Blog do Pedro Hauck: 2007

29 de dezembro de 2007

Tudo pronto para a escalada

Saí de São Paulo de ônibus no dia 26 de Dezembro rumo a Curitiba, onde eu estou morando. Lá, arrumei meus equipamentos e roupas em duas mochilas cargueiras e montei uma outra mochila pequena, com meu computador e outras coisas para levar na mão dentro do ônibus, pois de lá eu fui para Porto Alegre me encontrar com o Antonio, que irá escalar o Mercedario comigo.

Meu ônibus para Porto Alegre saía às 19:00 horas e só consegui terminar de arrumar minhas coisas às 18:30. Saí de casa feito um louco com as várias mochilas penduradas em mim, mas consegui chegar na rodoviária a tempo de embarcar.

Cheguei em Porto Alegre no dia seguinte bem cedo, às 7:00 horas. Mas só fui me encontrar com o
Antonio duas horas mais tarde, pois justo no dia de nossa partida o alarme da caminhonete dele teve problema.

Problemas resolvidos, já pegamos a estrada. Em pouco tempo já íamos nos conhecendo, pois só estive com o
Antonio uma vez na minha vida.

Eu o conheci em Puente del Inca em 2003. Estava com o Maximo indo escalar o Tupungato e ele estava com um amigo, o Felipe, indo para o Aconcagua fazer uma aclimatação que resultou na sua primeira experiência dele (ele esteve lá duas vezes) na montanha que vamos escalar, o Mercedario.

Depois desta vez, não o vi mais, entretanto trocamos vários emails e várias vezes chegamos a quase nos encontrar na Argentina. Mantive contato também com seu amigo, o Felipe. Foi ele inclusive, que facilitou esta viagem para nós dois, pois eu havia comentado com ele minha vontade de escalar o Mercedario e ele falou com o Antonio. Foi uma grande coincidência o que aconteceu, pois justo quando o Hilton e o Beto Joly não puderam me garantir que iríam comigo para a Argentina, o Antonio apareceu e me convidou para ir com seu carro. Aí foi só arrumar as coisas e sair para a estrada.

Cruzamos o pampa do Rio Grande do Sul, fazendo um transecto no estado até Uruguaiana, onde cruzamos a fronteira com a Argentina.

Nossa vontade era ir dormir aquele dia em Santa Fé, entretanto, um policial corrupto nos parou na Província de Entre Rios e até acertarmos a “propina” perdemos um bom tempo, sem falar em dinheiro. Acabamos dormindo em um “Cafofo” de beira de estrada na cidade de Federal, no meio do caminho.

No dia seguinte prosseguimos com nossa viagem. Desta vez, acabamos perdendo tempo procurando em vão uma válvula para o bico de injeção do gás da caminhonete do
Antonio, que na Argentina tem um tamanho diferente. Acabamos não encontrando a tempo, pois aqui existe este costume de fazer a siesta e como sempre, acabamos ficando "na mão" e tivemos que andar com a gasolina até Las Varillas em Córdoba, onde depois da siesta, achamos um lugar que nos vendeu a tal peça, uma grande economia: Para andar 200 km, gastamos com gás apenas R$ 6,40 por pessoa!

Com todo o tempo perdido, acabamos chegando em Mendoza às 2 horas da madrugada. Fomos direto ao albergue Campo Base, onde me hospedei nas várias vezes em que estive aqui. Para minha surpresa, ele está virando uma rede, com vários albergues. Acabei ficando em um novo muito bacana, com piscina e tudo.

Ao amanhecer, fomos atrás das coisas que faltavam para nossa escalada. Jogamos tudo no gramado do albergue e fomos vendo o que precisávamos. Depois fomos ao centro e compramos tudo, combustível para o fogareiro, comida e até um novo bastão de trekking para mim, uma vez que na correria em Curitiba acabei deixando o meu lá. Sem drama, pois este eu sei que minha namorada vai usar comigo em alguma montanha no Paraná.

Enfim, depois de um dia estafado, somente às 18:00 consegui arrumar as mochilas, que ficaram monstruosas.

Não tenho noção de peso como o Maximo tem, mas acho que a mochila que a mula irá carregar no Mercedario está com cerca de 30 kg e a que eu irei levar está com uns 25. Não sei quem é mais mula?

Enfim, agora está tudo pronto. Passaremos mais uma noite aqui em Mendoza. Vamos comer e dormir bem para amanhã subir a cordilheira até Barreal, cerca de 250 km daqui. Lá vamos acertar os detalhes logísticos da empreitada.

