Blog do Pedro Hauck: outubro 2007

29 de outubro de 2007

Caminho do Itupava

Sábado percorri o famoso caminho do Itupava, uma antiga trilha de mulas que liga o planalto paranaense ao porto de Paranaguá.

Esta trilha, que corta a serra do Mar foi durante dois séculos a via de transporte que escorria toda a riqueza do Paraná. Por lá transitavam milhares de muares. Ao seu lado vivia todo tipo de gente que direta ou indiretamente tiravam seu sustento desta trilha, eram desde fiscais da receita, que cobravam impostos e pedágio, como pessoas que ofereciam pouso e comida aos tropeiros.

Hoje o cenário é bem distinto. É difícil imaginar que aqueles vales e matas já foram densamente povoados. A paisagem formada pela rica floresta e a imponente serra camufla os restos da antiga economia regional e nos engana dando uma falsa sensação de natureza selvagem e intocada. Na verdade nos prova que é de fato uma natureza poderosa capaz de, em uma escala de tempo pequena, destruir qualquer tipo de vestígio de economia humana.

Além de mim, esteve na caminhada o Júlio Fiori e seu amigo Zig Koch, famoso fotógrafo de natureza, além de minha namorada Vivian que veio passar o fim de semana em Curitiba.

Por motivos óbvios, a maioria das pessoas percorrem a trilha do Itupava descendo a serra. Como não seguimos este pensamento natural e estávamos dispostos a treinar um pouco mais nossas pernas para o desafio dos Andes no final do ano.

Fizemos o oposto, para desespero da Vivian que trabalhando em São Paulo, está desacostumada com a qualidade de vida do interior.

Mesmo com o intuito de treinar, fizemos a caminhada em ritmo de passeio, parando várias vezes para apreciar a paisagem e esperar também o Zig fazer suas fotografias. Contrastando com nossa "calma de vaca", encontramos logo no começo o Elcio, outro integrante da equipe do Aconcagua no final de sua "caminhada". Ele acabara de descer todo o Itupava em uma hora e meia! (detalhe, a trilha tem cerca de 18 Km).

Diferente de nosso amigo, que ainda teve tempo de ir ao Marumbi e subir o Abrolhos, levamos quase 8 horas para fazer o caminho.

Foi uma bela experiência, fazer o caminho pelo inverso foi interessante, pois tivemos tempo de ver os detalhes da trilha, encontrar alguns vestígios do antigo uso e ainda duas jararacas que a Vivian teve o desagrado de quase pisar nelas.

Chegamos em borda do Campo de noite, nos encontrando com o Mikael que gentilmente nos levou até a rodoviária de Quatro Barras para pegarmos o ônibus para Curitiba.


Aspecto do interior da Mata Atlântica próximo ao nível do mar.

Vivian em uma das pontes que foram construídas para implementar o turismo na Trilha.

Vista para o Conjunto Marumbi desde o Cadeado.

Detalhes da Florestas.

A trilha propriamente dita. Repare que ela é toda calçada.

O interior da Mata numa cota altimétrica mais elevada. Aqui há grande presença de samambaias que lembra uma paisagem paleozóica.

A trilha pelo Google Earth desde o planalto. O primeiro morro na direita é o Pão de Loh. Ao fundo vê-se o Marumbi e o mergulho da serra descendo mil metros até o litoral.

A vista da trilha desde o litoral. O começo (fim) é em Porto de cima, um distrito de Morretes. Na imagem se vê o Marumbi, a enorme montanha na esquerda e a escarpa, por onde subimos. Foram no total 19,40 Km de caminhada e mil metros de ascensão.

Se você quiser saber mais sobre o Itupava, acesso o site da trilha: http://itupava.altamontanha.com/

22 de outubro de 2007

Fim de semana no Marumbi

"O mundo é para quem nasce para o conquistar.

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão"

Fernando Pessoa


O Marumbi é a montanha mais tradicional do montanhismo paranaense e é um dos lugares mais importantes no desenrolar da evolução desta atividade no Brasil, pois pode-se dizer que ali começou o montanhismo no sul e daqui saíram importantes montanhistas que já escalaram as montanhas mais altas do mundo.

A base dela fica próxima aos 300 metros de altitude e seu ponto mais alto é o Monte Olimpo a 1540 metros. Não se trata de uma montanha de grande altitude, mas é sem dúvida uma montanha alta.

Eu estava com o Júlio, Jhony e Luiz, que assim como eu estavam na montanha para iniciar um treinamento para no fim ano escalar nos Andes. Acompanhando-nos, estavam o Pick e o Paulo.

O Marumbi aparentemente era um ótimo lugar para dar inicio à este treino, já que é uma montanha muito escarpada e alta, mas que também permite fazermos um ascensão em apenas um dia.

Íamos subir por um caminho que segundo o Júlio era fácil, pois nove anos antes ele havia subido com um piá de braço quebrado, mas não foi bem assim, ou melhor, foi o contrário do que ele falou!

O começo da trilha é pelo meio da floresta densa, entretanto depois de subir bastante, chegamos uma base rochosa onde a inclinação fica muito mais abrupta. A partir daí começou um trecho que não chega a uma dificuldade técnica de escalada, mas que no fim se tornou a trilha, mais difícil que eu fiz no Brasil.

Ainda fico em dúvida se o que eu fiz foi trilha ou escalada, pois em muitos trechos houve inclinação de escalada, seja em trechos rochosos ou no meio do mato que foi na verdade a maior dificuldade, pois em ambiente tropical de altitude há muitos bambus e o mato é muito fechado, dificultando muito o progresso e causando arranhões entre outros incômodos. A úmidade também é outra dificuldade, pois os trechos rochosos ficam molhados e escorregadios.

