Blog do Pedro Hauck: outubro 2008

31 de outubro de 2008

Quanto vale a cultura da Montanha?

Bom, este tema é tanto quanto complicado, mas é para gerar reflexão.

Eu acredito que o montanhismo brasileiro está enfrentando uma de suas piores crises, pois por mais dificil que tenha sido seu desenvolvimento técnico, hoje os problemas são burocráticos, para não dizer legais.

O montanhismo no Brasil é uma prática fadada a extinção à medida que nossas montanhas vão se tornando unidades de conservação.

Não que a proteção às montanhas sejam um entrave. Entrave mesmo é a metodologia aplicada pelos orgãos ambientais públicos para protegê-las.

O que os orgãos ambientais não sabem, é que o montanhismo não é uma prática esportiva, mas sim uma cultura que atravessa séculos.

Na Espanha, onde eles sabem disso e valorizam a cultura de montanha, o governo investirá até 2011, 4,1 milhões de Euros na reforma e construção de refúgios de montanha(http://www.altamontanha.com/colunas.asp?NewsID=781).

Aqui no Brasil, sem querer gastar um centavo, baseando-se somente em probições, eles acreditam que vão salvar as montanhas e outros ambientes naturais apenas com sanções, restrições outras punições. Desta maneira, protegendo as montanhas de nós mesmos...

O problema ambiental no Brasil é um problema cultural. É a mentalidade expansionista bandeirante associada com uma mentalidade de acumulação econômica. Não é destruindo a cultura de montanha, esta sim, totalmente oposta à esta outra já referida, que iremos preservar as montanhas, pelo contrário.

Somente fortalecendo uma cultura que tem como principio a prática do minimo impacto, do respeito às paisagens naturais e do auto conhecimento é que vamos valorizar e consequentemente preservar os meios naturais.

Entretanto, como a ignorância e a total falta de sensibilidade e conhecimento, desde as classes menos favorecidas chegando até aos goverantes e tecnocratas é o que impera nesta terra tupiniquim, o que podemos fazer para reverter a situação, preservar nossa cultura e nossa natureza?


Um passo à frente na luta brasileira pela preservação sócio-ambiental...

29 de outubro de 2008

Apoio ao manifesto da SBE à proposta de lei que permitirá destruição de cavernas

A Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), é uma entidade ambientalista fundada em 1969, filiada à Federação Espeleológica da América Latina e Caribe (FEALC) e à União Internacional de Espeleologia (UIS), que congrega espeleólogos e grupos de espeleologia dedicados ao estudo e conservação de cavernas em todo o Brasil.

A SBE participou ativamente do desenvolvimento da legislação relativa ao patrimônio espeleológico brasileiro, em especial da elaboração do Decreto 99.556/1990, um avanço para a espeleologia brasileira a para o patrimônio natural do país, pois tal decreto protege as cavernas brasileiras e impede sua destruição.

Entretanto, recentemente, para liberar algumas grandes obras, a Casa Civil e o Ministério de Minas e Energia, sem qualquer participação da sociedade civil organizada, defendem a alteração deste decreto permitindo a destruição que pode atingir mais de 70% das cavernas brasileiras.

Esta tentativa de alteração prevê:

- A classificação das cavernas em quatro níveis (máximo, alto, médio e baixo);
- A autorização para a destruição de cavernas seguindo o processo de licenciamento ambiental, independente da importância social do projeto;
- Cavernas de grau de relevância máximo: serão apenas as que têm características únicas e notáveis;
- Cavernas de relevância alta: poderão ser destruídas desde que o empreendedor preserve outras duas de igual importância;
- Cavernas de relevância média: poderão ser destruídas desde que o empreendedor apóie ações de conservação;
- Cavernas de relevância baixa: poderão ser destruídas sem nenhum tipo de compensação ambiental;
- O MMA terá 60 dias para elaborar os critérios de relevância ouvindo os demais órgãos do governo.