Este é então minha última publicação no blog antes da montanha. Infelizmente eu não tenho uma Internet via satélite para poder atualizar lá de cima.
Estarei então cerca de 20 dias sem comunicação e fora da civilização. Torçam para nós.
Grande abraço desde o calor seco do Oeste argentino.
Até a volta!


Pôr do sol na Provincia de Entre Rios, quando tivemos que pagar uma "propina" para um policial corrupto
Paisagem da Pampa Argentina em Santa fé
Antonio em Mendoza depois de arrumar sua mochila
Eu com minhas mochilinhas depois de prontas

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20 de dezembro de 2007

Planejamentos para a sul do Mercedário

O Cerro Mercedário ao centro, com o Pico Polaco na esquerda e o Cerro Negro à direita (foto de André Grünwald)

No dia 27 de Dezembro de 2007, estarei junto com Antonio Gabriel Gadenz, de Porto Alegre, rumando aos Andes argentinos para escalar o Cerro Mercedário de 6770 metros, a oitava montanha mais alta do continente situada na província de San Juan, próximo à fronteira com o Chile.

O Mercedário é uma montanha muito remota. São poucas as pessoas que tentam escalá-la. Isso por que ela fica muito perto do Aconcagua e o vizinho mais alto polariza mais a atenção dos montanhistas.

Entretanto, o Mercedário é muito famoso, pois ele proporciona uma vista muito bonita desde o Aconcagua. Aliás, foi do Aconcagua, mais especificamente desde de Nido de Condores, que eu avistei o Mercedário pela primeira vez, em 2002.

Outro fato que faz o Mercedário ser uma montanha considerável é que onde ele está situado, na Cordilheira de La Ramada onde existem outras três montanhas de mais de seis mil metros e no meio de outras dezenas com mais de cinco mil, ou seja, é uma região de muita concentração de montanhas altas e pouco exploradas.

Para escalar o Mercedário, não é preciso muito experiência e nem mesmo muita técnica, pois pelo norte o cume é alcançado em uma caminhada, mesmo que longa e exaustiva ao extremo.

Mas nosso desafio não é escalar por este lado, mas sim pelo sul.

Por esta vertente, temos que escalar uma parede de quase 2 mil metros de altura para se chegar ao cume, o que aumenta muito a dificuldade física e técnica.

Os perigos, entretanto, não são tão grandes, pois o máximo de inclinação que a parede chega é 60 graus, o que diminui e muito o risco de avalanche. O problema, porém, é que teremos que subir esta parede com a mochila nas costas, pois teremos que montar dois acampamentos na rota devido o tamanho da parede.

Pelo que pesquisei até agora, nenhuma expedição brasileira escalou a face sul desta montanha. Mas já houveram brasileiros que tentaram, como meu próprio companheiro, o Antonio.

Ele esteve junto com uma expedição do CAP (clube alpino paulista) tentando a montanha. Acabaram desistindo, mas escalaram uma montanha vizinha, o Cerro la Mesa. Técnicamente, esta escalada se assemelha com a do Glaciar Polacos do Aconcagua. O tamanho é quase o mesmo, a paisagem também. A diferença é que a rota no Polacos está orientada à leste e do Mercedário a sul. Isso quer dizer que esta parede é menos exposta ao sol, é mais fria. Isso dificulta mais.

Entretanto acredito estar pronto para este desafio. Ao longo destes anos de experiência nos Andes, já escalei muita coisa e uma rota aos moldes da sul do Mercedário é, para mim um próximo passo.

Venho desde 2004 escalando rotas técnicas. Para começar a rota "Reloj de Arena" no Cerro Rincón, depois a tentativa de escalar a Polacos no Aconcagua. Em seguida, tentei escalar o "glaciar colgante" no Cerro Morado no Chile e a face sul do cume argentino do Tronador. Este ano estive na Bolívia, e escalei algumas montanhas sozinho, o que me ajudou na melhoria do meu "psicológico".

Por todos estes motivos e também por que durante este último semestre estive bastante envolvido com o montanhismo na Serra do Mar do Paraná, acho que esta expedição tem grandes chances de dar certo.

Para que tudo ocorra certo, precisaremos escalar também por etapas.

