Blog do Pedro Hauck: abril 2013

29 de abril de 2013

Guaricana: No mato com cachorro!


A Serra do Mar tem umas montanhas que muitas pessoas não conhecem e nem sabem que existem. O Guaricana é destas montanhas discretas. É alta, mas fica perto demais do Pico Paraná, Caratuva e outras montanhas famosas e por isso é pouco notada. Eu particularmente sempre a achei interessante por ser um monte isolado no meio da Serra do Capivari e do Ibitiraquire.

Esta montanha tanto é pouco notada, que desde que se instalou um caderno de cume ali, em 2002, apenas 18 pessoas chegaram até o topo.

Consta no relato deixado pelo Pacheco, que a primeira ascensão feita na montanha foi em 1997 por montanhistas da Sociedade dos Poetas da Montanha, Taylor, Gun´s, Saraiva, Adilson, Guinomo, Hans, Regina e Éger, além do Elcio Douglas.

No mesmo ano, o Pacheco e o Paulinho voltaram para aquela montanha e no ano seguinte, parte dos integrantes da primeira subida também retornaram.  Quem também esteve ali nos anos 90 foi o Cover com o Emerson, que fizeram pela face norte. Há uma história que um dos integrantes dessa roubada acabou indo parar no hospital.

Na verdade já houve gente no cume na década de 50 e 60, engenheiros da Copel, que trabalhavam na construção da usina Parigot. Não se sabe se eles abriram trilha no mato ou se foram parar ali de helicóptero.

Em 2002, o Pacheco, com o Marcelo Brotto, Elcio Douglas, Regina Paixão, Paulo Marinho e o velho Pioli colocaram a caixa de cume e o livro permanece com poucas páginas preenchidas.

Em 2011 e 2012, o Julio, Moises,  Jopz, Alison, Vinicius e o Elcio abriram uma trilha na montanha que foi utilizada pelo Elcio, Jurandir e Sexta para fazerem a alpha Crucis. As fitas ainda estão lá, mas a trilha não, engolida que foi pelas taquaras e pelo mato.

Desta vez estive com o Julio, Moisés, Rossana Reis e dois cachorros da fazenda que dá acesso à montanha. O objetivo era coletar rochas pra minha pesquisa. Achei que seria moleza, mas levamos o dia inteiro entre farejar o caminho, abrir trilha e carregar as pedras...

Tenho que agradecer meu amigos, afinal eu nem toquei no facão e eles trouxeram metade das amostras. É muito melhor estar no mato com cachorro!

A trilha agora virou uma picada, mas quem quiser pisar no cume, ou terá que vir de Antonina, subindo a picada do Cristóvão, ou terá que pedir autorização na Fazenda da Brasil Sat. Fazer pesquisa e carregar pedra nas costas não é tão legal, mas ter autorização pra entrar aonde poucos vão, apenas por isso, vale cada quilo no lombo.

Guaricana, a montanha no fundo

Moisés, Rossana e Fiori

Fiori e Moisés mostram o calçamento original da picada do Cristóvão.

Caminhando pelo Cristóvão

Muito mato

Rossana e Fiori no cume

escrevendo no livro de cume

Moisés e Fiori, farejam a trilha melhor que cachorro

Dois cãopanheiros

Muita Quiçassa!

28 de abril de 2013

O impressionismo feminino


Nympheás, quando li este nome, no museu de L’orangerie, imaginei algo relacionado à pintura de belas jovens, ninfetas, que tanto impressionam os homens e causaram admiração aos pintores românticos.  Como sou ignorante no francês... Nympheás são lírios d’água, uma coleção especial feita pelo pintor impressionista Monet para aquele local.

O Museu de L’orangerie foi idealizado por Monet e concluído após sua morte. São duas salas ovais, sem janelas laterais, onde ficam reunidas suas imensas pinturas sobre os lírios d’água. Os jardins nem sempre foram a inspiração de Monet, mas neste museu ele atinge seu ápice. A primeira vista, há nada poético em lírios d’água, mas a poesia e admiração brotam da observação da tela. Os lírios são pinceladas, não são fotografias fidedignas àquilo que vemos com os olhos, não há neles a perfeição estética e simétrica do romantismo puro, eles são simplesmente coisa que vemos com o sentimento e são belas como uma bela mulher.


Nympheás no museu de L’orangerie.

