Blog do Pedro Hauck: abril 2010

27 de abril de 2010

Casamento de montanhistas

De acordo com editor da Sex and Climbing, Antonio Paulo Faria, a escalada une e separa casais.

Recentemente estamos passando por uma fase boa, em que tem mais união do que separação de montanhismo. Espero apenas que esta união não se torne uma prolongação destes namoros enrolados e que dela venha uma nova geração de montanhistas com pedigree.

Parabéns a todos os casais de montanhistas! Sobretudo aos meus colegas que acabaram de amarrar o burro!


Posfácio de Antonio Paulo Faria:

"Minha mulher não me deixa mais escalar" – Este é um problema de muitos aqui, não é mesmo? Alguns podem pensar... "Será que a mulher dele quer mais sexo ou será que é para ele fazer alguma coisa de útil em casa?"

A natureza pode ser perfeita, mas é injusta. As mulheres nos escolhem por sermos destaques em alguma coisa, isto é instintivo-biológico e teoricamente serve para garantir uma boa linhagem de filhos. Entretanto, depois de casar a cobrança começa... " Já vai escalar de novo?!"... "Olha a hora hein!" - Você foi escolhido por ter sido um excelente escalador, mas agora você não pode escalar porque tem que ajudar em casa. Bem feito, foi casar pra quê? A mulher não pode fazer tudo sozinha.

Se bem que tem mulheres por aí que faz questão de escolher aquele sujeito completamente inútil, imprestável, o verdadeiro "seu banana". É preguiçoso e ainda escala mal! - Está cheio desse tipo aqui na lista!

Resumindo, o sexo custa muitíssimo caro para homens e mulheres, já notaram isso? Ou você ainda pensa que sexo é diversão? Então esqueçam o sexo e escalem mais! Quero ver se você é capaz.

Antonio Paulo Faria
(Editor da Sex & Climbing)

26 de abril de 2010

Mini curso de História Geológica

I Colóquio pedagógico de Geologia - Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná - Guarapuava PR

Professor Msc. Pedro Hauck
Mini Curso: História Geológica, aspectos palegeográficos, paleobiológicos e evolutivos com ênfase à Geologia da Bacia do Paraná: Do Cambriano ao Holoceno.

CONTEÚDO: Eras Geológicas, evolução paleogeográfica dos continentes, Formações geológicas da Bacia do Paraná, evolução biológica, Geomorfologia do Terciário e as paleosuperfícies, Glaciações Pleistocênicas e Teoria dos Refúgios Florestais.

TEMA CENTRAL: História geológica

SUB-TEMAS: Estratigrafia da Bacia do Paraná, vulcanimo Serra Geral, Evolução Geomorfológica da Bacia do Paraná, Teoria Bioresistasia e Teoria dos Refúgios Florestais.

CARGA HORÁRIA: 02 aulas (8 horas)

PROCEDIMENTOS: Aula expositiva, explanação do conteúdo construindo gradativamente os conceitos teóricos.

RECURSOS:
Projetor multimídia
Amostra de rochas e fósseis

OBJETIVOS: Proporcionar aos alunos de forma simples e dinânica os principais aspectos da história geológica tendo como exemplo a bacia do Paraná.

PROBLEMATIZAÇÃO: O aprendizado da História Geológica apresenta uma dificuldade em alunos de Geografia que não estão acostumados a trabalhar com uma escala de tempo tão prolongada, a confundindo, muitas vezes, com a escala de tempo fisiográfica, que deu origem ao atual relevo. Tendo este problema, o desafio de ensinar este conteúdo é esclarecer que muitas rochas que compõe o complexo litológico regional foram elaboradas através de processos em épocas em que sequer havia a configuração atual dos continentes. Assim, seguindo a ordem cronológica, inserindo os capítulos finais da história geológica, que é a história geomorfológica, os alunos podem perceber a complexidade do tempo e distinguir as idades, além de absorver o conteúdo importante na formação de qualquer geógrafo.

