Blog do Pedro Hauck: agosto 2008

20 de agosto de 2008

Face Leste do Pico Maior de Friburgo: 700 metros de escalada!



O Pico maior de Friburgo é a montanha mais alta da Serra do Mar, na minha opinião é também a mais bonita, pois é um enorme monolito de Granito/Gnaiss que sobressai entre dois outros de também grande beleza, o Menor e o Capacete.

A região onde fica esta magnífica montanha é considerada a meca de escalada de aventura do Brasil, Salinas, um nome que veio de um vale próximo à montanha e que causa muita confusão, pois o nome verdadeiro do local é Três Picos e hoje é um Parque Estadual do Rio de Janeiro.

A Face Leste é uma das escaladas mais tradicionais dos Três Picos, a via foi aberta em 1974, um grande feito para a época e apesar do jeitão tradicional, a Leste é ainda uma via moderna, mas com toques de escalada de antigamente, com lances de chaminé e A0 em 700 metros de parede, o grau da via é: 5 V (6sup A0) E3.

Há muito tempo queria escalar a Leste, mas nunca tinha tido a oportunidade de ir para Nova Friburgo, pois escalar lá não é para qualquer um, apesar de ser uma via técnicamente fácil, ela é muito mais fácil de se perder e é preciso ter experiência para não se incomodar com a exposição.

Como estava vindo de uma escalada também longa, que foi a Obra do Acaso no Pico do Baiano, achei que estaria pronto para encarar uma escalada em Salinas e fui direto na via mais clássica.

Como a gente estava sem informações, passamos no refúgio do Sergio Tartari onde compramos o guia recentemente reeditado, aproveitando para conhecer o local e a lenda, um cara muito tranquilo que mora na região há 17 anos!

Depois de pegar uns "betas" fomos para a parede, onde bivacamos na base para começar a escalar cedinho no outro dia. Só havia um problema, havíamos esquecido de comprar algo salgado para comer e tudo o que tínhamos de jantar era bolacha, "Goiabinha" de chocolate e água, foi comer e passar uma noite tranquilo, muito estrelada, à espera dos primeiros raios de sol.

Ao amanhecer, tomamos um café da manhã com Goiabinha de Chocolate, bolacha e água e às 6:30 estávamos começando a escalada.

A primeira e segunda enfiada são bem fáceis e positiva. Entre a terceira e a quarta senti o que é escalar em Salinas, interpretei mal o croquis e errei a via, estiquei a corda e acabei parando num lugar onde fica uma parada de rapel, fora da via. Tive que desescalar para voltar para a via e puxar um baita dum arrasto para depois dar segurança para o Tacio que vinha de segundo.

Corrigindo o problema, voltamos para a escalada. Dá para sentir como a via reflete a época que ela foi conquistada. Em vários trechos há aderências que poderiam ser escaladas sem problemas, mas a via desvia destes lugares por causa disso, a via tem enfiadas curtas, pois estes desvios fazem que a corda fique com muito arrasto, sendo difícil de escalar assim.

Há também vários trechos onde esses desvios não são sinalizados, ou seja, não há grampo nenhum e vc acaba indo reto, por isso que para fazer esta via é preciso estar com o croquis na mão e saber ler ele direito.

As chaminés são outros lances à parte. São duas, sendo que a primeira tem uma saidinha que pode deixar muita gente na perrengue, não dá pra cair nestas chaminés, pois elas só tem grampos no começo e na saída, um tombo ali é pra deixar o neguinho todo ralado. se ele tiver sorte.

No final da última chaminé há uma enfiada em A0, protegida com grampos caseiros. Passamos este lance usando estribos, o que facilitou muito. Há um outro lance em artificial, mas é muito fácil livrá-lo, pois lá é um 5 grau!

