Blog do Pedro Hauck: abril 2011

28 de abril de 2011

28/04 - Dia da Caatinga

A paisagem da Caatinga é uma das que mais me impressiona, seja pela rusticidade dos sertões ou pelas cenas pitorescas das cidades sertanejas. Conheço muito bem estas paisagens, sendo que o único estado nordestino que não conheço é o Maranhão.

Minhas experiências me levou a questionamentos sobre a evolução fitogeográfica e geomorfológicas daquelas paisagen, onde pude aprender e apreciar este belíssimo dominio de paisagem 100% brasileiro que destoa bastante do tipo normal de paisagens do resto do país, onde predominam feições de ambiens úmidos.

Reproduzo abaixo uma revisão (bem simples) do que é a Caatinga brasileira, publicado originalmente em meu trabalho de conclusão de curso em Geografia:

HAUCK, Pedro. A. Matas, campos e mandacarus: A Teoria dos Refúgios Florestais aplicada ao estudo da paisagem na Serra dos Cocais entre Valinhos e Itatiba - SP. Rio Claro 2005 (Trabalho de conclusão de curso - TCC).

O Domínio Morfoclimático Semi-Árido das Caatingas:

O semi-árido nordestino é um dos três domínios sul-americanos de climas secos. Comporta-se como uma paisagem um tanto quanto contrastante, tratando-se de um continente que apresenta um predomínio de climas úmidos bastante chuvosos e ricos em recursos hídricos. Este domínio se estende por uma área de aproximadamente 720 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, aproximadamente 10% de todo o território brasileiro.

As razões da existência de um grande espaço semi-árido, insulado num quadrante de um continente predominantemente úmido, são complexas. A massa equatorial marítima, movimentada pelos alíseos de SE, com ar quente e seco é responsável segundo Ab´Sáber (1980a) pela formação de uma célula de alta pressão que dificulta durante os meses de Julho a Dezembro a penetração da massa equatorial continental que no verão se move até o sul do pais, mas que no Nordeste não consegue regar os sertões com chuvas constantes. A massa de ar tropical atlântica, penetrando pelo inverno de leste para oeste, beneficia apenas a Zona da Mata.

O que caracteriza o clima semi-árido não é a ausência de chuvas, mas sim o longo período de estiagem condicionado por tais fatores. A média geral de precipitação na caatinga está entre 200 mm a no máximo 800 mm de chuvas. Apesar de ser um valor baixo para padrões brasileiros, o que justifica o semi-árido no nordeste é o fato destas chuvas ocorrerem apenas em poucos meses por ano.

Tais condições climáticas influenciam a hidrologia regional do nordeste. Diferente de outras regiões do Brasil onde os rios apresentam-se perenes nos períodos de estiagem, no nordeste seco o lençol se aprofunda e resseca os rios, fazendo com que estes tenham a característica de intermitência na maior parte do ano.
Diante de tais características fisiográficas, a paisagem fitogeográfica do nordeste semi-árido é constituída de uma vegetação adaptada à deficiência hídrica e ao calor dos sertões, caracterizando-se por ser um agrupamento vegetal xerófito e/ou heliófito. Tal vegetação é assim descrita por Fumdham (1998, p. 22-23):

(A caatinga é) uma vegetação quase impenetrável, formada por arbustos fracos, mas extremamente ramificados, com galhos curtos e duros, com aspecto de espinhos. O tronco das árvores é liso, as folhas finas e pequenas, a folhagem é leve e deixa passar a luz. As ervas desaparecem, salvo durante a curta estação de chuvas em que formam um carpete; os arbustos, de onde emergem algumas árvores de pequeno porte, sete a oito metros de altura, tecem um emaranhado com as numerosas trepadeiras. Os vegetais espinhosos abundam, as plantas suculentas também.

Estas características são adaptações morfológicas, anatômicas e fisiológicas que combinadas permitem às plantas resistirem às adversidades. As mais aparentes são as relativas à sua morfologia, como folhas pequenas e espinhos, procurando limitar a superfície em contato com o ar para reduzir as perdas de água, limitando a evapotranspiração. Plantas com tubérculos ou outros tecidos capazes de armazenar água, como as cactáceas também são freqüentes.

 Aspecto morfológico da Favela (Cnidosculus phyllacanthus), indivíduo arbóreo endêmico da caatinga. Foto do autor.

A fisiologia das plantas da caatinga também é particular. Nas horas mais quentes do dia as folhas ficam oblíquas em relação aos raios do sol e os estômatos das plantas permanecem abertos por pouco tempo. Outra tendência aparente das espécies da caatinga, como modo de reduzir a perda de água, é a queda de folhas na estação da estiagem, que dá a característica fisionômica da paisagem de mata seca (FUMDHAM, op.cit.).

