Blog do Pedro Hauck: março 2010

30 de março de 2010

Escalada no Tolosa é destaque em revista da Argentina

A escalada realizada por Maximo Kausch e Isabel Suppé em Novembro do ano passado está na revista Weekend da Argentina que saiu em circulação hoje.

Em Novembro do ano passado, após sofrerem com diversas nevascas e ventos na face Sul do Cerro Plata, em Mendoza, Argentina, Maximo Kausch e Isabel Suppé se dirigiram ao Cerro Tolosa, ao lado do Aconcagua e além de realizar um ascensão nesta montanha, que há muito tempo não era escalada, ainda abriram uma rota nova na montanha.

A rota, que foi classificada como D+ por Maximo, tem uma altura de cerca de 1600 metros e passa por lances de gelo, misto e rocha. A dupla passou por momentos críticos na montanha , principalmente relativo aos ventos brancos, que os açoitaram na montanha. Por conta desta dificuldade climática, o artigo redigido por Isabel se chama: "Através del viento blanco".

Por conta das experiências que Isabel adquiriu dividindo corda com Maximo, esta alemã/argentina de 31 anos está prestes a se formar como a terceira mulher guia de montanha do EPGAMT, um curso superior que forma guias em alta montanha na Argentina.


26 de março de 2010

É Hoje: Palestra História do Montanhismo na Unicamp


Hoje estarei apresentando a palestra: "História do Montanhismo".

O Evento marca a abertura da temporada de escalada do GEEU, Grupo de Escalada Esportiva da Unicamp - Campinas SP.

Trata-se de um tema que eu estudo há anos e uma palestra que costumo ministrar nos cursos de iniciação ao montanhismo pelo Clube Paranaense de Montanhismo.

Nesta palestra eu trato da evolução do montanhismo, relacionando os períodos históricos com a maneira de se pensar e de agir na montanha. Quais foram as influências que marcaram grandes feitos no esporte, como isso refletiu no montanhismo brasileiro e como o montanhismo foi se transformando numa cultura praticada no mundo inteiro.

Então, se você estiver por Campinas ou região, apareça!

Onde: Anfiteatro do FEF - Unicamp - Campinas SP
Quando: Sexta Feira - dia 26/03 às 18:30 horas

Prévia: Leia meu artigo, História do Montanhismo, publicado no site AltaMontanha.com

24 de março de 2010

Razões para preservar a Serra dos Cocais

Quem nunca ouviu falar dos Boulderes de Valinhos - SP. Pois bem, aquele pequena serrinha tem nome, chama-se Cocais!

Alí é um lugar especial pra mim, pois foi onde eu fiz minha primeira escalada. Isso foi lá pelos idos de 1994, quando eu tinha uns 12 ou 13 anos. Fui para a porção itatibense da Serra dos Cocais, onde localmente ela é chamada de Jurema e lá, orientado por um amigo, o Edson Rodrigues, que havia recém feito um curso de escalada com o Eliseu Frechou, fiz um top rope e um rapel.

Apesar da esperiência ter me despertado o interesse pelo montanhismo, esta foi a única oportunidade que eu tive em anos. Assim, fiquei com uma chamazinha acesa até 1998, quando eu conheci o Maximo Kausch e juntos começamos a caminhar e escalar. Foi quando eu considero que eu comecei de fato a fazer montanhismo.

Reparem nesta foto de 1999, tirada por meu amigo Daniel Zabukas na parte itatibense da Serra dos Cocais. Este bloco belíssimo era meu local de refugio na época, eu dormi várias vezes dentro dele e ia com frequencia lá ver os belos pôr do sol na Serra e fazer boulder. Veja eu de bermuda ao lado do bloco, mais a esquerda minha colega Camila e depois o Maximo Kausch ainda bem moleque.

De lá pra cá, a Serra foi violentada, estuprada e destruída. Primeiro foi a destruição da vegetação, depois de seu relevo, onde se preserva lindos blocos de granito, onde a turma de Campinas e região costuma fazer boulder. Pra finalizar, grupos imobilários estão de olho na Serra para loteá-la e privatizar o que resta de bonito daquela paisagem.

 Este era um belo bloco onde tinha alguns boulders, na parte de Valinhos da Serra, veja o que aconteceu!

Triste fim de mais um bloco! Os maiores e mais bonitos já foram destruídos, mas ainda há tempo de preservar o que restou!

