Blog do Pedro Hauck: julho 2007

28 de julho de 2007

Sajama


Depois de voltar do Parinacota, descansei um dia e na segunda 23 voltei para outra montanha, o Sajama, a mais alta de toda a Bolívia.

Novamente infligi a tradição "gentedemontanha" e fui para a montanha com mulas. Entretanto tive que voltar no dia seguinte para Vila Sajama, pois para economizar "peso" na mochila, eu peguei uma barraca pequena do Marcio que se transformou num transtorno, e assim voltei continuarmos a ascensão com uma maior.

O tempo havia melhorado muito, os ventos haviam acalmado e o céu estava azul, sem nuvens.Toda a facilidade de acesso ao acampamento base do Sajama é inversamente proporcional à dificuldade de acesso ao acampamento avançado. Do base ao avançado são cerca de 1400 metros de desnível, tendo que andar em um terreno pedregoso o qual você dá dois passos e desce um. Infligindo totalmente as tradição (que vergonha!) um porteador carregou minha mochila até o próximo acampamento.

Estávamos com o cume na mão, era uma combinação de fatores que nos deixava extremamente à vontade: Estávamos descansados, o tempo estava bom e o cume ficava apenas 800 metros verticais de nosso acampamento.

Como montanhismo é uma caixinha de surpresas, no dia seguinte quando saímos para fazer ataque ao cume, fez muito frio e ao contrário do que parecia, a rota normal estava exaustivamente difícil de ser escalada devido ao derretimento do gelo que esculpiu da mesma forma que o Parinacota um mar de penitentes.

Ao regressar ao acampamento, a calmaria dos ventos tinha acabado e nossa chance de ir ao cume também, pelo menos pelos próximos dias... Por isso acabamos descendo.

Foi um tanto quanto sofrível caminhar com aqueles ventos, pois no Sajama havia uma poeira muito fina no chão e nosso corpo ficou empanado depois de algum tempo. Havia uns 10 dias que eu não tomava banho com toda a poeira que acumulou em meu corpo, meu estado estava deplorável.

Foi triste para mim perder a chance de escalar o Sajama. Há muito tempo tinha vontade de escalá-la. Mas acho que minha sina mesmo é ser um "gentedemontanha". Pela primeira vez na minha vida fui escalar num "estilo gringo", e não deu certo.

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:: Veja o Sajama no Rumos: Orientação em Montanhas!


Caminhada de aproximação ao acampamento base do Sajama com estranhas formações vegetais chamadas de Yareta.



Nosso acampamento base e a vista para o Sajama.



Aproximação a acampamento avançado, caminho muito difícil.



Nossa barraca à 5666 metros no acampamento avançado.



Marcio no dia de ataque ao cume.



Um dos trechos cheios de penintentes no caminho para o cume.



Sombra do Sajama sobre o altiplano ao amanhecer.

27 de julho de 2007

Escalando o Parinacota


Depois de um longo tempo sem postagens, vamos atualizando as notícias, após nosso regresso à civilização.

Após dormirmos uma noite no nível do mar em Arica no Chile voltamos à Cordilheira subindo até a Bolívia pelo passo internacional de Chungara. Esta fronteira é excepcionalmente bonita, pois muitos vulcões da Cordilheira Ocidental são o limite natural entre os dois países. Na lista das montanhas da região, figuram o Sajama, Pomerape e Parinacota. Os dois últimos muito próximos de si são conhecidos como Payachatas e o outro é simplesmente a montanha mais alta da Bolívia. Estas montanhas tem respectivamente 6542, 6282 e 6342 metros de altitude!

Eu já conhecia a região de outra viagem que realizei pela Bolívia em 2002, quando junto com o Maximo escalamos o Pomerape. Nesta ocasião realizamos uma verdadeira travessia, escalando por um lado e descendo por outro. Foram dias exaustivos, já que estávamos há bastante tempo escalando montanhas bolivianas e fizemos tudo no melhor estilo "gentedemontanha", ou seja, se ferrando bastante.

Desta vez com o Marcio, estávamos mais equipados e com um grande diferencial, com carro. Assim chegamos no dia 17 em Vila Sajama, um vilarejo muito pitoresco, sem energia elétrica. De lá se faz o acesso ao Parque Nacional Sajama que abriga todas estas montanhas.

Chegamos tarde, mas logo conseguimos um lugar para dormir, um pequeno chalé muito agradável, o Hostel Sajama, que pertence à um casal boliviano, a Ana e o Eliseo. O vilarejo pouco havia mudado desde que estive na região há 5 anos atrás, com a diferença que várias casinhas de adobe agora tinham pintado em sua fachada "Hostal", "Hotel" ou "Hosteria". Uma dessas casinhas era agora o "Hostel Oásis", que em minha última visita era um restaurante em formação, sua dona era uma "Cholita" simpática que nos deixou dormir no chão em nosso regresso do Pomerape, quando estávamos exaustos depois da escalada. Hoje, essa cholita usa roupas ocidentais, tem dois carros 4x4 e um hotel para 20 pessoas. Tudo isso graças ao turismo de escalada, que se desenvolveu muito nesta meia década dando origem a todos esteshotéizinhos e a várias facilidades, como guias, mulas e porteadores.

