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Após escalar dois 5 mil num único dia estávamos cansados suficiente para dormir bem, mesmo que isso fosse a 4500 metros de altitude no meio do deserto. Por sorte, mesmo alto, não ventou e pudemos recuperar as energias para o dia seguinte que prometia ser cheio.
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Após escalar dois 5 mil num único dia estávamos cansados suficiente para dormir bem, mesmo que isso fosse a 4500 metros de altitude no meio do deserto. Por sorte, mesmo alto, não ventou e pudemos recuperar as energias para o dia seguinte que prometia ser cheio.
Despertamos e após um rápido café da manhã desmontamos tudo e deixamos nossas bagagens no meio do deserto para com o Conway aproximar de mais um vulcão com mais de 5 mil metros, o El Morado.
O Objetivo do dia era escalar este vulcão, que fica logo ao sul do Lomas Coloradas e depois aproximar até um local mais alto no Vulcão Sierra Nevada, que tem 6137 metros de altitude e foi a última montanha de 6 mil metros a ser escalada (mas isso é história para depois).
Como era de manhã, demorou mais para o Conway dar a partida por causa do frio, mas logo já estávamos abrindo caminho no meio do deserto para chegar até a base do vulcão, num lugar com bastante rocha solta.
A subida foi bem tranquila. Pendente relativamente suave, sem muito sedimento solto e um vento normal de uns 50 km/h nas costas. Novamente Maximo e Suzie foram na frente e fui o último a chegar no cume e pela primeira vez nestas montanhas desconhecidas que estamos escalamos não havia absolutamente nada lá em cima.
Como foram somente 700 metros, a descida foi igualmente tranquila, mas essa tranquilidade não era o que estava no semblante no Maximo. Ao chegar antes no carro e aquece-lo, ele percebeu que tínhamos pouco combustível, apenas ¼ do tanque.
Animei ele dizendo que era ¼ de um tanque de quase 100 litros. No entanto, depois de passarmos para carregar o Conway com nossos equipamentos, percebi que o ponteiro estava diminuindo muito rápido.
Mesmo com tanque grande, o consumo de diesel na altitude e no meio dos areais é grande e por isso, mesmo com cerca de 500 km rodados (a maioria em 4x4) o tanque estava no final.
Antes da possível entrada para o Sierra Nevada, a luz do nível do combustível acendeu e fiquei muito preocupado se seria possível sair daquele meio de nada, que quer queira ou não eram mais de 100km puro off road. Decidimos voltar e deixar as outras montanhas pra depois.
Não foi nada fácil dirigir de volta à civilização, passando por desertos, salares, punas, vales com rios, areia e lama. Mas deu para chegar à estrada, que é de terra e assim estar num meio de nada mais seguro.
Após uma parada para inflar os pneus que estavam murcho para andar na areia, passamos na frente de uma mineradora e vimos pessoas trabalhando. Achamos que seria nossa solução, mas eles não venderam diesel para a gente. A angustia aumentou ao saber que o posto de gasolina mais perto era em El Salvador, 120 km dali. Pois é, o cara não vendeu combustível e ainda falou que teríamos que andar tudo isso com a luz da reserva ligada há mais de 3 horas!
E assim começou nossa odisseia. Primeiramente atravessando um salar, que depois virou uma ascensão numa encosta que deu arrepio. Tínhamos que descer mais de 2 mil metros para uma cidade e no meio do caminho ainda tinha que subir montanhas? E olha que foi uma subida em zig zag que deixa qualquer Serra do Rio do Rastro no Chinelo. E o ponteiro de combustível no negativo...
Enfim, depois da subida tinha que ter uma descida e isso nos aliviou. Aliviou mais quando vimos uma placa que dizia a distância até o próximo posto de gasolina: El Salvador 50km. Isso significaria que teríamos que dirigir tudo isso com combustível no cheiro. Pra isso serve a marcha neutra, a famosa banguela! Fomos descendo na banguela por vários quilômetros, aproveitando que estamos nos Andes e as cidades são lá embaixo.
Num dado momento vimos uma mineradora grande na esquerda, com uma cidade em volta, era um lugar chamado Potrerillos. Depois dali apareceram carros na estrada e caminhões. Para nosso desespero, após uma descida veio uma subida interminável e para piorar os caminhões lentos começaram a impedir nosso progresso. Estávamos atrás de um bem grande e lento quase no último trecho da subida quando o carro começou a tossir, no entanto, no embalo, passamos o cume da estrada e começamos a descer na banguela novamente até chegar em El Salvador e poder abastecer. Foi épico!
Depois dali cruzamos o deserto do Atacama e viemos parar em Copiapó, onde no começo do ano pegamos a maior enchente do Chile dos últimos anos. Foi a decisão mais acertada ter abortado o Sierra Nevada e ter voltado. Não conseguiríamos chegar se tivéssemos um litro de diesel a menos.
Mais uma história de perrengue na Puna do Atacama.
Conway estacionado na frente do vulcão El Morado. |
Subindo o El Morado com o Lomas Coloradas ao fundo. |
Subindo o vulcão El Morado. |
Vista do Sierra Nevada do Cume do El Morado. |
Auto retrato no cume do El Morado. |