Blog do Pedro Hauck: julho 2013

25 de julho de 2013

Nevou como nunca no Brasil e eu não vi...


Foi muito triste ver pela internet um evento climático como este e eu não fazer parte. Triste porque desde 2011 eu vinha participando do projeto do amigo Paulo Roberto "Parofes" de viver a neve no Brasil, com duas idas à Santa Catarina seguidas para tentar flagrar o evento climático, que não aconteceu...

Desta vez, uma sequência de frentes frias muito fortes encontraram condições para formar neve e foi o que aconteceu. Em Santa Catarina, 1/3 das cidades encontraram neve. Nevou também na cidade onde eu moro, Curitiba e eu não estava em casa... Meus amigos foram para as montanhas do Paraná, encontraram a neve e eu não pude participar, infelizmente.

Estou em Rio Claro, no interior de SP há 4 meses. Quando cheguei aqui, anoitecia às 20 horas, fazia muito calor.... Agora, antes de 18 já está escuro e acredite, aqui também tá frio, mas neve é apenas uma marca de papel higiênico...

Rio Claro foi minha prisão por todo este tempo. Posso dizer que não vivi este primeiro semestre, apenas trabalhei. Estou aqui fazendo a preparação das amostras de meu projeto de doutorado. É um trabalho dificil, minucioso e que nem sempre dá certo. Já estive aqui no ano passado, mas tive que fazer tudo de novo e de novo e de novo.

Meu projeto é sobre a evolução da Serra do Mar do Paraná. Fiz trabalhos de campo bastante exaustivos, mas cansativo mesmo foi trabalhar recluso no laboratório, me dedicando 10, 12 horas por dia, meses a fio, pouca distração, muita preocupação, longe dos amigos e das montanhas.

Enfim, nevou no Brasil e finalmente meu trabalho chegou ao fim, por enquanto, pois daqui alguns meses tenho que voltar pra finalizar.

Vi o ano começar no cume de um vulcão nos Andes e depois vi o tempo passar lentamente dentro do laboratório, tirando leite de pedra. Aprendi muito mais do que separar minerais, eu que já era paciente, fiz um estágio de resiliência, mas enfim, aquele momento tão esperado está chegando. Imaginei que estaria me jogando no gramando da Unesp, mas não foi assim, não pela chuva e frio, mas sim porque como tudo na minha vida, não recebi nem um sim e nem um não. O trabalho acabou, mas a certeza de que chegou ao fim não há e nem de que vai dar totalmente certo.

De certo, ao invés de encontrar neve, estou indo ver o sol e o calor do verão e estou gostando muito da idéia, embora a vontade mesmo ser de estar curtindo o frio e um vinho inverno. Tanto a neve, quanto o friozinho vai ter que ficar mais pra frente, depois do nosso verão. Já o vinho, bom, o vinho não vai ficar fechado até lá.

E a neve brasileira caiu num momento bem interessante da minha vida.

Meses de trabalho pra chegar até aqui.


18 de julho de 2013

10 montanhas nos Andes em 45 dias com Waldemar Niclevicz

Entre Dezembro de 2012 e Janeiro de 2013, estive nos Andes do Norte da Argentina com o Waldemar Niclevicz participando de uma etapa do projeto Mundo Andino.

Escalamos 10 montanhas, foram elas: Vulcão Tuzgle, Nevado Cachi, Vulcão Peinado, Vulcão Antofalla, Nevado Incahuasi, Monte Pissis, Cerro Mercedário, Cerro Las Tórtolas, Vulcão Ojos del Salado e Três Cruces Sur. 8 delas tinham mais de 6 mil metros.

Encontramos de tudo, sítios arqueológicos, lugares selvagens. Aprendi muita coisa na companhia de um dos maiores montanhistas da atualidade e foi muito bom ouvir as histórias do Waldemar.

Escrevi um texto que, dado pela riqueza da experiência, ficou pequeno. Está na minha coluna do AltaMontanha:

http://altamontanha.com/Colunas/4024/expedicao-teto-das-americas-10-cumes-andinos-em-45-dias

Além de pode ler a revisão de tudo o que rolou nesta empolgante expedição, ainda tenho guardado o dia a dia da viagem e das escaladas relatadas em 19 postagens neste blog. Confira todos:

:: Leia o dia a dia desta expedição desde o começo aqui no blog

Waldemar Niclevicz e Pedro Hauck no cume do Nevado Três Cruces.