Enquanto combinávamos as facilidades para nossa escalada no Parinacota, o Payachata que eu ainda não havia escalado, conhecemos um americano que tinha o mesmo interesse que nós, Keith, com quem combinamos em ir juntos.

No dia seguinte lá estávamos nós três na trilha para montanha. Para mim, aquela paisagem era bastante nostálgica, já que em minha última viagem pela Bolívia foi quando eu conheci minha namorada, a Vivian.

Começamos o dia devagar, acompanhando a mula que carregava nossas mochilas, menos Marcio, que andando mais rápido, sumiu na frente de todos. O arriero que conduzia os animais, ao invés de fazer o caminho que eu havia feito meia década antes, foi a outro acampamento mudando completamente dedireção, de forma que não vimos mais o Marcio pelo resto do dia.

Fizemos a opção de continuar o caminho, uma vez que se nosso amigo seguisse até o acampamento e ficasse nos esperando sem sua mochila e barraca, iria ter uma noite muito desagradável.

Chegamos ao acampamento e o Marcio não estava lá. Somente no dia seguinte, através de guias ficamos sabendo que o Marcio estava bem, embora com uma bolha no pé, o que o deixaria fora da empreitada no Parinacota, assim, eu e Keith combinamos em atacar o cume desde aquele acampamento, aos 4700 metros de altitude na madrugada do dia seguinte. A amplitude até o cume cerca de 1600 metros era grande, mas não tínhamos outra opção, pois o retrocesso do gelo na região é tão grande que não existe neve no acampamento mais alto e já que tínhamos levado 10 litros de água com as mulas, era mais prático ficar no mesmo lugar do que ter que carregar toda a água nas costas.

Assim, acordamos ás 4 da manhã no dia 21 e fomos lentamente montanha acima. De princípio atravessamos um vale seco até um filo que liga oParinacota ao Pomerape. Keith andava muito mais devagar que eu. Em uma das paradas que fiz para esperá-lo minha mão ficou muito fria, pois o sol ainda não tinha nascido. Percebendo que nosso ritmo era bem diferente,Keith concordou que era melhor para ambos andarmos em nosso próprio ritmo e assim nos afastamos.

De fato a montanha era muito fácil, com pouca inclinação e nada de perigo. O fácil entretanto, se tornou exaustivo, quando o vento começou a mostrar sua cara. Vento e rocha solta, essas eram as dificuldade no começo. Logo, após alcançar os 5800 metros começaram os penitentes que são agulhas de gelo formadas por ventos que é a forma final de destruição de uma geleira.

Atravessar os penitentes com os ventos se tornou em um exercício penoso, pois as rajadas de vento quase me jogava ao chão. Foi assim que lentamente cheguei ao cume, ou melhor ao topo da enormecratera deste vulcão gigante.

Minha única vontade no momento era fugir dos ventos que vinham do oeste. Assim, decidi voltar por outro caminho pelo leste e ficar abrigado dos ventos fustigantes. De fato deu certo, entretanto, ao invés de descer pelo vale mais fácil, acabei entrando em um vale mais estreito e rochoso que acabava em uma cachoeira de gelo a qual tive quedesescalá-la, que foi algo difícil somente devido meu cansaço.

Acabei chegando ao acampamento por volta das 17:00 horas. Foram cerca de 13 horas de jornada, estava exausto! Por sorte, ao regressar, encontrei-me comKeith, que não havia ido até o cume. Ele estava negociando com um jeep 4x4 que acabava de deixar um grupo de montanhistas no acampamento. Acabamos voltando com o jeep para Vila Sajama, onde pude descansar para encarar uma outra montanha, a mais alta da região, o Sajama. A escalada no Parinacota foi fácil técnicamente. Mas as condições atuais da montanha dificultaram muito esta ascensão. Muita gente não acredita nas mudanças climáticas globais, mas nas montanhas andinas isso é uma realidade. O retrocesso das geleiras é um indicador destas mudanças.

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:: Veja o tracklog Parinacota no Rumos: Navegação em Montanhas!

As águas termais de Vila Sajama, talvez o único lugar onde tem água quente na região. É talvez o único lugar onde as índias tomam banho. O americano Keith com o Sajama ao fundo. O Filho do arriero. Comparação dos Payachatas em 2002 (acima) e 2007 (abaixo). Era para ser uma mera brincadeira repetindo uma foto antiga, entretanto o que eu percebi (recuo do gelo) é muito mais grave!

Keith e nosso acampamento base no Parinacota.
Vista para o Sajama no nascer do sol no Parinacota.

Eu e Keith (lá embaixo!).
Trecho com penitentes na rota para o cume do Parinacota.

Vista para a cratera do Parinacota.
Vista do Pomerape desde o cume do Parinacota.

17 de julho de 2007

Deserto


"O Chile não é um país, é um meridiano".

Essa frase do Marcio expressa bem a configuração territorial chilena. Este estreito e longo paisinho sul-americano é dividido politicamente em doze região, sendo que a primeira fica ao norte logo na divisa com o Peru e a última fica no extremo sul, englobando a região de Punta Arenas e a Terra do Fogo.