Antes de subirmos o Mercedário, faremos uma aclimatação no Cerro Ramada, de 6380 mts. Depois, o ideal, será que a gente faça uma escalada no Cerro Negro de 5600 mts que apresenta uma rota técnica aos moldes do Mercedário, onde eu e o Antonio iremos fazer um entrosamento com a escalada e os equipamentos.

Só depois de aclimatados e entrosados, vamos entrar na parede do Mercedário para um ataque final, com menos peso possível.

Contudo, iremos gastar cerca de 20 dias na montanha, longe da civilização, de banhos quentes, de comida gostosa e de conforto.

Isso quer dizer também que ficarem todos esses dias sem contato. Entretanto o esforço valerá a pena. Assim espero...

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Aproximação ao Acampamento 1 da parede sul. Atravessando penitentes. (André Grünwald)
Vista para o acampamento 1 da parede sul (acima do esporão rochoso) desde o acampamento 1 do Ramada. (fotos de André Günwald) A face sul inteira do Mercedário desde o cume do Ramada (foto: André Grünwald) Imagem do Google para o Cordón de la Ramada. Os Pontos marcados são os lugares onde passaremos. A começar por Barreal, a cidade mais próxima. Abaixo, o mapa da aproximação.

Última montanha antes "da" montanha.

Neste último fim de semana fui com o pessoal do CPM até o Pico Paraná, a montanha mais alta do sul do país que fica pertinho de Curitiba.

O PP, como é chamado aqui, tem 1877 metros de altitude. Apesar de ser pouco em altitude, em amplitude ele é enorme, pois sua base fica no nível do mar. Isso também não quer dizer que para chegar ao seu topo é preciso escalar tudo isso. Calma!

O PP é alcançado à pé, numa caminhada no máximo esforçada. O inicio da trilha que leva ao cume fica numa fazenda de nome homônimo numa altitude de 960 metros.

Mesmo sendo uma montanha fácil, resolvi ir pesado e passar a noite por lá. Acabei escolhendo o Pico Itapiroca para acampar, pois além de ter uma visão privilegiada para o PP, ainda é um lugar super confortável por causa das gramíneas em que montamos a barraca em cima.

Depois de passar uma noite tranquila, no dia seguinte fui leve ao PP, parando de quanto em quanto para tirar uma foto e observar a paisagem.

São muitas as montanhas que circundam o PP, todas elas muito altas, como o Caratuva, o Ferraria, Taipabuçu, Tucum, Camapuã, Ciririca e Agudo da Cotia. Todas elas fazem parte da Serra do Ibitiraquire, que é este conjunto norte da Serra do Mar paranaense. Ótimo lugar para dar fim a preparação que fiz neste segundo semestre visando escalar a face sul do Mercedário, agora no final de ano.

Sei que a preparação não vou das melhores. Não vou para a Argentina com um preparo físico de maratonista, entretanto, acredito que estou melhor que nos anos anteriores, o que é um bom sinal, vocês não acham?

Vista ortogonal da trilha para o PP

A mesma trilha em 3 dimensões

... agora do lado oposto, visto desde o cume do PP.

Vista do cume do Itapiroca para a Serra do Capivari

Amanhecer no Itapiroca com o PP ao fundo

Vista do cume do PP para o litoral do Paraná. Ao fundo observa-se a baía de Paranaguá

Vista para o Agudo da Cotia e Ciririca ao sul. Nota-se uma proeminente falha geológica!

Para o sudoeste, vista para o Tucum (direita), Anhangava (distante a esquerda) e Curitiba (horizonte)

Aqui sou eu com vista para o noroeste, onde se vê o Taipabuçu (esquerda) e Ferraria (direita).

Vista para o Conjunto Pico Paraná, com o Ibitirati e sua parede (a maior do sul do Brasil, esquerda) e o próprio PP (direita). Ano que vem promete escalar esta parede do Ibitirati!

9 de dezembro de 2007

Araçatuba 2X

Desde a última postagem fiz várias investidas na Serra do Mar, mas não postei nada no Blog.

Dentre as coisas que fiz, subi a Pedra Branca do Araraquara, estive no Marumbi e subi sozinho a trilha do Itupava com mochila cargueira nas costas. Tudo isso como um preparativo para escalar o Mercedário no fim do mês.

Outra investida foi no Araçatuba, duas vezes, sendo que a última foi ontem a noite. O Araçatuba é uma montanha com 1670 metros de altitude e apesar de ser baixa, ela é climaticamente diferenciada, o porque eu não sei direito, mas que é, é.

