Blog do Pedro Hauck: junho 2015

29 de junho de 2015

Ascensão ao Ojos del Salado, o vulcão mais alto do mundo

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Diferente de muitas montanhas nos Andes, o Ojos del Salado tem 3 refúgios. O mais baixo deles é o Claudio Lucero, que fica a 4500 metros e não é muito distante da estrada. Ficamos ali alguns dias aclimatando e esperando o tempo melhorar, já que houve um dia com nevasca.

No dia certo saímos deste primeiro refúgio e fomos em direção ao intermediário, Refúgio Atacama. São 24 quilômetros de estrada 4x4 que tem apenas um trecho um pouco mais complicado que exige a reduzida. Apesar de já ter passado por ali em 2013, com a caminhonete andina do Waldemar Niclevicz, era uma paisagem diferente, pois naquela ocasião tudo estava nevado e apesar da tormenta dias antes, a paisagem estava seca, com apenas os cumes das montanhas pintados de branco.

Uma vez no Refúgio Atacama começamos a arrumar seu interior. Havia muito lixo deixado por outras expedições. Empacotamos tudo para levar embora. Este refúgio é bem pequeno e serviu apenas para abrigar os guias e também como lugar para cozinhar. Como o ali está a 5200 metros, todos ficaram lá dentro conversando enquanto cozinhávamos. A noite foi gelada, mas apesar da altitude tudo tranquilo, dado o ótimo plano de aclimatação.

No dia seguinte deixamos os carros de lado e fomos à pé ao terceiro refúgio, Tejos, que fica a 5815 metros, e 4 quilômetros de distância, onde encontramos Gianfranco Biachi, um piloto chileno que havia acabado de bater o recorde mundial de altitude numa montanha, alcançando 6400 metros.  Ele era patrocinado pela Suzuki e sua moto era toda especial, o Maximo ficou com inveja por ele conseguir um patrocínio da Suzuki e ele andar com sua moto toda ferrada para escalar montanhas e fazer seu projeto dos 6 mil metros.

Falando no Maximo, após chegarmos no refúgio ele começou a ter dores nas costas, resultado de 4 meses seguidos de expedições nos Andes, com essa decidimos que não era melhor ele subir. Mesmo assim teríamos além de mim o Edu Tonetti, o Diego e o Javi como guias.

Removendo o lixo deixado no refúgio Atacama.

Maximo subindo ao Tejos e o Ojos ao fundo.

Refúgio Tejos

Diego Calabro vendo as novidades.... 

Gianfranco Biachi logo após bater o recorde mundial de altitude numa moto.
Como não podia deixar de ser acordamos super cedo para o ataque e deixamos o refúgio para enfrentar a madrugada gelada. A fila indiana se formou e o frio era extremo. Disse a todos que o desafio era vencer a madrugada e de fato o fizemos, mas logo ao amanhecer alguns acabaram desistindo. O frio toma nossa energia e acontece um fenômeno estranho que é ter sono durante a caminhada. Um sono do tipo fisgadas quando dirigimos cansados, mas em pé. Isso aconteceu, por exemplo, com o Bruno Audi. Ele e o Emiliano desceram junto com o Diego e o resto continuou comigo, Javi e o Edu.

Já com o dia claro, alcançamos a borda da cratera e começamos a circular a mesma até chegar na canaleta que separa o cume internacional do Argentino, onde tem o trecho mais complicado da subida que consiste numa escalaminhada com corda fixa num trecho bastante exposto.

Javi foi na frente e montou uma segurança. Porém, como este trecho faz um "L", o Edu ficar na interseção. O frio estava terrível, meus pés estavam congelando e esperar virou um tormento. No entanto um a um foi ascendendo, até que chegou minha vez. Eu, Edu Tonetti, Javi Callupan, Joair Bertola, Marcio Pelloso, Alexandre Sanfurgo, Gustavo Uria e Petru Rares fizemos cume. Foi minha segunda vez no topo do vulcão mais alto do mundo!