A cidade de San Pedro do Atacama fica na II região. Apesar de muito conhecida pelos brasileiros por causa do turismo, é uma cidade muito pequena e inexpressiva no contexto chileno. No norte do país, as principais cidade são Calama, Antofagasta, Iquique e Arica. Estas cidades têm porte e população consideráveis e são quase que oásis no meio do deserto, pois mesmo importantes, não existe quase nada humano entre entre elas.

A I e a II região do Chile já pertenceram ao Peru e à Bolívia respectivamente. Foram roubadas durante a guerra do pacífico no século XIX, quando estes dois países se aliaram contra o Chile que tinha interesses em tomar as preciosas minas de salitre da região, matéria prima para a fabricação de pólvora e de fertilizantes agrícolas.

O Chile conseguiu o que queria. Ficou com as minas de salitre e deixou a Bolívia sem mar, num momento da história que é até hoje martirizado pelos bolivianos. As vantagens econômicas da guerra, no entanto, não duraram muito, pois anos mais tarde os alemães iam descobrir um salitre artificial e o mundo deixou de comprar este insumo do Chile, transformando as cidades mineiras em verdadeiras cidades fantasmas, das quais a cidade de Humberstone, no meio do deserto, é um grande símbolo.

A Guerra do Pacífico só não foi um fracasso por que sem querer o Chile ficou com uma região riquíssima em Cobre, que na época não era tão valioso, mas que em nosso mundo movido à eletricidade transformou-se na maior fonte de renda do país. Esta mina chama-se Chuquicamata, e fica na cidade de Calama.

Chuquicamata é a maior mina de Cobre do mundo! São três mega crateras que foram abertas para extrair o precioso metal, das quais eu copiei uma imagem do Google Earth só para que tenham uma ideia da dimensão da maior delas.

Esta mega mina foi palco de intrigas e motivo de revolução. Ela pertencia a companhia Anaconda de mineração, empresa multinacional americana, bem retratada no filme diários de motocicleta. Ela foi nacionalizada durante o governo socialista de Salvador Allende e entregue novamente quando Pinochet assumiu o poder depois daquele fatídico 11 de Setembro de 1973, a data do golpe militar que até hoje está presente no Chile.

O Golpe militar que pôs no poder o general Augusto Pinochet foi sem dúvida o mais violento da América latina. Nele foram mortos mais de 200 mil pessoas, um número enorme para um país que na época tinha por volta de 10 milhões de habitantes. Desse tanto, foram eliminados os pensadores críticos e os artistas. O ato que representou a limpeza do pensamento chileno foi a morte do cantor e poeta Victor Jara em pleno Estádio Nacional de Santiago, que teve suas mãos decepadas para nunca mais tocar violão.

Dizem que a violência do golpe valeu a pena pelo "progresso" que o Chile vive desde a década de 1990. Entretanto viajando pelo interior do país não encontramos tal "progresso modelo" para a América latina, pelo contrário, vemos um país onde a riqueza se concentra numa minoria e pior, se concentra no espaço, pois fora a cidade de Santiago o Chile é um país rural e atrasado.

Isto se verifica aqui no norte. Para se ter uma ideia, a estrada que liga Iquique à Arica que tem cerca de 250 quilômetros, não tem um posto de gasolina se quer! A cidade onde fica a maior mina de cobre do mundo é feia e cheia de pobreza e desigualdade.

Há ainda outra coisa sobre o Chile contida na frase célebre de meu companheiro de viagem que eu negligenciei no principio. "O Chile não é um país, é um meridiano e metido a besta".

Odeio generalizar pois isto sempre cai em redundância e achismos perigosos. No entanto, já conheci o Chile suficientemente bem, nestas 4 viagens que fiz por aqui, em meses de contato com o povo e por todo o país. Em minhas experiências pude constatar que o chileno é um povo racista, machista, pré-conceituoso arrogante de pouquíssima educação, nada de simpatia e acarismático.

"Hola" e "gracias" talvez tenham sido as palavras que eu mais escutei durante minhas viagens pelos Andes, mas no Chile tenho certeza que as palavras que mais ouvir foram na verdade frases: "Hay que pagar!" e "Es prohibido!" Sempre que um chileno se dirige a você, pode ter certeza que ele vem ou para te cobrar ou para te punir.

Em nossa viagem, não ficará marcado o Atacama que atravessamos ontem, saindo de San Pedro, passando por Calama e Iquique e chegando em Arica, na fronteira com o Peru na porta do Pacífico, ficará marcado este Chile deserto de humanidade e que ainda gosta do Pinochet.

Estamos deixando o Chile hoje. Daqui iremos novamente aos Andes. Serão quase 200 quilômetros até a fronteira com a Bolívia, onde iremos escalar o Sajama e Parinacota.

Ficaremos bastante tempo sem nos comunicar, mas não se preocupem.

Assim que pudermos, provavelmente em La Paz, estaremos postando novas noticias, quem sabe boas!

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Imagem de satélite da principal cratera da mina de Chuquicamata em Calama
Igrejinha de San Pedro de Atacama

Rua de San Pedro de Atacama

Vulcão Licancahur desde o Vale da Lua
Marcio e uma formação ruiniforme do Vale da Lua
Paisagem desértica do Vale da Lua, com direito à uma placa arqueada.

