Blog do Pedro Hauck: fevereiro 2006

27 de fevereiro de 2006

Cajon del Maipo

:: Leia a parte que antecede esta história

A ideia de realizar esta viagem de carro foi a de estar livre para irmos em montanhas que sao dificeis de se chegar com transporte normal e poder ir de uma montanha em outra por nossa própria conta.

Ir para o Cajon del Maipo no Chile parecia ser ideal, pois la existem varias montanhas próximas e acessiveis por estradas mas que nao seria nada fácil chegar se fossemos de ônibus. Outro critério de escolha foi o fato das montanhas do Cajon serem escaladas técnicas em gelo que não necessitam mais que um dia de escalada, ou seja, em poucos dias poderíamos escalar varias montanhas bonitas, técnicas e baixas e também não teríamos problemas com a altitude.

O primeiro lugar que escolhemos para ir foi Baños Morales, um pequeníssimo vilarejo no fundo do Vale.

Para Chegar lá foi uma grande odisseia. Sair de Santiago foi dificílimo, pois a cidade não tem sinalização. Há Placas com o nome das ruas, mas não há placas dizendo onde elas vão, ou seja, perdemos horas nas ruas de Santiago procurando uma avenida para sair da cidade.

Toda esta odisséia piorou com o fato de o povo chileno ser muito pouco amistoso. Nao que isto seja um preconceito, mas o chileno eh muito fechado e não sabe dar informação, aliás, parece que não gosta muito de estrangeiros que, como nós, não querem pagar pelas informações que eles teimam em vender e não dar.

Estivemos no Club andino Alemão de Santiago, perguntando sobre as condições das montanhas e coisas do tipo.... Eles não estavam nem aí conosco, e fomos ao Cajon del Maipo sem saber de nada do que iriamos escalar ou encontrar pelas montanhas.

Assim chegamos em Baños Morales... Olhando as montanhas do vale, vimos o Cerro Morado e decidimos que ele seria a nossa primeira montanha a ser escalada no Chile.

O Morado eh uma montanha de dois cumes envolta por glaciares. Há Dois acessos à ela, um eh por Baños Morales e outra mais acima por uma lagoa chamada Morado, fomos por esta ultima pois pela informação que tivemos, lah tinha mais gelo.

O trekking de aproximação na montanha era bem curto, o fizemos em apenas 3 horas. O local era muito bonito, uma lagoa de borda de glaciar com uma cascata de gelo imensa pendurada numa parede de uns 300 metros de altura, este eh o glaciar colgante del Morado.

glaciar colgante del Morado

No primeiro dia apenas descansamos e deixamos a escalada para o dia seguinte, quando fomos ao colgante del Morado.

Este glaciar tem todas as características de uma cascata de gelo, como a do Khumbu no Nepal. Muitos seraks e gretas grandes, tudo isso em movimento, imperceptível à nós que estávamos lah a pouco tempo.

Dormimos bastante e só chegamos na base da geleira por volta das 11 da manha. Chegando lah procuramos uma boa torre de gelo para praticar a escalada em gelo. Encontrada nossa parede de gelo, Maximo subiu por um caminho fácil e no topo montou uma ancoragem para escalarmos um pouco em Top Rope.

Enquanto esperava o Maximo montar a ancoragem no topo da parede de gelo, um estrondo parecido com um trovão se rompeu no topo da geleira e quando olhei ao alto para ver o que havia acontecido, uma imagem que nunca imaginei que iria ver na minha vida, ou que pelo menos apenas imaginei que seriam as ultimas de minha vida aconteceu: Uma grande massa de neve e pedaços de gelo caiam exatamente na direção em que eu estava. Nao dava para acreditar, mas eu estava exatamente na rota de uma avalanche!