A SBS, considera que que não há nenhum indício de que as cavernas estejam dificultando o desenvolvimento de qualquer setor da economia brasileira. O setor mineral tem aumentado sua produção a cada ano e o setor energético já dispõe com alternativas mais econômicas e eficientes de aumentar a oferta de energia sem a construção de novas barragens.

O patrimônio espeleológico é um dos poucos recursos naturais protegidos pela legislação vigente de forma completa e ampla, mesmo fora de unidades de conservação. Sua importância perante a nossa legislação pode ser igualada às áreas de mananciais hídricos. As cavernas "cobrem" uma área muito pequena do nosso país e são formações únicas e extremamente relevantes para o entendimento da evolução geológica do planeta, da vida e até da nossa sociedade, vide elas serem, em sua maioria, sitios arqueológicos.

Outra coisa importante é que não há consenso de que seja possível sequer classificar cavernas de acordo com seu grau de relevância, já que o patrimônio espeleológico brasileiro é pouco conhecido, além disso, muitos dos aspectos envolvidos não são quantificáveis numericamente, ou são subjetivos e mudam de acordo com a evolução da sociedade e o avanço da ciência.

O processo de licenciamento ambiental atual não é eficaz para garantir a conservação da natureza. No atual sistema o empreendedor interessado na liberação de seu projeto contrata diretamente os estudos necessários podendo influenciar para que o resultado lhe seja favorável. Além disso, estes estudos são avaliados apenas pelos órgãos ambientais, hoje fragilizados pela ótica desenvolvimentista do governo, sem garantias de respeito às necessidades e anseios da sociedade civil.

A destruição de cavernas não é uma medida aceitável para angariar recursos a fim de preservar as cavernas que restarem. Cabe ao Estado e à Sociedade garantir a conservação deste importante patrimônio, além disso, o governo não pode dispor de nossas cavernas como forma a conseguir recursos para cumprir suas obrigações.

A SBS argumenta que esta tentativa de mudança do decreto 99.556/90 é nefasta e que qualquer iniciativa que permita a supressão de cavernas representa um grande retrocesso para nosso país, assim, dentre algumas medidas do manifesto, descata-se:

- Que a legislação brasileira continue a proteger o patrimônio espeleológico integralmente.
- Que fique garantida a participação da sociedade civil organizada em qualquer processo de revisão da legislação e que seus anseios sejam respeitados.

Segundo o presidente da SBE, Emerson Gomes Pedro, o governo deveria incentivar e promover o uso sustentável do patrimônio espeleológico, não sua destruição.Deveria permitir a conservação da natureza, o desenvolvimento do conhecimento científico e a difusão de uma consciência ambientalista para toda a sociedade e para as as gerações futuras.

Assine o manifesto contra a Lei que permitirá a destruição de Cavernas:

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/2115

25 de outubro de 2008

Calor avassalador!

É galera, a temporada de montanhismo acabou, pelo menos para mim. Não é frescura, mas se há algo que acaba comigo é calor e sol forte. Esta combinação, resultado do tipo de tempo que começa a predominar a partir desta época do ano, me provoca dores de cabeça insuportaveis que resultam em náuseas...

Hoje aproveitei o convite de amigos do CPM, Marcelo Brotto, Rafael Völtz, Pacheco, Alfredo, Camila e Lourdes e fui conhecer uma montanha nova para mim, o Capivari Mirim. Trata-se de um monte com cerca de 1600 metros de altitude. O acesso é fácil, pela própria Rodovia BR 116 na altura da represa do Capivari. Na beira da estrada deixa-se o carro e já começa a caminhada.

São apenas 5 Km de subida até o topo e 700 metros de desnível. Nada mal! Da estrada nem parece tanto. Apesar do desnível abrupto, a caminhada é fácil e rápida, pois a montanha é quase inteira recoberta de campo, o que também é um problema sério.


Andar nos campos é gostoso quando está fazendo frio. Com o sol forte, não há onde se esconder e este foi o problema da subida...