Eu com uma duna de Areia ao fundo

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16 de julho de 2007

De Cachi a San Pedro


Ao saírmos de Cachi, fomos em direção ao norte pela remota Ruta 40, que está toda sem calçamento. A estrada sobe o vale do rio Calchaqui até chegar na Abra del Acay alcançando 4900 metros sobre o nivel do mar, numa altitude que nenhuma estrada da América chega.

A estrada tem uma inclinação pequena até o povoado de La Poma, depois ela começa a subir mais bruscamente zig-zagueando as vertentes do vale fazendo curvas muito fechadas e perigosas, que ficam ainda mais se houver gelo na pista, que para nossa sorte, não havia.

O carro ia perdendo potência conforme a altitude aumentava, ao mesmo tempo em que o motor se aquecia. A pouca concentração de oxigênio no ar de altitude dificulta a combustão do motor resultando nisto.

A subida ia tudo bem, até que um pneu do carro furou. Foi aí que começamos a ter problemas. Logo quando paramos o carro, ouvimos um barulho vindo do motor e logo vimos a água do radiador se esparramar no chão, o carro havia fervido. Quando tentamos abrir o capô do carro para ver o que havia acontecido, a alavanca que se usa para isto quebrou e não pudemos fazer nada, a não ser continuar a viagem com o que restava de água no radiador, e assim subimos o pouco que faltava para se chegar no Abra del Acay e começar a descer.

Foram cerca de 40 quilômetros em estrada de terra com o carro fervendo até chegar em San Antonio de Los Cobres, um milagre não ter fundido o motor.

No dia seguinte fui procurar um mecânico para ver o que havia acontecido. Descobri que havia estourado uma mangueira do radiador. A única oficina aberta na cidade era horrível, nunca vi lugar tão sujo e cheio de de sucata, quer dizer, "peças".

Os mecânicos, que deviam ter uma ascendência direta de Manco Capac, fizeram uma gambiarra para podermos voltar à Salta e assim fomos, tendo que completar o nivel de água do radiador de 20 em 20 quilômetros. Nossa arriscada tentativa valeu a pena e conseguimos chegar na cidade a tempo de poder arrumar o carro. Lá, descobrimos que foram três mangueiras quebradas e não somente uma!

Depois de finalmente consertar o carro, pegamos a estrada novamente em direção à San Salvador de Jujuy, para adiantar nossa viagem. Sem informação, fomos por uma estrada secundário horrorosa, em que a maior parte do tempo tem apenas uma faixa de carro. Para piorar, o motor esquentou de novo e tivemos que completar o nível de água outras tantas vezes.

Em Jujuy, dormimos em um hotel super luxuoso, novidade para mim. Mesmo assim não pude dormir direito de tanta preocupação com o carro. Acordamos cedo e fomos a busca de outra oficina e assim conseguimos arrumar o carro por definitivo, o mecânico anterior simplesmente não tinha apertado direito as mangueiras.

Sedentos por estrada fomos logo deixando San Salvador para trás indo em direção aos Andes novamente. Subimos pela estrada internacional que cruza o passo de Jama, esta, inteiramente asfaltada, ainda bem!

Dormimos nosso última noite na Argentina na última cidade deste país e lá encontramos uma família paranaense viajando de Fusca! Sorte deles, pois com um carro que refrigera o motor com o ar, eles nunca iam ter problemas com as mangueiras.

Atravessamos a fronteira no dia seguinte, ontém. A divisa entre os dois países fica numa altitude de 4100 metros, entretanto, quando se chega ao Chile, a estrada sobe ainda mais chegando a incríveis 4800 metros de altitude, num lugar onde a paisagem estava coberta de neve. Lá havia algum perigo, por isso a estrada fica fechada das 16:00 ás 10:00.

Não tivemos mais problemas com aquecimento do motor e foi uma agradável viagem pela Puna do Atacama, atravessando salares e paisagens interessantes , como a região de Tara, onde existe uma série de relevos ruiniformes numa altitude de aproximadamente 4700 metros, que é altitude do altiplano da região, provavelmente o mais alto dos Andes.

São mais de 100 quilômetros em que percorremos o altiplano da Puna, até que chegamos à base do vulcão Licancahur. Lá, a estrada mergulha e desce mais de 2000 metros sem ter quase nenhuma curva. A paisagem nevada fica para trás e aos poucos vamos chegando no deserto do Atacama, quase sem cobertura vegetal numa paisagem não muito favorável a habitação humana, a não ser nos Oásis, onde existem rios ou lagoas e a umidade permite a existência de árvores e outras vegetações, um desses oásis é San Pedro de Atacama.

San Pedro é uma cidade muito turística. Ela preserva sua arquitetura típica atacameña, com casas de adobe e chão de terra poerenta. É um lugar bonito com muitos gringos mochileiros. Mas está no Chile, e aqui as coisas são muito caras e os chilenos não sabem tratar bem os turistas, sabem apenas explorar os mesmos.

É por este motivo que estamos indo embora daqui. Já estamos a mais de dez dias de viagem e ainda estamos longe das montanhas que queremos escalar. Vamos apenas conhecer alguns lugares mais famosos e depois vamos pegar a estrada novamente.

O objetivo agora é ir até Arica e de lá subir os Andes novamente até chegarmos na Bolívia.