CONCEITOS TRABALHADOS: Tempo geológico, tempo fisiográfico, estratificação, vulcanismo, hiatos geológicos, paisagem, morfogênese, pedogênese, refúgios, circundesnudação pós cretácica, paleosuperfícies de erosão, extinção.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:

AB’SÁBER, A.N. As altas superfícies de aplainamento do Brasil Sudeste. Rev. Fac. Campineiras. I (4). Campinas. 1954. 60-67.
__________, A.N; O Problema das conexões antigas e da separação da drenagem do Paraíba e do Tietê. In: Geomorfologia. n° 26. IG-USP. São Paulo. 1957.
_________, A. N; Ritmo da epirogênese pós-cretácica e setores das superfícies neogênicas em São Paulo. Geomorfologia, IG-USP (13). São Paulo. 1969a 1-20.
___________, A. N; Participação das Depressões Periféricas e Superfícies Aplainadas na compartimentação do Planalto brasileiro. Geomorfologia n° 28. IG-USP. São Paulo, 1972.
____________, A. N; A teoria dos refúgios: Origem e significado. Revista do Instituto florestal, Edição especial, São Paulo, março de 1992.
____________, A. N; Megageomorfologia do Território brasileiro. In. Guerra, A. J. T; Cunha, S. B; Geomorfologia do Brasil. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro. 1998. Pg.71-106.
ALMEIDA, F.F.M. de; Fundamentos geológicos do relevo paulista. São Paulo: 1974.
ALMEIDA, F.F.M; CARNEIRO, C.R; Origem e evolução da Serra do Mar. Revista Brasileira de Geociências 28(2), jun. 1998, p. 135-150.
BALTORELLI, A; Origem das grandes cachoeiras do Planalto basáltico da Bacia do Paraná: Evolução Quaternária e Geomorfológica. In: Geologia do continente Sul-Americano. Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. Beca. São Paulo. 2004. Pg. 96-121.
ALMEIDA, F.F.M. de; Origem e evolução da Plataforma brasileira. In: Semana de Debates Geológicos. Boletim do DNPM-DGM 241. Rio de Janeiro. 2967
BIGARELLA. J,J; PASSOS, E; HERRMANN, M.L.P; SANTOS, G.F; MENDONÇA, M; SALAMUNI,E; SUGUIO, K; Estrutura e origem das Paisagens tropicais e subtropicais, vol(3). Editora da UFSC, Florianópolis, 2003. 552p.
BIGARELLA, J.J; ANDRADE LIMA, RIEHS, P.J; Considerações a respeito das mudanças paleoambientais na distribuição de algumas espécies vegetais e animais no Brasil. Separatas dos Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 47. Curitiba- Porto Alegre, 1975. Pg. 411-464.
ERHART, H. A Teoria Bio-resistásica e os problemas biogeográficos e paleobiológicos. Noticia Geomorfológica, Campinas, nº11, pg. 51-58, Junho, 1966.
HAUCK, P. A Teoria dos Refúgios Florestais e sua relação com a extinção da megafauna Pleistocênica: Um estudo de caso. Estudos Geográficos (UNESP), v. 5, p. 121-134, 2008a.
MAACK, Reinhard. O desenvolvimento das camadas gondwânicas do Sul do Brasil e suas relações com as formações Karru da África do Sul. Arquivos de Biologia e Tecnologia. Vol. VII. Art. 20. Curitiba. 1952.
MAACK, Reinhard. Breves noticias sobre a Geologia dos Estados do Paraná e Santa Catarina. Arq. Biologia e Tecnologia (IBPT), v. II, p. 63 -154.
MAACK, Reinhard. Geografia Física do Estado do Paraná. Curitiba, 1970. 450p.
MILANI, E. J; Comentários sobre a evolução tectônica da Bacia do Paraná. Geologia do continente Sul-Americano. Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. Beca. São Paulo. 2004.pg. 265-279.
SUGUIO, K; SALLUN, A, E, M; Geologia do Quaternário e Geologia Ambiental. In: Geologia do continente Sul-Americano. Evolução da Obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. Beca. São Paulo. 2004. Pg. 461-469.

22 de abril de 2010

Caminhadinha batuta no Monte Crista - SC

O monte Crista é uma montanha de 970 metros de altitude localizada na região de Joinvile – SC.  Apesar da baixa altitude, é uma montanha que começa quase no nível do mar, então é uma subida bem grande.

São cerca de 7.800 metros de trilha que começa em meio à uma floresta Atlântica com árvores altas e um sub bosque aberto. Esta floresta vai perdendo tamanho com a subida, logo atravessamos uma florestinha nebular até chegar na região de campos no cume da montanha, que tem um formato alongado, com uma grande parede rochosa lateral que forma a crista que dá o nome da montanha.

