Blog do Pedro Hauck: outubro 2015

25 de outubro de 2015

Escalando o Vulcão Copiapó 6050 metros


Com toda a má sorte com o tempo nas últimas semanas, não conseguimos voltar à região onde se concentra a maioria das montanhas com mais de 5 mil metros que queríamos escalar. No entanto, como restavam 3 dias para o Caio Vilela ir embora, decidimos fazer uma “saidera” com ele e a Suzie, que viajaria um dia depois. 

Pesquisando as opções, nos restou a ascensão ao interessante Vulcão Copiapó, que tem mais de 6 mil metros e é uma montanha bastante conhecida regionalmente, embora de acordo com os dados de Rodrigo Granzotto Perón, apenas o Waldemar Niclevicz havia escalado, no ano de 1989.

O Copiapó geralmente é escalado pelo lado leste, através de um vale que se alcança pela Laguna Negro Francisco. No entanto, no lado oposto há uma mineração abandonada e por lá se chega mais alto de carro 4x4, 5200 metros de altitude, o que tornaria a ascensão muito mais fácil. Foi para lá que fomos.

Subimos novamente a estrada CH31 e tomamos o desvio na quebrada de Paipote até alcançar um cruzamento desta estrada com um caminho estreito num vale bonito com vegetação. Estávamos em dois carros, a Discovery 2 e o Troller do Jovani. Neste momento é sempre bom ter um jipe preparado. Com pneus Mud enorme, bloqueio de diferencial 100%, Jovani foi na frente, mas nos primeiros 25 km de trilha não tivemos muitos problemas.

Num determinado momento passamos na frente do acampamento mineiro do Projeto “Andina Minerals Chile”. Lá havia vários contêineres, mas algumas barracas enormes rasgadas ao vento dava a cara de que o local estava abandonado. Menos de 1 km depois fizemos uma curva e a estrada que cortava uma vertente montanhosa estava totalmente destruída com um trecho de 200 metros de valeta profunda ocasionada pelas chuvas de Março. 

Ao ver aquele voçoroca na hora eu pensei que estaríamos fu... Mais uma peça do clima nesta viagem. Desta vez com céu azul e previsão de pouco vento para os próximos dias. No entanto se não é o tempo atmosférico é o tempo cronológico. Não teríamos como escalar dando a volta na montanha e regressar a tempo do Caio pegar o seu voo.

Mas como somos muito persistentes, pegamos uma pá e uma enxada e começamos a construir nosso caminho. Primeiro jogando pedras e areia em cima, transformamos uma vala de 1 metros de profundidade num pequeno buraco. Depois fomos destruindo a parede da voçoroca maior e conseguimos fazer uma rampa para entrar dentro do buraco. Alargamos a voçoroca e no final fizemos uma saída calçada com pedras para a Discovery, que não tem bloqueio de diferencial poder passar e assim conseguimos contornar o problema.

Conseguimos dirigir por mais uns 10 quilômetros. A estrada estava muito ruim, totalmente abandonada. As águas da última chuva lavaram a superfície e ficou apenas buracos e pedras grandes, era necessário ligar a reduzida e ir devagarinho, fazendo os pneus encaixarem nas valetas e ir vencendo pedra por pedra.

Ao chegar na altitude de 4300 metros, no entanto, o problema deixou de ser as pedras e virou o gelo, até não dar mais para passar. Num local de vale estreito, a neve acumulou-se cerca de 1 metro e ali nem com bloqueio dava para passar. O Jovani que foi provar seu jipe atolou e teve que sair com o guincho. Acabou que tivemos que acampar ali mesmo, usando a terraplanagem da estrada abandonada para colocar as barracas.

Mas continuávamos com o problema do voo do Caio. Era quarta feira e o voo dele era sexta à noite. O que fazer? Bom, vamos arriscar. No dia seguinte iriamos aproximar mais 7.5 km até um local mais alto e sexta faríamos cume bem cedo para estar nos carros ao meio dia para dar tempo dele não perder o voo. Arriscado? Sim, mas não impossível. Fomos dormir tranquilos, numa noite linda sabendo que não no outro, mas no próximo dia a saideira iria ser paulera.

No dia seguinte, acordamos sem pressa. Já havíamos desmontando duas barracas e o Maximo demorava para acordar. Ele fez isso mais tarde, e saiu silencioso e mal encarado. O que houve? Ficamos sem graça enquanto ele saiu caminhar e ficamos se entender? O que eu fiz?