Olhei para o alto e vi aquela massa branca se aproximando em velocidade, pensei comigo que nao poderia estar vindo à mim. Varias vezes eu jah havia visto uma avalanche, mas elas nunca caiam onde eu estava. Antes de meu cérebro processar esta realidade, minhas pernas jah tinham respondido ao impulso de sobrevivência e eu sair correndo até embaixo de uma torre de gelo, onde nenhum pedaço de gelo caiu e assim saí sem nenhum arranhão, apenas com o coração na garganta e pernas bambas.

No topo da torre de gelo, Maximo berrava meu nome, achando que talvez eu tivesse sido engolido pela avalanche. Demorei a contesta-lo, pois naquele momento mal conseguia falar. Entretanto, quando recuperei a fala ele se acalmou.

Mesmo depois de um evento que poderia ter acabado conosco, não havia porque nos preocuparmos, pois estatisticamente não ocorrem muitas avalanches num mesmo dia, assim que decidimos continuar escalando. Entretanto o tempo fechou e logo tivemos que voltar para a barraca.

A imagem da avalanche ficava martelando minha cabeça. Esta foi, sem duvida, uma experiencia desagradável.

Escalada no Morado

Glaciar Morado

Dia seguinte acordamos antes do sol nascer e voltamos cedo para a geleira. Começamos a escalar e logo  pegamos altura.

Entretanto a característica da cascata de gelo era a maior dificuldade. Uma cascata não eh como um glaciar de vertente que, mesmo com alguns bergschrund permanece sempre rente e com uma inclinação perpendicular a inclinação da montanha. Na cascata de gelo ha esses seraks, que são blocos gigantes de gelo todos difusos. Há lugares com gelo em negativo, há gretas super profundas, pontes de gelo e coisas instáveis.

Logo no começo, fomos afunilando a escalada e chegamos em uma torre com passagens em negativo que não foram nada fáceis de serem guiadas. Azar do Maximo.

Subimos uns 180 metros, ateh chegar em outra parede de gelo com trecho negativo. Lá o gelo era de tao pouca qualidade que a piqueta não se segurava e era impossível bater um parafuso.

Eu jah estava com medo, pois fazia calor e por onde eu olhava haviam rios de agua se formando, ou seja o gelo estava derretendo e isso poderia significar avalanches, como a do dia anterior.

Depois de avaliar ser muito difícil continuar, começamos a decida.

Por sorte logo no começo encontramos um grande bloco de gelo, que lacamos com a corda e pudemos fazer um rapel, chegando ateh uma plataforma.

Foi muito seguro e tranquilo o primeiro rapel. Chegando na plataforma, desescalamos uma superfície pouco inclinada e entramos em uma gretinha com gelo verglas muito duro, onde fizemos um abalakov para descer.

Para quem não sabe, abalakov consiste em furar o gelo duro e passar por ele um cordim ou fita de escalada, onde passamos a corda para fazer o rapel. Apesar de parecer pouco seguro, este tipo de ancoragem, se bem feito suporta o peso de um caminhão.

Rapelamos pelo abalakov sem problemas, acabei abandonado um cordim que eu achei na lapinha, e novamente paramos em outra plataforma, onde fizemos um outro rapel e enfim chegamos na base. Naquele dia discutimos sobre a questão das geleiras e do aquecimento global. Recentemente escrevemos um artigo no site sobre isso. Concluímos estávamos num lugar errado numa época errada. Numa latitude tao baixa era obvio que o gelo estaria derretido num fim de verão.

Nem fomos para outras montanhas no Cajon del Maipo, era muito previsível que todas estariam na mesma condicao, gelo ruim e rochas expostas.... Fiquei com muita raiva por nao ter tido esta informacao antes!!

Devido a estes fatos, deixamos o Chile e viemos a procura de gelo no sul. Agora estamos em Bariloche, onde o frio eh uma realidade.