14 de julho de 2013

Entrevista na CBN e pernoite em hotel de estrelas infinitas

Nesta sexta feira fui convidado a participar do programa Papo de Sexta da rádio CBN Curitiba com o Alvaro Borba. O tema era segurança em esportes radicais e junto comigo participou também o Eduardo Chuaste e o André Moro, que são da área de motocross. 


Foi minha segunda vez na rádio. A primeira, no ano passado, fui entrevista pelo José Willie sobre o caso da lei dos Esportes de Aventura. 

Não deu pra falar muito desta vez, o tempo foi curto pra muita conversa, mas espero poder voltar para falar mais do montanhismo. Aliás, é muito bacana ser entrevistado por uma pessoa que eu admiro, mas que não conhecia pessoalmente, no caso, o Alvaro Borba, que é um excelente radialista e jornalista. Ouço sempre a CBN quando estou no carro e em casa estudando. É até um remédio contra o silêncio do meu apartamento. 

Uma das perguntas que o Alvaro fez, foi sobre o controle emocional do medo quando um escalador está solando. Bom, não quis dizer que eu já solei algumas vias de escalada. Também não gosto de dizer que curto este tipo de desafio, pois existe muito preconceito sobre quem o faz. Pessoalmente acho que é um desafio muito psicológico. Não sei se com tudo mundo é assim, mas quando eu tenho medo, escuto minha consciência me boicotando e pesando. Ainda tenho que aprender a não levar meus pensamentos muito a sério. Talvez pra isso eu tenha que solar mais e solar coisas mais altas, mas isso não é tão fácil assim...

Entrevista na CBN

Sexta feira foi um dia muito bonito em Curitiba. O sol do inverno transmite uma luz limpa e tudo fica bonito. Engraçado, não consigo criar palavras mais criativas para descrever esta luz, apenas "bonito", mas não é só isso...

Voltei pra casa e em pouco depois apareceu o Hilton e pela segunda vez neste ano, "apenas", fui fazer uma das coisas que mais gosto, que é pernoitar de bivaque na montanha.

A idéia era, como segue a tradição, bivacar no Araçatuba. Porém, desta vez queríamos mais do que apenas isso, queríamos um visual bonito pra tirar fotos, quer dizer, pro Hilton fazer as fotos noturnas dele. O Hilton está se tornando um especialista em fotos noturnas em montanhas, fazendo um trabalho maravilhoso que na minha opinião tem tudo para se destacar, pois ninguém faz fotos noturnas em montanhas.

Deixamos a Eco na frente do estacionamento do Baitacão e mocamos as chaves pro Julinho guardar o carro mais tarde. Ventava bastante, mas subimos rápido, com pausa apenas para admirar a lua e as luzes de Quatro Barras, Campina Grande e Curitiba. O espetáculo é belo, mas cidade está crescendo e chegando na montanha, isso preocupa. Quando isso vai parar?

Chegamos ao cume, por sorte nenhum malaco bebendo e gritando (coisas ruins da proximidade com a cidade). Acho que o frio afugenta as pessoas. Procuramos um chão pra jogar os sacos de dormir. No topo ventava demais e era bem irregular, fomos então perto da Pedra dos Inkas e lá nos acomodamos. 

Levei um saco de dormir velho, que foi de um mendigo na Inglaterra que o Max achotou do PUB onde ele trabalhava. Usei por cima dele o saco de bivaque azul que o Davi Marsk fez e me deu. Equipamentos simples e muito úteis para uma noite super confortável. Foi quase inevitável, depois das 9 da noite, entrar neste hotel de estrelas infinitas e logo o sono tomar conta do corpo e mergulhar numa viagem confortável para além desta montanha. Não havia mais frio e nem vento, apenas o conforto e a luz das estrelas. Dormi profundamente depois de passar uma estrela cadente e pedir um desejo.

Avião cruza o céu na vista desde a Pedra da Aderência.

Curitiba e a região metropolitana

Via Láctea desde a pedra dos Inkas

Norte da Serra do Mar com menos e....

.... mais tempo de exposição.

Curitiba visto do cume do Anhangava

Bivacando no cume. Hotel de estrelas infinitas.

O amanhecer

Nascer do sol com o Pico Paraná, Ciririca e Agudo da Cotia.

Este saco azul sou eu pela manhã.