Esta vegetação, ainda que rudimentarmente, recobre as regiões mais secas do Nordeste, em sua maioria situada em depressões interplanálticas. Depressões estas que são morfogenéticamente remetentes a uma pediplanização que esta porção do continente sul-americano sofreu durante o período Terciário. Tais pediplanos apresentam-se segundo Ab´Sáber (1980a) sob a forma de colinas rasas, de grande extensão, embutidas entre maciços antigos, de onde se elevam inselbergs resistentes aos processos desnudacionais terciários, chapadas, cuestas e, eventualmente, em áreas de rebaixamento de planaltos cristalinos.

 
 Pediplanície sertaneja em Quixadá-CE. Destaque para a presença de inselbergs na paisagem e predomínio da caatinga.Foto do autor.

A decomposição de rochas é fraca, com mantos de alteração variando segundo Ab´Sáber (2003) via de regra entre 0 e 3 metros. É comum o afloramento de lajedos e a pedogênese privilegia o aparecimento de cascalheiras junto ao solo, as chamadas “malhadas”. Neste ambiente predominam solos do tipo vertissolos e eventualmente aridissolos (AB´SÁBER, op.cit.).

 
Paisagem típica da caatinga em Canudos-BA com grande presença de cascalheiras no solo. Foto do autor.

Referencias bibliográficas:

AB´SÁBER, A. N. O domínio morfoclimático semi-árido das caatingas brasileiras. Craton & Intracraton escritos e documentos. São José do Rio Preto, IBILCE-UNESP, nº6, 1980(a).

AB´SÁBER, A. N. Os Domínios de Natureza do Brasil: Potencialidades paisagísticas. Ateliê Editorial, São Paulo, 2003.

FUMDHAM, Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Fundação do Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato 1998. 94 p.

27 de abril de 2011

Relevo em evolução

"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma." 

Antoine Lavoisier

Existem pessoas que a natureza é estática e que devemos manter ela intacta, mesmo que seja necessário intervenções humanas para tal. 

Mesmo sem ação do homem, a natureza está sempre em mutação. Não existiamos quando houveram as grandes extinções do Cambriano, Permiano e nem do final do Cretáceo. A temperatuda atual da terra não é a mais alta e prova disso o planeta nos dá a todo minuto. Presenciamos no dia a dia eventos que fazem o planeta mudar e isso é natural.

Não somos nós que temos que mudar a natureza, mas sim nos adaptar à estas mudanças....

Nesta semana, em Portugal, uma fotografa foi muito feliz em poder imortalizar em imagens o momento da evolução destrutiva do relevo... O Rochedo da Torre da Ursa, um bloco litorâneo de calcário, desababou.

Alguns dirão que é culpa dos escaladores, mas não é. Trata-se de um rochedo de calcário localizado no mar. Com a dissolução do CaCO3, houve a formação de cavernas e as pilastras que aguentavamo peso do rochedo cedeu. Trata-se de um processo natural onde houve erosão geoquimica e ação da gravidade.

Triste para nossos irmãos portugueses que perderam um local pra escalar, mas um espetáculo para os geomorfólogos que puderam acompanhar um processo natural que estudam apenas com dedução e indução.

Veja as fotos em: http://praiadaursa.wordpress.com/2011/

Foto: Eliana Lemos

25 de abril de 2011

Minha primeira montanha andina na Go Outside!

Na semana passada atualizei a coluna que o AltaMontanha.com mantém no site da revista Go Outside. Anteriormente eu havia enviado um texto com dicas de um local muito especial, que eu considero como um dos melhores para quem quer começar em alta montanha: O Cordón del Plata.

Resgatando minha primeira experiência no local, fui dar uma lida em meu diário, escrito durante a viagem que fiz esta primeira escalada. Uma viagem que durou 5 meses e que consistiu em percorrer de carona, quase sem dinheiro, todo o cone Sul do continente sulamericano, chegando até onde acaba o mundo: Ushuaia, na Terra do Fogo.

Confiram o que escrevi pra Go Outside:

:: Meu primeiro cume andino - Coluna Go Outside.

Meu diário em 2000 e hoje!

 Coluna na capa do site da Go Outside

24 de abril de 2011

Feriadão light

Não escalei nenhuma montanha de gelo, nenhuma paredão de rocha, nenhuma trilha proibida e nem vi o Atletiba no estádio. Neste feriado deixei estas coisas perigosas de lado e fui curtir outras coisas boas da vida com a Camila, Lourdes, Jgör, Schmall, Hana, Toninho, Ariane e o Mário.