Descemos em um dia do Cajon del Maipo ateh Talca, pela ruta 5, uma autopista chilena muito movimentada e com pedágios caríssimos. Em Talca pegamos uma estrada para o interior, que logo perdia o pavimento e se transformou numa estradinha de terra horrorosa, com muitas costelas de vaca e perigosíssima, cheio de precipícios, mas belíssima. Esta era a estrada internacional.

Novamente passamos a noite numa fronteira, dormindo ao lado de um lago maravilhoso, o lago Maule, onde muitos chilenos pescavam trutas e outras delicias de águas frias.

Disjunção colunar no Paso de Maule


Acampamento no Paso de Maule

Paisagem no Paso de Maule

Cruzamos a fronteira, descemos a cordilheira e novamente estávamos no deserto do oeste argentino. Quase ficamos sem gasolina no caminho fomos salvos pela gasolina do fogareiro e fizemos 42 Km com um litro, indo abastecer somente em Malague. Claro que fomos ajudados com varias descidas e muita banguela!

Mais um dia de estrada foi necessário para Cruzar o sul de Mendoza e a toda a província de Neuquen. Passamos por lugares lindíssimos no caminho a cada parada para tirar fotos percebiamos uma ligeira mudança na temperatura, ateh que enfim demos conta que fazia frio demais e o vento estava filho da puta demais... percebemos que a paisagem mudara e por fim estávamos na Patagônia.

Agora em Bariloche o tempo está patagônico. Temperatura de 10 graus, umidade de 45% e ventos de 45 km/h.

Se queríamos frio, conseguimos, agora espero o principal. Pegar bom gelo no Tronador.

Esta sera infelizmente nossa ultima montanha na viagem. Pretendíamos escalar como nunca nesta nossa expedição, entretanto os problemas burocráticos e o calor estragaram os planos.

Quero somente escalar em gelo no Tronador. Nao me importo muito em fazer cume aqui, pois eu jah escalei esta montanha em 2003.

Entretanto estou um tanto decepcionado, pois ateh agora eu soh fiz cume do feio e seco vulcão San Francisco em Catamarca, e o Tronador eh uma montanha de três cumes e eu só subi um. Assim que somente lah em cima vou saber o que vou fazer.

Vou esperar para ver o que o tempo tem a me dizer.


ps. novamente desculpem-me pelos erros de pontuação e etc... estou num teclado diferente do brasileiro.


Paisagem no Sul da Província de Mendoza

Rocha Vulcânica

Rio ao lado da Ruta 40

Ruta 40 no Sul de Mendoza

Vegetação do deserto

Falha ao lado da estrada

Nuvens num final de tarde perto de Neuquén

Coletania de fotos

Rio Limay perto de Bariloche

Paraíso da escalada próximo a Bariloche

Torre de rocha perto de Bariloche

Por do sol na estrada na província de Neuquen... Bemvindos à Patagônia

Duna de areia invadindo a estrada no sul de Mendoza

Rio Encaixado em meio a rochas vulcânicas no sul de Mendoza

Detritos vulcânicos de centenas de quilômetros de extensao no sul de Mendoza

Vegetacao tipica do oeste argentino, sul de Mendoza

Uma falha transcorrente no norte de Neuquén na Patagônia Argentina.

Condicoes do carro apos quilômetros de estradas de terra.

Montanhas na fronteira da Argentina com o Chile, Paso Pehunche.

Linhas de deposicao de Morenas no acampamento base do Cerro Morado

A escalada no glaciar Morado

Maximo lancando a corda glaciar abaixo para fazer o rapel

Eu fazendo o rapel de descida do glaciar ancorado num bloco de gelo

O vale onde fica o Cerro Morado no Cajons del Maipo

Visao do Glaciar Morado de mais longe, ele deve ter uns 300 mts de altura.

Maximo olhando para o Glaciar Morado, o qual escalamos.

Maximo e eu na base do Glaciar Colgante del Morado no Cajon del Maipo, Chile

Vista do Vulcao Incahuasi desde as termas

17 de fevereiro de 2006

Vamos ao Chile!