Lá venta muito, chove muito e faz muito frio. É uma pequena alta montanha. Subir até o cume demora menos que duas horas, isso com mochila cargueira. Pois é, a montanha é moleza, mas climaticamente pelo menos é diferenciado, e é também um lugar bem bonito.

Isso por que o Araçatuba é muito frio e lá a vegetação é típica dos campos de altitude.

Todas as vezes que fui ao Araçatuba fui à noite. A penúltima vez, havia uma neblina tão densa que mesmo estando perto, eu não conseguia enxergar o Hilton, que me acompanhou na investida.

Hoje, quando eu voltava do cume, numa tarde ensolarada, de repente começou a cair uns pingos de água e quando olhei para a montanha ela estava encoberta. Pois é, este é o Araçatuba.

Hilton na barraca

Paisagem perto do cume do Araçatuba

Campos de altitude

Superfície de aplainamento fóssil no Araçatuba, entendeu?

Paisagem semelhante ao cerrado em campos de altitude. algo em comum?

Paisagem de novo. Já parou para pensar o por que do nome Araçatuba?

Beto, Mikael e Hilton, hoje no Araçatuba

Vista para a Pedra Branca do Arararquara envolto pelo mar de nuvens.

Novamente outra paleosurfície, a famosa sulamericana do começo do Cenozóico.

6 de novembro de 2007

Quer uma aguinha com açúcar?

Quando escalar é o mais fácil

Andar no meio da floresta úmida, se enroscar nos taquarais, furar a mão nos espinhos dos Samambaiaçus, atravessar rios encachoeirados com pedras musguentas e escorregadias, não menos que a própria trilha, encharcada pela chuva que nunca acaba, mesmo quando ela não cai do céu, mas sim das folhas das árvores que estão sempre molhadas...

Este cenário típico das florestas que bordejam o oceano atlântico no Brasil já foi para mim o cenário de minhas aventuras. Quantas vezes me perdi na diversidade confusa da Mata Atlântica?

Acontece que aos poucos fui parando de ir para a mata e cada vez mais comecei a me dedicar somente à escalada técnica, esportiva até demais!

Muitas pessoas acham que esta é a evolução natural de um montanhista. Pode até ser. Entretanto as travessias nas encostas florestadas não são fáceis. Eu tinha até esquecido como complicado é navegar, se achar e ficar em pé nestas trilhas lamacentas (alguém já jogou boliche humano?).

A Serra do Mar no Paraná é um lugar onde o montanhismo começa na Mata. Quase toda montanha aqui é circundada por Floresta que você tem que atravessar.

Há séculos estas florestas são exploradas, seja economicamente ou não. Um exemplo é a atividade madereira que é explorada aqui há muito tempo. Outro, é o caminho do Itupava, uma antiga trilha de mula que ao seu redor se desenvolvia toda a economia do Paraná no século XVIII, assim como concentrava a maior parte da população. Ou seja, a Floresta que nos parece intocada, não tem nada de selvagem, mas sua incrível capacidade de regeneração faz com que ela seja de difícil domesticação.

A parte mais interessante desta característica natural da floresta, é que andando nela, você tem a impressão de ser um pioneiro explorando-a. Isso não deixa de ser verdade, pois a Floresta que você conheceu hoje é diferente da que você conheceu ontem, pois neste tempo as folhas caíram tampando suas pegadas, as árvores velhas também, abrindo novas clareiras confundindo sua percepção maqueando a trilha anteriormente existente. As epífitas crescem sobre os troncos, apagando qualquer tentativa de demarcar seu caminho. Então, por mais que você conheça a trilha, toda experiência é uma experiência nova. Foi como o Julio (Fiori) falou:

"Há mais de vinte anos venho para esta trilha para me perder".

Então, quem foi que disse que este montanhismo tradicional é fácil?

Além do enorme senso de direção e navegação, o montanhista ainda tem que saber lidar com a floresta, aprender com o mateiro como penetrá-la, ter cuidado com a vida oculta, não se importar com os mosquitos que te sugam todo o sangue, se acostumar com a umidade constante que te encharca até a cueca.

Não existe equipamento bom para este montanhismo. Andar pela mata com anorak de Goretex? Esqueça!

O melhor equipamento às vezes, é aquele que o mateiro usa: Bota sete léguas, camiseta e calça velha (vão rasgar nas taquaras mesmo!) e não esqueça do facão bem afiado.

