Blog do Pedro Hauck: março 2008

28 de março de 2008

A extinção da megafauna, por quê?

Imagine você estar caminhando pelo meio dos campos dos cerrados e se deparar com Mastodontes, os elefantes sul-americanos. Ou ainda se deparar com animais ainda maiores, como o Megatherium, o preguiça gigante. Ou mais bizarro, como o Gliptodonte, um animal parecido com um tatu, mas com o tamanho de um fusca.

Megatherium e um Gliptodonte, já imaginou encontrar um?

Pois é, isso não é ficção. Os homens pré-históricos do Brasil conviveram com estes animais que foram todos extintos há mais ou menos 10.000 anos atrás. As razões para a extinção destes animais gigantes, a megafauna, foi durante muito tempo relacionada com a predação humana. Isso por que nos EUA e na Europa foram encontrados dentro de cavernas, habitats que não eram destes animais, inúmeros ossos deles que apresentavam sinais de raspagem e fraturas intensionais provocados pelo homem que, depois de predá-los, se alimentava da carne, daí os ossos naquela situação e local.

Esta teoria foi muito bem aceita e foi batizada em inglês como "overkil", ou seja, a grande matança.

Acontece que nesta época estava ocorrendo a glaciação de Würm-Wisconsin e a Europa e América do Norte estava debaixo do gelo. O Homem nestes lugares teve que "se virar" para sobreviver e por causa desta mudança climática ele aprendeu a dominar a natureza melhor, provocando a "revolução neolítica".

Mas e no Brasil?

Aqui a megafauna também foi extinta, entretanto não estávamos sob o gelo e nem mesmo vivemos nesta época a revolução técnica. O homem pré-histórico do Brasil ainda vivia na idade da pedra lascada.

Contudo, caçar animais de grande porte era uma atividade arriscada para o homem pré-histórico do Brasil. Atravessar a carapaça de um Gliptodonte era algo impossivel com os instrumentos da época. Mas então por que estes animais fantásticos desapareceram?

O interior do Parque Nacional da Serra da Capivara


Com os dados cronopaleontológicos coletados pelos pesquisadores do Museu do Homem americano de São Raimundo Nonato no Piauí e através do conhecimento e interpretação da Teoria dos Refúgios Florestais pude relacionar a extinção destes animais com a reconfiguração do quadro vegetacional brasileiro na época da última glaciação e para minha "não" surpresa conclui que a megafauna brasileiro foi extinta por motivos climáticos/ambientais e não antrópicos como dizia a teoria do overkill.

Vários fatos me fez acreditar que estes animais não foram extintos pelo homem. O primeiro deles é que nas pinturas rupestres encontradas nos mais diversos sitios arqueológicos brasileiros existe muito bem representado as cenas do dia a dia dos homens pré-históricos. São muito comuns cenas de sexo, guerra e caça.

Cena de caça em sitio arqueológico na Serra da Capivara.

Nas cenas de caça que pude observar, notei que os animais mais representados são animais que até hoje estão presentes em nossas paisagens, como veados, macacos, capivaras e onças. Os animais da megafauna quase não aparecem nos painéis, quase...

Pinturas que representam Gliptodontes


Na Serra da Capivara me chamou a atenção de duas pinturas na qual é representado um tipo de um tatu fora de escala de tamanho. Este tatu é puxado e arrastado por um homem nas pinturas.

Segundo a arqueóloga Niéde Guidon, com quem eu tive o prazer de conviver, conversar e aprender. Os homens na serra da Capivara pintavam apenas o que eles faziam e não o que imaginavam.

Com esta dica da Dra. Guidon, interpretei as pinturas como sendo dois Glipdontes mortos sendo levados para um aldeamento para virar o prato principal dos homens.

Esta minha idéia está completamente correta de acordo com um dos pesquisadores do museu. O Homem pré-histórico brasileiro era caçador, coletor e carniceiro. Em diversas pesquisas realizadas em coprólitos (cocos fossilizados) humanos. Foram encontrados inúmeros parasitas comuns de animais carniceiros, assim como foi desvendado o habito alimentar destes homens.

Provavelmente algum homem pré-histórico deveria estar procurando o que comer ao se deparar com um indivíduo de Gliptodonte doente ou morto, ele não teve duvidas qual iria ser o prato do jantar...