Galera do CPM no começo da trilha

O Monte Crista é a montanha mais popular da região de Joinvile, que é freqüentada por muitas pessoas não montanhistas que tem a tradição de subir até o cume da montanha durante a Semana Santa, provocando inúmeros problemas lá em cima, como abandono de lixo e queimadas.

O grande afluxo de pessoas aliado às condições do solo na montanha e anos sem manutenção, acabaram por provocar inúmeras erosões na trilha, que tentam ser contidas pela Associação Joinvilense de Montanhismo. Entretanto o clima sempre úmido da região e para piorar ainda mais, as fortes chuvas que caíram nos últimos 2 anos acabaram por destruir muitas das contenções de erosão, que se tornaram fichinha perto dos escorregamentos que abriram grandes cicatrizes nas encostas inclinadas da montanha, provocados por avalanches naturais. Quem disse que não existe isso nas montanhas do Brasil?

Ontem pude conhecer esta montanha maravilhosa em companhia de meus colegas do CPM. Foi uma caminhada gostosa, bem descontraída e animada. O tempo fechado foi perfeito, pois não sofremos com o calor. Uma vez no cume, a natureza nos presenteou abrindo um pouco as nuvens e proporcionando uma espetacular vista para a Serra do Quiririm.

Vista do cume - Foto Victor Hugo Lau

Aproveitei a oportunidade para mostrar para os colegas o que é e como funciona a comida Liofilizada, que é a comida de astronauta que está sendo fabricada no Brasil pela Liofoods e que está ajudando muito os montanhistas em suas aventuras pelas Serras e paredes Brasil afora.

Preparei um Strogonoff de frango com batatas. Levei apenas 100 gramas de comida que hidratada se tornou 400 gramas de refeição que tinha cheiro de strognoff e gosto de strogonoff. Todo mundo provou a aprovou. Chega de comida de pozinho com sabor de kinojo! Montanhista que vai muito pra Serra já tá enjoado de gororoba!


Mostrando como é o liofilizado

Provando o liofilizado!

A descida foi rápida e tranqüila. Pegamos um pouco de chuva quase no final e chegamos ao estacionamento a tempo de nem precisar de lanterna. De volta à base, o Seu Ari do Estacionamento divulgou que vai tomar uma medida contra o lixo deixado pelas pessoas na montanha. A partir de Julho, ele irá colocar uma taxa de lixo de R$5,00. Se a pessoa não regressar com seus resíduos, ela não verá o dinheiro de volta.

Tomara que a taxa dê certo, pois o Monte Crista merece!


::Veja o Álbum de foto do Monte Crista no site do CPM

20 de abril de 2010

Morro do Sete – Serra da Farinha Seca

Fim de semana com sol e não muito calor, um indicador que a temporada de montanhismo está começando após longos meses de chuvas.

Aproveitando o bom tempo fui para a Graciosa com o Julio Fiori para conhecer uma montanha na Serra do Mar paranaense que eu ainda não conhecia, o Morro da Mãe Catira e do Sete.

A caminhada começa em um sitio ao lado da antiga estrada da Graciosa. Quase imediatamente após deixar o carro no sitio, começa a caminhada na bela floresta, que certamente sugere o nome de “Graciosa” para aquele passo entre os maciços do Ibitiraquire e Farinha Seca, erroneamente chamado de “Serra”.

A caminhada é tranqüila, atravessando rios cristalinos onde abastecemos os cantis com uma água pura, excelente pedida para testar mais uma vez aquele repositor eletrolítico Suum que eu ganhei e que é muito gostoso!


Depois de meses de chuvas, a trillha estava um lamaçal. Encontrei umas pessoas que reclamaram do barro, mostrando o tênis encharcado e a meia de algodão já arriada, como se fosse uma "meia boca de sino".

Quando você encharca muito o pé, é comum que a meia fique pesada e comece a entrar dentro da bota, encharcando ela também, mesmo que seja impermeável, o que provoca as desagradáveis bolhas. Como eu estava com uma bota boa e uma meia super tecnológica, enfiei o pé na lama sem dó e pude testar como estes equipamentos fazem a diferença.

Alguns equipamentos existem a muito tempo, mas com a tecnologia dos materiais eles foram melhorando de forma significativa e numa condição destas, você caminha com todo o conforto, pois fica com os pés secos e sem bolhas no final. É o caso de botas e meias.