Os lírios podem ser vistos em escalas diferentes, de muito perto, onde os detalhes se perdem com o desfocar dos olhos, ou à distância, onde os vemos em sua totalidade e enxergamos o reflexo do resto do jardim no espelho d’água do lago retratado, embora isso seja um detalhe apenas notado pelos mais impressionados, onde cada detalhe faz grande diferença.

Não há romantismo numa planta aquática, mas o impressionismo desperta o sentimento na pessoa que o admira. Este olhar entre escalas me recorda, novamente, uma  linda mulher. Quando a observamos a distância, vemos toda a beleza do conjunto,um rosto bonito em harmonia com um corpo sensual,  mas ao olhar de perto, até os olhos desfocarem, a imagem é uma coisa pra poucos. A atração deixa de ser o que é visto e passa a ser o toque, o cheiro, outros sentidos que não a visão.  

Detalhe de Nympheás, sem desfocar os olhos...
Em outra pintura sobre a água de Monet, no quadro “A Canoa Sobre o Epte” que faz parte do acervo do MASP em São Paulo a simetria não é respeitada. A escolha de uma tela em forma de retrato, para mostrar uma paisagem, deixa perder parte do barco onde duas moças passeiam. 

A ausência da proa do barquinho a remo deixa evidente o movimento da embarcação, mas o que importa na cena é a moça que está no centro da figura. É ela quem o artista retrata, a cena pouco importa. Quem será ela? Por que ele a observa a distância? Existiria uma razão para ela não pousar como modelo e ser revelada assim, à distância e em movimento? Artistas são solitários e envelhecem como todos, será que o tempo passou para Monet e sua libido não?  Que intrigante. Que fixação em algo que é proibido e não nos pertence.

Canoa sobre o Epte de Monet - créditos MASP

Foi somente no século XIX que a sociedade evoluiu o suficiente para que artistas pudessem ter sua própria inspiração e deixassem de ser financiados apenas por reis e pela igreja.  É aí que começa o romantismo,um dos movimentos culturais mais importantes da civilização ocidental. A partir daí o ser humano passa a desejar mais a liberdade, o amor é sensual, e as mulheres passam a ser mais femininas, a inspiração dos artistas, e deixam de ser Marias. 

E a sexualidade adoeceu muito nessa época. Com o êxodo rural muitas moças viraram prostitutas nas cidades. A siphilis se espalhou, foi a AIDS do sec XIX. A sexualidade ficou confinada ao quarto dos pais e aos prostibulos, e a classe trabalhadora reprimida – afinal, sexo para essa classe era so mesmo para ela se reproduzir, como disse Foucault  em ‘A Historia da Sexualidade’.  O tanto de pornografia pervertida/demoniaca produzida no sec XIX é estonteante.  Museus escolhem quais telas/desenhos mostram, lembre-se sempre de que qualquer coisa considerada inadequada eles mantem guardada.  Do amor, nasce o canibalismo...

Mais tarde, no Museu D’Orsay, tive uma overdose de impressionismo. Entre uma tela e outra, parei para admirar, de forma impressionada, a tela “Le Toilette” de Toulouse Lautrec, onde uma bela jovem, nua, mostra suas costas. Como são lindas e sensuais as costas de uma bela mulher mostrando sua nudez sem mostrar seu sexo. É sensual, pois sabemos que do outro lado está a parte mais bonita de uma mulher, os seios, mas não podemos ver. Os seios são a inspiração do amor e do artista, parafraseando Pierre August Renoir:

“Um seio é redondo e quente. Se deus não tivesse criado os seios femininos, não sei se um dia teria me tornado pintor”. 

Pois é meu chará, não sei se eu teria me tornado um montanhista, embora uma montanha seja quase sempre fria e nem sempre redonda...

Le toilette de Toulouse Lautrec
A tela de Lautrec, no entanto, não é impressionista, é realista. A bela moça na pintura é uma prostituta dos vários prostíbulos e cabarés que o boêmio pintor frequentava. Lautrec ficou mais famoso pelos cartazes que ele fazia para o Moulin Rouge do que esta arte impressionante.

Estes artistas mudaram a forma de representar o sentimento humano. Eles descobriram e resgataram a Monalisa de Da Vinci, apenas por achar impressionante o sorriso enigmático de Gioconda. Mas não nos enganamos, o segredo está na inspiração dos artistas, pinturas impressionistas estão andando por aí, com suas belas costas encobertas, e um sorrisinho enigmático para quem consegue ver seu conteúdo até os olhos desfocar.