Mais tarde ele volta e nos diz que estava com dores nas costas. O trabalho na construção da estrada foi pesado para o problema que ele tem nas costas de tanto escalar e carregar peso. Mas ele nos tranquilizou e pediu para que fossemos na frente, não discutimos e fizemos o que ele pediu.

No caminho ficamos conversando. Com a estrada impedida pelo gelo e o problema nas costas, talvez tudo isso fossem problemas acumulados para que algo pior acontecesse. Não digo em acidentes na montanha, mas em atraso que pudesse fazer o Caio perder o voo. E ele perder o voo significaria perder um trabalho, o que não seria nada legal. Estávamos preocupados. Com a Suzie cogitamos em desistir e retornar para Copiapó para ele se recuperar. Seria frustrante tendo em vista que perderíamos tempo bom depois de tanta tempestade e uma montanha a menos.

No entanto, antes que decidíssemos o que fazer, Maximo nos alcança e depois nos passa com sua cargueira. Ele tomou anti inflamatório, não estava 100%, mas queria seguir. Acabamos indo.

Num certo momento a estrada mineira, que estava coberta de neve, acaba. Lá tomamos um vale estreito, uma verdadeira canaleta nevada, por onde subimos até um platô. Foi uma subida difícil, pois em vários locais a neve estava congelada e escorregadia. Tivemos muito cuidado e levamos bastante tempo. Lá saímos a 5200 metros de altitude, onde se reuniu eu, Max e Jovani, na espera de Suzie e Caio.

Ficamos lá bastante tempo, o suficiente para passar frio. Caio demorou bastante e ao chegar expos seu medo em descer pela canaleta nevada e o fato de estar muito lento não conseguir regressar a tempo no dia seguinte. Eu já havia percebido isso também achei que estes fatos pudessem comprometer seu retorno. Ele cogitou em descer naquele dia até o Conway e dormir dentro do carro, mas também não seria legal ele ser deixado para trás. Acabamos discutindo e achamos melhor ele dormir com a gente naquele local e bem cedo, enquanto escalássemos a montanha, ele começasse a descer lentamente para chegar antes de nós.

Passamos uma noite apertada, com 3 numa barraca de 2 pessoas e o Jovani e o Caio na outra, que é para 2, mas não é tão grande. Cozinhamos o que conseguimos levar para o alto e fomos dormir tranquilos, numa noite sem vento e lua crescente iluminando a montanha. 

Despertamos um pouco mais tarde, às 3 da manhã para empreender a subida e já começo a fica bravo pois levantei para a ver a lua se pôr e nos deixar na escuridão. Parece lei de Murphy, nada é fácil para nós!

Começamos a caminhar as 4:20 da manhã. No acampamento não fazia frio, mas ao chegar aos 5500 metros começou a ventar e a congelar tudo. Jovani vinha bem, acompanhando sem problemas, mas ao chegar nesta altitude ele começou a perder o ritmo e parar bastante. Se não fosse esta corrida contra o tempo, teria insistido mais para ele continuar, mas ele mesmo achou melhor descer e assim fez.

Quando ele desistiu, apertei o passo para alcançar o Maximo e a Suzie que estavam na minha frente, no entanto o caminho era muito ruim. Toda a encosta do Vulcão Copiapó era composta de “acarreos” que são rochas soltas que deslizam quando você pisa em cima. É um passo para cima e dois para baixo. Nada agradável quando você está cansado e na altitude e pior, o vento começou a castigar de verdade, me açoitando com rajadas geladas.

Buscando pedras maiores fui vencendo o trecho de acarreo, indo o mais rápido possível. Já havia estourado em uma hora o tempo previsto para chegar ao cume e isso me preocupava. Seria mais prudente desistir, mesmo tão perto? Minha resposta foi ir mais rápido, mas ao invés de chegar no cume, cheguei no falso cume, onde despontava o maior, que era um espigão depois de uma crista afiada onde eu podia ver o Maximo e a Suzie.

Cruzei esta crista com muita dificuldade, passando inclusive por uma ruina inca com madeira afundada na neve, que meus parceiros nem viram, mas que nem tirei foto devido ao cansaço, a ânsia de acabar logo e o frio absurdo.

Encontrei meus parceiros quase no topo, eles estavam descendo pois não conseguiam mais aguentar o forte vento e o frio. Acabei fazendo os últimos metros sozinho, parando para admirar outra ruína inca enorme e sacar umas fotos no cume. Não deu para deixar as cinzas do Parofes por causa do frio extremo e por conta disso também não consegui tirar a bandana da boca, pois minha respiração congelou minha barba no tecido e ela ficou grudada.