Há um tempo atrás, quando eu cheguei em Curitiba, não costumava usar botas. Certa vez numa saída de campo com a UFPR, eu pisei numa poça d´água ao sair do ônibus e fiquei passando mal o dia inteiro porque havia molhado minha meia. O mesmo aconteceu comigo na cidade, com as maravilhosas calçadas curitibanas e esse clima de chuva constante, cheguei a molhar o pé no Centro Politécnico e tive que ficar o dia inteiro lá aguentando frio do pé molhado.

Hoje eu uso minha botas Nômade até mesmo na cidade e na trilha estou usando uma meia de primaloft da Lorpen, que expulsa o suor e seca super rápido, fazendo toda a diferença numa trilha dessas, que mesmo debaixo do lamaçal, o pé fica seco e assim o passeio fica agradável como é para ser. Pode ver na foto que a bota mesmo surrada, combinada com uma meia destas tecnológicas, aguenta a umidade e isso evita bolhas e não há risco das famosas meias boca de sino.


Com a subida, a gente sai das árvores e entra na região dos campos com Caratuvas, mas logo volta para uma florestinha de baixo porte, a chamada “matinha nebular”. O ponto mais alto do Morro do Mãe Catira é recoberto por uma florestinha desta.

De lá, começa uma descida até o Morro do Sete. Esta é uma das poucas montanhas da Serra do Mar que para se chegar ao cume é preciso descer. Mas esta descida vale a pena, pois o Mãe Catira não tem uma visão boa por conta da vegetação e o cume do 7 é descampado.

Na verdade, ambas as montanhas era um único maciço, uma falha na escarpa que delimita as montanhas evidencia que o Mãe Catira foi soerguido em algum momento da história geológica. Outras falhas em sentido perpendicular foram pontos de incisão de erosão remontante que esculpiu diversos canyons no front da Escarpa da Serra do Mar e entre o Sete, Mãe Catira e Polegar há um destes canyons gigantes e profundos.

Você deve estar se perguntando, mas porque do nome Sete? Bem, este motivo é bem tolo. É que na escarpa da montanha há uma fenda que parece desenhar o número sete na rocha. Eu na verdade nunca consegui visualizar isso... O que vi foram falhas geológicos da Zona de Cisalhamento do lineamento brasiliano, vi também o grabén entre a Serra do Mar e o esporão do Feiticeiro, enxerguei os pedimentos Alexandra no sopé das montanhas e vi que terei muita dificuldade de interpretar tudo isso mais tarde...

Traduzindo, o que eu vi foi um dos mais belos visuais da Serra do Mar, pois estava exatamente no meio entre o maciço onde fica o Pico Paraná e a Serra do Marumbi. Veja as fotos:

Pico Paraná, Ciririca e Aguda da Cotia

Falhamentos

Canyon


Serra do Prata e Serra da Igreja

Baia de Paranaguá

Serra do Marumbi

Panorâmica para a Serra da Farinha Seca

Panorâmica para o Ibitiraquire

19 de abril de 2010

A cultura do montanhismo no Brasil: Das origens aos dias atuais.

Ontem eu coloquei mais uma coluna no AltaMontanha.

A idéia era escrever sobre a cultura da escalada no Brasil, em um artigo escrito sob os cuidados de uma metodologia científica, para publicação na revista Aquilles, mas acabei gerando uma reflexão sobre os dados que eu tinha e o texto acabou se transformando em algo opinioso e daí acabou indo mesmo para o site de montanhismo.

Como já devem ter observado, eu me preocupo muito as restrições à nossa liberdade na montanha. Tenho diversos textos a respeito, pois acredito que este problema tem minado não somente o desenvolvimento do montanhismo como esporte, mas principalmente como cultura. Por que eu acho isso? Bom, leia a coluna no AltaMontanha e opine!

Serra do Marumbi no final do século XIX por Alfredo Andersen

10 de abril de 2010

O Dilúvio, os campos subtropicais, Araucárias, cerrados e a circundesnudação pós cretácica

Neste último feriado que estive em Andradas, quase não deu para escalar por conta da chuva. Então, fiquei a maior parte do tempo papeando no refúgio do Pântano, contando histórias para o Davi Marski, Jacaré e o Filippo Croso que estavam ali...