:: Leia a parte que antecede esta história

Hoje estivemos pesquisando nossa próxima escalada.

Estava nos planos a escalada do Cerro Mercedario, de 6770 mts de altitude.

Entretanto, as dificuldades que este tipo de montanha representa, como por exemplo, a aproximação longa, a necessidade de um planejamento logístico, a necessidade de se contratar um serviço 4x4 para se chegar lah, as moléstias com a altitude, uma vez que esta eh uma das mais altas montanhas da América.

Tudo isso nos fez repensar e ficamos com uma grande lombeira (fala do Bruno) de ter que passar por tudo isso de novo.

Assim abandonamos este projeto de realizar uma expedição ao Mercedário para realizar escalas no Cajón del Maipu, nas proximidades da cidade de Santiago do Chile.

O Cajon del Maipu eh um grane vale rodeado por montanhas, sendo que a mais alta dela eh o Cerro Marmolejo, a montanha de 6 mil metros mais ao sul da cordilheira dos Andes.

Entretanto o Marmolejo nao eh uma das que figuram em nossa lista, pois suas características se assemelham ao do Mercedario, e por isso não queremos subi-lo.

Pretendemos ir para a região de Baños Morales, embalse del Yeso e talvez Farellones, onde se concentram algumas montanhas de 4 e 5 mil metros de trechos técnicos com gelo, ou seja, vamos chegar e ir direto ao assunto.

Sao todas montanhas técnicas mas não difíceis. Podemos escalar um cume por dia, dependendo de nosso físico e vontade.

Uma das montanhas que esta na lista eh o Cerro Bello e Cuerno Blanco, na região de Baños Morales. Mas há outras....

Daqui da Argentina não ha muitas informações sobre o Cajon del Maipu, de forma que vamos ateh lah para saber com exatidão quais são as montanhas que vamos escalar e quanto tempo ficaremos incomunicáveis.

Assim, eh provável que eu fique um bom tempo sem escrever neste blog. O motivo vc´s jah sabem...

Então um grande abraço e até mais notícias...

Paisagem na estrada


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Rumo ao Sul passando por Ischigualasto


Paisagem em Catamarca

Depois de deixar a montanha no paso de San Francisco, voltamos ao piemonte andino e pegamos a estrada em direção ao sul para chegar na cidade de Chilecito em La Rioja.

No caminho nos deparamos com as consequência da tempestade que tivemos na parte alta dos Andes.

Anteriormente tentei descrever a paisagem da região noroeste da argentina, citando todas as dificuldades ambientais que o escasso povo daqui sofre... Acho que esqueci de dizer um detalhe.

Apesar do noroeste argentino estar situado na diagoal arréica da América do Sul, numa das três regiões áridas e semi-áridas do continente, aqui a escassez de água eh rompida uma vez ao ano quando a neve dos cumes andinos eh derretida no verão.

Como as montanhas da Puna são desérticas e não possuem uma vegetação que segure as vertentes. As águas do degelo escorrem superficialmente com muita energia, carregando todo tipo de material existente, inclusive de tamanho de matacões, diga-se, do tamanho de Corsa como o meu.

Esta água e seu material transportado desce com violência pelos vales e vai ganhando muita forca ao ponto de se tornarem grandes trombas de água e lama, formando grandes fluxos de lama pelos vales encaixados da cordilheira.

Ao chegar no piemonte, este fluxo de lama perde energia e deposita os materiais mais grosseiros primeiro e depois, quando perde energia, depositar areia e argila. Este caminho da água atinge dezenas de centenas de quilômetros e eh tao periódico que não chegar a definir um canal fluvial, de forma que estes rios lamacentos tem uma característica difusa, podendo ocorrer em qualquer local, dependendo da forca que possuem em cada ano.

