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Dia 8 marcou o nosso retorno às montanhas com um novo companheiro, o repórter Caio Villela. O Caio é amigo de um amigo meu da época da Unesp, o Pedroc e desde aquela época eu ouvia falar dele e suas viagens. Pra quem não sabe, o Caio é do tipo de pessoa que viaja para lugares não convencionais, como Irã, Ethiopia, Tadjquistão, Burkina Fasso entre outros. Ele já visitou uns 120 países.
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Dia 8 marcou o nosso retorno às montanhas com um novo companheiro, o repórter Caio Villela. O Caio é amigo de um amigo meu da época da Unesp, o Pedroc e desde aquela época eu ouvia falar dele e suas viagens. Pra quem não sabe, o Caio é do tipo de pessoa que viaja para lugares não convencionais, como Irã, Ethiopia, Tadjquistão, Burkina Fasso entre outros. Ele já visitou uns 120 países.
Além do Caio, um outro amigo começou a viajar de jipe para
nos encontrar nos Andes. Ninguém menos que o Jovani Blume, que foi meu aluno
prodígio no curso de escalada, é meu mecânico e é jipeiro dos bons. Após o
perrengue que passamos na região de Jilgero, achamos melhor não arriscar e ele
estar pilhado para escalar nos Andes foi ótimo para unir o útil ao agradável.
Voltar àquele local com 2 carros e 1 mecânico me deixava muito mais calmo.
Então nada de errado poderia acontecer.
Tomamos a Ruta CH31 e antes que ela começasse a subir
tomamos o desvio para Cortaderas, um vale um pouco menos seco e cercado de
rochas. Ficava maravilhado pensando nas possibilidades de vias que teríamos
ali, mas não fomos lá pela rocha.
A nova estrada, que estava bem conservada, subiu até cerca
de 4600 metros, mas perdeu altura para descermos até uma depressão onde fica a
Laguna Santa Rosa, um lago salgado e cheio de Flamingos. Lá há um refúgio e foi
onde passamos a primeira noite.
Era para o Jovani chegar no final da tarde do dia seguinte, estávamos
sem pressa, pois o Caio estava aclimatando. Cheguei até a ligar para o celular
do Jovani (ele havia comprado um chip argentino), mas infelizmente ele chegou
alguns minutos depois da 7 da noite o que foi o suficiente para não deixarem
ele passar (a fronteira fecha as 7).
A sorte não estava do nosso lado. Assim que ele chegou na
fronteira argentina, armou-se uma tempestade e o tempo fechou. O dia seguinte
amanheceu nublado, sem que pudéssemos ver as montanhas e a fronteira não abriu.
Aí começou uma novela.
Sem poder nos comunicar por rádio e nem telefone, ficávamos
trocando mensagens com outras pessoas, principalmente a Maria. No entanto, como
estávamos numa região de fronteira, o Telefone Satelital demorava em receber
mensagens e acabávamos por ter que ligar para saber alguma coisa, o que é bem caro.
Ligava para a Maria para saber do Jovani, às vezes para o
Jonson em Fiambalá e também para os Carabineros (Polícia chilena) para saber da
abertura da fronteira.
Pelo menos o refúgio começou a ser frequentado, o que dava
boas conversas. Conhecemos um pessoal do Clube Andino de Atacama de Copiapó e
outros turistas, como um casal de alemães em motos BMW. Sem muito o que fazer
passeamos perto do lago. Descobrimos uma oficina lítica, que era um local onde
os índios faziam pontas de flecha com obsidiana (vidro vulcânico). No fim da
tarde apareceu um chileno numa caminhonete, trazendo pisco e coca cola ele
falou que foi até a fronteira e a estrada estava perfeita. Também disse que
havia contado a novidade para os Carabineros e acreditava que a fronteira
abriria no dia seguinte.
Fomos dormir com pisco e esperançosos e acordamos com um dia
fenomenal. Céu azul, montanhas brancas e sem um vento sequer. Liguei para a
aduana e perguntei que abririam. Disseram que saberiam à 1 da tarde.
Arrumamos as coisas e na hora da partida o carro não ligou,
fazia um barulho estranho na hora de dar partida. Por uma bobagem o som ficou
ligado e consumiu a bateria e não tinha energia para puxar o motor de arranque.
Gelei ao ouvir o barulho seco, mas sorte que havia por perto um casal de
alemães com um cabo de chupeta e o carro funcionou.
Fomos até a aduana chilena, que se chama Maricunga. Ao
chegar lá recebemos a notícia que a fronteira não abriria naquele dia perfeito.