Acontece que, quando sou motivado, eu não páro de falar e em pouco tempo, falei de minhas pesquisas sobre a origem do domínio dos planaltos das Araucárias, os campos que existem no Sul do Brasil, nas montanhas e também a razão para que as árvores de cerrado sejam tão pequenas e retorcidas, relacionando-as com a própria origem dos chapadões do Brasil Central, que são recobertos por cerrados, mas penetrados por matas galerias.

Papo vem, papo vai, contei da teoria do xeromorfismo de Schimper e do  Escleromorfismo Oligotrófico e aluminotóxico do Mario Guimarães Ferri, excelente botânico e cientista, que foi, inclusive, reitor da Universidade de São Paulo. Não sei se eles entenderam bem, mas depois disso ficaram tirando onda de mim, dizendo que tudo é obra do dilúvio! Hehehehe... Foi engraçado....

 Cerrado em Chapada de Guimarães - MT

Sem querer, acabei me deparando com este texto, que fala exatamente do dilúvio e os geomitos, muito interessante!

Os grandes eventos catastróficos sempre mexeram com o imaginário popular, incapaz de lhes dar uma explicação adequada para sua compreensão. Seriam fruto de uma força sobrenatural superior, possivelmente produzidos por entidades mitológicas ou deuses enraivecidos que puniam quem os contrariava. Surgiram, assim, os grandes mitos ou lendas, numa mistura complexa de contos sobre a origem do mundo natural e a história de seus primeiros habitantes. As associações dos eventos geológicos com o inexplicável resultaram na criação do termo “geomitologia”, o qual se refere às lendas que procuram explicar, através de metáforas poéticas e do imaginário mitológico, a razão de acontecimentos como as tempestades, os terremotos e as atividades vulcânicas. Conhecimentos recentes, à luz da ciência geológica moderna, permitem explicar muitos dos mitos e das lendas elaboradas pelos povos antigos, como os exemplos que serão apresentados 
 em seguida.

De todos os eventos, sem dúvida o mais conhecido e comentado é o dilúvio bíblico protagonizado por Noé. Sua origem, entretanto, estaria relacionada a uma antiga lenda da Mesopotâmia que descreve as aventuras de Gilgamesh, um herói da região, à procura da eternidade.


Veja completo em: Comciência

Mais interessante é ver que a história do Dilúvio, estudado pela ciência, mostra uma relação direta com o período do holoceno médio e um grande aumento dos níveis do mar, isso há 5 mil anos atrás. Um período que paleogeográfos do quaternário (como eu) chamam de optimum climaticum, que foi uma época em que as temperaturas foram mais altas que na atualidade e que resultou num aumento do nível do mar em escala global.

No Brasil, este aumento do nível do mar foi responsável pelas “rias” que são desembocaduras largas de rios pequenas que chegam nos oceanos. Uma morfologia muito comum no litoral do Nordeste. Este evento ainda foi muito importante no esculpimento de baias em país inteiro, como a própria baia de Guanabara. Veja no gráfico ao lado, as variações no nível do mar no Brasil no últimos 10.000 anos.

Outra coisa interessante é a paleoclimatologia do optimum climaticum, pois este aumento de temperatura proporcionou um avanço da flora de caatinga sobre algumas depressões interplálticas do Brasil Central e Nordeste, vindo a causa a extinção do resto de mega fauna pleistocênica que havia resistido às extinções em massa que houve com a Glaciação Würm Wisconsin, dentre 30 mil até 10 mil anos atrás.

A mega fauna eram animais de grande porte, como Mastodontes (elefantes), Taxodons (tipo de um hipopótamo), Gliptodonte (tatu gigante), Preguiça Gigante, Hippidion (cavalos), Tigre dente de Sabre, entre outros. Todos animais que habitavam o nosso cerrado e se extinguiram por razões climáticas.

Eu tenho um artigo muito interessante sobre estas extinções e os conhecimentos dos paleoambientes do Nordeste brasileiro, focando principalmente o caso da Serra da Capivara, no Piauí, onde estes animais conviveram com o homem pré-histórico, veja na íntegra o artigo publicado na Revista Estudos Geográficos.

 Presas de Mastodonte da Serra da Capivara - PI

Como percebem, gosto muito de fazer relações entre as diversas áreas de conhecimento. Para mim, não foi diferente em minha dissertação de mestrado, onde eu tive que aprender muita coisa de outras ciências, que não geográficas, para conseguir interpretar as origens das paisagens dos planaltos do Sul do Brasil, os planaltos das Araucárias.