Desta maneira, por toda região aos pés das montanhas andinas eh muito difícil manter uma habitação permanente e atividades econômicas sem antes fazer grandes obras para controlar a forca destrutiva destes fluxos de lama... A Engenharia desta região deve sempre pensar que uma hora ou outra haverá um fluxo de lama para destruir tudo pela frente.

Encontramos em nosso caminho para o sul, mostras de como eh a vida por esta região desolada. As estradas que cortam o noroeste argentino indo perpendicular a cordilheira são todas à prova de fluxos de lama. Elas são construídas em aterros e dependendo da ocorrência dos fluxos elas tem depressões periódicas, chamadas de badenes construídas para dar passagem aos fluxos sem destruir a estrada.

O problema eh que na época do degelo, estas estradas ficam cortadas ao trafego e dão mostra de que esta não eh uma região muito dinâmica para a produção de qualquer coisa que seja, e isso, aliado com o clima árido e a deficiência hídrica eh um grande empecilho para o desenvolvimento.

Por onde quer que estejamos, sempre que passamos por uma cidade ou um povoado, sempre a aparência que temos eh de que o local esta morto. Não vemos ninguém nas ruas, não vemos nenhum sinal de atividades econômicas, tudo eh muito pobre e sem esperança, parece que todos os dias nestas cidades são domingo ou feriado.

Paisagem na estrada em La Rioja
Quando estivemos em Tinogasta, pegamos uma estrada para chegar em Chilecito, mas o fluxo estava cortado pois em um badene havia tanta lama e agua que poderíamos ser arrastados pela forca do fluxo. Fizemos um desvio de uns 150 km e depois de varias horas chegamos em Chilecito.

A cidade de Chilecito eh prospera no noroeste da Argentina pois fica em um vale entre duas cordilheiras, a serra de Famatina e a serra de Velasca. uma com cumes de mais de 6 mil metros e outra com pelo menos uns 4500 mts.... ou seja, pelo vale de Chilecito, se drenado, tem-se a agua para o desenvovolvimento.

A região eh muito seca, e com a agua drenada no vale cria-se em Chilecito um clima artificial imitando o clima mediterrano e la e produz muita uva e vinhos e muita Oliva e azeite, por isso Chilecito eh um Oásis no meio do deserto.

Assim mesmo Chilecito não deixa de ser morta, apesar de turística, a cidade ainda mantem aquele velho habito argentino de se realizar a siesta, ou seja de para com tudo depois do almoço. Chegamos na cidade às 15:00 de uma terça feira e encontramos uma cidade tao morta que nem parecia o dia que era, mas sim um domingo. Não havia nem sequer um cachorro na rua para pedir informação, parecia uma madrugada em plena tarde.

Fiquei com tanta raiva deste costume folgado que adicionei a siesta como um dos motivos para o subdesenvolvimento da região, alias quem quer investir numa região em que todo mundo só trabalha de manha. Ainda bem que não existe siesta no Brasil, não há nem se quer uma palavra para isto em português, o que mais se aproxima eh folga, isso sim...

Bom, voltando ao relato, acabamos por encontrar um camping na periferia da cidade. e Dormimos lá por apenas 3 pesos. De noite apareceu dois viajantes franceses que vinham do sul de bicicleta e se juntou a nos dois e mais um canadense que também, viajava de bike. Conversamos ate altas horas e depois fomos dormir.

No dia seguinte acordamos cedo e nem tivemos tempo de despedir dos amigos e logo estávamos na estrada novamente, com o Maximo se lembrando sempre de sua odisseia por aquela região 5 anos atrás.

Atravessamos La Rioja e logo adentramos San Juan, indo parar no Parque nacional de Ischigualasto, que na linguagem indígena significa terra sem vida, um bom nome para o lugar.

Em Ischigualasto aflora-se à superfície formações geológicas das três eras, o paleozoico, mesozoico e cenozoico. Lá há fosseis de varias idades e eh uma referencia mundial para a paleontologia, tendo sido encontrados os dinossauros mais antigos do mundo, datados do Triássico.

