Blog do Pedro Hauck: Escalando o Vulcão Copiapó 6050 metros

25 de outubro de 2015

Escalando o Vulcão Copiapó 6050 metros


Com toda a má sorte com o tempo nas últimas semanas, não conseguimos voltar à região onde se concentra a maioria das montanhas com mais de 5 mil metros que queríamos escalar. No entanto, como restavam 3 dias para o Caio Vilela ir embora, decidimos fazer uma “saidera” com ele e a Suzie, que viajaria um dia depois. 

Pesquisando as opções, nos restou a ascensão ao interessante Vulcão Copiapó, que tem mais de 6 mil metros e é uma montanha bastante conhecida regionalmente, embora de acordo com os dados de Rodrigo Granzotto Perón, apenas o Waldemar Niclevicz havia escalado, no ano de 1989.

O Copiapó geralmente é escalado pelo lado leste, através de um vale que se alcança pela Laguna Negro Francisco. No entanto, no lado oposto há uma mineração abandonada e por lá se chega mais alto de carro 4x4, 5200 metros de altitude, o que tornaria a ascensão muito mais fácil. Foi para lá que fomos.

Subimos novamente a estrada CH31 e tomamos o desvio na quebrada de Paipote até alcançar um cruzamento desta estrada com um caminho estreito num vale bonito com vegetação. Estávamos em dois carros, a Discovery 2 e o Troller do Jovani. Neste momento é sempre bom ter um jipe preparado. Com pneus Mud enorme, bloqueio de diferencial 100%, Jovani foi na frente, mas nos primeiros 25 km de trilha não tivemos muitos problemas.

Num determinado momento passamos na frente do acampamento mineiro do Projeto “Andina Minerals Chile”. Lá havia vários contêineres, mas algumas barracas enormes rasgadas ao vento dava a cara de que o local estava abandonado. Menos de 1 km depois fizemos uma curva e a estrada que cortava uma vertente montanhosa estava totalmente destruída com um trecho de 200 metros de valeta profunda ocasionada pelas chuvas de Março. 

Ao ver aquele voçoroca na hora eu pensei que estaríamos fu... Mais uma peça do clima nesta viagem. Desta vez com céu azul e previsão de pouco vento para os próximos dias. No entanto se não é o tempo atmosférico é o tempo cronológico. Não teríamos como escalar dando a volta na montanha e regressar a tempo do Caio pegar o seu voo.

Mas como somos muito persistentes, pegamos uma pá e uma enxada e começamos a construir nosso caminho. Primeiro jogando pedras e areia em cima, transformamos uma vala de 1 metros de profundidade num pequeno buraco. Depois fomos destruindo a parede da voçoroca maior e conseguimos fazer uma rampa para entrar dentro do buraco. Alargamos a voçoroca e no final fizemos uma saída calçada com pedras para a Discovery, que não tem bloqueio de diferencial poder passar e assim conseguimos contornar o problema.

Conseguimos dirigir por mais uns 10 quilômetros. A estrada estava muito ruim, totalmente abandonada. As águas da última chuva lavaram a superfície e ficou apenas buracos e pedras grandes, era necessário ligar a reduzida e ir devagarinho, fazendo os pneus encaixarem nas valetas e ir vencendo pedra por pedra.

Ao chegar na altitude de 4300 metros, no entanto, o problema deixou de ser as pedras e virou o gelo, até não dar mais para passar. Num local de vale estreito, a neve acumulou-se cerca de 1 metro e ali nem com bloqueio dava para passar. O Jovani que foi provar seu jipe atolou e teve que sair com o guincho. Acabou que tivemos que acampar ali mesmo, usando a terraplanagem da estrada abandonada para colocar as barracas.

Mas continuávamos com o problema do voo do Caio. Era quarta feira e o voo dele era sexta à noite. O que fazer? Bom, vamos arriscar. No dia seguinte iriamos aproximar mais 7.5 km até um local mais alto e sexta faríamos cume bem cedo para estar nos carros ao meio dia para dar tempo dele não perder o voo. Arriscado? Sim, mas não impossível. Fomos dormir tranquilos, numa noite linda sabendo que não no outro, mas no próximo dia a saideira iria ser paulera.