A preocupação pelo voo do Caio não cessou, mas por sorte havia uma rota de descida pelo meio do acarreo e consegui perder uns 600 metros em menos de meia hora. Pelo menos para isso o acarreo é bom. Com esta avanço cheguei no acampamento a tempo apenas de socar tudo na mochila e começar a descer junto com o Maximo e a Suzie.

No entanto havia a preocupação pela canaleta de gelo. Eu emprestara meu crampon para o Caio, o Jovani já havia descido com o seu. A angustia pela demora e o medo me deu calafrios, mas safo descobri um caminho por uma encosta inclinada de acarreo e conseguimos descer por ali evitando o trecho perigoso e ganhando mais tempo ainda. Teríamos 2 horas para caminhar o restante dos 6 km a pé e a viagem do Caio estaria salva.

Nestes últimos quilômetros acabei ficando para trás, pois o Maximo e a Suzie caminham muito mais rápido, mas como previsto cheguei pontualmente ao meio dia nos carros. Só que apenas o Conway estava ali. No dia anterior falei para o Jovani sair antes se ele chegasse antes nos carros para garantir o voo do Caio. Mas não pensei o quão perigoso seria atravessar aquela estrada sozinho, mas sem opção foi o que fizemos, atravessando todas as barreiras com cuidado e precisão e chegando na estrada principal as 2 da tarde.

Ali eu acelerei e quase chegando em Copiapó encontro o Troller do Jovani a tempo de comer um sanduiche e tomar banho antes de levar o Caio ao aeroporto. Odeio fazer as coisas com pressa, mas desta vez a missão foi completa e tudo acabou bem. Ou melhor quase tudo...

O voo do Caio havia sido alterado. Pagamos 200 dólares por isso, mas a empresa aérea cometeu um erro e não emitiu o novo e-ticket. No aeroporto de Copiapó a empresa entendeu o erro e deixou ele embarcar, mas em Santiago não e ele teve que pagar pela transferência de voo duas vezes para chegar em casa. Não faltam perrengues nesta viagem.

:: Continua

Chegando na erosão. Foto de Caio Vilela.  

Avaliando a erosão. Foto de Caio Vilela.  

Trabalhando na construção da estrada.Foto de Caio Vilela.  

Passando o Troller. Foto de Caio Vilela.  

Passando a Discovery. Foto de Caio Vilela.  

Neve na estrada.Foto de Caio Vilela.  

Fim de tarde. Foto de Caio Vilela.  

Fim de linha. Foto de Caio Vilela.  

Acampamento na estrada. Foto de Caio Vilela.  
Aproximação ao campo alto do Copiapó. Foto de Caio Vilela.  

Vulcão Copiapó e a canaleta de gelo. Foto de Caio Vilela.  

Chegando perto da canaleta de neve. Foto de Caio Vilela.  
Acampamento alto do Copiapó.

Vulcão Copiapó desde o campo alto.

Vista para a região dos 3 Cruces desde o topo do Copiapó após o amanhecer. 

Sub cume do Copiapó e o cume principal. A trilha que se vê com neve une duas ruínas incas.

Cume do Copiapó.

Vista do cume para a ruina (quadrado com neve). No horizonte se vê a Laguna Santa Rosa.

Auto retrato no cume.

Parofito no cume.
:: Continua

21 de outubro de 2015

Perrengue 4x4 na Puna do Atacama (desta vez com neve, vento e lama)


Após o Jovani consertar seu jipe e fazermos um remendo no vidro quebrado do meu, voltamos eu, Maximo, Suzie, Jovani e Caio Vilela para a Puna, sabendo que precisaríamos de paciência para vencer uma tempestade e só depois poder retornar à montanha.

Novamente nos hospedamos no refúgio Santa Rosa e lá vimos o tempo virar e o deserto virar uma tundra. De olho na previsão vimos que segunda o dia abriria, mas haveria vento e apenas levando a previsão em consideração saímos de nosso abrigo para as montanhas ignorando que havia neve no caminho e muito vento. Pagamos caro pela falta de paciência.

O forte vento carregava a neve recém caída, formando o fenômeno de vento branco, quando você não distingue nem o chão e nem o céu. Dirigimos à escura, ou melhor às claras com este vento e foi assim que fiquei atolado no meu primeiro banco de neve. Sorte que estávamos em dois carros e fui rebocado pelo Troller do Jovani.