Joguei as cinzas do Parofes rapidamente e o Javi não entendeu o que eu estava fazendo ao jogar aqueles pózinhos, mal sabia que seu tempo aqui na terra era curto...
Descemos sem muitos problemas e no meio da tarde chegamos ao refúgio, onde o Maximo nos informou que ele havia recebido um alerta meteorológico que uma tempestade se aproximava. Não houve outra alternativa senão juntar tudo e descer até o Refúgio Atacama onde estavam os carros.

Soquei tudo o que era possível dentro da mochila cargueira e fui descendo, mesmo cansado, com uma parte do grande grupo. Tomando um caminho de descida inédito para mim, cheguei no carro com o dia chegando ao fim e com o jipe carregado sai dali em direção ao Refúgio Claudio Lucero onde uma parte do grupo que havia descido antes nos esperava.

Como todos queriam voltar à cidade, acabamos descendo os Andes à noite para chegar em Copiapó de madrugada, onde com sorte conseguimos uma pizzaria aberta para abastecer nossos estômagos e dormir super tarde e felizes.

Foi uma expedição super bem sucedida, a qual guardarei ótimas recordações. No entanto o perrengue não ficou nas alturas... (Continua).

Vista para o cume desde a cratera do Ojos del Salado

O grupo descansa na cratera do Ojos.

Caixa de cume.

Vista para o Barrancas Blancas do cume do Ojos.

Vista para o maciço dos 3 Cruces (esquerda) e Barrancas (dir).

Vista para o Muertito e o Mulas Muertas. No horizonte o Vulcão Sierra Nevada.

Vista para o Muerto (esquerda), Fraile (centro) e Incahuasi.

Jogando as cinzas do Parofes no cume do Ojos del Salado.

Homenagem ao Parofes no cume do Ojos del Salado.

25 de junho de 2015

Ascensão ao Cerro Vicuñas, 6087 metros

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Despertamos de madrugada tendo apenas as luzes das estrelas que coalhavam o céu negro da puna como guias. O frio era intenso e penetrava até os ossos. Lotamos nossos 4 veículos 4x4 e ainda tivemos que ligar o ar condicionado para não embaçar o vidro. 

Através do caminho de pedras e areia vulcânica, subimos um vale desértico até onde nossos jipes chegavam e a partir dali só tração nas duas pernas.

Caminhamos um pouco com a luz das lanternas na cabeça, que iluminando o chão fazia brilhar os cristais de gelo no chão do deserto. Até o sol nascer num espetáculo que pintou o céu de vermelho, que durou pouco, mas que para nossa felicidade descortinou um novo mundo mais claro e menos congelante.

O grupo grande logo foi se dividindo e as primeiras desistências começaram a ocorrer, com Diego "Coco" Calabro e Javi, descendo com as pessoas que se cansaram. No rádio, Javi me chama e diz que a Paulinha Kapp estava com ele, mas ela queria continuar. Ele a conduziu até um local visível para mim e dali passei a conduzi-la no passo "Jamon y Queso". (Não sabe o que é? venha escalar comigo...).

Acabou que deu certo, a Paulinha achou seu ritmo e fomos lentamente nos aproximando do resto do grupo que tinha na dianteira Edu Tonetti com o Rares, o Húngaro, que estavam com bastante gás, mas que perderam tempo subindo por uma vertente mais difícil. 

Acabou que no final eu e a Paulinha chegamos poucos minutos depois do resto do grupo. Sucesso total com apenas 3 desistências e quase todo o resto feliz da vida, num lugar que parece Marte e faz frio de Marte. 

Dali avistávamos o Ojos del Salado logo em nossa frente. Podíamos ver o Walther Penck e o Patos mais ao Sul, assim como todo o maciço dos Três Cruces, o Cerro Solo, Barrancas Blancas, Ermitaño, Peñas Blancas, Muerto, San Francisco, Incahuasi, El Fraile e no horizonte o Condor e o Sierra Nevada.Todas montanhas acima de 6 mil metros. Incrível!

A descida não foi dificil e logo estávamos no refúgio comendo uma sopa de mariscos feito pelo Daniel, chileno que nos ajudou na logística. Foi um dia e tanto.