26 de abril de 2013

Premio Outsiders 2013

Ontem foi a festa de premiação dos Outsiders, um premio dado aos esportivas de aventura que mais se destacaram no ano. Várias pessoas famosas e super competentes já levaram o premio, como Janine Cardoso, Cesar Grosso, Felipe Camargo, Eliseu Frechou, Sergio Tartari... Isso apenas no meio da montanha. Fora ele, gente como Cesar Cielo, Sabiá e outros tantos e tantos...

Neste ano, a premiação contou com o Maximo, que levou na categoria montanhismo e Rafael Nishimura, na escalada. O Vitamina também compareceu e foi homenageado.

A festa foi super bacana, muito animado... Foi muito bacana encontrar com tanta gente importante e que faz acontecer no meio esportivo e editorial de aventura brasileiro.

Capa da Go Outside.
Eu e o grande Vitamina

Vitamina, Silverio Nery e Parofes

Jorge Soto, eu e Parofes. O sorriso torto é marca registrada.

Janine Cardoso, eu, Max, Rafael Nishimura e Parofes.


Janine Cardoso e eu


Andrea Bello da revista Go Outside


Max recebendo o premio.



Rafael Nishimura recebendo o premio



Vitamina recebendo a homenagem.

Todos os outsiders de 2013

Jan, Vita, Marcio Bruno e Silverio

Eu, Ana Elisa Boscarioli, Roman Romancini e Maximo

Erika Sallun, Eu, Mariana, outras gurias que não lembro o nome e o Maximo...

21 de abril de 2013

Rodin, desejo e o sexo


Hoje visitei o museu de Rodin, o famoso escultor. Vi bem de perto sua famosa obra, “O beijo”, que já havia visto em livros, matérias de revista etc… É muito diferente ver uma obra de arte como esta ao vivo, até me emocionei, pois é muito bonito. Aquilo não é simplesmente um mármore talhado, tem muito sentimento envolvido. No museu, pude conhecer um pouco da história desta obra e de Rodin.

O beijo de Rodin.

O Beijo, na verdade, faz parte de um conjunto de esculturas inspiradas no livro Divina Comédia de Dante Alighieri. Neste livro, os jovens Paolo e Fancesca se envolvem numa paixão proibida, mas depois são mortos pelo marido de Franscesca, que os flagra na cama. A escultura, ao contrário do resto da obra evoca sensualidade e desejo de duas belas pessoas jovens e apaixonadas um pelo outro. Isso provocou tanta emoção ao público, que depois foi individualizado do restante da obra, de conteúdo completamente distinto.

Esta bela escultura data de 1887, 4 anos depois de Rodin conhecer Camille Claudel, que foi sua melhor discípula e amante. Rodin tinha 43 anos e Camille era uma jovem de 19, linda e talentosa. Eles viveram uma paixão arrebatadora. Será que isso influenciou Rodin a expor tanto sentimento num pedaço de mármore?

A relação de Rodin e Camille não foi sempre estável. Rodin não terminou seu relacionamento com a esposa e Camille mais tarde se afastou, tanto para ter sua independência artística, quanto para viver sua vida, aliás, 23 anos é bastante diferença. Quando Camille tinha 31, ela lançou sua escultura “L’age mür”,  que significa “maturidade”. Nela, uma senhora alada, de idade avançada e peito caído, leva um homem que se separa de uma bela jovem que ao chão suplica. Muitos identificaram nesta jovem Camille perdendo seu Rodin. Na verdade, ninguém sabe quem perdeu quem. A escultura data de 1899, 4 anos depois deles terem se separado.

L’age mür de Camille Claudel

Detalhe da jovem suplicando pelo homem.

Detalhe de L’age mür.
É exatamente uma grande curiosidade o fato de datar de 1895 a escultura mais chocante de Rodin, “Iris”. Iris é um corpo feminino, sem cabeça e sem braço, com pernas torneados e belo torso, que está com as suas entranhas escancaradas no ar, mostrando com detalhes todo o mistério do escondido e enigmático sexo feminino. Isso foi muito tempo antes das primeiras revistas pornográficas, e tal escultura ultrapassa o limite da sensualidade, como é o caso do Beijo, e provoca o público com uma nudez chocante.

