Blog do Pedro Hauck: abril 2015

28 de abril de 2015

Indicação ao prêmio Mosquetão de Ouro e meus palpites


Eu o Maximo fomos indicados ao Prêmio Mosquetão de Ouro, que é uma premiação nova criada pela CBME (Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada) inspirada no famoso Piolet d’Or.

Esta premiação tem como objetivo premiar os maiores feitos do montanhismo brasileiro e como montanhismo é algo muito abrangente existem 4 categorias: 

- Montanhismo (trilhas, travessias e alta montanha)
- Escalada (escalada tradicional, móvel, big wall e conquistas)
- Escalada Esportiva (boulder e escalada esportiva em rocha)
- Montanhismo e Sociedade (contribuições para a organização do montanhismo, acesso e conservação)

Fomos indicados na categoria montanhismo por termos finalizado em 2014 o projeto de ter escalado todas as montanhas com mais de 6 mil metros de altitude na Bolívia

Fora a gente, houve diversas outras realizações interessantes o que demonstra que o Brasil não é mais coadjuvante no cenário do montanhismo mundial. Inspirado no meu amigo Victor Carvalho que hoje escreveu a respeito desta premiação, irei dar minha opinião sobre os destaques do prêmio. 

Antes de mais nada queria salientar que o nível está muito bom e que independente do resultado todos os indicados merecem o prêmio e que abaixo está apenas uma opinião. 


Categoria montanhismo:

Sou suspeito para falar desta categoria, pois sou um dos indicados. No entanto, não acho anti ético tecer comentários sobre minha indicação e da colega Ana Elisa Boscarioli.

A Ana em 2014 escalou o Denali, montanha mais alta da América do Norte e com esta montanha finalizou o projeto 7 cumes, que é um projeto bastante famoso e que atrai bastante mídia. O ponto forte deste projeto, na minha opinião, é justamente a escalada do Denali e a do Everest, pois ela é a montanha mais alta do mundo. Ana foi o quinto brasileiro a fazer o projeto, mas a primeira mulher. Para realizar o projeto, a Ana enfrentou muitos desafios e numa das etapas ela foi sequestrada pelos índios da Papua Nova Guiné e teve que desistir do Carstenz para voltar um ano mais tarde. No entanto é preciso ressaltar que as 7 montanhas deste projeto são bastante conhecidas, estruturadas e muito escaladas.

Eu e o Max, no entanto, escalamos 14 na Bolívia. Fizemos todas as expedições àquele país por conta própria, as últimas, inclusive, fomos de carro até lá, o que em si já é uma dificuldade (vocês não têm idéia de como é complicado dirigir na Bolívia). Então há a questão da autonomia e também o fato de que muitos destes 6 mil bolivianos são montanhas remotas e pouquíssimo escaladas, como o Uturuncu e o Chaupi Orco. Há outros que são difíceis, como o Illampu e Chearoco. Outro problema é que a cartografia da Bolívia é muito ruim e não sabíamos quais eram os 6 mil daquele país. Resolvendo este problema, descobrimos que uma montanha que era tida como 5 mil tinha 6008 metros, o Capurata. Ou seja, houve muita pesquisa e exploração. Assim, neste novo formato com 14 cumes, só não fomos os primeiros no mundo a realizar pois um pouco antes o equatoriano Santiago Quintero, usando os dados que o Maximo lhe deu, fez antes. (leia mais o que escrevi deste projeto)

Acho que houve poucos indicados nesta categoria. Se eu pudesse também indicaria o Waldemar Niclevicz pela escalada no Ausangate no Peru e Marcos Costa pela escalada do Daugou Leste na China.

Categoria Escalada

Nesta categoria eu acho que o destaque é a escalada do Lucas Marques e Sergio Ricardo repetindo a via Place of Happiness em 1 dia. Esta magnifica via aberta pelo Stefan Glowacz, Ed Padilha e outros monstros mistura dificuldade extrema com parede e muitos escaladores de altíssimo nível não conseguiram escalar ela. Fazer esta escalada em um dia apenas é um feito e tanto.