Nossa processo de aclimatação não está concluído. Tínhamos a intenção de aclimatarmos no vulcão Láscar aqui perto, entretanto a estrada para lá está ruim, então por isso já vamos direto à Bolívia que é o que nos interessa.



Flor de um cactus (qual seria?)



Paisagem no vale de Calchaqui



Chegando no ponto mais alto da ruta 40, a Abra del Acay



Uma Lhama ao lado da Ruta 40



Guanacos no Paso de Jama



Marcio e seu carro: ¨El poderoso¨



Trecho nevado da estrada internacional no Chile



Paisagem ruiniforme (de morfologia sugestiva para uma amiga do Marcio!) no salar de Tara.



Vulcão Licancahur nevado!

15 de julho de 2007

San Pedro de Atacama

:: Veja a história que antecede este relato

Estamos em San Pedro de Atacama, norte do Chile, uma das regiões mais áridas do mundo.

Aconteceram muitas coisas desde que postei no blog na última vez, dentre elas a maior ¨zica¨da viagem até agora, o carro quebrou!

Não foi nada demais, tivemos problemas com as mangueiras do radiador, tudo consertado.
Fomos ao Abra del Acay, a 4900 metros de altitude e lá tivemos este problema. Por conta disso, nao escalamos esta montanha.

Para não perder mais tempo viemos direto ao Chile, que continua igual, tendo que pagar caro para ouvir a prepotência e arrogância dos chilenos.

Não vou postar foto pois a internet aqui é o olho da cara e a conexão é horrível.

Prometo que assim que achar um lugar melhor atualizo o blog decentemente.

Estamos muito bem mas sedentos de montanha.

Abraço a todos.

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Puna de Atacama

No Noroeste da Argentina, a Cordilheira dos Andes faz parte de um geossistema paisagístico chamado Puna de Atacama, que é a região mais alta e seca da América do Sul, onde existem centenas de montanhas que se elevam a uma altitude superior a seis mil metros, a maioria delas sem neve permanente.

Com exceção do Aconcágua, do Huascarán e do Mercedário, as outras sete das dez montanhas mais altas das Américas ficam na Puna de Atacama, e são todas vulcões: Ojos del Salado, Llullallaico, Pissis, Bonete Chico, Tres Cruces, El Muerto e Sajama. Além destas, há muitas outras com menos de 6.500 metros, como Incahuasi, Cachi, Antofalla, Mulas Muertas e outras de cujos nomes já não lembro o nome.

Como o nome sugere, a Puna quer dizer altura, ou seja, é a região mais alta do deserto do Atacama. A razão para a existência deste deserto está na influência da corrente fria de Humboldt, na costa do Chile, e da zona de alta pressão existente nesta latitude próxima ao Trópico de Capricórnio, aliado com a elevação dos Andes, que se comporta como uma eficiente barreira orográfica. Todos estes fatores fazem da Puna do Atacama a região mais seca do mundo!

O relevo daqui é muito influenciado por eventos vulcânicos, além, claro, do tectonismo, que fez muitas placas se romperem, soerguerem-se ou dobrar-se formando relevos de cristas anticlinais e sinclinais, que veremos mais para frente.

Muitas destas dobras deram origem a depressões onde existem lagos periódicos. Na época das chuvas, as águas são drenadas para o interior destas zonas arqueadas e junto com elas são transportados também sais de origem vulcânica. Na época de seca, como agora, o nível freático destes lagos baixam significativamente e deixam aflorar seu substrato, constituído por sal, formando as chamadas salinas, ou salares, muito comuns por aqui.

Apesar da paisagem inóspita, esta região é fácilmente acessível para veículos, isto porque em sua maior extensão a Puna é um grande altiplano, com poucas rupturas do relevo que desenham as chamadas “cuestas”, estas sim bastante escarpadas, como a Cuesta del Obispo, no caminho entre Salta e Cachi, e a Cuesta del Acay, que é a cabeceira do vale do Calchaqui, onde Cachi está situada e que conforma uma paisagem de pré-Puna, pois ali a altitude é mais baixa.

Apesar de toda esta configuração natural, a pré-Puna é habitada pelo homem há quase 10.ooo anos, com povos nômades primitivos que eram caçadores e coletores. Até aproximadamente o ano 800 DC, pouco houve de evolução técnica, entretanto, depois do ano 1.000 DC, a região foi habitada por outros povos sedentarizados que já haviam domesticado o milho e a batata (aqui existem centenas de tipos), assim como também já domesticaram a lhama, utilizada tanto para transporte como para a produção de lã.

No vale de Calchaqui, estes povos falavam a língua kankan, mas, por volta do ano 1460, eles foram conquistados pelos incas e seu território foi incorporado ao Collasuyo, a região sul do império inca.

Os Incas do Collasuyo foram os primeiros a subir as montanhas da Puna. Estes escaladores pré-colombianos tinham motivações religiosas para as ascenções. No cume de montanhas da região, como o Llullallaico e o Licancabur, foram encontrados muitas múmias incas que indicam rituais de funerais em montanha e deixam claro a motivação não esportiva para sua ascenção. Quase no cume do Llullallaico, que é a sétima montanha mais alta da América, existe o sítio arqueológico mais alto do mundo, de onde foram retiradas três múmias de crianças, que estão hoje no Museu de Arqueología de Alta Montaña, em Salta.