Fizemos a Leste em 17 enfiadas, pois há muitos lugares onde é preciso para no meio por causa do arrasto, nem por isso demoramos muito, fizemos a via em 8 horas, chegando no cume às 14:30 e depois, rapelando pela Sylvio Mendes, chegamos na base às 17 horas! Nada mal para quem nunca tinha ido à Salinas, terra das longas noites!

Comemos mais "Goiabinhas de chocolate", bolachas e água para comemorar esta escalada, nossa última nesta "geomorforocha trip". Temos certeza que estaremos em Salinas em breve para fazer mais vias, o lugar realmente é uma meca e merece muitas outras visitas.

Antes de voltarmos para São Paulo, demos uma passada no Rio, mas sem ânimos para escaladas. Passamos uma noite na casa da Gerusa Palhares, e depois mais estrada. Foram quase 20 dias de viagem entre Simpósio de Geomorfologia e escaladas, cerca de 2600 quilômetros rodados, agora preciso de pôr a vida em dia, até a próxima...

A Face leste do Pico Maior

Local do bivaque na base da via.

A montanha com os primeiros raios de sol.

Começando a primeira enfiada.

Limpando a segunda...

Subindo a quinta enfiada.... as vezes o Quinto grau da via parece o Quinto dos infernos! Impossivel escalar a Leste sem passar um veneno!

Parando para descansar no bloco no começo da primeira chaminé.

Tacio vindo de segundo em uma das 17 enfiadas, não me pergunte qual que já esqueci!

Mas essa foto se não me engano é na décima segunda!

Ô montanha grande!!!!!!

Quase lá...

Mas antes tem que se ralar mais um pouco na segunda chaminé!

E guiar os artificiais...

Agora sim, penúltima parada! As árvores ficaram do tamanho de brócolis!

Enfim, cume!


E o visual, com a Serra dos Órgãos no fundo!

E o Pico Menor

Foto de cume, antes de fazer intermináveis rapéis por outra via. Pelo menos não precisamos levar duas cordas!

Pra ver mais fotos, não deixe de ver as fotos do site do Tácio: www.tacio.com.br

17 de agosto de 2008

Escaladas em Juiz de Fora

A caminho do Rio, saindo do Caraça, passamos por Juiz de Fora, onde o Tacio tinha uma amiga que por 6 anos se conheciam pela internet, mas nunca se viram pessoalmente. Quando ele viu no mapa por onde íamos passar, veio então a oportunidade de poder conhecer as escaladas desta cidade privilegiada.

Chegamos em Jotaéfe (JF, como o povo local chama a cidade) por volta das 17 horas de sexta, com a cidade bastante movimentada por conta de uma parada Gay que ia acontecer lá um dia depois. Os Hoteis estavam lotados! Se fossemos sortudos, chegaríamos na cidade nas vésperas de um concurso para Miss JF (que cidade pra ter mulher bonita!), mas encontro Gay é lei de Murphy.

Pouco mais tarde nos encontramos com a Marina, amiga do Tacio. Ficamos conversando num barzinho até o ex. dela chegar, era "o cara" da escalada em JF, Eurico. Juntos fomos comer uma pizza num lugar muito improvável, distante do centro numa chacrinha escondida, ótima pizza e cerveja artesanal, até eu bebi, menos o Eurico que assim como eu, odeia cerveja, mas um pouco mais radical, até estas artesanais diferentes.

Acabamos ficando num Hotel no centro velho, lugar simples mas limpo, se bem que acho que deve servir mais como Motel lá naqueles lugares da cidade...

No dia seguinte nos encontramos com o Eurico que nos levou à Pedra do Retiro, distante 20 minutos do centro da cidade. O lugar é muito privilegiado para escalada. Tem vias de até 180 metros e muito lugar ainda virgem esperando conquistador. No horizonte, pipocam montanhas rochosas, muitas delas o Eurico ainda nem tinha tido tempo de ir visitar, pois lá tem muita coisa ainda pra ser escalada e ele não teve tempo ainda de fazer tudo.

