Blog do Pedro Hauck: outubro 2011

26 de outubro de 2011

Suba o Aconcagua

A alta temporada de escalada na região dos Andes Centrais da Argentina e do Chile está chegando e junto várias perguntas sobre a mais alta e famosa montanha dos Andes: O Aconcagua!

É para ajudar os andinistas que planejam escalar a montanha nesta temporada que escrevi um texto com dicas importantes sobre a Sentinela de Pedra, o significado em português de Akonk Awac, que acabou virando "Aconcagua".

Estive na montanha duas vezes, uma em 2002, em estilo alpino e independente, sem mulas e com muita disposição, quando alcancei o cume. A outra, que não foi bem sucedida, foi em 2004, quando tentei cume pelo Glaciar Polacos.

Clique na imagem e leia a matéria na íntegra no site da Go Outside:


24 de outubro de 2011

Itupava depois da reabertura

Junto com o pessoal do Conrados Adventure e da Beatriz Azevedo do Rio Grande do Sul, tive a oportunidade de descer o Itupava mais uma vez. Estava muito curioso para ver como ficou o caminho depois que foi reaberto, após 6 longos meses de interdição para que fosse recuperado.

Para quem está de fora da conversa, após a chuva trágica que caiu no Paraná em Março, diversas árvores caíram neste histórico caminho colonial e muita lama se acumulou sobre o calçamento de pedras. Por este motivo, o IAP, Instituto Ambiental do Paraná, fechou o caminho para que ele fosse recuperado.

Todos sabem como é lento o sistema publico e no Itupava não foi diferente. Sabendo das demoras burocráticas, o IAP estipulou um prazo altíssimo para a reabertura: 90 dias! Este prazo assustou os freqüentadores. Seria necessário tanto tempo para tirar as árvores e lama do caminho?

O fato é que eu não fazia o caminho há muito tempo e não sei apurar qual era o estado de degradação do caminho do Itupava. Porém o que eu sei é aquilo que todos sabem: Os 90 dias não foram suficientes para a burocracia do IAP. Foram necessários 4 longos meses até que o Edital de licitação fosse finalizado e que uma empresa assumisse o serviço e recuperasse o caminho. Esta empresa começou a trabalhar em meados de Agosto e no dia 15 de Outubro, um mês e meio depois, o serviço foi finalizado. No total foram 194 dias de interdição de quando foi anunciado o fechamento à data de reabertura.

O que eu vi no Itupava?

Bom, eu vi um Itupava muito semelhante àquele de 2007, ano em que foi restaurado com o financiamento do banco alemão KFW. O serviço está muito bem feito, além da lama ter sido retirada foram feitos diversos drenos para que a água da chuva não levasse mais sedimentos sobre o calçamento.

Além disso, vi diversos locais com o mato bem aberto e troncos de árvores recém cortados. Era os locais onde haviam caído as árvores grandes de março. Os trabalhadores não só desobstruíram o caminho, como também utilizaram a madeira dos troncos para segurar a erosão e fazer contensões.

Mesmo depois de tanto trabalho, eu afundei meu pé na lama diversas vezes, o que é normal, afinal ali é a Serra do Mar, chove muito e há sempre muita lama. Imagino como deveria estar na época da interdição? Por mais que tenha sido feito um bom trabalho, julgo ser impossível resolver o problema da lama sem grandes interdições. Alias eu julgo que ir ao Itupava sem lama é como ir à Roma sem ver o Papa. Do jeito que está ficou bom.

Interdição, algo necessário?

Pro meu gosto acho que foi desnecessária a interdição, pois não acho arriscado pisar na lama e nem pular tronco de arvore caído, isso faz parte da aventura de percorrer o Itupava. Porém se o IAP o fez, acredito que tenha sido baseado em algum relatório técnico.

Apesar do bom serviço, minha opinião é que a interdição de 6 meses, nos exatos melhores meses do ano para a prática de trekking foi exagerada. Analizando o que aconteceu, vemos que o caminho demorou o dobro de tempo do previsto para a entrega, mas o tempo gasto em trabalhos na trilha foi a metade desta previsão inicial de 90 dias.
 