Em 2005 eu realizei meu primeiro trabalho científico de expressão que foi meu Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia, aclamado por meus professores como um dos melhores que eles já orientaram.

 Esquema da influência do relevo, solo e geologia sobre a vegetação. Trabalho publicado por mim em 2006.

Claro que de lá pra cá eu leio este trabalho e vejo muitas interpretações errôneas, mesmo assim ele continua sendo a única referência sobre a ecologia e origem da Paisagem da Serra dos Cocais.

Foi através deste trabalho que eu fui contactado pela Associação dos Amigos da Serra dos Cocais, que está pressionado o governo de São Paulo para transformar a região numa APA, Área de Proteção Ambiental.

Pois bem, eu abracei a causa e divulgo agora meus argumentos para que este projeto saia do papel e a Serra dos Cocais se Transforme na APA do Sauá.

Leia minha coluna e meus argumentos em:

Razões para a conservação da Serra dos Cocais

19 de março de 2010

Nova Aventura e Ação com uma contribuiçãozinha de Hauck

Está nas bancas a nova edição da Revista Aventura & Ação. Nela há uma reportagem especial sobre São Bento do Sapucaí, o paraíso da escalada paulista.

São Bento fica no alto da Mantiqueira, uma cidade agradável com ótima culinária mineira e muita rocha, sendo que o simbolo da cidade é a Pedra do Baú.

Lá há de tudo, desde vias fáceis pra quem tá começando, até Big Walls comprometedores, passando por boulder, esportiva, via tradicional, enfim, tudo pra quem gosta de uma boa escalada.

Nesta edição há mais uma contribuição minha. Um relato de quando fiz uma trilogia no Baú.

Quem ainda não foi pra São Bento não sabe o que está perdendo. Aproveite e veja os locais de escalada da cidade no Rumos, visualizando os caminhos e onde ficam os picos no Google Earth.




12 de março de 2010

Estranha erosão em forma de amonites em Prudentópolis

Na viagem que eu e a Eliza Tratz realizamos no interior do Paraná, depareramos com uma estranha micro forma incrustada na rocha do topo do Salto São João, em Prudentópolis.

 Amonites, fonte: Wikipedia

Tal micro forma se assemelha muito a um Amonite, animais marinhos que surgiram no planeta durante o Devoniano e se extinguiram no final do Cretáceo junto com os Dinossauros.

A rocha local é um arenito fino/siltito de estratificação plano paralela da Formação Teresina, formação rochosa sedimentar pertencente ao Grupo Passa Dois de idade permiana.


Tal formação geológica assenta-se sobre os folhelhos pirobetuminosos da Fm. Irati, e o ambiente deposicional já não era o mesmo da megaglaciação permo-carbonífera, estando tais depositos associados à ambiente sub-aquoso de baixa energia, daí a estratificação.

Como o ambiente era o habitat das Amonites e no Permiano exitiam estes animais, ficou uma dúvida se a forma não era um fóssil, pois existe um processo de fossilização em que a materia orgânica é inteiramente substituida por silica ou ferro (histomebase), mas será que isso se aplica à estas formas?

Chama a atenção a forma amnóide, pois ela é totalmente diferente do tipo de erosão atual, ocorrendo de maneira exclusiva somente no local e ainda não descrita na literatura. De acordo com colegas geomorfólogos, Eliza Tratz e Luiz Felipe Brandini Ribeiro, poderia ser um tipo diferente de greta de contração ou disjunção.

Formas amnóides

As formas também lembram um tipo de esfoliação esferoidal, mas sem diáclases.

Qual será a origem destas micro formas?

10 de março de 2010

Paisagens do Paraná, uma visão artística

Eu conheço bem o Estado do Paraná, embora não sendo paranaense, gosto muito do clima, dos campos e das florestas.

Estou colocando aqui algumas telas de artitsticas famosos que retrataram o cotidiano e paisagem no Estado, que era recoberta por Florestas de Araucárias e campos subtropicais naturais e povoado por índios guaranis, negros, caboclos e imigrandes europeus, sobretudo alemães, poloneses, ucranianos e italianos, além, é claro, dos portugueses.