A idéia, já que a subida era fácil, era de fazer boulder nos blocos que existem no cume. Acabou que levei meu crash pad para passear, pois a maior parte do tempo fiquei com a cabeça explodindo de dor.


Sem condições de caminhar, fiquei no cume do Capivari Mirim, tentando uns boulders e também sendo castigado pelo sol. O grupo se dividiu, comigo ficou a Camila, Lourdes e o Alfredo e os guris mais animados foram abrir mato para chegar até o topo do Capivari Médio, uma montanha vizinha.


O tempo em que ficamos esperando gastamos procurando alternativas de não cozinhar, mas isso foi inevitável. Até cheguei a fazer uns boulderes, muito bons por sinal, mas não deu...


Por fim a experiência valeu a pena para conhecer um lugar novo e mostrar que daqui em diante, terei que tomar mais cuidado com o tempo. Chuva? Ah, isso não é nada... Agora o problema será a falta dela. Aliás, só pra terminar esta postagem. Ainda é sábado e advinham? Está chovendo em Curitiba! É o 11. fim de semana seguido com chuva! Menos mal que agora está calor!


Na subida com o crash pra passear!
Os blocos no topo do Capivari
Vista do cume para a Serra do Ibitiraquire
A Serra do Ibitiraquire, ao fundo, Ibitirati (esquerda) e Ciririca (direita). Em frente à esquerda, Ferraria e mais à frente Guaricana.
Sinais da primavera.
Nem tudo foi perdido, este foi um dos boulders bons!

19 de outubro de 2008

Chuva, muita chuva...

Era de se esperar... Choveu novamente neste fim de semana e minha programação de conhecer o Ciririca, que é uma das montanhas de caminhada mais longa na Serra do Mar do Paraná, veio por água abaixo, literalmente...

Nas vésperas, sabendo como o tempo iria se comportar, todo mundo que queria ir pra Serra comigo desistiu. Ficou na roubada eu e o Paulo "Parofes", que veio de São Paulo só para a ocasião.

Conheci o Parofes pelo Orkut e ficamos trocando muitas idéias sobre montanhismo juntos. Ele é carioca, mas mora em Sampa. Faz montanha há pouco tempo, mas já foi mochilar pelos Andes, onde ele irá nas próximas féria pela segunda vez. Acabei conhecendo-o pessoalmente somente agora!

Peguei o Parofes na rodoviária às 6 da manhã e fomos para a BR rumo à Serra do Mar. No caminho, a chuva no pára-brisa já nos dizia que nossa caminhada não seria fácil. Até chegamos ver o tempo melhorar para apenas ficar nublado, mas logo no começo da caminhada a chuva apertou e em menos de 5 minutos depois de deixar a Fazenda da Bolinha, a água já escorria pelo meu corpo.

A trilha estava um córrego, a água vinha das encostas e era drenada exatamente por lá. O rio, que tínhamos que atravessar diversas vezes, também estava cheio, mas até aí tudo ia bem.

A água começou a atrapalhar quando começaram a aparecer os bambus, que enroscavam na mochila e descarregavam a águas das folhas das árvores sobre nós. Depois disso já não dava mais para escolher onde pisar e atolar os pés na lama e nas poças d'água foi ficando inevitável.

Quando chegamos nos campos de altitude, estávamos felizes por não ter mais bambus, porém, foi neste momento que a chuva começou a apertar e molhados, começamos a sentir frio por causa do vento.

Existem vários estágios de estar molhado na montanha. O primeiro, é quando a água encharca seu cabelo e começa a escorrer pelo rosto. O segundo é quando a água escorre por entre suas costas e mochila. O terceiro é quando molha sua cueca e o quarto é quando sua cueca está encharcada e a água escorre por suas pernas abaixo das roupas e entra na meia. Quando isso acontece, seu pé, de tão encharcado, faz bolhas de ar quando vc pisa no chão. Pois é, foi este o estado que em que chegamos no cume do Camapuã.