Paisagem do domínio dos Planaltos das Araucárias, com florestas e campos subtropicais.

Este meu trabalho foi muito bem recebido, pois foi o primeiro trabalho que integrou conhecimentos geomorfológicos, paleoclimáticos e botânicos, se esforçando em refazer o caminho de evolução da paisagem do tipo comum nos planaltos e principalmente entender aquelas paisagens que destoa este tipo comum, conformando as chamadas paisagens de exceção, como é o caso dos cerrados de Campo Mourão, ou de Jaguariaíva no Paraná, os locais onde ocorrem os cerrados mais setentrionais no Brasil.

Se vocês se animaram em chegar até aqui, quem sabe não se animam em ler a pesquisa na íntegra?

Recentemente o prof. Dr. Adler Viadana, do Depto de Geografia da Unesp de Rio Claro – SP, que muito me influenciou a estudar paleogeografia e em especial a Teoria dos Refúgios Florestais, leu minha dissertação e teceu o seguinte comentário:

Olá Pedro. Acabei de ler a sua dissertação de mestrado e considero a melhor que tive contato até hoje. A proposta foi bastante original e o resgate da paisagem como categoria espacial de análise geográfica está excelente. O texto é convincente e muito bem fundamentado na literatura (por sinal bastante diversificada). Além disto a condução metodológica (via interpretação) revela sua maturidade como pesquisador. As diferentes escalas trabalhadas no tempo e espaço traduzem sua versatilidade como geógrafo. Os mapas e as fotos são muito significativas e o desfecho na direção da interpretação paleogeográfica e a sua evolução (Vila Velha) atesta que você conhece a Teoria dos Refúgios com grande competência. Na minha opinião o seu mestrado é nível de um doutorado. A bibliografia traduz o seu empenho desmensurado na busca de informações e as conclusões são contundentes e o seu trabalho apresenta grande valor social (preservação da natureza). Parabéns Pedro, você merece! Com um grande abraço do Adler.

Fiquei todo faceiro! Agora estou com um projeto de Doutorado que será muito interessante e desta vez, um estudo direto sobre as origens e evolução das montanhas brasileiras. Quem foi que disse que no Brasil não tem montanhas e nem tectonismo? Aguarde!

Ah, você acha que me esqueci de falar sobre a circundesnudação pós cretácica? Já chega né! Vamos deixar para a próxima...

8 de abril de 2010

Com rumos...

Minha vida anda meio sem rumo, acho que por conta disso eu andei trabalhando um monte e coloquei vários roteiros no site Rumos: Navegação em montanhas. Isso se deu não por conta de que eu preciso de um rumo, mas sim pelo fato que, quando a gente tá sem um, ficar na internet à toda acaba sendo inevitável...

Como não gosto de ficar à toa e sempre arranjo algo para enrolar nos estudos (sim, pois estou com projeto de doutorado agora, muito bom, diga-se de passagem!) resolvi dar uma viagem à Ásia Central, local que tenho muita vontade de conhecer (que inveja de vc´s amigos Waldemar Niclevicz, Irivan Burda e Maximo Kaush, que já estiveram por lá).

Vocês podem não imaginar, mas países como o Cazaquistão ( Қазақстан), Turcomenistão (Türkmenistan), Tadjiquistão (tɔd​͡ʒikɪsˈtɔn) e Quirguistão ( Кыргызстан) são berço de várias culturas e etnias. Estes territórios pertenceram a vários impérios e povos, para começar, os Turcos são originais de lá (de onde vc´s acham que veio o nome Turcomenistão?). Estes países passaram pelas mãos dos Turcos, depois dos Persas (iranianos), logo depois dos mongóis e enfim dos russos, no século XIX. Hoje, independentes da União Soviética, estes países sofrem muita influência da China.

Olhando pelo Google Earth, vejo a sobreposição destas culturas. Casas de adobe convivem com construções européias dos russos. Cidades milenares ficam ao lado de cidades planificadas super modernas... Os povos são misturas de todas estas culturas, turcos, eslavos, mongóis... uma loucura! Para finalizar, são eles são tudo isso e ainda são muçulmanos.

