Blog do Pedro Hauck: 2012

27 de dezembro de 2012

De Cachi a Cafayate pela ruta 40


Após termos escalado o Nevado de Cachi, começamos a nos organizar para dar continuação à viagem e à nossa série de ascensões em montanhas no Norte da Argentina. 

Nosso plano para hoje, dia 26, era de percorrer os quase 600 km de distância entre Cachi e a cidade de Antofagasta de La Sierra, localizada em plena puna de Catamarca e rodeada por vulcões de mais de 6 mil metros de altitude.

O plano veio água abaixo pelas belezas da parte Sul do vale de Calchaqui, entre Cachi e a cidade de Cafayate, cerca de 180 km que foi impossível de fazer sem parar muitas vezes para fotografar e admirar a paisagem.

Primeiramente foi a beleza histórica do lugar. Ninguém imagina, mas este rincão árido já era habitado pelos índios há mais de 10 mil anos, foi conquistado pelos Incas por volta de 1450 e em 1540 já estava sob domínio espanhol, que ergueu diversas cidades coloniais, muitas ainda bastante preservada, como Molinos, que ainda tem uma igreja do século XVIII.

Não é só isso, a ruta 40, que corta o vale de Norte a Sul, ainda corta várias formações sedimentares, de arenitos e tilitos bastante dobrados e basculados, numa paisagem que parece a lua.

Se não bastasse, o final deste tramo, ainda é marcado pela produção de vinhos de excelente qualidade. A bodega Quara, que faz vinhos muito bons, são daqui!

Resultado, não foi hoje que voltamos à Puna! Os motivos, vejam abaixo:


Igreja Colonial em Molinos. Construção do século XVIII

Parte do vale de Calchaqui onde é cultivada uvas para vinho. Finca El Carmen.

Trecho da Ruta 40 onde começa o Monumento Natural de Angastaco

Arenitos basculados de Angastaco.

Quebrada de las Flechas.

Paisagem lunar em Angastaco.


As camadas mergulham aqui a 55 graus.


Beleza e rusticidade no deserto.
Praça principal (provavelmente se chama Plaza San Martin) em Cafayate.

Igreja com apresentação a noite.

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26 de dezembro de 2012

Natal nevado no Nevado Del Cachi

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:: Leia a parte anterior deste relato

A sierra nevada de Cachi é um cordão montanhoso com diversos cumes e três montanhas de 6 mil metros, sendo que o Cume Libertador San Martin é o mais alto de todos. Estas montanhas são diferentes das demais da Provincia de Salta, pois enquanto as outras (de seis mil) são coesões que despontam ao meio do altiplano da Puna, a Sierra de Cachi é um sistema montanhoso não vulcânico, formado por dobras e falhas de rochas que se elevaram até estas grandes alturas, que é um bloqueio natural que barra a pouca umidade do ar do Chaco e dá condições para que nesta região haja alguma vegetação.

Da mesma forma que estas montanhas são distintas em suas formas, ela é distinta em sua escalada. Enquanto nas montanhas da Puna o acesso é facilitado pelo relevo aplainado, aqui ele é mais complicado, com aproximação feita à pé e um desnível topográfico maior (3 mil metros).

Nosso primeiro dia na montanha foi uma caminhada de 14 km, entre o local onde deixamos a Andina, há 3300 metros e nosso primeiro acampamento, a 4750, num local chamado de “Isla de Piedra”. A caminhada foi tranquila, sem grandes problemas, apesar do desnível e a distância, fizemos o percurso em 7 horas.

No caminho pudemos perceber como esta região é especial. A montanha é belíssima, com muita vida selvagem. Vimos em quantidade diversos Condores planando pelo céu (sim, condores imperiais, com colarinho branco e crista vermelha na cabeça, impressionante!), bandos de Guanacos e Vizcachas.

No dia seguinte caminhamos os 5 km restantes para o anfiteatro Khun, um acampamento localizado há 5250 m e circulado por montanhas. Ali seria nosso acampamento mais avançado. Neste dia, pegamos um tempo bom pela manhã e como está ocorrendo aqui todos os dias, pegamos uma nevágua no fim da tarde.

À noite, quando já estávamos nos retirando para dormir, ocorreu uma grande tormenta elétrica e se desarmou uma enorme tempestade que precipitou mais de 5 cm de neve no acampamento, deixando a paisagem toda branca.

Ficamos preocupados, pois nosso plano era acordar cedo para atacar o cume. À 1 da madrugada despertamos para nosso ataque, mas havia muita nuvem ainda. Esperamos até as 2 horas, quando algumas estrelas apareceram e o Waldemar achou que valeria a pena fazer o ataque.

Saímos da barraca às 3 da madrugada, caminhando rápido em direção à uma grande parede de rochas soltas que dá acesso à um mundo totalmente diferente do vale, o mundo da altitude.

O Waldemar foi achando o caminho no meio dos “acarreos” e em 1 hora e meia chegamos ao topo do anfiteatro. Dali em diante eu fui na frente navegando às cegas (por conta da escuridão) com o GPS e o tracklog que o Maximo nos forneceu.

Foi neste momento que o dia clareou e pudemos ver a Sierra de Cachi inteira nevada, uma paisagem que até os locais devem ter visto poucas vezes na vida. O visual era maravilhoso, a neve da tormenta do dia anterior havia deixado todos os cumes brancos e a montanha mais “montanha”.

Abrindo caminho na neve, costeamos o cume do monte Hoygaard e chegamos numa grande crista, cheia de pequenos cumes, que liga aquele monte ao cume Libertador San Martin, looooge dali.