Depois de entrar em algumas vias, que fizemos muito rápido, pois estamos muito bem entrosados, acabamos sem querer ir escalar a via mais dificil do morro, um 9a que eu achei que fosse um 7b. O Tacio entrou primeiro e eu fiquei xingando ele quando ele caia logo no começo. Quando eu entrei, percebi que a via não era o que eu esperava. Cheguei no terceiro grampo e não consegui mais passar. Via muito dificil, toda negativa com agarras pequenas e pegas invertidas, são movimentos de boulder um seguido do outro...

Já era tarde e precisávamos pegar a estrada. Nos despedimos do Eurico e seus amigos com a certeza que um dia vou voltar à JF, pois ainda tem muita coisa a ser feita na cidade. Só na Pedra do Yungue, que fica lá perto, há como 60 vias!

De Juiz de fora fomos até Leopoldina na BR 116 e de lá até Além Paraíba, onde pegamos uma estrada errada. Acabamos andando 250 Km para sair de JF e vir até Nova Friburgo, onde estamos agora. Demoramos demais e só chegamos de noite, cansados, por isso ficamos na cidade hospedados no albergue da juventude.

Daqui estamos indo para o Parque Estadual dos Três Picos, onde fica a montanha mais alta de toda a Serra do Mar, o Pico Maior. Lá fica a via que vamos escalar amanhã, a Leste, uma via de 700 metros de altura que já foi a maior do Brasil.

Estamos indo hoje para a montanha. Vamos fazer a aproximação e bivacar na base, como fizemos no Pico do Baiano. A Leste é uma via muito tradicional, há anos quero escalar ela. Vamos ver como vai ser...

Vista da Pedra do Retiro

Tacio escalando uma das vias

No Horizonte, mais rochas...

Tacio guiando uma via.

Para ver mais fotos, veja o Site do Tacio: www.tacio.com.br

15 de agosto de 2008

Obra do Acaso, Pico do Baiano.

650 metros de altura, 5°VI(7c,A1) E2. Isso é a obra do Acaso, uma via clássica, linda, localizada no Pico do Baiano, montanha de 2030 metros de altitude no teto da Serra do Caraça-MG.

Minha história com esta via começou no ano de 2005. Na época eu tinha um murinho de escalada em minha república em Rio Claro e um amigo que fazia doutorado ia lá com frequência treinar. Era o Pedroc, que hoje está morando em Friburgo. Estávamos falando de vias longas e quando ele viu que eu tinha o guia Escaladas de Minas, ele pegou e folheando me mostrou o croquis da via: "Essa aqui, isso é que via, a gente tem que fazer um dia!" Desde então fiquei com ela na cabeça. "Pico do Baiano", era a primeira vez que eu ouvia neste nome.

Acontece que o Baiano já não é mais tão frequentado, pois para ter acesso a ele, é preciso andar por uma estrada da Companhia Vale do Rio Doce e eles não deixam ninguém entrar lá. Esta foi a dificuldade da escalada, encontrar um caminho por onde não precisasse de "invadir" a Vale, foi impossível...

Junto com o Tacio, cheguei no vilarejo de Morro da Água Quente no fim da tarde de 13 de Agosto. Paramos o carro na pracinha da igreja e começamos a arrumar nosso equipo. As cordas e os equipamentos chamaram a atenção de curiosos que vieram conversar conosco: "A Vale deixa?" Foi o que perguntou uma dessas pessoas. Fiquei sem resposta e antes que ele me afirmasse que não, sai de fininho e fui esperar o dia anoitecer num restaurante de beira de estrada.

Na calada da noite, deixei o carro na cidade e com cerca de 20 quilos de mochila nas costas começamos nossa odisséia no baiano, com luzes apagadas...

