Terça Feira, 31 de Março de 2009.
Ao sul do Rio Itajaí a Serra do Mar dá lugar à Serra Geral como elevação que separa a planície litorânea dos planaltos. Diferentemente da primeira, a outra apresenta-se mais como escarpa com desnível abrupto sem apresentar grandes picos elevando-se do nível médio dos planaltos, como é a Serra do Mar paranaense.
Outra diferença é que na Serra do Mar predominam as rochas que comportam o embasamento crustal do continente (granitos e gnaiss), enquanto na Serra Geral predominam rochas vulcânicas oriundas dos derrames mesozóicos (basaltos). No Paraná, esta mesma unidade geológica encontra-se a 1200 metros de altitude que regionalmente sustenta a escarpa entre o segundo e o terceiro planalto, no Rio Grande do Sul e Sul de Santa Catarina, esta escarpa começa no nível do mar.
As razões para a situação topográfica mais elevada da Serra Geral no estado do Paraná é o soerguimento do Arco de Ponta Grossa, enquanto que no Rio Grande e Sul de Santa Catarina, a posição frontal em relação ao mar se deu por uma grande e poderosa erosão remontante.
Na planície litorânea de Santa Catarina afloram rochas paleozóicas com seqüências carboníferas e permianas. Nestas formações há a presença da hulha com grande poder calorífero que movimenta a economia de Criciúma, Lauro Müller, Tubarão etc... Estas formações, abaixo dos basaltos Serra Geral, irão aparecer de volta mais ao interior do Rio Grande, depois das colinas um pouco mais elevadas do Escudo (ou Cráton, que é o embasamento constituído de granitos etc), onde fica Porto Alegre.
Note que na periferia dos planaltos ocorrem depressões, isso em todos os estados da bacia do Paraná, seja em Minas, São Paulo, Paraná (que é soerguida), Santa Catarina e Rio Grande. A diferença é que nestes dois estados a chamada depressão periférica situa-se no litoral, enquanto nos outros localiza-se em porções mais interiores. Outra diferença é que o Escudo do Paraná e São Paulo são planaltos e no Rio Grande é planície. Em Santa Catarina ele está embaixo do nível do mar e/ou formam ilhas continentais, como é o caso da Ilha onde fica Florianópolis.
O interessante disso tudo é que no litoral norte gaúcho, as rochas continentais emersas começam exatamente no contato inferior da formação Serra Geral (que é a formação geológica dos basaltos). O motivo pra isso é muito intrigante, pois o basalto é muito resistente, principalmente aqueles de estrutura colunar, mas ao longo de milhares de anos (talvez uns 80), houve um recuo das vertentes da Serra de cerca de 35 a 40 Km em linha reta do atual litoral e a base disso tudo é onde começa a rocha mais resistente...
À primeira vista isto pode parecer contraditório, mas não é, se for visto numa outra escala... Estes derrames aconteceram através das fissuras que romperam com a desfragmentação do continente Gondwana. Isso significa que o que hoje é litoral, nesta época era o centro de um continente. Continente este enorme e que era em seu centro muito seco. As rochas que advêm desta época são arenitos de estratificação cruzada, ou seja, arenitos depositados pelo vento. O centro deste continente era um enorme deserto, maior inclusive que o atual Sahara.
No momento dos primeiros derrames, eles ocorreram sob o solo arenoso deste deserto, chamado pelos Geológos de Botucatu (por que estas rochas ocorrem com grande tipicidade nesta cidade paulista). Este contato “cozinhou” a areia. Ele também atravessou o lençol freático existente na subsuperfície as dunas e as lavas ricas em sílica aumentaram o teor destes minerais onde havia o lençol e a água com a lava e sedimentos deram origem ao Peperito, de grande resistência, então não é de se estranhar que seja o contato o limite da erosão do recuo das vertentes que ocorreram no Terciário (Período de 60 milhões de anos entre o fim do Cretáceo e o Quaternário).
O que o litoral tem a ver com isso?