Amanhecer no Cerro Vicuñas.

Encosta do Cerro Vicuñas pela manhã.

Primeiros raios de sol.

Todo mundo subidno o Cerro Vicuñas.

Ascensão ao Cerro Vicuñas.

Nevado Barrancas Blancas visto do Cerro Vicuñas

Cerro Solo, 3 Cruces Sul e Central visto do Cerro Vicuñas.

Paula Kapp subindo o Cerro Vicuñas

Galera no cume do Cerro Vicuñas.

Jogando cinzas do Parofes no cume do Cerro Vicuñas.

Homenagem ao Parofes no cume do Cerro Vicuñas.

Vista do cume do Cerro Vicuñas.

Ojos del Salado visto do cume do Cerro Vicuñas.

Nevado El Muerto, direita, Fraile, centro e Incahuasi na esquerda vista do cume do Cerro Vicuñas.

Caixa de cume do Cerro Vicuñas.

Descendo do cume do Cerro Vicuñas.


21 de junho de 2015

Neve na Puna do Atacama

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Após descer da Nevado Três Cruces Central, acabei me reunindo com o resto do grupo na Laguna Verde e no dia seguinte voltei resgatar o Edu Tonetti, que fez cume sozinho no Três Cruces Sul, que é a quinta montanha mais alta dos Andes. De Laguna Verde fomos para o refúgio Claudio Lucero, o primeiro dos três refúgios do Ojos del Salado.

 O grupo já havia realizado caminhadas de aclimatação no Cerro Siete Hermanos e no Mulas Muertas. A próxima etapa seria ascender o Vicuñas, com 6087 metros de altitude. Esta ascensão, no entanto, foi remarcada devido uma tempestade que pintou a Puna de branco.

Muita gente pergunta por que estes gigantes de 6 mil metros se chamam "nevados". Ora, têm este nome porque muitas vezes eles estão assim e geralmente fora da época mais quente que é a que a Puna recebe mais gente. 

A partir deste dia, a Puna mostrou seu lado Tundra e tudo ficou de fato nevado. Belo e gelado:

:: Continua...

Tempestade no deserto

Jipe pegando neve




Refúgio Claudio Lucero

Ojos del Salado nevado

Nevado el Muertom, um gigante com mais de 6500 metros.

Nevado Vicuñas

Nevado Ermintaño

Nevado Peñas Blancas
:: Continua...

19 de junho de 2015

Escalando o Três Cruces Central - 11a montanha mais alta dos Andes

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Na escola de guias de Mendoza há exigências curriculares para se ingressar no módulo mais avançado de guias de montanha e por isso estávamos ajudando no guia Edu Tonetti com estas exigências. Como já estávamos aclimatados de expedições anteriores, fomos fazer uma "rapidinha" no maciço dos Três Cruces, onde ficam o cume Central (décimo primeiro mais alto dos Andes) e o Sul (o quinto)!

O acesso se dá por um caminho 4x4 que chega até os 5500 metros, que vencemos com muita perícia em meu jipe. Foi só quando colocamos a mochila nas costas que percebo um saco de dormir sobressalente no porta malas na cor exata do meu que peguei por engano.... oops.

Assim, com a mochila leve, começamos a caminhada de aproximação rumo ao acampamento alto da montanha que fica a quase 6 mil metros de altitude, numa pernada cansativa de cerca de 5 horas que há havia feito anteriormente com Waldemar Niclevicz em 2013 quando fizemos o cume Sul.

Naquela ocasião a montanha estava muito nevada e havia o mistério do desaparecimento do montanhista argentino Ricardo Córdoba. Havíamos acampado ao lado de sua barraca abandonada e fomos os primeiros a fazer cume na montanha e verificar que não havia sua assinatura no livro deixado pela expedição patrocinada pelo Banco do Chile. Ou seja, Ricardo Córboda não fez cume. Nunca acharam seu corpo...