Para quem se chocou com a obra, Rodin respondeu que “Ibis” simboliza a origem do universo, aliás, todos nós viemos de lá. No entanto, Rodin conhecia o corpo humano como ninguém, e inclusive o corpo feminino, com minúcia de um anatomista e amor de um artista. Ele tinha uma grande coleção de desenhos do misterioso e escondido sexo feminino e passava muito tempo estudando-o e desentranhando-o. Fato é, que elas a deixou louco. Apesar de abusado, Rodin não colocou a cabeça em Iris, para não denunciar a dona daquele sensual corpo escancarado e provocante. No entanto, não precisamos de mais pistas para saber quem inspirou o artista.

Iris de Rodin

17 de abril de 2013

História da Arte e Cognição no Louvre


O Museu do Louvre é muito grande, tem muita atração, então é preciso estudá-lo pra saber o que fazer lá dentro. Minha intenção neste Museu foi mais de ver história do que arte, claro, dando uma passadinha pra ver a Monalisa, como qualquer turista estrangeiro...

No Louvre há uma enorme coleção do mundo antigo, Egito, Mesopotâmia, Gregos, Romanos e outros povos. As peças lá expostas são obras de arte e parte da história. Há muitas múmias, sarcófagos, joias de reis, rainhas. Roupas e artefatos do cotidiano de muito tempo antes de cristo, de muito tempo antes da existência da nossa civilização ocidental.

Nossa maneira de pensar, nossa vida privada e social é reflexo de uma história que evoluiu destes povos, mas não somos mais como eles em todos os sentidos, não apenas tecnologicamente, mas em todos os aspectos sociais, políticos, organizacionais etc.

O que me intrigou muito, foram artefatos pré históricos. Uma pintura rupestre é arte? Certamente que sim! A maneira de expressar na época das cavernas e sua evolução está no museu, embora não haja pinturas das cavernas, há esculturas daquela época.

A peça mais antiga que encontrei no museu é uma estatueta de barro encontrada na Jordânia chamada de estátua Aïn Ghazal datada de 9 mil anos atrás, ou seja, logo ao término da ultima glaciação, quando o ser humano era parte da fauna natural terrestre.

Estátua de Aïn Ghazal 

A estátua de Aïn Ghazal é meio parecida com a Vênus doPaleolítico (que na verdade são muitas), que é considerada a “obra de arte” mais antiga já encontrada. A Vênus retrata uma mulher, baixinha e gordinha, nada a ver com os padrões estéticos de hoje e nem mesmo da arte. Aïn Ghazal parece uma mulher, mas não tem braços e nem seios. É uma estatueta rústica e pouco elaborada.

Este estado de poder representar algo subjetivo por um “artista”. Lembrou-me as teorias de evolução cognitiva. Para quem não sabe bem o que é cognição, uma breve pesquisa no Wikipedia nos dá uma dica:

Cognição : É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento e na percepção, também na classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas. De uma maneira mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos.
Mas a cognição é mais do que simplesmente a aquisição de conhecimento e consequentemente, a nossa melhor adaptação ao meio - é também um mecanismo de conversão do que é captado para o nosso modo de ser interno. Ela é um processo pelo qual o ser humano interage com os seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder a sua identidade existencial. Ela começa com a captação dos sentidos e logo em seguida ocorre a percepção. É portanto, um processo de conhecimento, que tem como material a informação do meio em que vivemos e o que já está registrado na nossa memória.

Um dos maiores nomes dos estudos de cognição foi Jean Piaget. De acordo com ele, em estágios iniciais, o ser humano representa o estágio sensório motor, ou seja, só conseguimos representar aquilo que podemos tocar e ver. Representar um sentimento ou memória seria extremamente abstrato para uma mente não tão evoluída. Outro intelectual do assunto, Lev Vigotsky, estudou a evolução cognitiva ao mesmo tempo em que Piaget e concluiu que a evolução cognitiva não é apenas uma relação do crescimento do homem, mas depende muito das interações sociais do meio, ou seja, uma criança em meio favorável, como aquelas que vi visitando o Louvre, poderiam ter uma evolução intelectual cognitiva muito maior do que uma que vive em clima de tensão num país em conflito, tendo que se preocupar se vai ou não ter o que comer no dia seguinte.

Foi talvez o sucesso do sedentarismo e o processo civilizatório que fez o homem ter tempo para representar em forma de arte, algum sentimento abstrato. Obviamente tudo isso de acordo com sua própria evolução cognitiva. Acho que eu consigo fazer algo mais bonito que Aïn Ghazal, isso mesmo não tenho talento nenhum em escultura, porém, quem a 9 mil anos atrás poderia fazer? É por isso que esta obra é tão tosca e tão importante!