Você pode achar estranho que na Serra da Capivara, em pleno sertão do Piauí, existiam animais gigantes e muitos aldeamentos de homens pré-históricos. Mas a paisagem na região não era como é hoje.

Hoje a região da Serra da Capivara é uma paisagem seca onde predominam as caatingas. Mas até o final do Pleistocêno a região era dominada por cerrados. Foram realizadas na região inúmeras pesquisas paleo-palinológica, ou seja, foram achados pólens das plantas daquela época e essas plantas não eram de caatinga, mas sim de cerrado, que é uma cobertura vegetal aberta, mas úmida que servia de aporte nutricional aos animais gigantes.

Naquela época, abundava água na Serra da Capivara. Existem muitos indícios de antigas cachoeiras e rios que hoje não existem mais.

Acontece que com a glaciação, nas latitudes mais baixas da América do sul houve uma grande redução de umidade e por causa disso houve retração de florestas e cerrados que ficaram exíguas a regiões onde se preservou a umidade, formando refugios de flora e de fauna.

A Serra da Capivara, na época da glaciação, foi um grande refúgio e isso atraiu os animais e homens que procuravam comida e água.

Por causa deste refúgio, alguns individuos da megafauna conseguiram sobreviver mais tempo. Por isso que na Serra da Capivara foi encontrado um Megatherium, um Preguiça Gigante, de apenas 5000 anos. Que foi uma época de outra mudança climática significativa, chamada pelos quaternaristas de "optimum climaticum".

No periodo do "optimum climaticum" houve um aumento de temperaturas com aumento no nivel dos oceanos. Os paleopalinólogos que estudaram a região acharam poléns de caatinga apartir desta época, o que mostra que o refúgio entrou em desequilibrio durante esta crise climática.

Minha pesquisa sobre a extinção da megafauna na Serra da Capivara já foi publicada. Para aqueles que se interessaram no assunto e querem se aprofundar, cliquem aqui e leiam na integra o que foi publicado. Boa leitura.

:: Artigo na íntegra sobre a extinção da Megafauna e a relação com a Teoria dos Refúgios

25 de março de 2008

Travessia na Serra do Iqueririm (SC)

Neste fim de semana de Páscoa realizei um antigo projeto que era conhecer a Serra do Iqueririm em Santa Catarina.

A primeira vez que tive contato com esta serra foi por volta de 1998, quando fui visitar minha prima que mora em Joinvile e vi as fotos do Caminho do Peabiru, que corta a Serra.

Fiquei impressionado com as fotos e desde então queria ir visitar o lugar. Já tive outras oportunidades de para o Iqueririm. No ano passado cheguei a pegar o carro e ir para Santa Catarina, mas no meio do caminho voltei por causa de chuva. Outra veze, meus amigos (Julio Fiori, Beto e Hilton) chegaram a ir para o Iqueririm, mas num fim de semana em que tive que ir para São Paulo.

Como sempre, fiquei com o Iqueririm atravessado na garganta.

Uma atividade do CPM (clube paranaense de montanhismo) reativou este antigo sonho e finalmente pude ir ao Iqueririm e lá fomos nós, fazer uma travessia da Pedra da Tartaruga até o Pico Garuva.

Foram três dias de caminhada entre subidas, descidas, travessia de florestas, campos e bambuzais. No total apenas 22,5 km, de calor, frio, chuva e sol.... Uma travessia memorável.

Vejam as fotos:

Imagem do Google da travessia

A mesma vista em 3 d. Foram mais de 1300 metros de ascensão.

vista do Paraná para Santa Catarina

A travessia vista de cima para baixo.

Atravessando a parte florestada da Pedra da Tartaruga

No final do trecho florestado, depois de passar pelas quiçassas... enfim, o sonhado campo de altitude

Já vi isso no cerrado!

De manhã olhado para o alinhamento Garuva, um dos mais espetaculares sistemas de falhas geológicas que já conheci...

Subindo até a Pedra da Tartaruga, agora nos campos

Indo para o Morro da Antena

Liberdade dos campos

Quando os campos viram labirintos

Assim é fácil ver...

O casamento da Dulce com o Jairo... O Mario virou um ótimo pastor, hehe

Almoço de páscoa

Este é nosso amigo Neossolo litólico, sobre qual assentam os campos edáficos (daí esse nome).

O Pico Garuva visto na descida da Serra

E na descida, a vista para Garuva cidade.