O kankan foi logo suprimido pelo quéchua, a língua dos incas, deixando um vácuo para a compreensão das toponímias regionais mais antigas, como, por exemplo, o sufixo “gasta”, existente em diversos nomes de cidades, como Antofagasta, Aimogasta, Nonogasta e Payagasta. Entretanto, muitas das toponímias regionais são em quéchua, que é um idioma de origem peruana. O próprio nome Cachi é quéchua e significa “sal”.

A curiosidade da origem deste nome é que os incas achavam que a neve do cume do nevado Cachi, a montanha mais alta do vale de Calchaqui, na pré-Puna, com 6.300 metros, era sal. Isso mostra que montanhas nevadas por aquí são raridade, enquanto que sal aflorando em grande quantidade é muito comum.

Os incas estiveram por cerca de 100 anos na região, tempo suficiente para trazer e introduzir aqui a infraestrutura e técnicas de Cuzco, a capital do império inca. Com isso, construíram muitas estradas, canais de irrigação e terraças para plantio de batata e milho. Entretanto, esta economia entrou em declínio com chegada dos conquistadores espanhóis, por volta de 1540. Depois disso, a região sofreu uma substituição de sua economia tradicional para a criação e engorda de mulas, que eram usadas no trabalho e no transporte de prata da mina de Potosí, na Bolívia. O vale do Calchaqui tornou-se rota de tropas de mulas vindas das fazendas de Córdoba, Mendoza e San Juan, ao sul, em direção às regiões de extração de prata, na Bolívia e Peru, ao norte. Assim, o vale funcionava como entreposto e a Puna, como passagem.

Por incrível que pareça, a economia arriera, ou seja, da criação e engorda de mulas, foi a atividade principal até a década de 1940, quando o vale do Calchaqui foi pela primeira vez ligado à capital, Salta, por uma estrada. A partir daí, pouco a pouco a mula foi sendo substituído pelo caminhão.

Hoje, esta região vive uma fase incipiente de exploração turística, onde o tradicional contrasta com o moderno, e o povo local com o turista internacional. Mesmo em uma região aparentemente tão remota é possível dormir em um hotel confortável em povoados pitorescos, como La Poma (3.015m), San Antonio de los Cobres (3.775m) e ainda poder acessar internet por banda larga via satélite, além de tomar Coca-Cola e ainda comer uma tradicional salteña, pastelzinho assado típico daqui.

Outra coisa que achei muito curiosa por estas bandas, e que traduz bem estas influências naturais no povoamento humano tradicional da região, é que na pré-Puna uma das matérias primas mais usadas na confecção de móveis e construção das casas é a madeira de um cacto, o cardon, que é a espécie vegetal mais abundante da região.

Os cardones são cactos enormes e milenares, com indivíduos que chegam a seis metros de altura. Os povos locais cortam estes cactos e os secam, serrando em formato de tábuas, que depois de prontas adquirem um formato peculiar, com furos onde ficavam os espinhos. Além dos cardones, ainda existe um outro cacto, semelhante à palma nordestina, que se chama tunilla.

A família das cactaceas existe apenas no continente americano e está presente em todas as regiões áridas e semi-áridas do continente. O estudo desta família poderá responder questões sobre como os mosaicos vegetais americanos evoluíram. Em um estudo de Guillermo Sarmiento, da década de 1970, botânico argentino que mora na Venezuela, existe uma comparação das cactaceas existentes nas diversas coberturas vegetais secas da América. Ele concluiu que muitos cactos, apesar da proximidade e da semelhança, não guardam parentesco em grau de gênero, ou seja, que estas coberturas vegetais evoluíram paralelamente, mas sem trocas genéticas entre si.

Um exemplo disso é que as cactaceas da província fitogeográfica do Monte e da pré-Puna, ao lado oriental da cordilheira dos Andes, nada têm a ver com as cactaceas do Atacama, no lado ocidental. Da mesma forma, a vegetação seca do Chaco nada tem a ver com a caatinga no Nordeste brasileiro, apesar de suas fisionomias serem semelhantes.

Este estudo revelou também que ambas as formações secas guardam parentesco com as formações secas da Venezuela. Ou seja, lá teria sido a área fonte para a expansão dos cactos pela América do Sul, e provavelmente os desertos de Chihuahua e Sonora, no México e EUA, foram os locais onde surgiram a família das cactaceas.

Aproveitando as ambiguidades do tradicional com o global, usando a internet via satélite que existe aqui no povoado de La Poma, em pleno vale do Calchaqui, na região fitogeográfica da pré-Puna, coalhada de cardones e circundada por vulcões, iremos amanhã dar continuidade ao nosso processo de aclimatação. Faremos uma rápida ascenção a um vulcão adormecido, em verdade dois pequenos vulcões, conhecidos como Los Gemelos (Os Gêmeos). Depois, vamos subir de carro uma das grandes quebras de relevo existentes na região, a cuesta del Acay, que fica no sopé do vulcão homônimo, de 5.770m, que devemos escalar nos próximos dias.

Todos nossos passos serão registrados aqui no Gente de Montanha. Não percam os próximos relatos, com muitas curiosidades e aulas de geografia.