O parque nacional eh tb chamado de vale da lua para atrair os turistas, que vem do mundo inteiro para ver os dinos, entretanto a região para mim tem grande interesse geomorfológico, pois durante a historia geofísica do local, passou por diversos clima e ambientes e podemos ver aflorados lateritas quando na região imperou um ambiente do tipo do cerrado que inclusive foi responsável por mantem a vida dos grandes dinos que ali habitaram.

De volta a estrada, passamos pela região frutífera mais importante talvez da América do Sul, de onde vem as azeitonas que consumimos no brasil, e também os pêssegos, vinhos e outras frutas.... passamos a noite num posto de gasolina e chegamos ontem a Mendoza, que desde de 2000 tem sido uma referencia em nossas viagens.

Estamos descansando um pouco e nos preparando para escalar nossa próxima montanha. Entretanto ainda não sabemos o que vamos fazer.

Uma das opcoes seria escalar o Cerro Mercedário, que com 6770 mts eh uma das mais altas dos Andes. Entretanto para chegar la teremos que pagar um 4x4 e também teremos que fazer uma longa aproximação, atravessando quilômetros com as mochilas nas costas e cheios de equipos, pois gostaríamos de fazer a rota sul, que se assemelha muito com o glaciar polacos do Aconcagua. Acontece que fazer tudo isso eh demorado e desgastante e tudo o que eu não quero agora eh passar por este tipo de dificuldade física e os abalos psicológicos que a altura e o cansaço faz.... Estamos estudando e em breve veremos o que vamos fazer.


Ischigualasto

Ischigualasto

Ischigualasto


Ischigualasto

Ischigualasto

Ischigualasto


ps. novamente peco desculpas pelos erros, não se esqueçam que estamos num pais com um teclado totalmente diferente do português, e com pressa para nao gastar muito no cyber cafeh... abrazo a todos....

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16 de fevereiro de 2006

A escalada no Incahuasi

:: Leia a parte que antecede este relato:

Max e eu na base do Incahuasi

Depois que fizemos a aclimatação no paso San Francisco e descer de volta para as termas, chegou em fim a hora de subir o Incahuasi.

Escolhemos este lugar para aclimatarmos pois ali o acesso é muito fácil e podemos chegar numa altitude elevada de carro, não precisando, como no sul fazer toda a aproximação à pé.

Então saímos com o carro das Termas para ir até a base do Vulcão Incahuasi. No caminho atravessamos uma grande planície inundada por agua salgada, onde os flamingos comiam livremente.

Tivemos dificuldades no caminho, pois o Corsa não é um carro feito para antes em terrenos muito acidentados. Por vezes tivemos que parar e tirar rochas vulcânicas vítreas do caminho para que elas não rasgassem o pneu e nem mesmo estourassem meu cárter, pois o carro é muito baixo. Mesmo no frio da altitude, andando a poucos quilômetros por hora, o motor aqueceu várias vezes e também tivemos que parar muito devido a estes incidentes. Resultado, chegamos na base do vulcão por volta das 16:00.

Estávamos famintos, de modo que ainda tivemos que cozinhar antes de subir.

Separamos todos os equipos e fomos o mais leve possível para o vulcão. Mas sem antes cuidar do carro, tirando a bateria para que não houvesse nenhuma zica, como naquela manhã em que a bateria havia descarregado e havíamos ficado nas termas sem ter como tirar o carro de lá. O mesmo incidente iria dar muito mais trabalho para nós, pois desta vez estávamos a uns 10 km de Las Grutas em uma estradinha precaríssima, o que talvez significasse uma negativa de socorro.

Começamos a subir tarde. Pelo menos o sol não nos castigou. Atravessamos uma pampa de sedimentos vulcânicos e em breve chegamos numa crista negra de materiais magmáticos, por onde subimos.