Apartir da década de 1950, o Estado incentivou a destruição da vegetação natural, a economia madeireira insustentável entre outras coisas. Tanto é que o geógrafo alemão radicado em Curitiba Reinhard Maack chamou a atenção para a destruição desenfreada e se não fosse por seu mapa fitogeográfico, não saberíamos qual é a vegetação natural original no Estado.

Deixo aqui algumas telas famosas e muito bonitas que retratam estas paisagens e culturas, em parte ainda preservado no interior.

A Queimada de Alfredo Andersen. Esta tela mostra um pouco da apropriação dos Campos Gerais. A queimada era uma pratica normal para renovar a pastagem nativa, que é muito rica em silica e é pouco apreciado pelo gado.

Curitiba em 1827. Tela de Jean Baptiste Debret. Veja o desenho perfeito da Serra do Mar ao fundo. Note que o local da pintura é no Largo da Ordem (ver a igrejinha) Talvez onde hoje seja o teatro de arena.



Vista do Cadeado para o Marumbi - Alfredo Andersen.  Andersen era na verdade norueguês, ele morou muitos anos no Brasil, chegando aqui na época de transição entre a Monarquia a República. Morou primeiro em Paranaguá e depois em Curitiba.

Sapeco da erva mate - Alfredo Andersen

Descendo a Serra do Mar com tropas de erva mate. João Leão Pallière. Esta pintura certamente retrata o caminho do Itupava.

Theodoro De Bona - amplo horizonte - 1969.

Antonina William Loyd-1872. Veja ao fundo a Serra do Mar

Caça a Anta no Rio Ivaí - Franz Keller - 1865

Theodoro De Bona - Cacique Tindiquera indica o local da fundação de Curitiba. Para quem não sabe, Cori significa "Araucária" e Tiba " muita".

Arthur Nisio - Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, hoje Balsa Nova. Nota-se pelo retrato que é uma procissão do Senhor do Divino.

Kurt Boiger - paisagem, 1948

Waldemar Curt Freyesleben - paisagem paranaense, 1943

Guilherme Matter - plantação de trigo, sem data

Passeio Publico - Alfredo Andersen. Este lugar fica na rua de trás da minha casa. O lago que aparece é do Rio Belém, que hoje é canalizado no centro, passando por baixo do lago atual, que tem o fundo de concreto. O Rio Belém é um rio completamente morto e deságua no rio Iguaçu, aquele que 600 e tantos Km mais tardes se rompe nas cataratas.

Vista de Curitiba - Joseph Keller 1865. Veja o detalhe da Serra do Mar, da esquerda pra direita se vê nitidamente, como se fosse uma foto, o Caratuva, Pico Paraná, Ciririca, Aguda da Cotia, Anhangava, Serra da Farinha Seca e Serra do Marumbi.

Oswald Lopes - paisagem, 1938. Este retrato mostra bem a periferia de Curitiba na época, pode ser que seja o bairro do Barreirinha, que era onde moravam os polacos.

Guiro Viaro - As Lavadeira, 1944. Veja a população negra e  a pobreza e simplicidade das pessoas.


Paul Garfunkel - Largo da Ordem. Curitiba. 1957

Lange de Morretes - cataratas do Iguaçu, 1920

Theodoro De Bona - paisagem de Curitiba, 1925

9 de março de 2010

Buraco do Padre – Ponta Grossa


Ponta Grossa no Paraná é uma cidade privilegiada para a escalada. Localizada no topo do segundo Planalto, a cidade tem uma geologia complexa e uma história geomorfológica muito interessante.

Pra começar, o “arco” que fez o relevo desta parte da Bacia do Paraná soerguer durante o Cretáceo (140 milhões de anos) tem o seu eixo ali. Isso fez que camadas de rochas antigas, datadas do Siluriano e do Devoniano (cerca de 410 milhões de anos) estejam hoje numa altitude de mais de mil metros, em um clima mais frio e agradável para a escalada.

Os principais locais de escalada em Ponta Grossa é no Parque de Vila Velha (hoje proibido com toda razão), Salto São Jorge e Buraco do Padre, onde desde 2007 tem o setor Macarrão, onde ficam as melhores vias da cidade.

Lá tem dois paredões grandes inclinados, com agarras grandes, abaolados, tetinhos e tudo mais, o que faz do local um ginásio natural magnífico e de fácil acesso.

O nível das vias é alto, mas existe muitas vias de sétimo, que é meu nível atual, o que me garante uma diversão boa. Pra melhorar, lá é um lugar seco até mesmo com chuva!