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O Cerro Cachi, de 6300 metros, a maior montanha da regiao do vale do Calchaqui


O vale do Calchaqui em Cachi

Paisagem no interior do Parque Nacional Los Cardones

Marcio entre dois amigos Cardones

Um banco feito da madeira de Cardon

Variedade de milhos dos Andes

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12 de julho de 2007

Estrada da minha vida


Ontem saímos de Cachi e viemos dormir em La Poma, um vilarejo esquecido no meio do vale do Calchaqui.

A estrada serpentea as orilhas do rio, um lugar fantástico com muitas montanhas, muitas delas vulcoes, como os Gemelos (Gemeos) um dos quais pretendemos escalar hoje.

Infelizmente nao consegui transferir minhas fotos para este computador para mostrar este lugar tao bonito e pitoresco. Mas tudo bem, fica para a próxima postagem.

Ontem, quando eu olhava o mapa do vale, me dei conta de que esta estradinha de terra pela qual estávamos andando era a famosa ruta 40, a qual já conheco de longes temps.

A ruta 40 é a maior estrada da Argentina, com 5.000 km de extensao. Ela sempre beira o sopé da cordilheira dos Andes, indo desde a fronteira com a Bolívia até o estreito de Magalhaes. Esta estrada foi construida em 1935 é bate vários recordes, entre eles ela é a estrada mais alta da América, atingindo os 4900 metros aqui perto, na abra del Acay. De acordo com a vialidad nacional (estatal responsável pelas estradas federais argentinas), la tem 236 pontes, toca 13 grandes lagos, dá acesso a 27 passos fronteiricos, 20 parques nacionais e cruza 18 importantes rios.

Esta estrada entrou para minha vida em 2000, durante a Odisséia Austral, quando cruzamos a 40 na Província de Santa Cruz de carona. Nesta oportunidade, ficamos 3 dias esperando um carro passar, vimos uma pegada de Puma e numa certa noite vimos a estepe patagonica virar tundra!

Na segunda vez que andei por esta estrada, em 2002, eu estava voltando da Bolívia e fui de onibus de La Quiaca (fronteira) até a quebrada de Humahuaca. Nao foi nada dramático, a nao ser que eu estava super cansado depois de ter escalado um mes e perder 6 kg nas montanhas.

Depois em 2006 estive de carro pela 40, na Província de Catamarca indo para o Passo San Francisco escalar o Incahuasi e depois em La Rioja passando em Chilecito indo ao sul em direcao a Mendoza.

Passei por esta estrada em várias etapas de minha vida como andinista. Por aqui vivi grandes aventuras, passei por enormes roubadas, aprendi muito e cresci bastante, brincando como adulto com responsabilidade de criança.

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Acampando ao lado da ruta 40 na Patagonia


Cruzando uma depressao árida na provincia de Catamarca em 2006


A ruta 40 ao lado do rio Limay na provincia de Neuquém próximo a Bariloche

Ps. Desculpem-me pelos erros de acentuacao, estou num teclado español!

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11 de julho de 2007

De Salta a Cachi


Cachi (província de Salta), Argentina, 10 de julho de 2007

Por Marcio Carrilho

Promessa é dívida, eu sei, e não se preocupem que vou passar aqui um pouco do que o Pedro me ensinou sobre a araucária enquanto viajávamos pelas estradas do Paraná e de Santa Catarina. Mas, antes, farei um breve resumo do nosso dia de hoje.

O céu amanheceu lindo em Salta (1.187m), sem uma nuvem e muito azul – “despejado”, como se diz aqui. Visitamos pela manhã o Museu Arqueologico de Alta Montaña, que fica bem na praça central da cidade, a Nueve de Julio. Muito bacana e bem arrumado, o museu tem como ponto alto do seu acervo três múmias de crianças incas encontradas em urnas funerárias no topo do Llullaillaco, um vulcão adormecido de 6.739m, localizado na fronteira Chile-Argentina, na província de Salta - e que um dia a gente vai escalar, podem escrever. Os incas não eram alpinistas, como nosotros, mas curtiam umas oferendas a Pachamama (a Deusa Mãe da Terra) no topo das montanhas andinas, onde eventualmente também eram deixados corpos de filhos da nobreza – até porque é mais fácil carregar o corpinho de uma criança morro acima do que o corpão de um adulto.

Os incas podiam ser devotos, mas não eram bobos... Há registro de mais de 200 ruínas incas em alta montanha, muitas delas com múmias, desde o Equador até o Chile e Argentina, passando por Peru e Bolívia.Depois, já de carro, fomos ao Cerro San Bernardo (1.434m), ponto turístico de onde se descortina uma vista panorâmica de Salta – também acessível a pé, por uma trilha em escadas, ou por teleférico.

Saindo da cidade, passamos num hipermercado para comprar os mantimentos que levaremos para a montanha – aliás, para as montanhas, que as nossas pretensões são vastas, acreditem. Muita massa, sopas, molhos, atum, biscoito, enfim, essas coisas industrializadas e sem graça que se come quando se está acampado numa barraca apertada, com o nariz entupido e ressecado, enjoado, morrendo de frio e com dor de cabeça, a mais de quatro ou cinco mil metros de altitude, e ainda com um marmanjo fedorento ao seu lado padecendo dos mesmos males. Isso é conhecido aí no Brasil como “programa de índio”, e no Nordeste, mais espeficicamente, como “programa de corno”. Aqui, eu chamaria de “programa de inca”. Mas, vai entender a cabeça de quem é louco por montanha...