Montamos a barraca e lá dentro fizemos nosso almoço. Aproveitamos o fogareiro e secamos nossas roupas dentro da barraca. A chuva não parava lá fora...

O tempo passou e o tédio tomou conta, depois de já termos dormido, não tinha mais nada pra fazer, foi quando a chuva deu uma trégua e pudemos ir até o Tucum e até avistar algumas montanhas ao redor.

Na volta, o tempo estava aparentemente melhor. Sabendo que uma chance dessas iria durar pouco, arrumamos a mochila e começamos a descer.

Na descida, a chuva continuou mais forte. A trilha que antes estava um córrego, tinha virado um rio cheio de cachoeiras. Na baixada, chegando na Fazenda, o rio transbordou e tivemos que andar com água no joelho.

Até dirigir foi difícil. Na volta, por pouco não ficamos atolados na lama. Na BR, o excesso de água me fez ficar com medo de aquaplanagem, o que já aconteceu comigo por lá...

Não voltamos para Curitiba, eu nem teria lugar para secar minha barraca no meu ap, de tão pequeno que é... Fui para o refúgio 5.13, onde o CPM estava realizando um curso de iniciação ao montanhismo. Chegamos na hora certo, com pizza e lareira quentinha para secar nossos sacos de dormir.

Retornamos para Curitiba hoje. Fazer montanha nestas condições não é nada legal, mas vejo que todo mundo precisa de uma experiência dessas, controlada, para aprender como é e o que fazer em casos de pegar uma chuva dessas sem controle.

Todos os anos muitas pessoas se dão mal em condições de tempo como estas. Elas se molham inteiras e ficam com hipotermia. Há pessoas que se perdem, ficam sem energia no corpo ou pior, são atingidas por raios.

Ainda não existem capas de chuva para aguentar chuvas como esta que eu peguei no Tucum. Uma caminhada de algumas horas em roupas impermeáveis não dão conta do volume de água e se dão, não são transpiráveis e você ficará suado em minutos. Goretex na Sera do Mar? Ele é bom, mas na boa, não tenho coragem de usar um anorak caro no meio de bambus e espinhos, além dele perder a impermeabilidade em pouco tempo, irá rasgar fácinho.

O que é melhor fazer? Bom, se molhar com roupas que secam rápido! Aí, pelo menos, você poderá montar uma barraca e secar suas roupas. Outra coisa importante é uma barraca que não chova dentro. Acho uma sacanagem fabricantes nacionais de barracas fazerem modelos vagabundos em um país que chove tanto!

Se ir pra Serra foi uma roubada, passeio de índio ou de "corno" como dizem os nordestinos, pelo menos a experiencia serviu pra algo!

Bom, nem preciso dizer porquê desistimos de ir para o Ciririca, mas, sem chuva, eu vou pra lá...

A Floresta pluvial

Parofes secando seu saco de dormir

Espetáculo: Nuvens descendo os vales

Parofes no cume do Campuan e as nuvens

Vista do Cume do Camapuã para a represa do Capivari

Enfim, a famosa vista do Campuã para o Tucum... com chuva!

Um pequeno córrego na trilha do Tucum

Caixa de cume do Tucum

Nosso acampamento no Camapuã

O estado da trilha na volta... Um rio!

17 de outubro de 2008

Programa pra índio pra este fim de semana.

Estamos na sexta feira, já são onze da noite e chove, bastante!

Minha convicção estava correta. Eu já sabia que ia chover no sábado. É assim, aliás, será o décimo fim de semana SEGUIDO de chuva na região de Curitiba, e nem ligo mais pra isso.

Na semana passada foi a mesma coisa, mas fui medroso e desci para o Marumbi, onde o CPM tem refúgio e conforto. Uma coisa é você caminhar o dia inteiro debaixo de chuva e no fim do dia tomar um banho quente e dormir numa casa. Outra é dormir numa barraca onde, no dia seguinte, terá que desmontá-la na chuva e vestir a roupa molhada pra continuar o caminho.