Categoria Escalada Esportiva

Acho que novamente o Lucas Marques se superou nessa. Os outros indicados realizaram feitos mais atléticos e tecnicamente mais difíceis. No entanto escalar uma via de 8c em solo!!! (via Sinos de Aldebarã) Pra mim a realização deste feito ultrapassa o limite esportivo para um domínio espiritual dos próprios medos. Bastaria dizer que qualquer erro nesta escalada poderia fazer com que ele nunca mais escalasse na vida. Pra mim este feito foi o maior de todos os indicados e merece meu voto e respeito!

Categoria Montanhismo e Sociedade

Pessoalmente tenho uma grande admiração pelo trabalho de Pedro da Cunha Menezes. Não que os outros indicados não mereçam, mas acho que a contribuição de Pedro no campo das idéias e como exemplo quando elas foram postas em práticas é fenomenal!

Pensando num montanhismo do futuro, acho que os valores que Pedro defende são primordiais para que novos mosquetões e piolets de ouro continuem existindo. Infelizmente em nosso país os pilares principais da cultura do montanhismo que são a aventura e a liberdade são ameaçados por visão demasiadamente conservadoras sobre a questão da presença do homem em ambientes naturais e é isso o Pedro trata.
Pedro da Cunha Menezes mostrou como é importante haver visitação nos parques, como é importante valorizar a experiência dos visitantes, dentre eles nós montanhistas e outros esportistas. É só agregando valor às unidades de conservação que de fato vamos conseguir ter a preservação que queremos. Meu voto vai pra ele!


26 de abril de 2015

Descobrindo a Pedra do Segredo (Nazaré Pta – SP)


A primeira vez que ouvi falar da Pedra do Segredo foi por volta de 2005 quando foi lançado o já esgotado guia de escaladas da região de Bragança Pta. Folheando o guia cheguei às páginas destinadas a este pico misterioso localizado ao lado da Rodovia Dom Pedro I na cidade de Nazaré Paulista. Na verdade, apesar de ser perto desta movimentada estrada, a enorme rocha com cerca de 120 metros de altura só pode ser vista num único ponto, pois outros morros à sua frente tampam a visão. E como a estrada tem limite de velocidade alto, são poucos os que a veem. 

Já naquela época esbocei uma tentativa de ir ao local, no entanto falando com o autor do guia, o Birão, soube que lá estava infestado de abelhas e pior, eu teria que pagar um salgado pedágio. Acabou que o local caiu no esquecimento e nunca mais tive a chance de ir.

Em 2013 quando comecei a escalar com o Rafael Wojcik ele me contou das conquistas que fez lá e logo fui retomando minha vontade de conhecer o local, oportunidade que tive somente agora e na sua companhia de fazer.

Primeiramente gostei muito do lugar pela proximidade da casa dos meus pais, que moram em Itatiba, apenas 70 km de lá. Depois porque removeram o pedágio caro e o mais importante porque o local é bom mesmo!

Após rodar a rápida distancia de Itatiba até o sitio que fica na base da montanha, onde fomos recebidos pela família que toma conta do local. Pagamos R$10,00 por pessoa para entrar e fomos com o carro até um local bem próximo a rocha, dirigindo por uma estrada precária, mas que não é obstáculo para um carro 4x4. De onde se deixa o carro até o começo da escalada é muito perto e rápido e este começo da escalada é bem confortável, com grama até o começo da pedra, lembrando um pouco a Pedra do Santuário em Pedra Bela.

Há cerca de 5 vias no local, o que é pouco diante do tamanho do morro. Elas têm cerca de 120 metros de altura e múltiplas enfiadas. Apesar do Rafael ter conquistado várias delas, ele não lembra bem dos nomes e a via que escalamos é algo como via da comadre, ou cumpadre.

Como estávamos enferrujados, começamos por uma via mais à direita, que é bem tranquila, com aderências divertidas, mas que podem dar trabalho. Chegamos até um grande platô, onde decidimos mudar de via para não pegar um crux de oitavo grau. Caímos numa outra via com um crux de sétimo, que tive que passar roubando, pois como falei anteriormente, estou enferrujado.