Escalar o Aconcagua é fácil. A trilha está lá, todo mundo vê. Escalar no Paraná é que é dificil. Pois você não vê trilha e nem a montanha.

Depois de perdido e fudido, desesperado molhado e cansado, nada vale a experiência de ter ido aos Andes e ao Himalaia... O paranaense, acostumado com o mato de sua Serra do Mar chega para você com calma e diz:

_ Quer uma aguinha com açúcar?
Aspecto do interior da Floresta úmida. Rain Forest para quem não é daqui.

Como não se encharcar numa trilha dessa! (ps. a trilha é o rio!)

Acampando onde o mato deixa

Animais ocultos

Infeliz atividade econômica de um pais que não sabe aproveitar suas potencialidade paisagísticas

29 de outubro de 2007

Caminho do Itupava

Sábado percorri o famoso caminho do Itupava, uma antiga trilha de mulas que liga o planalto paranaense ao porto de Paranaguá.

Esta trilha, que corta a serra do Mar foi durante dois séculos a via de transporte que escorria toda a riqueza do Paraná. Por lá transitavam milhares de muares. Ao seu lado vivia todo tipo de gente que direta ou indiretamente tiravam seu sustento desta trilha, eram desde fiscais da receita, que cobravam impostos e pedágio, como pessoas que ofereciam pouso e comida aos tropeiros.

Hoje o cenário é bem distinto. É difícil imaginar que aqueles vales e matas já foram densamente povoados. A paisagem formada pela rica floresta e a imponente serra camufla os restos da antiga economia regional e nos engana dando uma falsa sensação de natureza selvagem e intocada. Na verdade nos prova que é de fato uma natureza poderosa capaz de, em uma escala de tempo pequena, destruir qualquer tipo de vestígio de economia humana.

Além de mim, esteve na caminhada o Júlio Fiori e seu amigo Zig Koch, famoso fotógrafo de natureza, além de minha namorada Vivian que veio passar o fim de semana em Curitiba.

Por motivos óbvios, a maioria das pessoas percorrem a trilha do Itupava descendo a serra. Como não seguimos este pensamento natural e estávamos dispostos a treinar um pouco mais nossas pernas para o desafio dos Andes no final do ano.

Fizemos o oposto, para desespero da Vivian que trabalhando em São Paulo, está desacostumada com a qualidade de vida do interior.

Mesmo com o intuito de treinar, fizemos a caminhada em ritmo de passeio, parando várias vezes para apreciar a paisagem e esperar também o Zig fazer suas fotografias. Contrastando com nossa "calma de vaca", encontramos logo no começo o Elcio, outro integrante da equipe do Aconcagua no final de sua "caminhada". Ele acabara de descer todo o Itupava em uma hora e meia! (detalhe, a trilha tem cerca de 18 Km).

Diferente de nosso amigo, que ainda teve tempo de ir ao Marumbi e subir o Abrolhos, levamos quase 8 horas para fazer o caminho.

Foi uma bela experiência, fazer o caminho pelo inverso foi interessante, pois tivemos tempo de ver os detalhes da trilha, encontrar alguns vestígios do antigo uso e ainda duas jararacas que a Vivian teve o desagrado de quase pisar nelas.

Chegamos em borda do Campo de noite, nos encontrando com o Mikael que gentilmente nos levou até a rodoviária de Quatro Barras para pegarmos o ônibus para Curitiba.


Aspecto do interior da Mata Atlântica próximo ao nível do mar.

Vivian em uma das pontes que foram construídas para implementar o turismo na Trilha.

Vista para o Conjunto Marumbi desde o Cadeado.

Detalhes da Florestas.

A trilha propriamente dita. Repare que ela é toda calçada.

O interior da Mata numa cota altimétrica mais elevada. Aqui há grande presença de samambaias que lembra uma paisagem paleozóica.

A trilha pelo Google Earth desde o planalto. O primeiro morro na direita é o Pão de Loh. Ao fundo vê-se o Marumbi e o mergulho da serra descendo mil metros até o litoral.

A vista da trilha desde o litoral. O começo (fim) é em Porto de cima, um distrito de Morretes. Na imagem se vê o Marumbi, a enorme montanha na esquerda e a escarpa, por onde subimos. Foram no total 19,40 Km de caminhada e mil metros de ascensão.

Se você quiser saber mais sobre o Itupava, acesso o site da trilha: http://itupava.altamontanha.com/

22 de outubro de 2007

Fim de semana no Marumbi

"O mundo é para quem nasce para o conquistar.