Esta ascensão (escalada) foi cheia de trechos rochosos, com direito a fendas de entalamento de corpo, paredes positivas, chaminés. Como tinha muito mato, não dava pra "escalar" estes trechos com as técnicas de escalada em rocha, pois as agarras estavam molhadas e muito sujas com limo. O melhor jeito foi ter que segurar em galhos e ir subindo pisando em pequenos platôs feitos por raízes, ou seja, a técnica consistia em usar agarras biológicas.

Me senti como aqueles montanhistas conquistadores da década de 50. A técnica realmente não era a mais bonita, mas a escalada não deixou de ser difícil, aliás, depois deste fim de semana comecei a me achar um escalador mais completo, pois tenho agora experiência em escalada em rocha, gelo e escalada em mato.

Foram 7 horas de subida e 10 horas de caminhada no total. O esforço foi enorme, tanto que até passei mal. Foi um treino puxado para ser o primeiro, mas foi um bom começo, mesmo com calor, ninguém reclamou. Mesmo sem saber onde estávamos, ninguém discutiu qual era o melhor caminho. Aparentemente rolou um bom entrosamento, o que quer dizer que esta equipe, se continuar assim, tem tudo para se dar bem nos Andes. A idéia agora é continuar treinando na Serra do Mar. Entretanto, o Jhony, o Júlio e o Luiz, vão para o Aconcagua. Eu, Beto e Hilton, vamos para o Mercedario. Os destinos são distintos mas mesmo assim vamos fazer uma aclimatação todos juntos, tenho boas expectativas.

O Abrolhos, o pico mais impressionante do conjunto Marumbi visto desde a estação de trem
Acho que a trilha que fizemos foi por aqui. Digo acho, pois não deu pra vem bem qual caminho tomamos. Havia muito mato.
Em algum lugar depois que a cobertura vegetal fica menos adensado pela altitude. Na foto Jhony, Julio e Paulo (atrás)Pick (sentado)
Jhony subindo pela corda. Um dos trecho rochosos e cheio de mato.
Pick atravessando um dos trechos com bambus
Quando eu falo em inclinação e exposição, quero dizer aquilo que esta foto mostra! (foto Júlio)
Jhony em uma fenda de meio corpo, outro trecho ruim!
Rocha molhada, uma constante nas encostas úmidas da montanha
Eu no topo da agulha do Tigre. finalmente!
Vista para o norte da Serra do Mar
O morro da esfinge no meio do nevoeiro

9 de outubro de 2007

Escalando no Rio

Entre 24 de setembro e 1 de outubro estive no Rio de Janeiro. De principio fui para Niterói participar de um congresso de Geografia, mas cumprida as tarefas acadêmicas, aproveitei a ida e realizei um antigo sonho, escalar algumas vias clássicas das montanhas cariocas.

Minha ida ao Rio foi muito bacana, pois além de realizar este sonho, ainda me encontrei com ex colegas da UNESP, onde fiz minha graduação, e com antigos e novos amigos, como o Bruno Cardoso de Itatiba, com quem comecei a fazer montanhismo e com o Marcio Carrilho, com quem estive viajando pela Bolívia recentemente, além é claro do Tacio, com quem fiz as maiorias das vias de escalada.

Na Quinta feira, dia 27 de setembro, meu aniversário, escalei com o Tacio o Pão de Açúcar pela via dos Italianos, que é um linha vertical maravilhosa que termina no meio da parede em uma pequena gruta, ou melhor, um grande "Tafony" na linguagem geomorfológica, onde começa um cabo de aço que leva ao cume.

Ao invés de seguir pela via ferrata, fizemos uma travessia quase horizontal e saímos na Via "Secundo Costa Neto" por onde finalizamos a escalada.

No dia seguinte, subimos outra montanha, o Corcovado, onde fica a estátua do Cristo. Lá escalamos uma via chamada paredão K2 que é maravilhosa.

Esta via começa em um ponto alto da montanha, não de sua base. As vias que vão da base até o cume no Corcovado são enormes e levam mais de um dia para serem escaladas, como a "Tragados pelo Tempo", que é uma das vias mais alucinantes do Rio, mas que ainda não tenho técnica para escalá-la.

No fim de semana o Tacio deu um curso de fotografia e aproveitei para escalar com o Bruno e o Marcio. No fim ainda fui ao Maracanã assistir o Mengão ganhar do Atlético mineiro.

Escalar no Rio foi um ótimo presente de aniversário. Poderia ter sido melhor se meu psicológico estivesse mais regulado, pois em vários lances eu adrenei e passei a bola para o Tacio guiar.

Mas não tem problema, um dia volto pro Rio para escalar mais.

Foto desde o bondinho do Pão de Açúcar quando eu e Tacio escalávamos a via dos italianos (foto de Eliza Tratz, obrigado!)

Não enxergou? então ampliei para mostrar. Abaixo está eu com o capacete vermelho dando segurança para o Tacio que está guiando a enfiada.

Eu em algum lance da via dos italianos (foto do Tacio)

Tacio vindo de segundo na travessia entre a via dos italianos e a Secundo


A face do Pão de Açúcar onde fica a via dos italianos (foto Tacio)


Tacio vindo de segundo em uma das enfiadas da via dos italianos, aqui quando as árvores começam a virar brócolis.


Tacio escalando uma das enfiadas da paredão k2 do Corcovado. Nesta foto dá pra ver como a montanha é alta!

Eu eu Tacio no topo de uma das vias do morro da babilônia, com o Pão de Açúcar no fundo

Veja mais fotos no blog do Tacio