Pois é. Imagina a seguine situação: Caminhar na chuva durante 8 horas, um sobe desce interminável, pra despois enfrentar um grande rampão, acampar na chuva, acordar na chuva e depois voltar tudo isso! Sim, é isso que vou fazer amanhã!

O lugar onde isto acontecerá se chama Ciririca, uma das montanhas de trilha mais longas da Serra do Mar do Paraná. Com quem? Bom, uma pessoa que não conheço pessoalmente, mas que vem de SP pra essa roubada, o Paulo Parofes.

A idéia é ir, pois não aguento mais esse marasmo de chuva e tocar o foda-se. No cume iremos comemorar esta data memorável, a do décimo fim de semana seguindo de chuvas.

Até a volta!
Ciririca visto desde o PP

15 de outubro de 2008

Itupava e Marumbi num fim de semana

As previsões para este final de semana eram bastante óbvias para quem mora em Curitiba: Chuva! Que grande novidade! Com este foi o 9 fim de semana SEGUIDO de chuvas na região.

Eu queria caminhar, que foi uma atividade que fiz pouco este ano, que foi dedicado mais à escalada. Entretanto, tive uma inflamação no ombro e para me "recuparar" decidi que teria que subir uma montanha na Serra do Mar apenas caminhando.

Com esta previsão animadora, abri mão da infra do Clube Paranaense de Montanhismo e ao invés de ficar acampado e molhado em qualquer montanha, decidi me molhar descendo o caminho do Itupava e caminhando no Marumbi, pois lá, pelo menos teria o refúgio do Clube para, no final do passeio de "indio", ter um banho quente gostoso e o conforto de uma casa pra relaxar.

Para o Programa de indio, estive na compania das mulheres mais guerreiras deste Clube: Lourdes, Camila e Josiane. Vocês mais tarde entenderão o porquê deste atributo.

Antes que alguém venha me julgando que só vou para a montanha com mulheres, já vou me defender que este veridico fato acontece pois elas serem muito boas (no bom sentido) parceiras. As mulheres no CPM estão cada vez mais engajadas e participantes. Sabendo da previsão, elas foram as únicas pessoas que quiseram arriscar ir pra Serra com chuva. Já deixo avisado que o que tenho com elas é somente amizade e é por este respeito que temos feito ótimas parcerias, tanto em caminhadas quanto escaladas.

Neste fim de semana aconteceu que nossa programação e combinação saiu de última hora, na sexta feira... Acordamos tarde no sábado e pra piorar perdemos o ônibus para a Borda do Campo, fazendo que chegássemos no começo do caminho do Itupava apenas as 13 hs, muito tarde.

A chuva demorou cerca de meia hora para começar a cair, sendo que quando chegamos na Casa do Ipiranga já estava escorrendo água, mas até aí, já sabia que assim ia ser...

A descida pelo caminho ocorreu como no previsto: Muitos escorregões, encontros com algumas jararacas (sem grandes sustos) e poucos malucos como nós para fazer esta caminhada.

Já anoitecia quando o imprevisto aconteceu. Numa destas pedras lisas como sabão, a Lourdes perdeu o pé, caiu e quebrou um dedo da mão! Não sei como ela conseguiu esta proesa de quebrar um dedo, mas ainda bem que não foi uma perna nem braço, pois o dedo foi bem simples de pôr no lugar, tarefa por mim executada... Foi com os dedos enfaixados que a Lourdes teve que terminar o caminho do Itupava, caminhando quase 3 km... Muito guerreira!

Pra piorar, a Camila teve uma lesão no joelho e com muita dor andou ainda mais, pois já no santuário do Cadeado ela sentia bastante. Mesmo assim continuou e chegou... É a chuva fazendo suas vitimas, quando uma simples caminhada pode se tornar um inferno!

