hard adventure Team, por isso, uso equipamentos da Hard antes mesmo deles chegarem ao mercado. Ao longo destes últimos 2 anos pude testar estas roupas e comprovar o objetivo da Hard: Fornecer equipamento de qualidade para montanhistas brasileiros encararem seus desafios.

Um dos melhores produtos da Hard que já se encontra disponível nas lojas é a calça Pró Mountain, que é uma calça bermuda reforçada com cordura, feita para as piores condições de mato e de pedra de nossas montanhas tropicais.

Bom, quem acompanha o blog pôde ter uma noção dos locais em que eu testei. Foram muitas escaladas na rocha, trilhas com mato pesado, lama, muita sujeira e chuva. Até na neve eu usei, pois foi a calça que usei por baixo de toda roupa pesada de frio nas 10 montanhas da expedição Teto das América com o Waldemar Niclevicz.

Em termos montanhísticos, posso dizer que é uma calça que cumpre sua função: Ela é versátil , podendo ser usada em dias muito quentes, como bermuda, ou mais frios, como calça. Ela é extremamente resistente, sobrevivendo as piores condições possíveis em montanhas tão diferentes que encarei e também porque não dizer, ela é muito bonita, sendo possível ser usada na cidade também.

O ponto forte da calça, é que ela é feita para ser usada nas nossas montanhas. Todos os bolsos tem zíperes, para a gente não perder nada. Ela tem um cinto, que quando estamos com mochila nas costas, é muito usual, para as calças não irem parar no meio da sua bunda. Ela não trava a movimentação, sendo possível usar em escaladas técnicas e tem cordura nos locais poderiam ser mais fáceis de rasgar, por isso são resistentes. Aliás, é uma calça feita parar durar muito.

Por tudo isso afirmo que ter uma calça dessas é um bom investimento, pois poderá ser usada em qualquer situação, até mesmo se você não estiver indo pra montanha.

E se você gostou, pode comprar com bastante desconto na loja AltaMontanha neste link.

Abaixo, fotos da Pró Mountain comigo em diferentes situações:

Entalando a calça durante uma escalada em rocha.

Como bermuda num campo na Serra do Mar, onde ela suportou mato, lama, chuva e nunca rasgou

Usando a calça durante a aproximação do Nevado Cachi, Argentina, de 6300 mts.

Usando a calça na Serra do Mar.

Num dia de chuva no Campo dos Padres, SC.

12 de maio de 2013

Nostalgia no Cuscuzeiro

Houve uma época em que a escalada em rocha signficava para mim ir ao Morro do Cuscuzeiro. Eu morava ali ao lado, em Rio Claro e essa era a opção mais rápida e viável, possível ir até mesmo de bicicleta, como fiz diversas vezes entre 2001 e 2002.

Minha primeira ida ao Cuscuzeiro em 2001. Isso foi no primeiro ano de faculdade, eu ainda tava careca. Passei uma noite acampado no pasto na base do morro com o Eduardo Prata e minha barraca foi picotada por saúvas.
Jeferson no Cuscuzeio, com cabelo cumprido, em 2003.

Em 2003, o Jeferson veio morar na republica e ensinei-o a escalar. A partir daí comecei a ir ao morro com mais frequência, ao ponto que em 2004 eu estava lá todas as sextas feiras.

Pra mim ali foi um lugar importante. Foi onde aprendi a dominar um sétimo grau, onde aprendi a dominar o medo de cair. Foi também um local de contemplação, um lugar onde a preocupação nunca estava, ao contrário, era um local onde apenas havia sonhos de liberdade e futuras viagens à montanhas.

Hoje pouco apareço por ali, mas tudo continua igual, só a gente envelheceu. E é sempre com nostalgia que escalo por ali. Lembrando aqueles tempos que passaram em que a única coisa que mudou foi nós mesmos...



Jeferson hoje no morro.

Naquela época não tinha olhos para essas coisas....

Vc mandava isso com mais facilidade hein?