Rapelamos com a corda dupla e fizemos outra via um pouco mais a esquerda. Via linda, quase constantemente de 5 grau com lances no final de 6 bem trabalhados e bem protegida. Ótimo para tirar a ferrugem. 

Ainda entramos em outra via, que como a anterior, era predominantemente de quinto e bem trabalhosa. Guiei as duas primeira enfiadas, emendando direto uns 50 metros. O Rafael veio na sequencia o fez o mesmo com as próximas duas, mas eu não pude ir de segundo, como começou uma fina garoa e tivemos que descer.

Acredito que fizemos uns 300 metros de via, isso em pouco tempo, chegando tarde e destreinados, o que me deixou bastante contente. Percebi que a Pedra do Segredo pode ser um ótimo local para escaladas ocasionais de parede. Com a diversão de parede, mas comprometimento e segurança de uma esportiva. Melhor ainda é que faz sombra à tarde, ou seja, nem preciso acordar cedo, como tenho que fazer para escalar uma parede.

Será este o segredo desta pedra?


Aderência predomina.

Pra que servem as fitas longas

Vias bem seguras, mas sem exagero.

Escalada na Pedra do Segredo SP

Escalada na Pedra do Segredo SP

Lance de crux

É preciso saber usar as fitas longas

Escalada na Pedra do Segredo SP

Escalada na Pedra do Segredo SP

Visual da Pedra do Segredo SP

Escalada na Pedra do Segredo SP

Escalada na Pedra do Segredo SP

Escalada na Pedra do Segredo SP

Pedra do Segredo em Nazaré Paulista SP

23 de abril de 2015

Saindo do normal na Pedra da Maria Antônia

A cidade de Pedra Bela, localizado no interior de São Paulo, é conhecida por abrigar dois points de escalada com vias fáceis para iniciantes, a Pedra do Santuário e a Pedra da Maria Antônia. Enquanto a primeira é conhecida por ser o local para aprender a guiar, o segundo é reconhecido como local para consolidar os procedimentos.

O motivo para isso é fácil de entender. Com uma parede com cerca de 120 metros de altura e vias fáceis, o local é um prato cheio para se cansar de guiar e dar segurança para os parceiros. No entanto, este simpático morro de Gnaisse "Augen" oferece muito mais que estas vias já consagradas.

Acompanhado de uma das pessoas que mais conquistou vias na Maria Antônia, Rafael Wojcik, pude conhecer a outra face da pedra, outra face em todos sentidos.

Começamos a escalar a Down Rope, uma das primeiras vias da parede da esquerda para direita. Sai guiando com a corda dupla indo direto até a segunda parada, onde dei segue para o Rafael que veio de segundo recolhendo as costuras e as fitas longas usadas para dar arrasto na corda.

Rafael fazendo a travessia pelas vias da face principal da Pedra da Maria Antônia.
Parada no platô
Mal houve reunião o Rafael saiu pela direita fazendo uma travessia por todas as vias na face frontal do morro, passando pela Raimunda, Mãe de Prata, Mãe de Ouro, Enzo Davanzo e Na Berola onde usamos uma das paradas para desconectar a segurança e sair caminhando pelo enorme platô, que usamos para chegar à outra face da montanha, localizada à direita da face principal.

Saímos da rocha e adentramos à mata, num local onde não há trilha, pois o fluxo de pessoas é muito pequeno. Uma pena, pois lá está o filet mignon da Maria Antônia. Vias com cerca de 60 a 80 metros de altura com lances médios de quinto grau, ou seja, não é difícil ao ponto de causar sofrimento e nem fáceis ao ponto de ser monótonas.

Tivemos tempo de escalar estas vias e rapelar pela via Na Berola, que é outro filetzinho do Morro com as mesmas características. Chegamos ao chão e fomos pegos por uma típica chuva de verão que refrescou nosso cálido outono.

Quem imaginou escalar na Maria Antônia, esticando a corda dupla? Desta forma acho que Pedra Bela acaba também se tornando um ótimo lugar para treinar escalada tradicional.


Vista da "outra face" desde o cume da Maria Antônia.

A face que escalamos

Uma outra face sem vias de escalada ainda.