Depois de anos morando no Paraná, fui enfim conhecer a baía de Paranaguá e acabei indo parar na Ilha do Superagui, que é um lugar bem tranquilo e simples, aquilo que era a Ilha do Mel uns 15 ou 20 anos atrás. Confesso que não sou chegado em praia, pelo simples fato de ser um lugar muito quente e os programas praianos meio monótonos. Não acho muito legal ficar sentado na areia olhando o mar ou ficar dentro da água olhando a areia. Nem sei se as demais pessoas também gostam disso, ou se gostam mesmo é ficar olhando o corpo semi nu alheio... Enfim, por conta disso não sou grande frequentador de praia, mas as coisas podem ser diferentes....

Existem situações e situações. Viajar com os amigos, acampar, comer camarão, passear com a namorada, ver a serra do mar de outro ângulo, tudo isso faz valer a pena alguns sacrificios e pretendo voltar pra lá pra bundar menos e fazer mais coisas, como fazer a famosa travessia pra Ilha do Cardoso em São Paulo de bike.

Para finalizar o feriadão da comilança, já de volta na capital da chuva e céu cinza, fizemos um programão bem curitibano: Churrasco no Parque Barigui! Detalhe, ascendi o fogo na grimpa!











19 de abril de 2011

Tentando enganar São Pedro 2

Um final de semana após a chuva no Araçatuba, eis que volto para a Serra do Mar...

Na quinta e na sexta o tempo foi bom em Curitiba, fez sol e um pouco de chuva, normal pra quando se está ocupado. A proximidade com o final de semana e a previsão do tempo, no entanto, já me fazia lembrar da lei de murphy.

Eu, no entanto, já estou carimbado e falei pra Camila que não ia pra Serra no final de semana. Deus ouviu e mandou um sábado ensolarado, é claro! A tal da frente fria que tava chegando ficou estacionada no Rio Grande do Sul.

Depois de uma tarde inteira arrumando as coisas que faltavam pro Manoel e pra Priscila nos acompanhar na desobediência divina (a primeira vez deles na Serra do Mar), pegamos a estrada junto com o Mario e também a Camila rumo à fazendo do Dilson, pra ver o dia ir embora de cima da Pedra do Grito indo em direção às montanhas banhados com a luz de uma linda lua cheia, que perfeito!

Deus não é bobo, logo que saí do mato e cheguei nos campos do Getúlio ele me avistou e mandou a frente fria do Rio Grande pro Paraná. Quando vi as chuvens atravessar os passos entre o Ferraria e o Taipa, caindo pelo vale como se fossem espuma, também entre Taipa e o Caratuva e deste último e o Itapiroca, fiz uso de utensilios tecnológicos pra ter certeza que a pressão tinha baixado e que aquilo ia dar merda...

Não deu outra, foi só chegar nos campos do Itapiroca pra pegar chuva grossa, frio e muita raiva. Dormi bem, é verdade, mas a ida pro PP melou naquele momento...

Domingo acordou preguiçoso. Nem perdi tempo sofrendo por antecipação... Eu odeio desmontar acampamento debaixo de chuva. Deus, no entanto resolveu me dar uma colher de chá e lá pelas 11 mandou o sol secar a barraca. Não fizemos nada demais,  mas ir pra Serra, com chuva ou com sol, fazendo ou não fazendo algo já é muito melhor do que não ir.

Daqui a pouco começa a temporada, tomara que neste ano Deus não nos castigue como nos últimos anos. A previsão, pelo menos, está a nosso favor!

Nascer da lua

Nuvens de espuma atravessam os passos da Serra do Mar

 Amanhecer de chuva e neblina

Itapiroca de Sol



 PP entre as nuvens

Tucum e Camapuan

O que será que o Jamil tá falando pro Mario?


14 de abril de 2011

Dicas sobre o Cordón del Plata na Go Outside

Uma novidade aconteceu e deixar passar despercebida. Desde a semana passada, o site AltaMontanha.com assina uma coluna no site da conceituada revista Go Outside.

A estréia da coluna ocorreu com a divulgação da odisséia que o Max enfrentou no Paquistão, em sua descida do Hidden Peak e o encontro com a situação caótica das chuvas que arrasou o país, afetando 14 milhões e pessoas, uma experiência que o próprio Maximo chamou de extrema.

Hoje, fiz a publicação de algo muito mais light, um pacote de dicas pra quem pretende ter a primeira experiência em montanhismo de altitude. A recomendação não podia ser diferente: Cordón Del Plata - Argentina.

Esta cadeia de montanhas foi onde tive minha primeira experiência em altitude, que contarei mais a frente, em outra oportunidade. Acho que tive sorte de começar lá, pois como poderá ver na matéria, o local é realmente perfeito para iniciantes e também para iniciados, de tantas que são as opções.
Bem, não vou empatar a matéria. Aproveite o link e conheça mais sobre este maravilhoso local, o Cordón Del Plata:

http://gooutside.uol.com.br/516

Eu, com 18 anos de idade, subindo para o acampamento El Salto. 40 kg nas costas e muita disposição para meu primeiro cume nos Andes.