Continuamos a saga, saindo da estrada que liga a Laguna Santa Rosa até a Aduana de Maricunga e dirigindo pela lateral, onde havia menos neve. Assim conseguimos chegar na estrada internacional e abrir pegadas no meio da neve.

Em Maricunga tudo fechado. Claro que o passo internacional também. Ali minha barriga gelava. Sabia não era uma sabia decisão continuar. Tudo estava nevado e o vento era implacável, mas continuamos, pegando a estrada rumo a La Ola para ali entrar no canyon rumo às lagunas de Jilgero e as montanhas de 5 mil remotas.

A estrada para La Ola já tinha alguma neve derretida e o caminho virou um lamaçal. O barro espirrava no para brisa e depois endurecia, foi uma questão de tempo para perder toda a visão e perceber que meu parachoque dianteiro estava quebrado. Com o carro abrindo caminho na neve ele acabou quebrando. Mais preju...

Entramosna estrada que dá acesso ao vale do Juncalito e quando o caminho vira uma trilha 4x4 os problemas apareceram. Numa subida mais íngreme não consegui avançar, pois o carro patinava no gelo compactado. Perdia a traseira e fui mais cauteloso, pois escorregar poderia resultar num acidente, fazendo o Conway ir parar no meio do rio gelado. Fui novamente rebocado, desta vez com o guincho do Jovani.

Mais em frente chegamos na cachoeira onde a água sobe e ee sobe é por causa do vento. O local era um funil e ali é que o Maximo queria acampar. Impossível, nossas barracas não aguentariam, ficariam molhadas com a água da cachoeira e passaríamos uma noite do cão. Ele decidiu tentar avançar.

Cruzarmos o rio duas vezes, uma delas com o Jovani tendo que romper o caminho com neve, mas novamente fiquei numa subida mais íngreme. Eu estava com muito medo de continuar, pois o carro já havia quebrado o para choque, o óleo da transmissão começara a esquentar e o jipe do Jovani esguichava água do radiador, mostrando que o reparo não dera certo. Fora isso não sabíamos se haveria um bom local para acampar. O que poderíamos fazer?

Sim, acabamos voltando e decidimos que não voltaríamos no vale com aquela neve. Nos restara tentar escalar outra montanha, pois sexta o Caio teria que voar para o Brasil e o tempo estava acabando. Decidimos retornar à Laguna Santa Rosa.

O caminho, no entanto, mostrava que a missão não era tão fácil assim. Num certo momento exagerei na velocidade e perdi a traseira do Conway na lama. Se estivesse mais rápido poderia capotar...
Foi logo após este susto que o Maximo viu que havia ruínas incas ali perto, apenas atravessando uma pampa off road. Decidimos checar.

No entanto não era mesmo o meu dia e após andar poucos quilômetros o óleo da transmissão esquentou de novo. Maximo e Jovani foram na frente para checar as ruínas e eu fiquei esperando que o óleo esfriasse, mas não foi assim tão rápido e para piorar perdemos o contato com o rádio. O óleo demorou mais de 30 minutos para esfriar e passei por um momento angustiante, pois isso não era normal e temia problemas maiores.

Por sorte eles apareceram e a luz do óleo apagou, saímos do meio do nada e voltamos à estrada, onde a situação do óleo piorou. O chão era pura barro e isso forçava demais o carro. Cheguei a ser rebocado pelo jipe do Jovani, mas ele forçava demais e perdia mais água do radiador. Houve um momento em que acabou o diesel do carro dele e depois para ligar o carro foi outro parto, tudo isso com o sol se pondo e o frio começando a rachar.

Sem poder esperar mais, andei mais alguns quilômetros a noite com o óleo quente e assim chegamos na Aduana de Maricunga, onde pedimos licença e fizemos noite emergencial. O Maximo não parava de reclamar, pois ele não gostava daquele local. Más lembranças de perrengues causadas pelas autoridades.

À noite, fui buscar uma coisa no carro e uma rajada de vento terminou por entortar ainda mais minha porta, a ponto dela não fechar mais. Fiquei desesperado, mas dando uma porrada o Jovani conseguiu dar um jeito, mas ela não abria mais.

Foi angustiante acordar em Maricunga com o vento, ver que não havia energia porque o vento carregou uma placa de transito que destruiu um poste com transformador. O carro pelo menos pegou rápido, mas seu estado era lastimável. Que dó do Conway.

No entanto foi ótimo poder sair dali, mas a angustia voltou quando a luz do óleo voltou a ascender depois de pouco tempo. _ É barro no radiador. Dizia o mecânico Jovani.