Rumo a Cachi, rodamos 160km por uma estrada muito bonita, parte asfaltada, parte de terra, que serpenteia por vales e depois sobe até 3.200m, já dentro do Parque Nacional Los Cardones. O visual lá em cima é lindo e inóspito, um planalto muito largo com florestas de cactos enormes, altos e cilíndricos, alguns com ramificações que parecem braços, que são os tais cardones que emprestam o nome ao parque, e morros dos dois lados, cujas cimas estavam iluminadas pelos últimos raios de sol de fim de tarde. Cachi, já fora do parque e a 2.350m (segundo o super GPS “McGiver” do Pedro – mamãe, eu quero um igual!), é pequena e charmosa, um vilarejo colonial perdido nos Andes com construções de mais de 200 anos, que lembram aquelas cidades mexicanas de filme de faroeste da Sessão da Tarde.

Estamos numa pousada bem confortável, El Cortijo (que de cortiço não tem nada, muito pelo contrário), e comemos muito bem no restaurante Luna Cautiva. Para completar, assistimos numa birosca à emocionante vitória do Brasil sobre o Uruguai na semifinal da Copa América, com todos os argentinos presentes secando a nossa Seleção. Pior para eles, que agora vão ter que passar pelo México se quiserem ter o prazer de jogar com a gente – e perder, claro, como há três anos.

Se passarem, menos mal, pois no próximo domingo, dia da final, já estaremos no Chile...ARAUCÁRIA, AFINAL!Agora sim, vamos falar um pouco da araucária brasileira (Araucaria angustipholia), esta simpática árvore tão característica do Sul do Brasil, especialmente do Estado do Paraná. Como o próprio nome indica, ela é uma espécie predominante no geossistema do Planalto das Araucárias, que vai do Rio Grande do Sul ao Paraná, passando por Santa Catarina. Além disso, ela também aparece em alguns redutos mais altos da região Sudeste, como nas serras da Mantiqueira (SP, MG, RJ) e Caparaó (MG, ES).Quando a gente vê aquela árvore estranha e imponente, que pode chegar a 40 metros de altura e viver por mais de 150 anos, com seus galhos lá no alto apontando para cima, como braços querendo segurar alguma coisa, nem imagina que trata-se de um verdadeiro dinossauro vegetal vivo.

Assim como as samambaias, a araucária tem a mesma cara há 200 milhões de anos! Ou seja, são tão antigas quanto os próprios dinossauros, pois surgiram no Triássico, (incrível é que o Pedro fala tudo isso assim, na maior naturalidade, como quem comenta o último jogo do Corinthians, time pelo qual torce, aliás – viram?, ele sabe muito, mas não é perfeito!). A araucária, assim como os pinheiros, seus primos modernos, são gimnospermas, ou seja, espécies vegetais (se eu disser “plantas” o professor me mata!) que pouco evoluíram desde o seu surgimento na superfície da Terra. Não lembram das aulas de biologia? Eu também não lembrava, então vamos lá, tecla SAP: gemnospermas são plantas (agora foi...) sem fruto, o que indica que têm um sistema reprodutivo mais simples, porém extremamente eficaz para a sua perpetuação.

Tanto isso é verdade que a araucária está aí há 200 milhões de anos, e com pouquíssimas adaptações evolutivas até aqui. Além da brasileira, há espécies de araucária no sul do Chile e Argentina (Araucaria araucana), na região dos lagos e vulcões, próximo a Temuco, no Chile, e San Martín de Los Andes, na província de Neuquén, ao norte de Bariloche, no lado argentino. Inclusive os índios chilenos desta região são conhecidos como Araucanos.

Assim como a sua prima brasileira, a madeira desta araucária é excelente para a produção de móveis e acabamento em construções, sendo considerada de lei.As outras duas espécies conhecidas de araucária (bem, pelo menos as que o nosso oráculo aqui ao lado conhece, então eu duvido que haja outras), são da Austrália, sendo que na praça central de Salta, a já citada Nueve de Julio, há alguns exemplares de uma delas, a Araucaria bedwillii – a outra chama-se Araucaria columnaris. Além de ser muito bonita e oferecer ótima madeira, a araucária também é fonte de alimento. Sua semente, o pinhão, é bastante apreciada nas regiões onde ocorre, podendo ser cozida e comida pura ou na preparação de pratos.Gostaram? Bueno, entonces después a gente fala do Chaco.

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Araucária Australiana na praca central de Salta

Comeco da estrada para a Cachi, em um lugar chamado Cuesta del Obispo, onde comeca a subida da cordilheira

Cactos Cardones, numa vertente na beira da estrada na Cuesta del Obispo.

Aspecto do interior do Parque Nacional Los Cardones, numa altitude de 3300 metros, ponto culminante da estrada Salta - Cachi.

Construcao no centro de Cachi, arquitura parecida com a do ¨Faroeste¨ do Mexico

Restaurante Luna Cautiva, boa refeicao!

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