11 de julho de 2013

Fantasmas da Conceição

Às 5 da manhã o despertador toca me tirando de um sono profundo e confortável. Faz frio na madrugada curitibana o que inibe até mesmo o mais chato do cachorro do vizinho. Como sempre, já estou com a mochila pronta e o café preparado, bastando apenas apertar o botão na máquina.

Mecanicamente vou para o carro e parto para a Serra do Mar com o dia ainda escuro. Na Graciosa presencio o belo espetáculo do amanhecer, com a luz amarela refletindo sobre as nuvens da umidade que sobe do chão da planície litorânea.

Rápidamente já estou em Antonina e logo percorro os 30 km de reta, na base da Serra até findar na porteira da fazenda Lírio do Vale, onde chego no final da música Echoes do Pink Floyd. Aviso meu destino e parto com o carro até onde ele poderá me levar rumo à picada da Conceição, uma estrada aberta na década de 1960 durante a construção da Usina Parigot de Souza e posteriormente abandonada e engolida pelo mato.

Vou até a bica, localizada no meio do caminho, ponho a mochila nas costas e começo a caminhada, percebendo como esta forma mecânica de acordar é excelente pra se esquecer as coisas. O martelo da Dan, ficou em casa...

Em 20 minutos já estou na ponte quebrada, onde poderia ter chegado se tivesse um 4x4. Atravesso a ruina e logo estou no trecho abandonada da estrada. O mato está alto e molhado e rápidamente já estou com a roupa encharcada. O chão está enlameado e progrido mais lento do que pretendia.

Em 3 horas, sem errar o caminho, chego à entrada da janelas da Conceição, um túnel auxiliar da usina Parigot, distante, desconhecido e enorme. Marco a altitude, a posição geográfica e a orientação do mesmo.

Uma vez dentro, me livro do frio que a umidade causa e vou caminhando na tentativa de observar as paredes rochosas que eu já quebrei em outra coleta, quando estive na companhia do Salamuni e do Edenilson. Ao invés de encontrar estes pontos, encontro vários morcegos e percebo o quão sinistro é aquele lugar sozinho, tanto é, que minutos depois, enquanto vou caminhando, ouço meus passos, minha respiração e um barulho que se pareceu com vozes humanas, que desapareceu logo que parei de andar.

Passado o susto, atravesso a zona de falhas por onde jorra agua da parede, percorro um trecho inundado e chegou ao fim do tunel, onde há uma porta de ferro lacrada, impossível de abrir. Será que do outro lado tem água?

Procuro por rochas que possam servir para minha finalidade e encontro um granito microcristalino, com grãoes visiveis e uniformes, cheio de plagioclásio, biotita e quartzo. Parece com um granito típico do terreno Paranaguá que observei no Bairro Alto. Acho curioso, pois além desta rocha, há um outra rocha negra, com predomínio de minerais máfico e no meio dele o granito graciosa, que é o granito do Pico Paraná. Geológos, o que seria isso?

Com toda a rocha nas costas, cerca de 30 kg, começo a volta e percebo que o tunel tem apenas 2 km de extensão. Fecho a porta do mesmo e volto o caminho todo com  mais facilidade do que na ida, devido o mato seco e a abertura da trilha que eu mesmo fiz, graças a ela, pude observar uma cobra Coral na trilha, pronta pro bote, que desviei com cuidado. Bicho bonito e perigoso!

Paro na ponte de manilha para almoçar e as 13:15, já estou chegando de volta na ponte quebrada, onde observo um jipe da Copel ir embora sem me ver. Por um minuto eu perdi a carona e por isso tive que caminhar 45 minutos a mais.

Na bica, tiro o excesso de barro da bota e da calça, troco a muda de roupas e começo a voltar, quase dormindo no carro de cansaço e às 16 horas já estou no meu apartamento no Uberaba.

A noite foi de pizza com o Fiori e o Otaviano, hoje seria de estrada, se não fosse por problemas que a TIM me gerou e pela mobilização nacional que fechou estradas. Ainda bem, acabo de receber o convite de participar de um programa da rádio CBN, que inclusive estava ouvindo na hora em que me ligaram falando do convite. Amanhã estou lá, 90.1, ou pelo site: http://www.cbncuritiba.com.br/site/

Pico Paraná visto por baixo e entre a névoa da manhã.

Ponte abandonada no meio do mato a caminho da janela

Entrada do túnel
 
escuridão

Companhia

Cuidado!