Um exemplo de evolução cognitiva eu vi no Egito e também em povos Mesopotâmios. A arte destas civilizações é sempre representada em duas dimensões. Não há a noção de profundidade. Note uma figura egípcia e verá que os rostos estão sempre em perfil, elas são em duas dimensões, não há profundidade, exceto pelas esculturas.

Comemoração da construção de um templo em Lagash +- 2250AC. Escultura mesopotâmia 2d em calcário.

Hieroglifos no Sarcófago de Ramsés III. 18 ton de granito.
Detalhe do Código de Hamurabi, primeiro código de leis que se sabe no mundo, 1700AC.

Olho por olho, dente por dente. O Código é enorme e é esculpido em Basalto.
A escrita surgiu em 2600 AC em Uruk, Mesopotâmia. Ela é talhada na rocha, não há papel. Hamurabi deve ter tido um grande trabalho para fazer o primeiro código de leis, talhado num Basalto em 1700 AC. A escultura ainda é muito importante e na antiguidade, havia escultores muito talentosos. O trabalho com rocha e cerâmica já era bastante aprimorado, uma evolução no estágio cognitivo humano.

Da arte da antiguidade, aquela que vi uma maior evolução em padrões artísticos foi certamente na Grécia. Ali pude notar uma evolução grande tanto na forma de representação, tanto numa proximidade com o padrão estético da civilização ocidental. Pela primeira vez notei sensualidade nas representações e foi exatamente numa estatueta de Afrodite feito em Terracota.

Se olharmos bem, o padrão de representação desta deusa mulher, do amor, sedução e sensualidade, não difere muito das estátuas ocidentais. Olhando melhor, notamos que Afrodite em Terracota é igual à Virgem Maria das igrejas, porém com os peitos de fora. De onde veio o padrão artístico da representação da figura humana?

Também notamos a diferença dos valores morais no fato de uma representação ser sensual e exibir belos seios e outra ser a virgem mãe de Deus, mas a primeira ser bem mais antiga que a outra.

Afrodite da Grécia antiga, com os peitos de fora.

A evolução da estética e dos padrões de estética que ainda hoje influenciam a civilização eu notei com os Romanos e suas esculturas em mármore Carrara de corpos atléticos e musculosos, mas meio assexuados. Os romanos copiaram os padrões dos Gregos e não é a toa que as mulheres chamam homens de corpos perfeitos de deuses gregos, pois eram assim que eles esculpiam suas divindades.

Desta forma, ainda na antiguidade, porém em Roma, chegamos num estágio de evolução cognitivo avançado, onde não somente fomos capazes de abstrair sentimentos, emoções e ouros significados através da arte, como chegamos nos padrões de simetria e estética atuais. Começa aí a civilização ocidental, que evoluiu para o que somos hoje.

Estátua romana, baseada nos valores estéticos da Grécia.

15 de abril de 2013

Diário de um caipira em Paris


Que puta vontade de tomar um chimarrão. Aqui tá frio como Curitiba naqueles dias mais frios de Julho. O branco no chão não é de geada, é de neve mesmo! Uma neve leve que levita no ar como uma pluma.

Em Paris, até a neve é mais charmosa que a da América do Sul. Apesar de caipira, eu conheço bem a neve, aquela que cai nos Andes, muitas vezes uma neve com chuva que eu mesmo batizei de nevágua. Essa neve não é igual a das montanhas, lá ela é densa e se acumula rápido, pintando a paisagem de branco. Seria lindo se o local acumulado não fosse a barraca...

Engraçado, eu vou pra Paris e falo das montanhas. É um fato inédito, pela primeira vez em anos faço uma viagem que não é para escalar e nem para estudar. Pela primeira vez em anos, vou para um local turístico, famoso, apenas para turistar. Como vai ser esta experiência? Um montanhista caipira na cidade luz? O que será que eu tenho pra contar de uma viagem normal?

Chegamos aqui pelo aeroporto de Orly, que é o que recebe os voos domésticos da Europa. Meu pai aproveitou uma promoção da Iberia e viemos via Madri, viajo também com minha irmã e minha madrasta. Não tivemos problema em entrar na Europa, nada de aduana, entrevista, revista e outros abusos que as vezes acontece com gente que vem dos países do Sul. 