Seguindo as poucas informações que tínhamos, conseguimos rapidamente passar pelo terreno da Vale e já entrar na mata para começar a subir a montanha. Infelizmente tivemos que agir assim. Odeio fazer esse tipo de coisa, mas pelo que os montanhistas mineiros me disseram, não adianta pedir, pois a Vale NÃO deixa NINGUÉM entrar no Baiano.

Eu havia ouvido falar horrores da trilha de aproximação, fomos bem cuidadosos, mas tudo saiu muito bem, não nos perdemos em momento algum, mesmo sem nunca ter ido lá e ainda de ter encarado a trilha de noite. Chegamos em um abrigo natural de pedra depois de 2 horas e meia de caminhada. Lá havia sinal de que muita gente já tinha pernoitado e como a parede parecia próxima, fizemos o mesmo. Dormimos de bivaque em uma noite "quente" de inverno, foi mais confortável que dormir na rede no sitio do Rod.

Despertamos na manhã seguinte às 5 horas. Assistimos o sol nascer comendo o resto de pão com presunto que levávamos na mochila desde Lagoa Santa e logo começamos a caminhar em direção à base da via.

A caminha foi breve, mas demoramos para encontrar o começo da Obra do Acaso. No croquis que eu tinha estava escrito que na base havia um tóten, que ficamos procurando em vão, depois de um exame da parede com o croquis acabamos acertando a via logo começou a escalada, eram 7:50 da manhã.

No começo, escalei bastante preocupado. O céu estava todo encoberto com nuvens negras e ventava muito. Só entrei na via pois já faziam 3 anos que pensava nela e não podia desistir tão rápido. Escalamos 4 enfiadas com este tempo ruim, por sorte mais tarde o tempo abriu e ficou lindo, sem arrependimentos, quem não arrisca não petisca.

As duas primeiras enfiadas são tranquilas. O crux da via fica na terceira, e era pra eu escalar, pois eu e o Tacio fomos dividindo as cordadas e acabei ficando com a ímpar.

Este crux da via é um 7c de aderência, muito foda! Ainda bem que não precisei ficar empatando a escalada com tentativas e erros, lá havia um furinho de talon e passei o lance em artificial.

Depois desta enfiada a escalada ficou bem tranquila até a 9 enfiada. Via muito constante de quinto grau com lancezinhos em sextos. Tudo bem protegido onde precisa e só exposto onde é fácil, como nas 3 últimas enfiadas onde é escalada parada a parada sem proteções no meio. Por isso a via é um E2. Você não fica muito no veneno, não fica muito, pois em parede sempre há um pouco, se não, não tem graça.

Chegamos no cume às 13 e 40 da tarde, fomos muito rápido para quem nunca havia estado no Baiano. Lá assinamos o livro de cume e disfrutamos um belo visual, somente interrompido quando olhávamos para a Vale do Rio Doce com suas enormes crateras de mineração, lagoas de minérios de cor ocre, caminhões e trens que ficam num vai e vem incansável fagocitando a montanha. Será por isso que eles não querem nenhum escalador por lá? Para não verem que na prática, a mineração não é tão bonita quanto nos comerciais de TV e que esta sim é uma atividade extremamente poluente e degradante? O que eles pretendem fazer com o Pico do Baiano e com este santuário natural que é a Serra do Caraça? Será que vai virar uma segunda Itabirito?

Deixando estas considerações de lado, com o tempo a nosso favor, fizemos todos os 13 rapéis com luz de dia e chegamos na base de volta às 5 e 10 da tarde, com luz suficiente para chegarmos de volta ao abrigo e arrumar a mochila para descer, levamos mais duas horas para chegar na vila, onde encontramos uma surpresa, os portões da Vale estavam fechados com um vigia nos esperando. Por sorte quando cheguei a estrada o vigia estava de costas e não me viu, voltamos para o mato e descemos por outro lugar, peguei meu carro e depois voltei para buscar o Tacio. Não se é comum isso acontecer, mas pelo menos na ida, os portões estavam abertos e não tinha ninguém vigiando, será que alguém dedurou, ou viram pontinhos na parede durante o dia? De qualquer maneira ele ainda está lá esperando a gente.