No dia seguinte, acordamos sem pressa. Já havíamos desmontando duas barracas e o Maximo demorava para acordar. Ele fez isso mais tarde, e saiu silencioso e mal encarado. O que houve? Ficamos sem graça enquanto ele saiu caminhar e ficamos se entender? O que eu fiz?

Mais tarde ele volta e nos diz que estava com dores nas costas. O trabalho na construção da estrada foi pesado para o problema que ele tem nas costas de tanto escalar e carregar peso. Mas ele nos tranquilizou e pediu para que fossemos na frente, não discutimos e fizemos o que ele pediu.

No caminho ficamos conversando. Com a estrada impedida pelo gelo e o problema nas costas, talvez tudo isso fossem problemas acumulados para que algo pior acontecesse. Não digo em acidentes na montanha, mas em atraso que pudesse fazer o Caio perder o voo. E ele perder o voo significaria perder um trabalho, o que não seria nada legal. Estávamos preocupados. Com a Suzie cogitamos em desistir e retornar para Copiapó para ele se recuperar. Seria frustrante tendo em vista que perderíamos tempo bom depois de tanta tempestade e uma montanha a menos.

No entanto, antes que decidíssemos o que fazer, Maximo nos alcança e depois nos passa com sua cargueira. Ele tomou anti inflamatório, não estava 100%, mas queria seguir. Acabamos indo.

Num certo momento a estrada mineira, que estava coberta de neve, acaba. Lá tomamos um vale estreito, uma verdadeira canaleta nevada, por onde subimos até um platô. Foi uma subida difícil, pois em vários locais a neve estava congelada e escorregadia. Tivemos muito cuidado e levamos bastante tempo. Lá saímos a 5200 metros de altitude, onde se reuniu eu, Max e Jovani, na espera de Suzie e Caio.

Ficamos lá bastante tempo, o suficiente para passar frio. Caio demorou bastante e ao chegar expos seu medo em descer pela canaleta nevada e o fato de estar muito lento não conseguir regressar a tempo no dia seguinte. Eu já havia percebido isso também achei que estes fatos pudessem comprometer seu retorno. Ele cogitou em descer naquele dia até o Conway e dormir dentro do carro, mas também não seria legal ele ser deixado para trás. Acabamos discutindo e achamos melhor ele dormir com a gente naquele local e bem cedo, enquanto escalássemos a montanha, ele começasse a descer lentamente para chegar antes de nós.

Passamos uma noite apertada, com 3 numa barraca de 2 pessoas e o Jovani e o Caio na outra, que é para 2, mas não é tão grande. Cozinhamos o que conseguimos levar para o alto e fomos dormir tranquilos, numa noite sem vento e lua crescente iluminando a montanha. 

Despertamos um pouco mais tarde, às 3 da manhã para empreender a subida e já começo a fica bravo pois levantei para a ver a lua se pôr e nos deixar na escuridão. Parece lei de Murphy, nada é fácil para nós!

Começamos a caminhar as 4:20 da manhã. No acampamento não fazia frio, mas ao chegar aos 5500 metros começou a ventar e a congelar tudo. Jovani vinha bem, acompanhando sem problemas, mas ao chegar nesta altitude ele começou a perder o ritmo e parar bastante. Se não fosse esta corrida contra o tempo, teria insistido mais para ele continuar, mas ele mesmo achou melhor descer e assim fez.

Quando ele desistiu, apertei o passo para alcançar o Maximo e a Suzie que estavam na minha frente, no entanto o caminho era muito ruim. Toda a encosta do Vulcão Copiapó era composta de “acarreos” que são rochas soltas que deslizam quando você pisa em cima. É um passo para cima e dois para baixo. Nada agradável quando você está cansado e na altitude e pior, o vento começou a castigar de verdade, me açoitando com rajadas geladas.

Buscando pedras maiores fui vencendo o trecho de acarreo, indo o mais rápido possível. Já havia estourado em uma hora o tempo previsto para chegar ao cume e isso me preocupava. Seria mais prudente desistir, mesmo tão perto? Minha resposta foi ir mais rápido, mas ao invés de chegar no cume, cheguei no falso cume, onde despontava o maior, que era um espigão depois de uma crista afiada onde eu podia ver o Maximo e a Suzie.