Tomara que os técnicos do IAP façam uma boa reflexão sobre estes acontecimentos e que consigam melhorar seu trabalho no futuro. Abaixo eu reproduzi um texto do Marcelo Brotto, montanhista e engenheiro Florestal, que fala dos impactos econômicos do fechamento do Itupava. O texto é bem conclusivo, vejam na íntegra:

Impacto econômico da interdição do caminho do Itupava
Na base de dados do IAP referente à visitação nas UCs estaduais no ano de 2010 consta o total de 13.961 visitantes para o caminho do Itupava. A interdição da trilha para manutenção durou 6 meses, de abril a outubro de 2011. Dividindo o total de visitação por 12 meses e depois multiplicando pelo período de interdição o resultado são 6.980 pessoas, que é o valor estimado de pessoas que deixaram de circular pela trilha no período em questão. Agora, inferindo sobre o impacto econômico que a interdição de trilha causou temos o seguinte cálculo.

Seguindo a base de cálculo proposta por Medeiros et al. (2011, p.21, quadro 5) para o gasto médio por visitante (campista) nos parques nacionais, em regiões de grandes localidades (C) como é o caso da região metropolitana de Curitiba, temos R$ 28,00/dia. Isso multiplicado por 6.980 pessoas resulta em R$ 195.440,00, que é o montante em dinheiro que deixou de circular no “roteiro turístico” Itupava. Esse valor gera em impostos (27,5%) aproximadamente R$ 53.746,00 de arrecadação pro Estado. Se dividir esse valor por 12 meses temos R$ 4.478,83. Seria razoável contratar dois funcionários para trabalhar 5 dias por semana na manutenção da trilha ao longo do ano, mais gastos com material. Dessa maneira a trilha estaria permanentemente conservada e nunca fecharia. Mas vamos considerar que a opção pela licitação seja a melhor. O processo de licitação dura 3 meses.

Os meses mais propícios para acontecimento de grandes tempestades, com choque entre massas de ar frio e quente é o início do outono, março/abril. As águas de março como diria Tom Jobim. Para estar com uma empresa contratada em março você abre a licitação em dezembro, depois de 1 funcionário em 1 dia ter caminhado pela trilha fazendo o levantamento.

Você acresce 30% a mais de serviço considerando que vai haver chuvas  fortes até a assinatura do contrato. Pois bem, em abril você assina o contrato e se for realmente necessário interdita a trilha por 15 dias. Em 15 dias aproximadamente 574 pessoas passam pela trilha, multiplicado por R$ 28,00/dia resulta em R$ 16.072,00 que é o montante de dinheiro que deixaria de circular no “roteiro turístico” Itupava. Essa foi apenas uma contribuição para ajudar a refletir sobre o futuro.

Marcelo L. Brotto

Referências:
Instituto ambiental do Paraná - IAP, 2010. Números de Visitantes nas Unidades de Conservação Paranaense – ano 2010. Disponível em <http://www.uc.pr.gov.br/arquivos/File/Tabelas_Ucs/2010_Visitacao_09_03_11.pdf> acesso em 10/08/2011.

Medeiros, R.; Young; C.E.F.; Pavese, H. B. & Araújo, F. F. S. 2011. Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia nacional: Sumário Executivo. Brasília: UNEP-WCMC, 44p.












13 de outubro de 2011

Neblina na Graciosa

Na Serra do mar paranaense existem alguns passos entre os blocos montanhosos que foram históricamente utilizados como vias de passagem entre o planalto e o litoral. Um dos passos mais famosos é o da Graciosa, que recebe o nome errôneo de “Serra”, mas que na verdade é um passo de montanha: O ponto mais baixo entre dois picos pertencentes à mesma aresta, que no caso aqui é o ponto mais baixo entre duas serras: A Serra do Ibitiraquire e da Farinha Seca.

Por conta de ser um passo, a Graciosa é um dos locais que mais chove na Serra e isso não é difícil de explicar. O ar no planalto é sempre frio, mas no litoral é quase sempre quente e úmido. Esse ar proveniente do oceano invade o continente e o local onde as duas massas se encontram é sempre ali, naquele “buraco” chamado graciosa.

Ontem, feriado em plena quarta feira, não foi diferente e ao chegarmos ao Recanto Engenheiro Lacerda, nas orilhas do Morro do Sete na Estrada da Graciosa, fomos brindados por uma densa neblina e fina chuva.