Dinamitar uma montanha pode. Escalar não! Esses são os antogonismo deste país. Morro da Água Quente poderia ser conhecida nacionalmente pela cidade da escalada de aventura, assim como Friburgo, mas infelizmente ela é conhecida como a terra da destruição...

Serra do Caraça vista desde a cidade de Catas Altas. O Pico do Baiano está na Sombra

Bivaque perto da base do Pico do Baiano

Amanhecendo no Caraça. Foto do Tácio

Pico do Baiano ao amanhecer

Tempo ruim pela manhã...

Mas mesmo assim subindo...

... e subindo...

e subindo...

... cada vez mais alto...

Pausa para apreciar a natureza (Foto do Tacio, é claro!).

Até que acabou a parede!

E este é o cume...

...pausa para assinar o livro...

... e tirar uma foto de cume!

Uma Paisagem que poucos tem o privilégio de ver.

Não deixem de ver as fotos desta escalada no album do site do Tacio: www.tacio.com.br

12 de agosto de 2008

A caminho da montanha

Ontem busquei o Tacio no aeroporto de Confins e de cara já fomos para o Rod, passando no Bar do Hélio em Lagoa Santa para comer um bom almoço mineiro.

O dia estava muito quente e seco, com muita claridade. Por isso não pude aproveitar a tarde para escalar o que eu queria. Fiz a Tapa na Aranha sacando sem queda e depois também a via do Carioca. Entrei na Sedativa mas não deu, tava com uma terrível dor de cabeça que quem me conhece sabe como é nos dias claros e quentes. Fiquei podre.

Dormi numa rede que montei no quiosque da cozinha do sitio do Rod e acordei de manhã cedo com a sinfonia dos galos. Tomamos um cafezinho e fomos para a rocha fazer o que não haviamos feito no dia anterior.

Entrei na Sedativa com muita calma, mas parei no crux duas vezes antes de conseguir fazer o lance. 7b difícil esse, com um pé bem ruim e um lancezinho de desespero. Ainde repeti ela depois com as costuras colocadas, mas denovo não saiu na cadena. Pelo menos eu fiz o que prometi, só sai da Lapinha depois de ter escalado essa via que é uma das mais lindas que eu já vi.

On the Road Again

Deixamos o calcáreo para tráz e cruzando a grande BH pegamos a BR 040 em direção ao Rio. Pouco depois de deixar a cidade, paramos numa mineração de Itabirito para darmos uma fuçada. Na cara de pau entramos numa mineradora e conseguimos ficar ao lado de daqueles caminhões gigantes. É impressionante a capacidade dessas empresas de remover o minério. Eles mudaram totalmente a paisagem, o Pico do Itabirito está ficando cada vez mais pronunciado de tanto que o homen está retirando material ao seu redor.

Uma curiosidade sobre a mineração no quadriláterio ferrífero é que a acomodação das rochas por alívio de peso já causou até um terremoto. Foi em Nova Lima uns 20 anos atrás. Daí dá pra se imaginar quanto que já não se foi removido de minério destes lugares.

Depois de nos sujar de hematita, acabamos chegando em Ouro Preto ao anoitecer. Como estavamos imundos e a cidade foi muito atraente, paramos para dar uma de turista. Achamos uma pousadinha bem barata e com internet wireless e aqui estamos. Acho que faz 20 anos que eu não venho pra cá e pelo que pude ver hoje, a cidade está bem bonita.

Achei interessante a quantidade de repúblicas no centro histórico. Deve ser muito gostoso estudar aqui. Deu vontade de prestar vestibular denovo, quem sabe Geologia? Seria interessante, mas estou ficando velho pra isso... (ou não?)