Também não escalava esse tipo de via.


E no final do dia, passar na Dona Sônia comer um lanche. Passado 10 anos, tudo continua igual!

8 de maio de 2013

Maio é mês para aprender a escalar!


É mês de Maio, o tempo começa a firmar no país inteiro. Faz mais frio, mas as chuvas, comuns no verão, vão ficando mais raras e concentradas em dias em que passam frentes frias. A temperatura agradável e a baixa pluviosidade são perfeitas para quem gosta de atividades ao ar livre. É o começo da alta temporada de escalada no Brasil.

No começo do ano, na época das férias de verão, recebi muitos emails de pessoas procurando curso de escalada. Em todos avisei que seria inútil querer aprender numa época tão quente e úmida. De fato, em Curitiba, desde que voltei dos Andes em Fevereiro, choveu direto até Abril.

Estou com dois cursos agendados neste mês, um São Paulo, no final de semana dos dias 25 e 26 de Maio e outro em Curitiba no Feriado de Corpus Christi, de 30 de Maio a 2 de Junho. Estes cursos são uma parceria entre as agências Climbing.com.br, GenteDeMontanha e o site AltaMontanha.com

O primeiro curso, em São Paulo, será realizado em conjunto com o experiente escalador paulista Tacio Philip Sansonowski, e da educadora física e escaladora Aline Lessa. É a décima terceira edição deste curso, que já formou cerca de 150 pessoas! A aula teórica é em São Paulo e a prática em Pedra Bela, cerca de 150 km da capital.

O segundo curso, em Curitiba, será realizado junto com Hilton Benke, com quem já ministrei cursos de escalada no Clube Paranaense de Montanhismo. Será um curso especial, o único neste formato no ano, pois teremos o triplo de prática do habitual. O curso será no feriado de 4 dias, sendo acessível pra gente que não mora em Curitiba.

Neste ano estou completando 5 anos de experiência em cursos formais de escalada, onde ensinei cerca de 200 escaladores. Também estou fazendo 15 anos de montanhismo. Aproveitem a chance e venham pra mundo da montanha também! Mais informações no site do GenteDeMontanha.

Curso de escalada São Paulo: 25 - 26/05
Curso de escalada Curitiba: 30/05 - 02/06


Sala de aula em São Paulo

4 de maio de 2013

Camapuan noturno nas lentes de Hilton Benke

Subir montanhas à noite para um bivaque é uma das coisas que mais gosto de fazer, tanto que no Araçatuba, eu só subo à noite. 

Como estou tendo que re-coletar algumas amostras pra minha pesquisa e a que coletei no ano passado com a Dandara e o Samuel naquele local deram muito pouco Apatitas, resolvi fechar esta semana de campo com um bivaque e uma coleta pra garantir meus minerais. 

Fui acompanhado do Hilton, que há 6 anos atrás, também numa noite estrelada, foi quem me apresentou à montanha. Como as coisas mudaram de lá pra cá. Hoje, trabalhando no banco, ele descobriu o talento que tem para trabalhar com a captação de luz com a câmera fotográfica. O resultado está aí...

Fomos presenteados com uma noite maravilhosa. Fazia frio e ventava, porém protegido dentro do saco de dormir, fiquei admirando aqueles pontos brilhantes pendurados no manto negro. De repente, uma estrela cadente rasga o céu por alguns segundos. Faço meu pedido e vou dormir pensando nele.

Vista do Camapuan para o Sul.
Curitiba está próximo e ficando cada vez mais perto.

Pico Paraná e a via Láctea. Essa via eu nunca escalei....

Nossa cama no Camapuan. Bivacar é isso!

Nascer da lua atrás do Pico Paraná

Primeiros raios de sol hoje.

Nosso bivaque.

A paisagem ao amanhecer

Admirando as montanhas do Paraná

Vista para o Morro do 7, Marumbi e Serra da Prata ainda com a bruma da manhã.

Vista para o Norte, com as encostas das montanhas do Ibitiraquire.