Só havia um jeito de consertar: Descer até Copiapó e lavar o carro. Aproveitaríamos e também faríamos um conserto melhor no jipe do Jovani. Uma sabia decisão finalmente.

E a descida foi bem tranquilo. Numa estrada melhor, os carros andaram muito bem e chegamos em Copiapó sem percalços a tempo de arrumar tudo e matar a saudade de quem está longe. No meu caso a Maria é claro.

A Puna seca a mente, destrói nossos carros. Estamos pegando um perrengue após o outro e escalar que é bom.... Este é pior ano para escalar aqui. Há 3 anos o Max veio aqui nesta mesma época e escalou 30 montanhas em 2 meses. Estou aqui há 2 meses e até agora somente 7. 


Hoje vamos retornar ao plano de escalar o vulcão Copiapó. Subiremos até uma mina abandonada e de lá atacaremos o cume. Será a saidera pro Caio e pra Suzie. Em breve retornaremos, espero que com boas notícias.

:: Continua...

Dirigndo com vento branco

Abrindo caminho na estrada principal nevada. Foto Caio Vilela

Chegando no vale, mais perrengue. Foto Caio Vilela

Vazamento de água do radiador? Foto Caio Vilela

Decidindo o futuro. Foto Caio Vilela

Atolado na neve

Atolado na neve: Foto Caio Vilela


Usando o guincho. Foto Caio Vilela

Sendo rebocado para não aquecer o óleo de transmissão. Foto Caio Vilela

Vicunhas. Foto Caio Vilela

Muita lama. 

19 de outubro de 2015

De volta à Puna: Ascensão à Sierra de Aliste e perrengue com o vento

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Após uma longa e angustiante espera, enfim conseguimosencontrar o Jovani e assim voltar ao meio do nada para escalar. Na primeira vez, passamos um grande perrengue por estarmos sozinhos. Tivemos medo de ter problema com o pneu e quase ficamos sem combustível. Por isso sabíamos que só daria para voltar lá com dois carros.

E com dois carros foi bem mais tranquilo, nem parecia o mesmo local. Onde antes eu estava com muito medo e cautela, na segunda vez, com dois carros, fizemos brincando, com o Caio fazendo ótimas fotos e o Jovani literalmente brincando. Com um Troller todo equipado e com uns pneus Mud gigantes, pra ele era diversão passar pelos rios e subir as dunas de areia. Claro que o clima de distração tomou conta e ficamos muito mais leves e tranquilos, além de confiantes.

Percorremos metade do caminho que fizemos para escalar as montanhas da primeira ocasião que estivemos ali. No caminho ainda demos uma sondada e achamos prováveis tambos incaicos e fomos acampar à 4600 metros de altitude na base de uma montanha bastante proeminente, a Sierra de Aliste. Fizemos uma pesquisa perguntando à nossos amigos locais, mas nada soubemos sobre ascensões a esta montanha, bom motivo para tentar escalar ela.

Encontramos algumas pegadas de pneu na montanha, mas nenhum sinal de acampamento. Acabamos montando o nosso em um vale aparentemente protegido do vento e ainda estacionamos o carro em “L” para dar mais segurança. Aplainamos 3 plataformas onde montamos as barracas e tivemos uma noite confortável, com ventos em rajadas, mas calmaria na maior parte do tempo.

Acordamos com o sol batendo em nossas caras e tomamos um café da manhã abundante e tranquilo, para sair somente as 9 da manhã para caminhar, com exceção do Maximo que ficou arrumando as coisas e limpando as panelas. Tudo bem, ele anda super rápido e iria nos alcançar.

Como foi nas outras vezes, a Suzie disparou na frente. Ele é muito forte! Eu fiquei para trás com o Jovani e o Caio, que estavam fazendo a primeira montanha deles nesta viagem. Foi uma ascensão sem percalços, mas embora o dia estivesse ensolarado, as nuvens no céu indicavam entrada de frente e foi apenas deixar a face leste da montanha e montar num filo que levava ao cume que fomos açoitados pelo vento impiedoso que vinha do Oeste.

No cume nos reunimos para observar o Maximo que ascendeu por uma canaleta, fazendo uma rota diferente que batia diretamente ao cume pelo gelo (e penitentes). Tiramos muitas fotos e ainda pude jogar um pouco das cinzas do Parofes. Já nem sei mais quantas montanhas ele ficou!