Acho que essa parada vai acabar me ajudando, eu já estava sem roupas e por bem pouco vou ter elas limpinhas de novo. Faz 10 dias que estou na estrada, mas só agora que vou dar uma relaxada merecida. Aliás, desde Maio que estou estudando como um cachorro por causa do meu relatório de qualificação, depois imendei um congresso de geomorfologia com curso avançado em inglês. Eu quero mais é pedra agora!

Vista para o setor 1 de escalada no Sitio do Rod

Equipando a primeira costura da Sedativa.

Vista para o Pico do Itabirito, devastação.

Somos pequenos diantes dessas máquinas!

Dá até pra escalar os pneus!

Rua em Ouro Preto agora de pouco.

Ouro Preto noturno


De noite não dá pra ver, mas de dia dizem que tá cheio de favela, amanhã vamos ver se é verdade!


Ps. No site do Tacio, www.tacio.com.br, na seção blog/onde estou, há mais fotos no album dele. São muito melhores que as minhas, entrem lá para ver!

10 de agosto de 2008

Bélzonte II

Estou no quarto do meu alojamento/hotel, no ginásio do Mineirinho em Bélzonte, vulgo Belo Horizonte. É noite de sábado e estou sozinho.

O Sinageo, Simpósio Nacional de Geomorfologia terminou ontem, mas fiquei no final de semana para fazer um curso avançado. De princípio este curso era somente para professores, mas como eles aparentam estar muito ocupados, sobrou vaga e não perdi a chance.

Só para ter uma idéia, este curso será ministrado por Andrew Goudie, da Universidade de Oxford, Inglaterra e presidente da IUGS, Michael Thomas, da Universidade de Stirling, Escócia, Willian Dietrich, da Universidade da Califórnia em Berkeley, Jorge Rabassa, Universidad Nacional de La Plata, Laura Perucca, Universidad Nacional de San Juan e José Francisco Vergara, Universidade de Santiago, isso para falar os que vieram de fora. Ainda tem o Prof. Edgardo Latrubesse que é da Universidad Nacional de La Plata e também da UFG e outros professores brasileiros como Selma Simões, UFG, Nélson Fernandes, UFRJ, Paulo Roberto Aranha, Ana Clara Mourão, Phillippe Maillard, Cristina Augustin e Ricardo Diniz da Costa estes últimas da casa.

Hoje teve as aulas que mais me interessam: Paleogeografia! E nisso os argentinos, Rabassa e Latrubesse deram um show. O último deu uma aula muito boa sobre a evolução da paisagem na região amazônica e Peri-andina desde o Mioceno. O segundo situou a Argentina nos estudos paleo climáticos, realizando uma revisão do estado da arte sobre o conhecimento de paleosuperfícies na Patagônia, relacionou com os dados do Aziz e chegou numa conclusão que eu já deduzia de que a historia dos Domínios Geomorfoclimáticos tem como ponto de partida o Plioceno.

Com estas aulas, desde a Amazônia à Terra do Fogo, observamos que as épocas de evolução das grandes paleosuperfícies se encaixam e assim concluímos que estes foram eventos globais e, pelo menos para o Plioceno, podemos concluir que ocorreu por causas eustáticas, ou seja, por glaciação.

Assim, a superfície Paraguaçu de King, Pd1 de Bigarella, Neogênica de Ab'Sáber e outras que receberam outras denominações no evento, pois os autores tem medo de comparar com os clássicos, são a mesma, com diferenciações na idade por meras nuances climáticas regionais.

Desta forma, os pedimentos correlativos destas superfícies, como a formação Guabirotuba na bacia de Curitiba e outras formações Plio-Pleistocênicas de outras bacias tafrogênicas têm agora que ser vistas como o começo de História Geoecológica atual, para tanto, aquelas paisagens que estou identificando na minha dissertação como residuais vão ter um significado especial.