Pedro Hauck versão 2013, 11kg mais magro, ficando careca e com pés de galinha.
Hilton, a unica foto que eu fiz. 


Garantindo minha coleta. Essa tava bem leve!

Veja mais fotos do Hilton no Facebook: www.facebook.com/hiltonbenke

2 de maio de 2013

Pedrestinado

Existem momentos em nossas vidas em que tudo dá errado e na tentativa de corrigir os erros, sofremos tanto, que usamos metáforas de que estamos movendo montanhas e que carregamos pedras nas costas. Comigo está acontecendo exatamente isso...

Na minha pesquisa eu preciso de um mineral chamado Apatita. Este mineral existe em pouca abundância nas rochas e por isso é necessário muita rocha para se obter pouca Apatita.

Após meses de trabalho, entre 2012 e 2013, para obter este mineral das rochas que coletei da Serra do Mar, cheguei ao final quase sem Apatitas e estou tendo que refazer o processo.

Primeiro foi no Guaricana, montanha pouco freqüentada e sem trilha, onde só consegui fazer coleta graças à experiência e ajuda do Julio e do Moises, que abriram o caminho no mato e ainda me ajudaram a descer com as pedras. Foi muito cansativo.

Amostra no Guaricana.

Junto com o Will no Itapiroca

Dois dias depois, junto com o Wilson Mendes, o Will, fui pro Itapiroca e coletei mais amostras. Voltei bem pesado, mais do que costumava voltar no ano passado, para não ter chances de não ter o mineral no final. O Will me ajudou bastante carregando uma amostra da Pedra do Grito.

Ontem, voltei à Serra com a Idce, Juliana e Andreza, que me ajudaram bastante. Fui até o A2 e lá coletei uns 30 kg de amostra. Foi extremamente sofrido subir de volta o elo de ligação e atravessar aquela maldita mata de raízes na encosta do Caratuva. Juro que não quero nunca mais caminhar com peso naquele local. Porém, apesar da dificuldade, consegui caminhar bem e relativamente rápido. Me sentindo bem, coletei mais amostras no morro do Getulio e continuei a descida.

No começo estava tudo normal, apesar do peso absurdo. Com o tempo e o cansaço, comecei a sofrer com a dificuldade. Era difícil conseguir me levantar. Só conseguia com a ajuda das meninas que ficaram estarrecidas com o que viram e me disseram que eu era um “pedrestinado”.

Foi muito difícil descer o Morro do Getúlio, suava demais, fazia força demais. Não tinha idéia de quanto pesava aquela mochila, sou um sem noção! Hoje de manhã, deixei a mochila dentro do carro para ter idéia de quanto aquilo pesava, e com ajuda do Edenilson, conseguimos carregara mochila até uma farmácia pra saber. Ela pesava 61 kg! Detalhe, estou pesando apenas 64! Foi um recorde, nunca carreguei tanto peso.

Tamanho das amostras

Fazendo caber na mochila

Andreza, Idce e Juliana, sobrou até pras meninas....
Pesando a mochila

O resultado....
Até agora tenho isso. Cerca de meia tonelada de amostras que vieram nas costas em 3 dias de campo.

Confesso que senti um pouco o joelho. A barrigueira e a alça cortaram minha cintura e ombro e minhas costas estão em carne viva, mas isso não foi só de ontem, foi de todos estes dias.

Ainda tenho que coletar mais, em lugares mais difíceis. Vou fazer quando der. O pior, na verdade, nem é a coleta. Britar, moer, batear, separar os minerais magnéticos, usar lupa para identificar os grãos, montar o molde e polir é muito mais sofrido.

A vida bem que poderia ser mais simples. De subir a montanha apenas para subir. Porém a gente acaba escolhendo uns caminhos muito difíceis. Por que isso tem que ser assim?  Talvez eu seja mesmo um pedrestinado a subir montanhas. Dizem que Deus não nos dá nenhum fardo que a gente não possa carregar, mas acho que ele exagerou na avaliação...