Após o Jovani consertar seu jipe e fazermos um remendo no vidro quebrado do meu, voltamos eu, Maximo, Suzie, Jovani e Caio Vilela para a Puna, sabendo que precisaríamos de paciência para vencer uma tempestade e só depois poder retornar à montanha.
Novamente nos hospedamos no refúgio Santa Rosa e lá vimos o tempo virar e o deserto virar uma tundra. De olho na previsão vimos que segunda o dia abriria, mas haveria vento e apenas levando a previsão em consideração saímos de nosso abrigo para as montanhas ignorando que havia neve no caminho e muito vento. Pagamos caro pela falta de paciência.
O forte vento carregava a neve recém caída, formando o fenômeno de vento branco, quando você não distingue nem o chão e nem o céu. Dirigimos à escura, ou melhor às claras com este vento e foi assim que fiquei atolado no meu primeiro banco de neve. Sorte que estávamos em dois carros e fui rebocado pelo Troller do Jovani.
Continuamos a saga, saindo da estrada que liga a Laguna Santa Rosa até a Aduana de Maricunga e dirigindo pela lateral, onde havia menos neve. Assim conseguimos chegar na estrada internacional e abrir pegadas no meio da neve.
Em Maricunga tudo fechado. Claro que o passo internacional também. Ali minha barriga gelava. Sabia não era uma sabia decisão continuar. Tudo estava nevado e o vento era implacável, mas continuamos, pegando a estrada rumo a La Ola para ali entrar no canyon rumo às lagunas de Jilgero e as montanhas de 5 mil remotas.
A estrada para La Ola já tinha alguma neve derretida e o caminho virou um lamaçal. O barro espirrava no para brisa e depois endurecia, foi uma questão de tempo para perder toda a visão e perceber que meu parachoque dianteiro estava quebrado. Com o carro abrindo caminho na neve ele acabou quebrando. Mais preju...
Entramosna estrada que dá acesso ao vale do Juncalito e quando o caminho vira uma trilha 4x4 os problemas apareceram. Numa subida mais íngreme não consegui avançar, pois o carro patinava no gelo compactado. Perdia a traseira e fui mais cauteloso, pois escorregar poderia resultar num acidente, fazendo o Conway ir parar no meio do rio gelado. Fui novamente rebocado, desta vez com o guincho do Jovani.
Mais em frente chegamos na cachoeira onde a água sobe e ee sobe é por causa do vento. O local era um funil e ali é que o Maximo queria acampar. Impossível, nossas barracas não aguentariam, ficariam molhadas com a água da cachoeira e passaríamos uma noite do cão. Ele decidiu tentar avançar.
Cruzarmos o rio duas vezes, uma delas com o Jovani tendo que romper o caminho com neve, mas novamente fiquei numa subida mais íngreme. Eu estava com muito medo de continuar, pois o carro já havia quebrado o para choque, o óleo da transmissão começara a esquentar e o jipe do Jovani esguichava água do radiador, mostrando que o reparo não dera certo. Fora isso não sabíamos se haveria um bom local para acampar. O que poderíamos fazer?
Sim, acabamos voltando e decidimos que não voltaríamos no vale com aquela neve. Nos restara tentar escalar outra montanha, pois sexta o Caio teria que voar para o Brasil e o tempo estava acabando. Decidimos retornar à Laguna Santa Rosa.
O caminho, no entanto, mostrava que a missão não era tão fácil assim. Num certo momento exagerei na velocidade e perdi a traseira do Conway na lama. Se estivesse mais rápido poderia capotar...
Foi logo após este susto que o Maximo viu que havia ruínas incas ali perto, apenas atravessando uma pampa off road. Decidimos checar.
No entanto não era mesmo o meu dia e após andar poucos quilômetros o óleo da transmissão esquentou de novo. Maximo e Jovani foram na frente para checar as ruínas e eu fiquei esperando que o óleo esfriasse, mas não foi assim tão rápido e para piorar perdemos o contato com o rádio. O óleo demorou mais de 30 minutos para esfriar e passei por um momento angustiante, pois isso não era normal e temia problemas maiores.
Por sorte eles apareceram e a luz do óleo apagou, saímos do meio do nada e voltamos à estrada, onde a situação do óleo piorou. O chão era pura barro e isso forçava demais o carro. Cheguei a ser rebocado pelo jipe do Jovani, mas ele forçava demais e perdia mais água do radiador. Houve um momento em que acabou o diesel do carro dele e depois para ligar o carro foi outro parto, tudo isso com o sol se pondo e o frio começando a rachar.
Sem poder esperar mais, andei mais alguns quilômetros a noite com o óleo quente e assim chegamos na Aduana de Maricunga, onde pedimos licença e fizemos noite emergencial. O Maximo não parava de reclamar, pois ele não gostava daquele local. Más lembranças de perrengues causadas pelas autoridades.
À noite, fui buscar uma coisa no carro e uma rajada de vento terminou por entortar ainda mais minha porta, a ponto dela não fechar mais. Fiquei desesperado, mas dando uma porrada o Jovani conseguiu dar um jeito, mas ela não abria mais.
Foi angustiante acordar em Maricunga com o vento, ver que não havia energia porque o vento carregou uma placa de transito que destruiu um poste com transformador. O carro pelo menos pegou rápido, mas seu estado era lastimável. Que dó do Conway.
No entanto foi ótimo poder sair dali, mas a angustia voltou quando a luz do óleo voltou a ascender depois de pouco tempo. _ É barro no radiador. Dizia o mecânico Jovani.
Só havia um jeito de consertar: Descer até Copiapó e lavar o carro. Aproveitaríamos e também faríamos um conserto melhor no jipe do Jovani. Uma sabia decisão finalmente.
E a descida foi bem tranquilo. Numa estrada melhor, os carros andaram muito bem e chegamos em Copiapó sem percalços a tempo de arrumar tudo e matar a saudade de quem está longe. No meu caso a Maria é claro.
A Puna seca a mente, destrói nossos carros. Estamos pegando um perrengue após o outro e escalar que é bom.... Este é pior ano para escalar aqui. Há 3 anos o Max veio aqui nesta mesma época e escalou 30 montanhas em 2 meses. Estou aqui há 2 meses e até agora somente 7.
Hoje vamos retornar ao plano de escalar o vulcão Copiapó. Subiremos até uma mina abandonada e de lá atacaremos o cume. Será a saidera pro Caio e pra Suzie. Em breve retornaremos, espero que com boas notícias.
:: Continua...
:: Continua...
Dirigndo com vento branco |
Abrindo caminho na estrada principal nevada. Foto Caio Vilela |
Chegando no vale, mais perrengue. Foto Caio Vilela |
Vazamento de água do radiador? Foto Caio Vilela |
Decidindo o futuro. Foto Caio Vilela |
Atolado na neve |
Atolado na neve: Foto Caio Vilela |
Usando o guincho. Foto Caio Vilela |
Sendo rebocado para não aquecer o óleo de transmissão. Foto Caio Vilela |
Vicunhas. Foto Caio Vilela |
Muita lama. |