Quando as nuvens deram uma trégua, pude observar pela lado sul da montanha um caminho mais simples entre as encostas do Incahuasi e um colo que se formava em cone vulcânico secundário, onde se acumulava bastante neve que naquele lugar nos possibilita conseguir agua.

Apesar disto fomos pelo norte nesta crista negra e seca.

Quando eram por volta das 19:00 horas encontramos um lugar mais ou menos plano onde estabelecemos um acampamento 1, a 4800 mts de altitude.

Dormimos muito bem neste local e no dia seguinte desmontamos tudo e prosseguimos para o alto mais leves, pois havíamos consumido toda a agua que levávamos, o que nos obrigava desta vez a acampar perto de neve.

Subimos e penamos pela crista vulcânica. Várias vezes as rochas soltas nos faziam voltar e perder o equilíbrio, transformando tudo num pesadelo. A pior parte foi uma travessia sobre uma vertente inclinada e coalhada de cascalhos brancos, provavelmente gesso vulcânico que se comportava como bolinhas de gude.

Depois de muito esforço e paciência conseguimos superar esta dificuldade e chegamos em uma outra crista rochosa e escarpada onde montamos um acampamento 2 a quase 5700 metros de altitude.

Desta vez, antes de descansar, tive que passar por uma longa seção de derretimento de gelo para se obter o tão precioso líquido da vida. Nos hidratamos muito para que a aclimatação ficasse tudo ok e fomos dormir no meio do frio negativo da montanha.

Acordei por volta das 7 da manhã e me deparei com um dia perfeito, sem nuvens e vento e logo me preparei para poder subir.

Demoramos um tanto na preparação, pois o Maximo sentiu muitas dores de cabeça durante a noite. Jah havia cogitado a hipótese de esperar mais um dia, mas rapidamente Maximo se recuperou e pudemos por nós em marcha para o ataque ao cume.

Como disse, acabamos saindo tarde, por volta das 10 da manhã, mas em um lugar que anoitece as 10 da noite este não era nenhum problema. Subimos uma outra crista negra de material magmático e em breve chegamos em um glacial. O gelo no início era de boa qualidade, mas em quase todo o caminho ele se mostrou oco, ou seja pisávamos nele e abaixo da superfície havia uma camada de ar que fazia que afundávamos até o calcanhar e nos fazia cansar.

Tivemos que procurar um caminho para ascender sem se cansar tanta e por isso ficamos zigzagueando por perto das rochas procurando estes lugares que não afundavam.

Após andar assim por duas horas, chegamos em um lugar mais rochoso e escarpado e quando conseguimos vencer estes obstáculos e parecíamos que iriamos galgar no cume, chegamos numa plataforma gigante de onde o cume verdadeiro se elevava mais uns 200 metros pelo menos.

Foi um desanimo chegar lá e ver o cume tão longe, não somente verticalmente mas também horizontal, pois teríamos que atravessar esta enorme plataforma cheia de neve fofa e subir uma vertente longa e pouco inclinada para se chegar ao cume.

Pensamos um pouco, e fomos em direção ao cume. Havíamos chegado lá em somente 3 horas e faltava pouco para chegar ao ponto mais alto da montanha, de forma que não havíamos que nos preocupar com o cansaço.

Atravessarmos cuidadosamente a grande plataforma nevado, desviando ora e outra da neve fofa e traidora que nos fazia afundar até o joelho. Chegamos até a pendente que nos levava ao cume, quando de repente os ventos começaram a soprar mais forte e se formou um grande nuvem negra no cume e no horizonte que ameaçou a acabar com tudo. Ainda resistimos um pouco, mas o mal tempo era mais forte.
Incahusi com mal tempo

vista do 1 acampamento

Campo 1

O cansaço bateu forte em mim e resolvi dar meia volta e descer. Quando isso aconteceu o altímetro do gps marcava 6522 metros, ou seja menos de 100 mts do cume que poderíamos em condições perfeitas alcançar em menos de 40 minutos.