Chegamos meio cansados ao campo alto da montanha, que fica no meio entre o cume Sul e Central num local plano ao lado de um lago. Deu tempo de montar a barraca, que diga-se de passagem é um protótipo que está sendo testado para vendermos na nossa loja, pegar agua, comer e dormir.

Foi uma noite gelada. Saímos de madrugada com a barraca toda congelada e não demorou para que parte de nossas roupas também ficasse naquele estado.

Estava muito escuro e confuso, me guiava somente pelo tracklog de GPS obtido pela ascensão solitário do Maximo realizada no ano de 2011. Mesmo com estes percalços, avançávamos bem, pois parar resultava em passar muito frio. Aliás era o que acontecia nas poucas paradas que fazíamos para nos hidratar. Que noite fria!!

O amanhecer não finalizou nosso sofrimento com a temperatura, pelo menos até o sol se firmar no horizonte. Quando isso aconteceu já estávamos num local bem alto, na base de uma parede de gelo com inclinação médiana. Não haveria problema algum, a não ser pelo fato de que não estávamos levando crampons!

Fiquei desanimado na hora, mas não baixei a cabeça e comecei a desenhar um caminho no gelo por locais mais ondulados. Chutava o gelo e construía plataformas  para ficar em pé e quando esboçava um escorregão meu coração parava na boca, que se secava no exato momento produzindo uma situação extremamente desagradável. Porque não trouxe o crampon?? Mania maldita de ser minimalista....

O Edu no começo ficou só olhando. Nitidamente reprovando minha atitude, mas depois, vendo meu progresso veio seguindo minhas pegadas. No fim da rampa, parei numa pedra para esperar meu parceiro, eis que neste momento percebo que o GPS que carregava, emprestado do Maximo, não estava mais comigo. Ele havia caído!!!

Foi uma sensação péssima. Você se mata para trabalhar e perde um equipamento que pode custar um bom valor de seus ganhos. Que raiva!!!

Comuniquei a perda ao Edu assim que ele chegou, mas ele estava cansado demais para solidarizar com meu azar. Sem lamentar continuamos subindo uma rampa que foi o trecho final da ascensão, muito mais fácil que anterior, chegamos até que rápido ao cume, que é uma crista meio circular de pedras onde é difícil saber qual é o ponto mais alto.
Demos uma caminhada pela crista, procurando a caixa de cume do Banco do Chile, existente em todos os 6 mil chilenos, mas não encontramos. Joguei as cinzas do Parofes, fiz fotos e começamos a descida.

Na base da rampa de gelo comecei a procurar o GPS do Maximo ,fazendo uma operação pente fino com o Edu. Para minha felicidade acabamos encontrando o aparelho!

Na volta ao acampamento, tive tempo apenas de comer qq porcaria, pegar as coisas e vazar, sozinho. É que o Edu ainda ia fazer o cume Sul do dia seguinte e eu tinha voltar para ajudar o grupo.

A descida foi rápida e logo pude ir até o refúgio Laguna Verde me reunir com o resto do grupo e comemorar, afinal foi minha trigésima primeira montanha de 6 mil metros e com ela acabei de tornando o brasileiro com mais montanhas desta altitude nos Andes no curriculum.

:: Continua.

Começo da caminhada no Três Cruces, 5500 metros, até onde o jipe vai.

Acampamento avaçado, mais alto que o Cerro Plata e com um laguinho ao fundo.

Vista para o 3 Cruces Central do Acampamento alto.

Tres Cruces Sul ao fundo visto da subida do Central pela manhã. 

Rampa de gelo perto do cume.

Edu subindo a rampa de gelo.

Edu no último trecho antes do cume e o cume Sul ao fundo.

Vista para outro cume do Maciço do Três Cruces com lago no cume.

Eu comemorando a subida ao Três Cruces com o Cume Sul ao fundo.

Edu Tonetti no cume do Três Cruces Central.

O Cume estreito e rochoso do Nevado Três Cruces Central.

Deixando as cinzas do Parofes

Parofito no cume.

Parofito no cume do Três Cruces Central.

Vista do cume do Três Cruces Central para o Norte.

Pedro Hauck e Edu Tonetti.