Cruzei esta crista com muita dificuldade, passando inclusive por uma ruina inca com madeira afundada na neve, que meus parceiros nem viram, mas que nem tirei foto devido ao cansaço, a ânsia de acabar logo e o frio absurdo.

Encontrei meus parceiros quase no topo, eles estavam descendo pois não conseguiam mais aguentar o forte vento e o frio. Acabei fazendo os últimos metros sozinho, parando para admirar outra ruína inca enorme e sacar umas fotos no cume. Não deu para deixar as cinzas do Parofes por causa do frio extremo e por conta disso também não consegui tirar a bandana da boca, pois minha respiração congelou minha barba no tecido e ela ficou grudada.

A preocupação pelo voo do Caio não cessou, mas por sorte havia uma rota de descida pelo meio do acarreo e consegui perder uns 600 metros em menos de meia hora. Pelo menos para isso o acarreo é bom. Com esta avanço cheguei no acampamento a tempo apenas de socar tudo na mochila e começar a descer junto com o Maximo e a Suzie.

No entanto havia a preocupação pela canaleta de gelo. Eu emprestara meu crampon para o Caio, o Jovani já havia descido com o seu. A angustia pela demora e o medo me deu calafrios, mas safo descobri um caminho por uma encosta inclinada de acarreo e conseguimos descer por ali evitando o trecho perigoso e ganhando mais tempo ainda. Teríamos 2 horas para caminhar o restante dos 6 km a pé e a viagem do Caio estaria salva.

Nestes últimos quilômetros acabei ficando para trás, pois o Maximo e a Suzie caminham muito mais rápido, mas como previsto cheguei pontualmente ao meio dia nos carros. Só que apenas o Conway estava ali. No dia anterior falei para o Jovani sair antes se ele chegasse antes nos carros para garantir o voo do Caio. Mas não pensei o quão perigoso seria atravessar aquela estrada sozinho, mas sem opção foi o que fizemos, atravessando todas as barreiras com cuidado e precisão e chegando na estrada principal as 2 da tarde.

Ali eu acelerei e quase chegando em Copiapó encontro o Troller do Jovani a tempo de comer um sanduiche e tomar banho antes de levar o Caio ao aeroporto. Odeio fazer as coisas com pressa, mas desta vez a missão foi completa e tudo acabou bem. Ou melhor quase tudo...

O voo do Caio havia sido alterado. Pagamos 200 dólares por isso, mas a empresa aérea cometeu um erro e não emitiu o novo e-ticket. No aeroporto de Copiapó a empresa entendeu o erro e deixou ele embarcar, mas em Santiago não e ele teve que pagar pela transferência de voo duas vezes para chegar em casa. Não faltam perrengues nesta viagem.

:: Continua

Chegando na erosão. Foto de Caio Vilela.  

Avaliando a erosão. Foto de Caio Vilela.  

Trabalhando na construção da estrada.Foto de Caio Vilela.  

Passando o Troller. Foto de Caio Vilela.  

Passando a Discovery. Foto de Caio Vilela.  

Neve na estrada.Foto de Caio Vilela.  

Fim de tarde. Foto de Caio Vilela.  

Fim de linha. Foto de Caio Vilela.  

Acampamento na estrada. Foto de Caio Vilela.  
Aproximação ao campo alto do Copiapó. Foto de Caio Vilela.  

Vulcão Copiapó e a canaleta de gelo. Foto de Caio Vilela.  

Chegando perto da canaleta de neve. Foto de Caio Vilela.  
Acampamento alto do Copiapó.

Vulcão Copiapó desde o campo alto.

Vista para a região dos 3 Cruces desde o topo do Copiapó após o amanhecer. 

Sub cume do Copiapó e o cume principal. A trilha que se vê com neve une duas ruínas incas.

Cume do Copiapó.

Vista do cume para a ruina (quadrado com neve). No horizonte se vê a Laguna Santa Rosa.

Auto retrato no cume.

Parofito no cume.
:: Continua

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