Na descida a Suzie novamente disparou na frente. Fiquei com o Jovani enquanto que o Maximo e o Caio fizeram um caminho diferente. Quase chegando ao acampamento avisto a Suzie desesperada me chamando e quando percebo duas barracas não estavam mais lá.

Uma rajada de vento destruiu uma barraca e tirou outra do chão com tudo dentro. A terceira barraca, que era uma legendária Trango 2, teve as varetas avariadas. Passamos um sufoco para enfiar tudo no carro no meio do vendaval. Era necessário uma pessoa para colocar as coisas dentro e outra para segurara a porta. Mesmo assim, o vento entortou minha porta.

Após ter a tarefa de “arrumar” o carro para sair, dei a partida no Conway. Seu termômetro marcava -2 graus, o que é quente para aquele local. Entretanto o Jovani não teve a mesma sorte que eu. Após dar a partida e começar a esquentar o motor, saio do carro e vejo o Jovani mexer no capô e dar a notícia que seu carro estava todo congelado.

Vou avaliar o motor e percebo uma peça rachada. Vejo também um gelo de cor azul no chão. Ele estava usando o mesmo aditivo que eu estava usando no Conway durante a escalada do Famatina. Com o congelamento do aditivo anti congelante, a água se expandiu no radiador de óleo e na válvula do termostato e trincou estas peças. Só haveria uma solução para sairmos dali: Rebocando o carro.

Rebocar um carro de 3 toneladas no meio do deserto, subindo rampas de areia, atravessando rios e planaltos pedregosos não é da ação mais fácil e saudável para um carro. Mas estávamos em dois carros exatamente por isso. Deixar um carro ali poderia significar perder ele. Foi o que quase aconteceu com a Marion Brown, que deixou um jipe na base de uma montanha isolada como o Aliste e só foi rever ele 6 meses depois, com todos os vidros quebrados e a pintura polida por causa do vento que carrega pedra e areia.

Acabei guinchado o Troller do Jovani e em pouco tempo chegamos na estrada mineira, onde foi surpreendido por uma forte rajada de vento. Ouvimos um barulho e quando fomos ver, um vidro do carro havia sido quebrado por uma pedra transportada pelo vento. Imagina isso te pegando sem carro?

Com o carro avariado e outro morto, tivemos a percepção que deveríamos sair dali. A frente fria havia entrado e o vento era impossível. Por sorte o Conway, meu carro, foi valente e consegui rebocar o Troller por todo o caminho 4x4, inclusive subindo rampas de areia com ele.

Foi um alivio chegar na estrada (que é de terra), mas dali até Copiapó teríamos mais 240 km de reboque, que não foi nada fácil e nem rápido. A estrada internacional é muito ruim, com muitas curvas e zig zags. Tivemos que parar porque o freio do Troller aqueceu, mas depois de umas 6 horas e epopeia chegamos em Copiapó, onde nos hospedamos no mesmo hotel de Março deste ano, quando houve uma enchente catastrófica por lá.

Este lugar é muito selvagem e perigoso. O jipe do Jovani que é um monstro acabou sendo avariado. Rachou a válvula termostática e o radiador do óleo. Tive um vidro quebrado pelo vento e uma barraca totalmente destruída, mas exploração é assim mesmo: Perdas e danos.

:: Continua

Troller do Jovani. Foto Caio Villela.

Cachoeira do rio Juncalito. Foto Caio Villela.

Começo da travessia do rio. Foto Caio Villela.

Valle de Juncalito. Foto Caio Villela.

Agora a estrada é o rio. Foto Caio Villela.

A estrada é o rio. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito.

Subindo o Canyon do Juncalito.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Encontrando provaveis tambos. Foto Caio Villela.

Acampamento a 4600 metros. Foto Caio Villela.
Acampamento a 4600 metros. Foto Caio Villela.

Café da manhã na barraca. Foto Caio Villela.
Subida à Sierra de Aliste. Foto Caio Villela. 
Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Se protegendo do vento no cume. Foto Caio Villela.

Maximo e sua rota direta. Foto Caio Villela.

Cume na Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Deixando as cinzas de Parofes. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Maximo chegando ao cume da Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Caio Villela no cume da Sierra de Aliste.

Água do radiador congelada. Foto Caio Villela.

Aditivo anti congelante congelado. Foto Caio Villela.

Rebocando o Troller. Foto Caio Villela.

Rebocando o Troller. Foto Caio Villela.

Força do vento levantando água de cachoeira. Foto Caio Villela.

Força do vento que quebrou meu vidro.
:: Continua