Um fato curioso foi minha observação sobre o Tadjiquistão. Este país faz fronteira com o Afeganistão e ali foi o centro das atenções entre a guerra com a União Soviética e este país na década de 1980. Até hoje há tanques de guerra destruídos pelas ruas e estradas do país, que depois de ficar independente, ficou ainda mais dependente de outros países e mais pobre...


 Sucatas deixados pelos russo no Tadjiquistão...

Conversando com o Maximo e com o Irivan, ambos me disseram que por lá se vê muitos edifícios pujantes do governo comunista hoje caindo aos pedaços, como toda a infraestrutura do país. O Irivan disse que o mesmo acontece com o Quirguistão, que ontem sofreu com uma revolta popular que depôs seu presidente.

Placa na fronteira com o Afeganistão!

 O Casaquistão já é um pouco mais distinto. Seu povo não tem nada a ver com o Borat, personagem do Sasha Cohen. Lá há muitas pessoas descendentes dos russos, como é o caso do renomado alpinista Denis Urubko, que está agora no Everest para fazer mais uma de suas loucuras, a travessia entre aquela montanha e o Lhotse. Coisa de casaque! Quem não se lembra do Anatoli Boukreev? Estes países são máquinas de fazer alpinistas loucos!

Aproveito para divulgar um antigo artigo que escrevi falando do montanhismo neste país maluco, o Casaquistão.

Deve ser muito interessante conhecer estes países milenares que ficam no limite entre o Ocidente e o Oriente!

Aproveitem para ver o vídeo que o Maximo fez de sua viagem pelo Tadjiquistão em 2006:


Escalando no Tadjiquistão from Maximo Kausch on Vimeo.

5 de abril de 2010

Repondo as energias em Andradas

 Pedra do Pantano - Andradas

Neste feriado resolvi ir á Andradas, Sul de Minas. Um dos lugares que eu mais gosto de escalar por vários fatores.

Primeiro por que são vias longas, mas não gigantes, ou seja, predomina escalada tradicional que não exige pressa. Segundo que as vias são bem arrojadas, tem uma dificuldade média, precisam de experiência e conhecimento com uso de móveis, exigindo que o escalador pense e não apenas faça força.

Por último, a companhia em Andradas é sempre agradável no Refúgio do Pantano, onde somos sempre bem recebidos pelo Pedro Zeneti "Jacaré", Dani e a dona Nice, além é claro do Tobi, o cachorro malandro da Dani.

Tobi - Foto Eliza Tratz

Desta vez não deu para escalar muito, pois a chuva caiu forte dois dias inteiros e só deu para escalar um pouquinho na sexta. Foi o suficiente para eu poder repor minhas energias e conhecer outra via clássica da região, a Nirvana.

Esta via tem as caracteristicas que eu gosto. Via tradicional de média dificuldade, uso de móvel, alguns esticões, visual lindo e aventura. Ela tem apenas 90 metros de altura, mas tem tudo isso.


Escalando a Mugido e a Urubú - fotos Eliza Tratz

Além de escalar esta via, ainda escalei a laca móvel da Mugido da Vaca louca e a Urubu na Nóia com o Davi Marski. Foi só isso que deu pra fazer antes da chuva cair e acabar com o feriado.

Entretanto, aproveitei a ocasião para testar o repositor hidroelétrolitico Suum. Pra falar verdade, eu que sou filho do homeopata, cresci numa casa onde se come comida vegetariana e integral, sempre tive um pé atrás de produtos como estes, mas com a necessidade fui aprendendo a usa-los e a gostar deles, eis que para mim o Suum foi uma surpresa muito gostosa.

O Suum é uma pastilha que misturamos com água, numa proporção de 1 pastilha para cada 1/2 litro. Uma vez misturado, aquele suco vira um isotônico que não somente mata a sede, como recompõe seus sais e dá um ânimo muito grande. O melhor de tudo, o gosto é muito bom e a pastilha é super pequena, leve e fácil de carregar na mochila.
Achei um produto muito interessante para quem deseja escalar vias longas, debaixo de sol e calor, onde não podemos levar peso e nem mesmo muita água. Com este repositor, a gente mata muito mais a sede e isso ajuda bastante a escalada. Aprovado!

Ainda tenho outros equipamentos para testar, mas assim como o Suum, vou guardar para fazer o uso mais apropriado deles... Aguarde!