No dia seguinte amanheceu chovendo, mas depois das 10 o sol apareceu entre as árvores. Tendo nossas duas montanhistas mais velhas, quer dizer... experientes, lesionadas, apostei as fichas na Josiane para em acompanhar e fazer o conjunto do Marumbi, algo que eu nunca tinha feito antes, aliás, moro a pouco tempo no Paraná!

Pra quem não sabe, o Marumbi é um conjunto de montanhas: Esfinge, Abrolhos, Ponta do Tigre, Gigante, Olimpo, Boa Vista... Fazer o Conjunto é fazer uma travessia pelos picos maiores, no nosso caso constituia subir pela trilha noroeste até a Ponta do Tigre e de lá ir ao Gigante, depois Olimpo e enfim descer pela frontal. Simples assim! O único problema é que era tarde e eu nunca tinha feito isso, mas até aí era uma questão de não ter ido ao Marumbi com este intuito e este era o meu intuito para este final de semana.

Acompanhado pela Josi, que com seus 19 aninhos se recuperou com mais facilidade dos tombos e da caminhada de 15 Km do dia anterior partimos para a montanha às 11:30.

Apesar da pouca idade e proporcional experiência, a Josi se mostrou uma guerreira também, pois não é qualquer um que desce o Itupava e no dia seguinte encara um Marumbi, coisa que ela fez com muita naturalidade, pra não dizer facilidade. Ela nunca tinha subido uma montanha tão empinada como o Marumbi. De princípio se sentiu desconfortável com as correntes, mas sem reclamar e sem ter medo, encarou e fez muito bem. Andamos rápido e às 17:30 estávamos na estação Marumbi de volta numa boa.

Levamos uma carcada do funcionário do IAP por não termos nos registrado na entrada, mas tudo acertado, a Josi voltou para Curitiba de carona com o Nelson, um outro sócio do Clube e eu fiquei sozinho com as aranhas, não com a Camila e a Lourdes, que voltaram no trem às 16 hs, mas sim com as armadeiras que são as habitantes do refúgio do CPM nos dias de semana.

Voltei no dia seguinte, de trem novamente, aproveitando as vantagens de ser sócio de um clube de montanha, não tive que pagar a passagem. Para o próximo final de semana teremos provavelmento o décimo fim de semana chuvoso. Pra comemorar vou subir alguma montanha, qual? Vamos esperar pra ver...

Josiane em uma das pontes do Caminho do Itupava

Calçamento do Itupava

Josiane e sua primeira via ferrata

O Abrolhos entre a neblina visto do vale das Lágrimas

Mares de nuvens na Ponta do Tigre

Auto Retrato na Ponta do Tigre

O Olimpo visto do cume do Gigante

O sol insistindo em aparecer...

De tanta chuva, até as meias arriaram, mas o pé ficou seco dentro da bota.

8 de outubro de 2008

A crise financeira

Para entender a crise:

Recebi um email muito interessante para quem não entendendeu o que está acontecendo no mundo nesta semana de quebradeira de bancos. Não sei de quem é este texto, mas tomei a liberdade de reproduzi-los pois é muito bom.

Paul comprou um apartamento, no começo dos anos 90, por 300.000 dólares financiado em 30 anos. Em 2006 o apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Aí, um banco perguntou pro Paul se ele não queria uma grana emprestada, algo como 800.000 dólares, dando seu apartamento como garantia. Ele aceitou o empréstimo, fez uma nova hipoteca e pegou os 800.000 dólares.

Com os 800.000 dólares, Paul, vendo que imóveis não paravam de valorizar, comprou 3 casas em construção dando como entrada algo como 400.000 dólares. A diferença, 400.000 dólares que Paul recebeu do banco, ele se comprometeu: comprou carro novo (alemão) pra ele, deu um carro (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou tv de plasma de 63 polegadas, 43 notebooks, 1634 cuecas. Tudo financiado, tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica, sentou o dedo no cartão de crédito.