A beleza da região e as escaladas merecem muito uma visita, vejam as fotos:

Vista do setor

 
Malu no segue

Paredão

 
Essa não é tão envenenada

Negatividade da coisa...

Escalada na Sombra

Setor de cima

Mais parede

Intermináveis paredes... um paraíso!

8 de março de 2010

Canyon do Guartelá

Seguindo minha viagem pelo interior do Estado do Paraná e admirado pelos canyons esculpidos pelas cachoeiras do Oeste (ou dos alineamentos onde os rios se encaixaram), fui para um dos canyons mais famosos do Estado, o do Rio Iapó.

O Rio Iapó nasce no primeiro planalto e logo após a cidade de Castro, ele corta a Escarpa Devoniana, que é a continuação da Serrinha de São Luis do Purunã, provocando o enorme canyon de mais de 30 Km.

A grande questão que existe na existência deste canyon: Porque o Rio Iapó escavou a escarpa, formando o canyon, para depois afluir no rio Tibagi, que deságua no Paranapanema que deságua no Paraná e vai chegar ao oceano depois de milhares de quilômetros no Estuário do Prata entre Buenos Aires e Montevideo, se sua nascente está a cerca de 100 km do oceano?

O rio não escolhe o caminho mais curto para chegar ao mar, embora o nível de base continental ser este, ele vai escavando do topo para a base de acordo com as possibilidades e o Iapó iria enfrentar a Serra do Mar, se fosse “escolher” o caminho mais curto. Como as camadas de rochas paleozóicas do segundo planalto é mais “branda” que os granitos da Serra, e já havia a herança de um paleo relevo herdado do antigo continente Godwana e, a partir do Cretácio, houve um tectonismo que continuamente foi erguendo as bordas orientais da bacia do Paraná (que também encachoeirou vários rios que correm do Leste para o Oeste), houve então a condição para que este rio, muito antigo (que se remete ao Terciário) esculpisse o canyon do Guartelá.

Na verdade esta é uma história ainda mais antiga que se remete à época da separação da América do Sul e da África, subsidência no interior do cráton do Paraná, sedimentação do grupo Bauru, pediplanação generalizada entre cretáceo e o Oligoceno, dando origem à Superficie Sulamericana, soerguimento por compensação isostática desde o da quitação da sedimentação do Grupo Bauru até a atualidade e reativação tectônica pós Mioceno pelos eventos neotectônicos dos quais houve o efeito reflexo do choque entre Placa Sul Americana e Nazca e também a rotação do continente sobre seu próprio eixo no Terciário, isso tudo sem esquecer o esvaziamento erosivo da região através da circundesnudação pós cretácica da Bacia do Paraná, legal não? Pois então eu acho e aquele relevo é um livro aberto para você estudar, basta apenas aprender a interpretar esta linguagem da natureza geomorfológica.

A tradução para o montanhista disto tudo é: Parede de arenito alta, de qualidade e com muitas fendas, tetos, agarrão e diversão garantida com acesso fácil.

No canyon do Guartelá tem muita parede da mesma rocha de Sâo Luiz do Purunã, o Arenito Furnas, que é muito antigo, bem concretado e resistente. Lá existem algumas vias, mas muito pouca diante do tamanho das paredes.

A maioria dos paredões ficam em Tibagi. Na Fazenda São Damásio, há belas exemplares delas com algumas vias. Há também vias em Castro, no front da Escarpa devoniana e no vale do Rio Iapó que perfurou seu perceé nesta escarpa.

Reunindo a qualidade e altura destas paredes, com o acesso fácil e o clima subtropical mesotérmico e a infra estrutura existente (pois lá há muitos campings etc) o local mostra ser um dos com maior potencial para vias esportivas no Estado do Paraná e se bem aproveitado, poderá dobrar o número de vias e de setores no Estado, basta gente disposta a conquistar com responsabilidade e consciência. Alguém se habilita?


 Canyon do Guartelá dentro do Parque Estadual

 
Trilha suspensa no interior do Parque do Guartelá

 




Vegetação de cerrado em meio aos campo gerais. Mais tarde falo disso com precisão...




Uma das paredes do canyon.



Parede virgem no canyon e cheio de possibilidades



Base da parede



Linda fenda



Mais paredes virgens



Mais e mais


... e não pára nunca...