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão"

Fernando Pessoa


O Marumbi é a montanha mais tradicional do montanhismo paranaense e é um dos lugares mais importantes no desenrolar da evolução desta atividade no Brasil, pois pode-se dizer que ali começou o montanhismo no sul e daqui saíram importantes montanhistas que já escalaram as montanhas mais altas do mundo.

A base dela fica próxima aos 300 metros de altitude e seu ponto mais alto é o Monte Olimpo a 1540 metros. Não se trata de uma montanha de grande altitude, mas é sem dúvida uma montanha alta.

Eu estava com o Júlio, Jhony e Luiz, que assim como eu estavam na montanha para iniciar um treinamento para no fim ano escalar nos Andes. Acompanhando-nos, estavam o Pick e o Paulo.

O Marumbi aparentemente era um ótimo lugar para dar inicio à este treino, já que é uma montanha muito escarpada e alta, mas que também permite fazermos um ascensão em apenas um dia.

Íamos subir por um caminho que segundo o Júlio era fácil, pois nove anos antes ele havia subido com um piá de braço quebrado, mas não foi bem assim, ou melhor, foi o contrário do que ele falou!

O começo da trilha é pelo meio da floresta densa, entretanto depois de subir bastante, chegamos uma base rochosa onde a inclinação fica muito mais abrupta. A partir daí começou um trecho que não chega a uma dificuldade técnica de escalada, mas que no fim se tornou a trilha, mais difícil que eu fiz no Brasil.

Ainda fico em dúvida se o que eu fiz foi trilha ou escalada, pois em muitos trechos houve inclinação de escalada, seja em trechos rochosos ou no meio do mato que foi na verdade a maior dificuldade, pois em ambiente tropical de altitude há muitos bambus e o mato é muito fechado, dificultando muito o progresso e causando arranhões entre outros incômodos. A úmidade também é outra dificuldade, pois os trechos rochosos ficam molhados e escorregadios.

Esta ascensão (escalada) foi cheia de trechos rochosos, com direito a fendas de entalamento de corpo, paredes positivas, chaminés. Como tinha muito mato, não dava pra "escalar" estes trechos com as técnicas de escalada em rocha, pois as agarras estavam molhadas e muito sujas com limo. O melhor jeito foi ter que segurar em galhos e ir subindo pisando em pequenos platôs feitos por raízes, ou seja, a técnica consistia em usar agarras biológicas.

Me senti como aqueles montanhistas conquistadores da década de 50. A técnica realmente não era a mais bonita, mas a escalada não deixou de ser difícil, aliás, depois deste fim de semana comecei a me achar um escalador mais completo, pois tenho agora experiência em escalada em rocha, gelo e escalada em mato.

Foram 7 horas de subida e 10 horas de caminhada no total. O esforço foi enorme, tanto que até passei mal. Foi um treino puxado para ser o primeiro, mas foi um bom começo, mesmo com calor, ninguém reclamou. Mesmo sem saber onde estávamos, ninguém discutiu qual era o melhor caminho. Aparentemente rolou um bom entrosamento, o que quer dizer que esta equipe, se continuar assim, tem tudo para se dar bem nos Andes. A idéia agora é continuar treinando na Serra do Mar. Entretanto, o Jhony, o Júlio e o Luiz, vão para o Aconcagua. Eu, Beto e Hilton, vamos para o Mercedario. Os destinos são distintos mas mesmo assim vamos fazer uma aclimatação todos juntos, tenho boas expectativas.

O Abrolhos, o pico mais impressionante do conjunto Marumbi visto desde a estação de trem
Acho que a trilha que fizemos foi por aqui. Digo acho, pois não deu pra vem bem qual caminho tomamos. Havia muito mato.
Em algum lugar depois que a cobertura vegetal fica menos adensado pela altitude. Na foto Jhony, Julio e Paulo (atrás)Pick (sentado)
Jhony subindo pela corda. Um dos trecho rochosos e cheio de mato.
Pick atravessando um dos trechos com bambus
Quando eu falo em inclinação e exposição, quero dizer aquilo que esta foto mostra! (foto Júlio)
Jhony em uma fenda de meio corpo, outro trecho ruim!
Rocha molhada, uma constante nas encostas úmidas da montanha
Eu no topo da agulha do Tigre. finalmente!
Vista para o norte da Serra do Mar
O morro da esfinge no meio do nevoeiro