12 de abril de 2011

Tentando enganar São Pedro

Pela primeira vez no ano eu vi dois, dias seguidos de sol em Curitiba. E não foram só dois, foram 5! Só que, para não fugir do tipo climático que predomina na região, chegou sábado e com ele o Parofes e a chuva.

A idéia era ir para a Torre do Prata, região que está desolada pelas chuvas, mas as mesmas chuvas, com águas diferentes, nos impossibilitou de descer pro litoral. Ficamos aborrecidos em casa, falando bobagem e comendo churrasco. A noite, sem muitas opções, até assisti um filme (horrivel) que misturava Indiana Jones, com Tomb Raider e Código Da Vinci... Aborrecidos, fomos comer uma pizza sem fome e no caminho pudemos ver um pouco de céu entre as nuvens, fato que nos despertou a esperança e nos fez voltar pra casa pra arrumar as mochilas.

Pegamos a BR 376 (aquela mesma estrada que foi desolada pelas chuvas) já às 11 da noite. No meio do caminho tudo pára. O que houve? Curiosos se acumulam e no horizonte eu vejo o relampear iluminando a escuridão e penso que o motivo deve ser a queda de mais uma barreira. De repente aparece um funcionário da auto estrada e vai liberado o transito, que estava parado porque a empresa decidiu fechar a estrada para colocar uma passarela de pedestre.

Após uma hora de atraso, chegamos no Araçatuba à 1 da manhã e começamos a subir. Sem o calor do dia, a caminhada ganhou ritmo e ficou prazerosa. A Camila, que não caminhava desde o Monte Roraima também achou e em apenas 2 horas e 20 estávamos nós três no cume da montanha, morrendo de sono.

Montamos as barracas rápidamente e fui acordado pela manhã com a voz do Parofes que estava tirando fotos. Às vezes dava pra ver alguma coisa. Desmontamos acampamento e começamos a descida, que foi quando pegamos chuva, um pouco é verdade.

O bom de morar perto da Serra é isso, sempre tem alguma coisa pra se fazer. Com essa, completo mais uma ascensão noturna ao Araçatuba, montanha que nunca subi durante o dia.

E assim acaba o final de semana, com chuva e churrascaria. Até deu pra despistar São Pedro, que dormindo não percebeu que fomos pra montanha e mandou chuva só na descida... Ainda vou arranjar um jeito de driblar ele direito, pois percebo que as chuva não vem somente no final de semana.

Com a visita da Petrobrás, a Geologia da UFPR deu uma parada e ganhei 3 dias de folga na semana. Na segunda, o sol mostrou sua cara e o tempo ficou perfeito, com friozinho e céu azul. Já hoje, quando me preparava para ir pro Ciririca, a pressão baixou e a instabilidade se formou. Já não dá pra ver a Serra e o tempo gorou minha caminhada denovo!




5 de abril de 2011

Curso AltaMontanha 90 Graus de escalada em rocha - Abril 2011

Na ultima semana foi realizado em São Paulo e em Pedra Bela o primeiro curso básico de escalada em rocha do AltaMontanha.com/90 graus.

O curso foi excelente, os alunos foram muito bem. Tenho certeza que todos continuarão na escalada e que os encontrarei diversas vezes escalando. Não ajudei a formar apenas novos escaladores, vejo nestas pessoas futuros parceiros.

É neste intuito o curso AltaMontanha/90 Graus irá para sua segunda edição em Maio (mais detalhes em breve!). Bom pra mim, já que ensinar é uma motivação que eu tenho para seguir adiante e também para São Paulo, que teve uma decaída na escalada, mas que logo terá uma nova geração muito boa frequentando as montanhas e falésias do estado. Bom também pro AltaMontanha, que segue com seus objetivos de fomentar o montanhismo brasileiro e pro Ginásio 90 Graus, que está se tornando cada vez mais uma referência na escalada em rocha!

Aos meus alunos, muito obrigado! Com este curso, eu acabei de ensinar formalmente 50 pessoas a escalar em rocha. Ou seja, dei cursos formais de escalada pra tudo isso de gente! Não sei nem dizer os cursos informais que já dei...

Claro que nem todos seguem escalando, mas tenho orgulho de ver muitos ter ido em frente e inclusive escalarem melhor do que eu. A minha expectativa é que muitos destes meus alunos do curso sigam este caminho.

A turma toda reunida

 Aulas teóricas

 Meus amigos instrutores: Tacio e Victor


 Aula prática