Em agosto de 2007 começaram a correr boatos que os preços dos imóveis estavam caindo. As casas que o Paul tinha dado entrada e estavam em construção caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez...

O negócio era refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casas e revender com lucro. Fácil... Parecia fácil. Só que todo mundo teve a mesma idéia ao mesmo tempo. As taxas que o Paul pagava começaram a subir (as taxas eram pós fixadas) e o Paul percebeu que seu investimento em imóveis se transformara num desastre.

Milhões tiveram a mesma idéia do Paul. Tinha casa pra vender como nunca.

Paul foi agüentando as prestações da sua casa refinanciada, mais as das 3 casas que ele comprou, como milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros, as das cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito.

Aí as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontas e ele tinha que pagar uma grande parcela. Só que neste momento Paul achava que já teria revendido as 3 casas mas, ou não havia compradores ou os que havia só pagariam um preço muito menor que o Paul havia pago. Paul se danou. Começou a não pagar aos bancos as hipotecas da casa que ele morava e das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.

Paul optou pela sobrevivência da família e tentou renegociar com os bancos que não quiseram acordo. Paul entregou aos bancos as 3 casas que comprou como investimento perdendo tudo que tinha investido. Paul quebrou. Ele e sua família pararam de consumir...

Milhões de Pauls deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Os bancos haviam transformado os empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Esses títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls esses títulos começaram a valer pó.

Bilhões e bilhões em títulos passaram a nada valer e esses títulos estavam disseminados por todo o mercado, principalmente nos bancos americanos, mas também em bancos europeus e asiáticos.

Os imóveis eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados num preço de mercado desse imóvel... Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado num imóvel avaliado em 500.000 dólares e de repente passou a valer 300.000 dólares e mesmo pelos 300.000 não havia compradores.

Os preços dos imóveis eram uma bolha, um ciclo que não se sustentava, como os esquemas de pirâmide, especulação pura. A inadimplência dos milhões de Pauls atingiu fortemente os bancos americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil um dia acaba. Acabou.

Com a inadimplência dos milhões de Pauls, os bancos pararam de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir porque não tinham crédito. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia crédito nos bancos e quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado. O medo de perder o emprego fez a economia travar. Recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir. O FED começou a trabalhar de forma árdua, reduzindo fortemente as taxas de juros e as taxas de empréstimo interbancários. O FED também começou a injetar bilhões de dólares no mercado, provendo liquidez. O governo Bush lançou um plano de ajuda à economia sob forma de devolução de parte do imposto de renda pago, visando incrementar o consumo porém essas ações levam meses para surtir efeitos práticos. Essas ações foram corretas e, até agora não é possível afirmar que os EUA estão tecnicamente em recessão.

O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que na semana passada o impensável aconteceu. O pior pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, correntistas correndo para sacar suas economias, boataria geral, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira última, quebrado, insolvente.

No domingo o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. Durante esta semana dezenas de boatos voltaram a acontecer sobre quebra de bancos. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão. O mercado e as pessoas seguem sem saber o que nos espera na próxima segunda-feira.

O que começou com o Paul hoje afeta o mundo inteiro. A coisa pode estar apenas começando. Só o tempo dirá.

Crise no Brasil

A História de Paul é muito elucidativa. Você deve estar se perguntando: O que isso tem a ver com Brasil?

Pois, essa história toda não tem nada a ver com o Brasil, pois nossos bancos e nem nosso governo emprestou dinheiro a nenhum Paul.

Entretanto a lógica econômica mundial não é tão simplista e o que acontece nos EUA, que é o país mais rico do mundo, reflete em todos os cantos do Planeta. Fala-se em recessão e isso é ruim para nós que exportamos, principalmente commodities. Isso faz que açãos como a da Vale, Petrobrás, Siderurgicas, caiam vertiginosamente. Estas são as principais ações da Bovespa.