Como havia cogitado a possibilidade de deixar meu GPS com a rota e um caderno
com explicações de como chegar na próxima montanha que iriamos escalar nas
mensagens pelo telefone satelital, pedíamos ao agente da aduana se ele poderia
entregar ao Jovani, mas eles não podiam sequer fazer isso.
Ficamos sem saber o que fazer. Naquele momento tive a
certeza que o problema era a falta de comunicação o fato de estarmos separados
e sugeri atravessarmos a fronteira ilegalmente para encontra-lo e assim
fizemos.
Dirigimos os 130 km de estrada entre uma aduana e outra (eu
sei é longe e estupido isso) e quase chegando conseguimos um contato por rádio.
Descemos do passo e estacionamos o carro na frente do refúgio da vialidad, que
é o DER da Argentina. Eles tem um refúgio excelente ali e vendem combustível.
Encontramos o Jovani e aproveitamos para encher o tanque.
Não demorou para os fiscais da AFIP (Receita Federal da
Argentina) aparecer para começar a gerar problemas. Eles perguntaram se eu
tinha feito a saída do Chile e sabendo a resposta já foram intimidando e nos
mandaram todos para o escritório para averiguações.
O escritório da AFIP é uma linha imaginária. Dali pra trás
era onde o Jovani podia ficar. Ele não podia ficar no refúgio da Vialidad, onde
estavam os outros montanhistas esperando pela abertura do passo, pois ele
chegou depois que passo fechara e os outros chegaram antes. Após procurarem
pelo em ovo, acharam um registro do meu antigo carro. Que ele não havia tido
baixa da Argentina numa vez que fui para lá em 2014. Erro da aduana e não
minha, eu não tenho acesso aos computadores deles.
Enfim, como não podiam fazer nada comigo, apenas me mandar
de volta pro Chile, foi o que fizeram, assim como mandaram o Jovani sair dali.
Pedimos para eles deixarem nós dormirmos no refúgio da Vialidad, argumentamos
que a falta de comunicação era nosso maior problema e que teríamos dificuldade
de nos encontrar depois que o passos abrisse. Não adiantou. Foi um crime o que
fizeram deixando o Jovani sozinho, sem comunicação, deixado a própria sorte.
Voltamos revoltados pro Chile. É pra isso que serve
autoridade? Naquele dia fomos dormir no refúgio Claudio Lucero, na base do Ojos
del Salado.
Acordamos na segunda com um dia novamente impecável, mas não
sei que isso seria o suficiente para abrirem a fronteira. Retornamos até
Maricunga novamente percebendo que a estrada estava perfeita e no meio do
caminho cruzamos com os Carabineros que nos avisou que o passo finalmente
abriu. Ficamos muito contentes, mas será que a aduana argentina não iria
embaçar com o Jovani?
Ficamos por horas esperando ele chegar em Maricunga e nada.
Começamos a achar que os argentinos acharam pelo em ovo e não deixaram ele
passar. Mil coisas passaram pela cabeça, inclusive que ele poderia ter sido
detido, como já aconteceu com o Maximo ali. Infelizmente nesta aduana há alguém
muito de mal com a vida e que vive achando problemas. Enviamos email pelo
satelital para o Bruno e a Maria perguntando se ele podiam passar as
coordenadas de onde o Jovani estava (pois eu havia dado meu Spot à ele). Após
vários minutos de angustia o Bruno respondeu, jogamos no Google Earth (estava
em cache, ok!) e vimos que ele estava na estrada internacional no lado chileno.
Foi uma questão de tempo até nos encontrarmos e dar fim nesta espera angustiante causada pelos infortúnios de autoridades irresponsáveis que deveriam trabalhar para o povo e não para causar tantos transtornos.
:: Continua...
Foi uma questão de tempo até nos encontrarmos e dar fim nesta espera angustiante causada pelos infortúnios de autoridades irresponsáveis que deveriam trabalhar para o povo e não para causar tantos transtornos.
:: Continua...
Tempestade se formando sobre o Três Cruces |
Laguna Santa Rosa no pôr do sol com o Maciço dos Três Cruces ao fundo. |
Caio Vilella e sua câmera. |
Refúgio da laguna Santa Rosa |
Refúgio Santa Rosa a noite. Foto de Caio Villela. |
Foto de Caio Villela |
Refúgio à noite. Foto de Caio Villela. |
Laguna Verde. Foto de Caio Villela |
Maximo e eu na Laguna Verde |
Enfim, todos juntos |