Logo nossos trajes mateiros chamaram atenção dos vendedores de pastel e caldo de cana, que mostraram grandes conhecedores do mato da região, nos alertando sobre suas “pesquisas” onde falavam de tuneis dos jesuítas e cidades perdidas na Serra. É a imaginação popular se fazendo valer de fatos verídicos, como os túneis da usina Parigot de Souza. Um dos contadores de história foi além e disse que encontrou 600 kg de ouro! Mas foi roubado depois da descoberta e hoje vende cana na beira da estrada, que azar hein?

Deixando as lorotas pra trás, entramos na floresta pelo marco 22 da estrada da Graciosa e logo fomos enxugando com nossas roupas a umidade retida pelas folhas das plantas. É a Floresta Ombrófila Densa Montana, um dos ecossistemas da Mata Atlântica mais exuberante, com diversos andares de arvores e alto estágio de sucessão ecológica. As árvores mais altas, quase todas da família das Lauraceas, atingem facilmente os 40 metros de altura. Abaixo delas, há arvores mais baixas, que vivem à sombra das maiores, Xaxins e Palmitos são os mais comuns, ou pelo menos eram.

O Palmito é extraído violentamente naquela região. Natureza selvagem é apenas aparência, pois os palmiteiros e caçadores já estiveram em todos os lugares e vira e volta encontramos com vestígios de suas atividades, cartuchos de armas, acampamentos abandonados e lixo, que rapidamente são “comidos” pela floresta úmida.

Se por um lado os clandestinos conhecem cada palmo da mata, a ciência ainda sabe pouco sobre o lugar. Ali se desenvolve um tipo de planalto levemente ondulado onde a base dos rios está a mais ou menos 580 metros de altitude e os topos, coalhados de matacões e planos, se desenvolvem a 700 metros, indo perder altura na direção norte, ao sopé da pequena cordilheira dos morros Arapongas, Tangará e Cotoxós.

Descobrir detalhes sobre o relevo e as rochas deste planalto é o objetivo meu, de Edenilson Nascimento e Mikael Arnemann Batista, amigos da montanha e de pesquisas geológicas. Nossas dificuldades esbarram na densa vegetação que encobre afloramentos, nas constantes chuvas e até mesmo na presença dos ilegais, uma vez que não sabemos o que eles podem achar de nossa presença.

Há algum tempo, o Mikael e o Otaviano encontraram um homem armado na trilha, eles se esconderam, mas o encontraram mais tarde. O homem foi gentil, mas achou ruim que “turistas” colocassem fitinhas nas árvores. Eles nada disseram sobre a marcação das trilhas feitas por montanhistas.

Penetrando a densa floresta, fomos observando as rochas e o relevo planáltico, tecendo algumas considerações sobre sua curiosa origem, até que, de repente, a trilha sumiu no meio do mato.

Naveguei por algum tempo apenas com o GPS, que dizia por eu havia passado por lá alguma vez. Na verdade, a última vez que fiz isso foi em 2009, quando junto com o Fiori e o Elcio fizemos a travessia Fazenda da Bolinha x Ciririca x Estrada da Graciosa em dois dias. Naquela oportunidade, a trilha estava aberta, mas agora as taquaras, cipós e samambaias haviam tomado a trilha.

Confiando na margem de erro de nossa tecnológica ferramenta e com o faro na trilha, fomos encontrando o caminho por entre a vegetação e assim conseguimos chegar ao rio Mão Catira. Já era quase uma da tarde e ficaria muito arriscado tentar chegar a nosso destino naquele dia, o enorme dique de diabásio localizado uma hora caminhando por dentro do rio acima.

Deixamos o objetivo para outro dia e retornamos em silencio por entre a escuridão da floresta. No caminho de volta encontramos pegadas de outros visitantes e suas jaquetas penduradas num galho de arvore. O que será faziam ali?

A floresta da Graciosa esconde muito mais do que mitos de tuneis ocultos, ouro de Jesuítas e cidades engolidas pela selva. Esconde também muitos indícios sobre as origens e evolução da serra do mar e será um local onde voltarei muito mais vezes.

 É assim quase o tempo todo!

 Deni e Mikael no marco 22

 O marco e a estrada da Graciosa

 Dentro da floresta

 Matacões de granito





 Dique de diabásio






6 de outubro de 2011

Escalando em Salinas na Go Outside

A escalar em Salinas é uma experiência recheada de situações e emoções que nos faz sempre querer voltar e se deliciar naquelas grandes paredes cheias de oportunidades.

Pensando nestas sensações, escrevi o texto "Estilo Aventura" para a Go Outside. Passem lá pra dar uma olhada!