Desci procurando a entrada do vale glaciar por onde subimos. Entretanto o caminho que fizemos para desviar da neve fofa e os montes de detritos vulcânicos transformaram tudo num labirinto piorado com a confusão da tempestade.

Fiquei pela primeira vez sem saber por onde ir na montanha, então me comuniquei com o Maximo pelo rádio pedindo a ele onde era o caminho certo e ele veio a mim para que descêssemos juntos. O cume estava acabado para nós.

Nos confundimos todos para achar o caminho, mas depois que achamos estar no lugar certo, descemos com rapidez e chegamos salvos no acampamento.
Dormimos exaustos com o dia puxado. Foi muita infelicidade ter acontecido esta tempestade. A noite foi gelada e nevo como nunca lá em cima. Ao amanhecer, toda a secura da Puna do Atacama foi tomada pelo branco da neve que caiu durante a noite, transformando completamente a paisagem.

Desmontamos o acampamento e sem comer descemos lentamente as encostas do vulcão, sofrendo muito com aqueles cascalhos brancos que como bolinhas de gude nos botava no chão e nos castigava sem piedade. Foi um inferno aquela travessia.

Quase morto de cansaço chegamos ao carro. Montamos a bateria e ele deu a partida. Entretanto quando eu acelerava ele morria. Empurramos o carro ladeira abaixo e ele andou uns 500 metros e não morreu. Graças a deus o carro funcionou, agora só faltava a estrada maldita para chegarmos no asfalto.
Com muito medo fui desviando das rochas pontudas e consegui vencer os 10 km mais traiçoeiros que já dirigi.

Chegamos as termas feitos fantasmas. Nos banhamos nas aguas quentes e quando já pretendíamos passar a noite lá, alguns trovoes nos fez desistir da ideia e nos mostrou como seria a próxima noite na altitude.

Vista do acampamento 2 pela manhã: Tudo nevado!
Pegamos todas nossas coisas e rapidamente saímos de lá.
Deixamos las Grutas e a uma aparente tempestade de neve para trás e pegamos a estrada com a ideia de dormir em um refugio na beira da estrada em uma altitude mais baixa.

Após rodar uns 50 km chegamos ao lugar que havíamos acampados na nossa primeira noite lá. Eu havia esquecido neste local uma garrafa de refrigerante na água de uma lagoa para esfriar e fomos lá resgata-la.

A encontramos uns 15 metros acima da lagoa, numa barranco do rio, que nos mostrou que a tempestade na montanha resultou lá embaixo de enchente. A garrafa estaca toda suja de lama, mas o conteúdo era delicioso depois de 10 dias de montanha.

Acampamos em uma antiga fazenda que havia se transformado em refugio. A casa era de barra e não tinha portas. Dentro estava uma poeira de centímetros no chão e um caos.

Fizemos uma macarronada a alho e olho, a única coisa que havia sobrado de comida e fomos dormir contentes. Entretanto a casa se mostrou não ser abandonada e de noite o dono mostrou sua cara: RATOS!
Casa onde tentamos dormir e fomos atacados por ratos
Fomos violentados pelos ratos, que nos torturaram como podiam. Abandonamos o refúgio e tivemos que dormir lá fora, sob ameaça de chuva.

Com sorte não choveu, mas fez um frio tão grande que tivemos que esperar o sol ficar forte para podermos descongelar o carro para sair.

Descemos o resto da montanha que havia e em breve chegamos em uma Fiambalá assolada pelo fluxo de lama que desceu da montanha resultado da tempestade que agarramos lã em cima.

Foi uma escalada estranha, não cheguei a curtir muito, embora várias vezes eu tenha me impressionado com a beleza cênica da região.

Cheguei a conclusão que o Incahuasi é uma montanha que aproxima muito o céu do inferno. Foi isso o que aconteceu conosco.

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