Bem, o escudo riograndense faz uma “curva”para sudoeste próximo à região metropolitana de Porto Alegre. As correntes marinhas que atuam na costa carregaram ao longo do tempo (não muito tempo...) os sedimentos proveniente do continente que desciam para o mar. Muitos destes sedimentos eram de rios muito enérgicos que cavaram os Aparados da Serra, que são os mais impressionantes canyons do Brasil.
Estes sedimentos foram levados ao sul e foram depositados formando a mais impressionante restinga da América do Sul e um grande complexo de sistema de lagoas que tendem ao longo o tempo retilinizar o litoral. Não é à toa, no entanto, que a maior praia do mundo fique no Rio Grande do Sul, a famosa praia do Cassino.
Um interessante estudo sobre o ciclo evolutivo de lagunas, restingas e retificação de litorais foi publicado em 1945 por Alberto Lamego: Ciclo evolutivo das lagunas fluminenses. Boletim do DNPM n° 118. Rio de Janeiro, 1945.
Melhor do que discutir a gênese é poder desfrutar e conhecer este litoral excepcional. Hoje, saindo de Torres, fomos pela rodovia costeira até Osório, onde estrategicamente situa uma das maiores fazendas de energia eólica do país. Em todo este litoral é comum a presença de dunas, o que atesta este ciclo evolutivo. Contribui para isso a ressurgência de uma corrente fria que deixa este litoral mais seco. As dunas seguem o litoral gaúcho, adentrando a grande restinga.
Tivemos o privilégio hoje de conhecer dois lugares fantásticos com dunas e lagoas: A praia da Solidão em Bacupari e o Parque Nacional da Lagoa dos Peixes em Mostardas, local de presença de aves migratórias como o Flamingo.
Este sistema de lagoas, diferente do ciclo de Lamego, são oriundas das transgressões e regressões marinhas que ocorreram em nosso instável Quaternário, quando mudanças climáticas aumentaram e rebaixaram o nível do mar, formando o chamado sistema “barreira – Lagoa” quando uma barreira de areia bloqueia a água do aumento do nível do mar formando lagoas isoladas de rios.
Quase acampamos ao lado dos Flamingos no Parque Nacional da Lagoa dos Peixes, que pra variar é um parque de papel onde tudo é proibido, inclusive acampar... Não que mudamos de decisão para respeitar as políticas demagógicas de natureza intocada, lúdica e contemplativa de nossos órgãos ambientais.
Por conta de um imprevisto (a gasolina estava acabando), resolvemos ir à cidade de Tavares abastecer. Foi quando olhando no GPS vi uma estrada de terra até a Lagoa dos Patos. Por esta estrada de terra de 7 km, chegamos à uma praia com um pouco de grama onde acampamos, em um local muito sossegado e sem ninguém para nos avisar que nossa presença é impactante e a deles não...
Chegamos com o sol quase apagando e vimos uma chuva ameaçar nosso camping perfeito. Por sorte até agora foi só uma ameaça (são 20:11 e já parou!). O cheiro de alho e cebola frita da barraca estão me deixando empolgado com a janta, que é feita dentro da barraca (estou dentro do carro). Só para completar o relato, o céu deu uma limpada e lá fora vejo a lua minguante refletida sobre a lagoa.
2 de abril de 2009
2 comentários:
- Unknown disse...
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Bom professor...
Só falta o bom filho enviando um "alô mamãe !" - Lembra-se do Bugu do Mauricio?
Eu estava preocupada, achando sua viajem muito longa! Ainda não chegou? Pensava a preocupada mãe.
Vejo que você está fazendo uma pesquisa muito importante, fora as 3 moças que vi na foto. Com o meu carro !!!!!!!!!!!!!!!!
Mãe te ama
Mãe Sô - 4 de abril de 2009 às 10:11
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Muito legal as explicações sobre o lugar como venho mapeando esses lugares de motocicleta ja faz algum tempo achei muitas informações importantes para meus objetivos.Parabens, muito legal.http://narotadosfarois.blogspot.com/
- 15 de janeiro de 2012 às 04:11
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