Blog do Pedro Hauck: Três Picos no estilo Salinas

2 de outubro de 2014

Três Picos no estilo Salinas

O Parque Estadual dos Três Picos, mais conhecido como Salinas, abriga as mais tradicionais vias de escalada tradicionais do Rio de Janeiro, num estilo singular de vias com proteções irregulares, chamadas por alguns de suicidas, mas por muito de aventura que se conveniou chamar de estilo “Salinas”, já que pelos idos dos anos 70 os escaladores cariocas assim chamavam o local, perpetuando para a eternidade a terra da escalada de vias longas com o nome das cachaças mineiras.

Estivemos recentemente, mais uma vez, nas paredes do Pico Maior, mas sem muita vontade de encarar o estilo “Salinas”, dado que há muito eu não entrava numa via para esticar a corda. Decidi entrar na via mais suave do local, a Mateus Arnaud, que há muito tempo foi criticada por não seguir o estilo desprotegido local. Um dos conquistadores, meu amigo Rafael Wojcik, que na época da conquista da via tinha apenas 15 anos, me recomendou e assim decidi levar o Maximo e a Maria para lá. O primeiro também não escalava algo há bastante tempo e a Maria estava experimentando parede pela primeira vez.

Seguindo as dicas do Rafael e fomos ao amanhecer encarar a parede. A dica de localização era ir até a base da Leste e continuar costeando a parede até encontrar uma via protegida com chapeletas da Fixe. Assim fizemos... Encontrando uma via depois de uns 15 minutos descendo entre a rocha a e vegetação.

A primeira enfiada eu guiei. Nem prestei atenção no número de chapas, pois mesmo tendo dificuldade em encontrar as mesmas, pois estavam oxidadas, acabei achando o caminho e a primeira parada, passando a guiada para a próxima enfiada pro Maximo, que fez com tranquilidade, mas notou que haviam menos chapas na parede do que dizia no croquis.

Para manter a rapidez da cordada, emendei a próxima enfiada, que foi bem tranquila e passei a próxima pro Maximo alternado a escalada de acordo com as pontas de corda. Ele começou o quarto largo com facilidade, mas dado um momento se perdeu na parede. Eu com o croquis na mão dava palpites: _ Vai mais pra esquerda! O croquis do Serginho é fiel!

E ele foi, passando um super veneno. Teve que desescalar, depois esticar um monte de corda para achar uma chapa intermediária e depois a parada, vendo vários locais para equipar com móvel e esticando um monte a corda. Será que o tão fiel guia de escalada dos 3 Picos desta vez estava com informação furada? Eu não sabia, e fiquei com cara de paspalho por dar informação errada e deixar o parça na roubada.

Estávamos com os móveis na mochila, pois na Mateus Arnaud não era necessário, ainda bem que estávamos. Neste momento decidimos colocar no rack. Fui guiando as próximas enfiadas, pois estava escalando mais rápido. Até que cheguei num determinado local que achava ser um quarto grau, mas passei um veneno danado, acho que estiquei uns 4 metros num 7a. Quando cheguei na parada, meus parceiros vieram de segundo e desviaram este “crux”, fazendo um quinto. Eu poderia ter desviado também, esticando um pouco mais, mas evitando o lance difícil.

Durante toda a escalada encarei lances mais difíceis do que estava marcado no croquis, muitas vezes equipando os lances em móvel. Entretanto o croquis era mais ou menos fiel. Eu achava que, pelo fato da via ter sido polêmica no passado por ter mais proteções que o normal, as chapas haviam sido arrancadas.

Íamos nos aproximando da primeira chaminé, quando percebi que as chapas que antes eram da fixe, começaram a ser Petzl de alumínio. Logo que percebi isso, encarei uma crocotência de 6 grau no veneno. Ao passar por este lance, vi um grampo logo na esquerda da parede e fui a caminho dele. Foi neste momento que percebi que não estava na Mateus Arnaud...

Escalando um pouco mais, cheguei num platô com mato e descobri que na direita dele havia uma parada equipada com chapas da Petzl e na sequencia havia uma chapa dupla da Bonier. Lá tive certeza que não estava na via certa. Voltando ao platô, vi grampos que iam na direção da chaminé da Leste. Acabamos indo pra lá.

Após a breve escalada até chegar à chaminé, decidimos continuar pela Leste para fazer cume. No entanto eu não tinha o croquis desta via e nem tinha bem claro na minha mente a linha dela, pois fazia 6 anos que eu não passava por ali. De memória eu lembrava que na chaminé havia um grampo e chegando nele eu tinha que sair pra esquerda, num lance meio aéreo. Só que eu não lembrava quantos grampos tinham nesta chaminé se era um ou dois. Escalei até o primeiro grampo e decidi tocar pra cima pra ver se havia outro. Confirmei que nada havia lá em cima e decidi voltar, chegando até uma parada com grampos bastante oxidados.

Desta parada eu pude ver um outro grampo oxidado pra cima, mas fiquei em dúvida, pois eu lembrava que depois da chaminé havia um lance em diagonal. Como já era 3 da tarde, não tínhamos o croquis e estávamos em 3, decidi que seria melhor descer do que correr o risco de passar um perrengue e de repente ter que dormir na montanha. Foi uma sábia decisão.

Descemos pela via que subimos, abandonando uma fita de 120 cm de dyneema e um mosquetão velho, mas foi tudo tranquilo e só pegamos o pôr do sol no final da trilha de volta ao Mascarin. 

Mais tarde descobrimos que não escalamos a Mateus Arnaud. Na verdade entramos desde o começo na via Decadénce avec Elegánce e formos descer somente na P10 desta via. Ou seja, escalamos 2/3 da parede achando que estávamos em outra via...

As escaladas em Salinas não são muito difíceis tecnicamente, mas psicologicamente sim. Elas exigem experiência para que o guia sempre se oriente corretamente, pois a maior dificuldade do local é se perder nas vias. É preciso ter experiência para se achar e também pra saber a hora certa de desistir.

Pico Maior pela manhã.

Maria Teresa Ulbrich em Salinas

Os 3 Picos

Pico Maior, a montanha mais alta da Serra do Mar.

Maximo guiando

pra onde?

Maria na segue

pro alto.

De segundo.
Entrando no perrengue

Fica esperto....

Esticãozinho

Pra cima

Subindo

Na parede

Pico Maior noturno.

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