Se estas ações caem, e a bolsa também cai, seja por mero desespero ou por que estas empresas perderam folega de exportação, teremos no Brasil o aumento do desemprego. Fora isso, dentro do quadro expeculativo, muita gente vai fugir da bolsa e irá correr para o dólar, Foi o que fizeram ontem e antes de ontem, quando a moeda americana subiu 30 centavos.

Na vida prática, o brasileiro que acostumou-se com a vida boa do crescimento econômico dos últimos 5 anos, terá que apertar o cinto. Quem poupou pode ficar tranquilo que aqui não teremos banco fechado, mas quem consumiu, principalmente a crédito, pode vir a sofrer com isso, principalmente aqueles que financiaram casas e carros a perder de vista. Este sempre foi um péssimo negócio...

Vamos esperar a poeira baixar e ver os resultados da ajuda econômica. Espero que esta crise não venha, de fato, frear o crescimento de nosso país.

6 de outubro de 2008

Escaladas em São Bento do Sapucaí

Neste fim de semana fui para São Paulo votar e aproveitar para escalar um pouco em São Bento do Sapucaí, onde fazia muito tempo que não ia. Aproveitei para ir com uma pessoinha muito especial, a Vivian.

Saí de Curitiba na Quinta, já com uma previsão negativa para o final de semana. Ia chover. Ignoramos as previsões e mesmo assim subimos a Mantiqueira à procura de uma boa escalada.

A Vivian, apesar de estar escalando bem em ginásio, tem pouca experiência em rocha e eu queria levá-la para escalar uma via tradicional, algo tranquilo, mas grande, com uso de peças móveis em parede. Para isso, a Pedra da Ana Chata é um lugar perfeito.

Na sexta feira fizemos um treinamento na Vista aérea, que é uma falésia bem bonita e acessível, onde escalamos uma via chamada 5 apoio, um quinto grau lindo feito somente em móvel e de 2 enfiadas.

Depois de treinar um pouco na Vista Aérea, acordamos cedo no dia seguinte e fomos para a Ana Chata.

Ao chegar na Base, depois de um bela caminhadinha, percebi que o tempo estava mudando, mas ignorei os sinais e comecei a escalada.

Subi a primeira enfiada com pressa e acabei passando a primeira parada, por isso acabei fazendo uma equalização com móveis e depois continuei a escalada, que fluiu bem até chegar ao platô da árvore.

Depois deste platô tem uma enfiada toda em móvel, que deixei bem protegida para que caso a Vivian caisse ela não pendulasse bastante. Ao chegar na parada, fizemos mais uma enfiada curta e lá, começou a chover.

Foi uma chuva esperada, mas muito forte. Ela veio de repente com o vento. Os pingos eram tão grossos que pareciam granizo. Em questão de minutos estavamos inteiros molhados. Era água por tudo que é lado, ao ponto de fazer algumas cachoeiras na pedra, que não tirei foto por motivos óbvios.

Ao tempo que nos molhavámos mais eu ficava mais preocupado. Com o vento, a sensação térmica baixava muito. Foram estas as condições que eu guiei a última enfiada. Ficando pior pela falta de comunicação, já que o vento impedia que ouvíssemos o que o outro falava.

Ainda bem que deu tudo certo e a Vivian conseguiu vencer as cachoeiras e chegou no cume apenas molhada. Como tudo na vida é regido pela lei de Murphy, foi só ela chegar para o vento parar e a chuva também!

Descemos com o sol se abrindo... Pelo menos pudemos secar nossas coisas. Afinal a lei de Murphy não foi tão ruim e um fim de semana que previa só chuva foi bem divertido, com direiro a perrengue, mas com final feliz...

A falésia da Vista Aérea.

Vivian limpando a 5 apoio na Vista Aérea

A Pedra da Ana Chata

Equalização da primeira parada em móvel

Vivian na primeira parada

Na parede...

Na parada, com a Pedra do Bau no fundo

Vivian antes de chegar no platô da arvore



Última foto antes da chuva

No cume depois da chuva!

E fotinho de cume pra comemorar!