A pesquisa do Latrubesse me abriu os olhos também para algo que eu já estava há algum tempo imaginando como hipótese. A interiorização do continente como condicionante de uma sazonalidade climática é responsável pela manutenção de velhas superfícies, oscilação no lençol dos Latossolos e disto resultam as crostas lateríticas sobre as quais evoluíram o cerrado que ocupava todo o interior do continente antes do embaciamento do Amazonas como é hoje, drenando suas águas para o Atlântico.

Isso foi demonstrado pelo registro fossilífero da Formação Solimões no Acre, onde há a presença de animais da megafauna que vivem exclusivamente em ambientes savânicos. Obviamente este cerrado tinha outras fácies não abertas e inclusive muita vida aquática nos rios e lagos Miocênicos da paleo-bacia amazônica.

Estou me surpreendendo, pois antes já havia interpretado alguns dados e havia chegado à mesma conclusão, por dedução dos resultados, que estes professores alcançaram e comprovaram usando métodos modernos de datação, como os isótopos cosmogênicos.

Quando entreguei meu relatório de qualificação, meu orientador falou que eu havia esquecido de citar o Jean Tricart, pois eu havia escrito um resumo de sua obra, a Ecodinâmica, mas eu nem sabia que existia esse livro, assim como outro artigo do Aziz e do Brown sobre os paleodomínios, conclui a mesma coisa que o Aziz sem nunca ter lido este trabalho. Estas foram as palavras do Everton Passos, não minha, pois ainda não tive a oportunidade de ler estes textos, estou ansioso para tê-los em mãos.

A boa notícia é que esta minha astucia e participação, me rendeu um convite do Prof. Rabassa em fazer um estágio em Ushuaia no verão, o que eu não quero perder a chance. Faz 8 anos que não vou para a Terra do Fogo, retornar lá à convite do Rabassa, um pesquisador de renome internacional, será muito gratificante, ainda mais por que seus estudos vão de frente com o que eu estou pesquisando e vejo que meus estudos fortalecem o dele também.

Agora mudando de assunto, acabei de ir ao Mineirão forrar o estômago. Vi uma coisa interessante, cultura de estádio. Em Minas a tradição é comer o "Tropeirão" no estádio. Trata-se de uma típica comida daqui. Feijão, com farinha, toucinho, couve refogada, lingüiça, carne e arroz. Uma delícia. Em São Paulo come-se sanduíche de pernil, em Salvador, Acarajé, no Rio, não me lembro (não comi nada quando fui ao Maraca durante o Anpege) e em Curitiba, bem em Curitiba não se come nada, pois não tem vendedores ambulantes, uma pena, pois comida de porta de estádio é muito boa!

Amanhã o curso continua. Vou aproveitar para visitar meus parentes mineiros. Segunda Feira vou pegar o Tacio no aeroporto de Confins e vamos dar uma escaladinha no sitio do Rod. Depois deixaremos a grande BH e vamos de encontro com coisas muito maiores que simples afloramentos de calcáreo, vamos ver em situ como são os hogbacks do relevo jurássico mineiro, aguardem...

Eu e meu ex professor de Geomorfologia, Chico Ladeira, o senhor dos paleosolos! Um grande mestre e inspiração na Geografia.

Com Jorge Rabassa e Julio Paisani, convite para estagiar na Argentina.

Mais fotinho de congresso, desta vez com o grande Montanha, vulgo Luis Felipe Brandini Ribeiro.

Chuva na UFMG


Panorâmica de BH desde a Serra do Curral.

Dener, vulgo Smigle, servindo como escala para este espesso perfil de "canga" que é uma laterita retrabalhada, crosta de ferro pra quem nunca viu.

Detalhe da mesma canga.

Topo da Serra da Rola moça, superfície sustentada pelas cangas. Um dia isso já foi um fundo de vale, hoje é a cimeira da Serra, este é o mais espetacular caso de inversão de relevo que já vi.

A Serra do Curral, que é um Hogback de um relevo jurássico visto desde o topo da Serra da Rola Moça.