Blog do Pedro Hauck: De volta à Puna: Ascensão à Sierra de Aliste e perrengue com o vento

19 de outubro de 2015

De volta à Puna: Ascensão à Sierra de Aliste e perrengue com o vento

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Após uma longa e angustiante espera, enfim conseguimosencontrar o Jovani e assim voltar ao meio do nada para escalar. Na primeira vez, passamos um grande perrengue por estarmos sozinhos. Tivemos medo de ter problema com o pneu e quase ficamos sem combustível. Por isso sabíamos que só daria para voltar lá com dois carros.

E com dois carros foi bem mais tranquilo, nem parecia o mesmo local. Onde antes eu estava com muito medo e cautela, na segunda vez, com dois carros, fizemos brincando, com o Caio fazendo ótimas fotos e o Jovani literalmente brincando. Com um Troller todo equipado e com uns pneus Mud gigantes, pra ele era diversão passar pelos rios e subir as dunas de areia. Claro que o clima de distração tomou conta e ficamos muito mais leves e tranquilos, além de confiantes.

Percorremos metade do caminho que fizemos para escalar as montanhas da primeira ocasião que estivemos ali. No caminho ainda demos uma sondada e achamos prováveis tambos incaicos e fomos acampar à 4600 metros de altitude na base de uma montanha bastante proeminente, a Sierra de Aliste. Fizemos uma pesquisa perguntando à nossos amigos locais, mas nada soubemos sobre ascensões a esta montanha, bom motivo para tentar escalar ela.

Encontramos algumas pegadas de pneu na montanha, mas nenhum sinal de acampamento. Acabamos montando o nosso em um vale aparentemente protegido do vento e ainda estacionamos o carro em “L” para dar mais segurança. Aplainamos 3 plataformas onde montamos as barracas e tivemos uma noite confortável, com ventos em rajadas, mas calmaria na maior parte do tempo.

Acordamos com o sol batendo em nossas caras e tomamos um café da manhã abundante e tranquilo, para sair somente as 9 da manhã para caminhar, com exceção do Maximo que ficou arrumando as coisas e limpando as panelas. Tudo bem, ele anda super rápido e iria nos alcançar.

Como foi nas outras vezes, a Suzie disparou na frente. Ele é muito forte! Eu fiquei para trás com o Jovani e o Caio, que estavam fazendo a primeira montanha deles nesta viagem. Foi uma ascensão sem percalços, mas embora o dia estivesse ensolarado, as nuvens no céu indicavam entrada de frente e foi apenas deixar a face leste da montanha e montar num filo que levava ao cume que fomos açoitados pelo vento impiedoso que vinha do Oeste.

No cume nos reunimos para observar o Maximo que ascendeu por uma canaleta, fazendo uma rota diferente que batia diretamente ao cume pelo gelo (e penitentes). Tiramos muitas fotos e ainda pude jogar um pouco das cinzas do Parofes. Já nem sei mais quantas montanhas ele ficou!

Na descida a Suzie novamente disparou na frente. Fiquei com o Jovani enquanto que o Maximo e o Caio fizeram um caminho diferente. Quase chegando ao acampamento avisto a Suzie desesperada me chamando e quando percebo duas barracas não estavam mais lá.

Uma rajada de vento destruiu uma barraca e tirou outra do chão com tudo dentro. A terceira barraca, que era uma legendária Trango 2, teve as varetas avariadas. Passamos um sufoco para enfiar tudo no carro no meio do vendaval. Era necessário uma pessoa para colocar as coisas dentro e outra para segurara a porta. Mesmo assim, o vento entortou minha porta.

Após ter a tarefa de “arrumar” o carro para sair, dei a partida no Conway. Seu termômetro marcava -2 graus, o que é quente para aquele local. Entretanto o Jovani não teve a mesma sorte que eu. Após dar a partida e começar a esquentar o motor, saio do carro e vejo o Jovani mexer no capô e dar a notícia que seu carro estava todo congelado.

Vou avaliar o motor e percebo uma peça rachada. Vejo também um gelo de cor azul no chão. Ele estava usando o mesmo aditivo que eu estava usando no Conway durante a escalada do Famatina. Com o congelamento do aditivo anti congelante, a água se expandiu no radiador de óleo e na válvula do termostato e trincou estas peças. Só haveria uma solução para sairmos dali: Rebocando o carro.

Rebocar um carro de 3 toneladas no meio do deserto, subindo rampas de areia, atravessando rios e planaltos pedregosos não é da ação mais fácil e saudável para um carro. Mas estávamos em dois carros exatamente por isso. Deixar um carro ali poderia significar perder ele. Foi o que quase aconteceu com a Marion Brown, que deixou um jipe na base de uma montanha isolada como o Aliste e só foi rever ele 6 meses depois, com todos os vidros quebrados e a pintura polida por causa do vento que carrega pedra e areia.

Acabei guinchado o Troller do Jovani e em pouco tempo chegamos na estrada mineira, onde foi surpreendido por uma forte rajada de vento. Ouvimos um barulho e quando fomos ver, um vidro do carro havia sido quebrado por uma pedra transportada pelo vento. Imagina isso te pegando sem carro?

Com o carro avariado e outro morto, tivemos a percepção que deveríamos sair dali. A frente fria havia entrado e o vento era impossível. Por sorte o Conway, meu carro, foi valente e consegui rebocar o Troller por todo o caminho 4x4, inclusive subindo rampas de areia com ele.

Foi um alivio chegar na estrada (que é de terra), mas dali até Copiapó teríamos mais 240 km de reboque, que não foi nada fácil e nem rápido. A estrada internacional é muito ruim, com muitas curvas e zig zags. Tivemos que parar porque o freio do Troller aqueceu, mas depois de umas 6 horas e epopeia chegamos em Copiapó, onde nos hospedamos no mesmo hotel de Março deste ano, quando houve uma enchente catastrófica por lá.

Este lugar é muito selvagem e perigoso. O jipe do Jovani que é um monstro acabou sendo avariado. Rachou a válvula termostática e o radiador do óleo. Tive um vidro quebrado pelo vento e uma barraca totalmente destruída, mas exploração é assim mesmo: Perdas e danos.

:: Continua

Troller do Jovani. Foto Caio Villela.

Cachoeira do rio Juncalito. Foto Caio Villela.

Começo da travessia do rio. Foto Caio Villela.

Valle de Juncalito. Foto Caio Villela.

Agora a estrada é o rio. Foto Caio Villela.

A estrada é o rio. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Canyon do Juncalito.

Subindo o Canyon do Juncalito.

Canyon do Juncalito. Foto Caio Villela.

Encontrando provaveis tambos. Foto Caio Villela.

Acampamento a 4600 metros. Foto Caio Villela.
Acampamento a 4600 metros. Foto Caio Villela.

Café da manhã na barraca. Foto Caio Villela.
Subida à Sierra de Aliste. Foto Caio Villela. 
Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Se protegendo do vento no cume. Foto Caio Villela.

Maximo e sua rota direta. Foto Caio Villela.

Cume na Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Deixando as cinzas de Parofes. Foto Caio Villela.

Subindo a Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Maximo chegando ao cume da Sierra de Aliste. Foto Caio Villela.

Caio Villela no cume da Sierra de Aliste.

Água do radiador congelada. Foto Caio Villela.

Aditivo anti congelante congelado. Foto Caio Villela.

Rebocando o Troller. Foto Caio Villela.

Rebocando o Troller. Foto Caio Villela.

Força do vento levantando água de cachoeira. Foto Caio Villela.

Força do vento que quebrou meu vidro.
:: Continua

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