Como em vários países do mundo, o ônibus para sair do Aeroporto e chegar na cidade é caríssimo, 7 Euros! Bom, não é nada comparado com o Airport Service de Guarulhos e nem o Manuel Tienda León de Buenos Aires, mas é caro! 

O ônibus nos deixou numa praça, onde há uma estação de metrô, numa periferia da cidade. As pessoas circulavam com pressa. Vi muitos africanos, mulheres com túnicas e soldados da Gendarmerie armados com metralhadoras. Não há guichê, apenas uma máquina onde se compra os bilhetes. Os valores são diferenciados, se você compra 10 tickets, paga 1,30 Euros, se compra unitário, paga 1,70.

Os bilhetes são iguais aos do metrô paulistano, mas a máquina te devolve o ticket depois que você insere, é pra você guardar. Vi umas pessoas pulando a catraca. Quase não há fiscalização e quem é safado aproveita. No entanto, há fiscais nos trens que pedem o boletinho que é devolvido pela máquina. Se você não tem, paga multa! Nunca vi estes fiscais, mas vi muita gente pulando a roleta ou entrando no vácuo dos outros. Quem disse que no primeiro mundo não tem malandragem?

O metrô também não é tão moderno como o de São Paulo, nem mesmo tão bem cuidado. Os vidros estavam com os cantos opacos e os corredores, onde batem a luz, deixam nítido que não muito varridos, pois há muita sujeira acumulada nos cantos onde não passam os pés. As paredes são revestidas com azulejos brancos, não muito bonitos. Os tuneis muitas vezes são longos, com muitas entradas e saídas, conexões desconexas e confusas, mostrando que ele tem idades diferentes e foi sendo adaptado com sua expansão. Há muitas escadas, o que dificultaria e muito a vida de deficientes. Incomoda carregar as pesadas malas.

Apesar de velho e feio, o metrô é super eficiente e pontual. Leva pra todos os cantos da cidade, sem que seja necessário andar muito depois. Ele foi nosso principal meio de transporte na cidade e um local para se observar a cara do povo, que até aquele momento era bem interessante.

Como chegamos pela periferia, notei uma presença grande de estrangeiros. Negros africanos, turcos, libaneses, paquistaneses e norte africanos, que são brancos muçulmanos. Aqui tem muito muçulmano e eles são bem distinguíveis dos franceses que não se misturam como nós brasileiros.

Chegamos à Place de La Nation, onde emergimos à superfície novamente. O trajeto até o hotel foi curto, mas quase congelou minha mão. Por que não vim com minha roupa de montanha?


7 de abril de 2013

Transbaú fotográfico

Estive em São Bento do Sapucaí no feriado de Páscoa, onde me encontrei com os camaradas, Otaviano, Natan e Andrey para uma escaladinha de parede. No primeiro dia fizemos uma ascensão tranquila na Ana Chata. O pessoal nem lembra, de tanto sono por ter dirigido a noite inteira, pois eles bateram direto de Curitiba. 

No segundo dia aproveitamos pra escalar a Transbaú, uma via aberta a dois anos pela escaladora Karina Filgueiras que fica na face norte da montanha. A maioria das vias que fazem cume no Baú são em artificial, ou são muito difíceis. A  Transbaú dá cume, mas é bem mais tranquila, o que não quer dizer que seja de graça.

Como fizemos duas cordadas, eu e o Natan, Otaviano e Andrey. As fotos acabaram ficando interessantes. 

Pelo visto a via está bem frequentada, com agarras pintadas de magnésio. Eram pegadinhas de escaladores na montanha, nada a ver com pegadas de coelho na pascoa. Ao invés de encontrarmos chocolate, encontramos ovo de urubu.

As três montanhas de São Bento: Bauzinho, Baú e Ana Chata.
Bauzinho e Baú 
A via fica à direita da foto.

Natan e eu na primeira parada da via. Ao fundo a cara de cachorro do bauzinho.

Otaviano guiando a primeira enfiada da via.

Natan guiando a segunda enfiada... esticãozinho.

Natan indo para o primeiro crux

Protegendo o lance


Passandoo lance.


Natan de segundo no crux da via.

Otaviano começando a enfiada crux.
As fotos abaixo são do Otaviano guiando o crux da via, dois lances seguidos de 7a. Foi dificil guiar de primeiro, mas com as dicas ficou mais tranquilo.












Protegendo o lance depois do crux.

Natan indo de segundo no ultimo lance da via.




Andrey, eu, Otaviano e Natan no cume do Baú.