Sem desanimar e perder tempo, fomos buscando os melhores locais para chegar ao San Martin, subindo e descendo diversos topinhos, que foram muito cansativos, dado que tal crista fica a mais de 6 mil metros de altitude. Calculo que caminhamos 5 km acima desta altitude.

Cada vez que a gente chegava em um destes topinhos, percebíamos que haviam mais e mais topinhos. Para piorar, a maior subida era a final, que dava acesso ao cume do Libertador.

Chegamos no cume por volta das 10:45 e lá encontramos a caixa com o livro, onde a ultima assinatura era de nosso amigo Maximo Kausch, que sozinho passou por ali para fazer uma travessia incluindo outras 2 montanhas. Encontramos um busto do General San Martin, e uma cruz marcando o cume. Comemoramos bastante!

Apesar de rápidos, nos cansamos bastante na ascensão. O próprio Waldemar disse que não esperava tanto desta montanha. Não foi uma ascensão técnica, mas foi bastante difícil em termos físicos, principalmente por conta da nevasca.

Na descida eu fiquei pra trás, mas às 15: 30 já estávamos de volta ao acampamento, onde a Sílvia nos esperava. Foram 13 km de caminhada ida e volta.

Esta montanha foi bem especial, não se trata de um cume fácil e acessível, como foi o Tuzgle. Esta foi uma escalada muito bela e desafiadora e acho que mandamos muito bem, fazendo este cume apenas 8 dias depois de quando saímos de Curitiba.

Sem dúvida foi um grande presente de natal. Tanto eu quanto o Waldemar fomos bons meninos neste ano e ganhar este cume de presente (no dia 24 de Dezembro) foi uma compensação.


 Estrada em Las Pailas, acesso ao Nevado Cachi

 A Andina com o Nevado Cachi ao fundo.

 Comeco da Caminhada em Las Pailas

 Mochila cheia de equipos na aproximacao

 Subindo para o primeiro acampamento.

 Silvia e Waldemar na trilha

 Jantar do primeiro dia.

 Mocó onde dormi na primeira noite.

 Primeiro acampamento a 4700 mts de altitude.

 Mochila com tudo.

 Vista do vale para cima, onde ja aparece no centro da imagem o Nevado Hoygaard

 Acampamento a 5250 mts com o tempo comecando a piorar.

 Grande nevasca na vespera do ataque ao cume.

 O amanhecer durante o ataque ao cume.


 Nevado del Quemado todo branco de neve ao fundo.

 Waldemar costeando o Hoygaard

Waldemar abrindo caminho.
 Eu apontando para onde é o cume do Libertador San Martin

 Muita neve no caminho, cena rara.


 Trilha que abrimos na neve.


 Rumo ao esporao final.

 Tem ateh cornija nesta neve!

 Cume!!!

 Cume!!!

Vista para o Quemado ao norte.

 Eu no cume

San Martin é corinthiano!!!


Waldemar Niclevicz e eu no cume da montanha! 

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::Veja o tracklog do Nevado Cachi no Rumos: Navegação em Montanhas!

25 de dezembro de 2012

Quebrada Del Calchaqui

:: Leia o relato desta expedição desde o começo
:: Leia a parte anterior deste relato


A Puna é um altiplano onde a média de altitude é de 4 mil metros de onde despontam diversas montanhas, em sua maioria, vulcões, como o Tuzgle que escalamos ha pouco tempo.
 
O limite oriental da Puna é formado por serras não vulcânicas, com montanhas menos altas, formadas por rochas metasedimentares dobradas, falhadas e cavalgadas. Estas montanhas são bastante erodidas devido ao nível de base regional ser inferior a mil metros, ou seja, como na lei da gravidade tudo tende a cair e ali a queda é grande, então os vales que terminam nas baixadas dos Andes são bastante erodidos.

Há poucos dias, pudemos entrar em destes vales, o do rio Calchaqui. Este vale tem sua cabeceira nas encostas do Nevado Del Acay, que tem 5900 metros. 

Saimos de San Antonio de los Cobres, a 3770 metros e ascendemos pela ruta 40 (a famosa), até o passo que é o divisor de águas entre a Puna e o Calchaqui, um colo situado a 4900 metros chamado de Abra Del Acay.

Estive ali em 2007, a borda do Corsa do Marcio Carrilho, num dia que foi bastante estressante, pois as mangueiras do carro do Marcio não aguentaram a altitude e estouraram todas! Nos posts de Julho de 2007 tenho os relatos desta viagem que foi super divertida.

Após ascender os 4900 metros, fomos perdendo altitude ao longo do vale. Cruzamos diversas formações rochosas interessantes e percebemos que aqui no vale, apesar de ser ainda bem seco, a vegetação se desenvolve melhor. Talvez por isso, aqui é um vale habitado há mais de 10 mil anos!

Abaixo estão algumas das maravilhas do vale Del Calchaqui

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 Lhamas a caminho do Abra del Acay

 Caminho para o Abra del Acay, vertente da Puna

 Placa no Abra del Acay

 Nevado Acay, que quase nunca tem neve

 Será que é por isso que os montanhistas nao casam?

 Ruta 40 Abra del Acay

 Ruta 40 Abra del Acay

 Lhamas

 Procure as falhas e responda: Onde está o Sigma 1?

 Uma super dobra


 Cardon de natal

 Isso é Argentina!

 Formacoes sedimentares com estratificacao plano paralelas com leve basculamento.

 A Andina e um Cardon (Tricocereus pasarana)

 Olha a estratificacao e diga o que ha de errado?

 Cidade de La Poma, uma cidadezinha fantasma.

 Vulcao los Gemelos


 A Andina em Cachi

 Cachi

Arquitetura de Cachi