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Após descer realizado da montanha, com aquele ótimo sentimento de dever cumprido e que para finalizar o projeto temos pela frente apenas o mais fácil, fomos atrás de um local para passar uma noite e comer algo gostoso. Nossa necessidade nos levou ao povoado de Putre, a primeira cidade chilena após a fronteira com a Bolívia, um povoado muito bonito que eu havia achado interessante na expedição de 2007 que tem uma linda montanha de cinco mil metros no fundo, que é o Nevado Putre que hoje em dia não tem mais neve.
Após descer realizado da montanha, com aquele ótimo sentimento de dever cumprido e que para finalizar o projeto temos pela frente apenas o mais fácil, fomos atrás de um local para passar uma noite e comer algo gostoso. Nossa necessidade nos levou ao povoado de Putre, a primeira cidade chilena após a fronteira com a Bolívia, um povoado muito bonito que eu havia achado interessante na expedição de 2007 que tem uma linda montanha de cinco mil metros no fundo, que é o Nevado Putre que hoje em dia não tem mais neve.
Achamos uma pousadinha com preço barato para o Chile, 32 doláres, sem banheiro no quarto, mas com recepção de internet aberta do vizinho. Tomamos um bom banho e fomos comer num restaurante em frente, onde pudemos comer um hambúrguer de churrasco.
Apesar de simples nossas instalações e comida, é bom estar ali, mesmo pagando caro. Na Bolívia tudo é muito barato, mas em compensação tudo é muito precário. Pegar um hotel precário é tranquilo, mas comida precária é complicado e isso é o pior da Bolívia. A comida além de ser suja e nos dar diarreia e vômitos, é ruim. Só existe comida gostosa em La Paz, no interior a comida é muito ruim e mesmo tendo dinheiro você não consegue comer por falta de apetite.
Em Vila Sajama, onde pelo menos a comida é limpa, é horrorosa. Sempre tem aquelas porcarias de sopas sem gosto e depois um prato com arroz quebrado igual de cachorro e um frango frito mergulhado no óleo com cheiro forte, mas quase sem carne. Uma vez e outra comemos um milho gostoso, mas sempre porções pequenas. Não sei como as cholas são gordas comendo algo tão ruim. Várias vezes na estrada prefiro passar fome que a comer comida de um restaurante boliviano.
Aproximando do Uturunco pelo Chile, nossa ultima montanha neste projeto, além de resolvermos o problema da gasolina, resolveríamos o problema da fome. Na Bolívia há uma lei que controla a venda de combustível. O governo instala um chip em seu carro e nele é controlado o quanto se compra de gasolina. Você pode comprar apenas a quantidade em litros que tem o tanque do seu carro por dia e azar o seu se você viajar. Estrangeiros pagam o triplo do preço, mas somente em postos que tem nota fiscal internacional. O problema não é pagar mais caro, é que nenhum posto tem esta maldita nota fiscal e assim eles não vendem combustível a você.
Nesta viagem passamos muitos apertos com isso. Tivemos que comprar um Bidão de 20 litros de combustível e andar com ele, o que é ilegal! Tivemos que comprar gasolina de uma van, pagar bem mais caro e tirar fazendo sucção com uma mangueira. Enfim, esta lei ignorou que existem estrangeiros viajando de carro na Bolívia e nos causou muitos transtornos. Por isso e pela péssima comida decidimos ir para o caríssimo Chile, onde mesmo pagando um preço injusto temos gasolina e não passamos fome.
Logo ao descer para o deserto do Atacama, em Arica, vamos receber a primeira facada ao abastecer. O litro da gasolina no Chile está custando 900 pesos, quase 2 dólares o litro ( 1 dolar = 500 pesos). Isso são quase 4 reais o litro!
Com o tanque cheio pegamos a Ruta 5, que é a estrada Pan Americana que corta o Chile de Norte a Sul. A paisagem ali é desoladora, não há nada de vegetação, cidades, nada. Isso 400 quilômetros mais tarde se transforma num tormento. Meu tanque estava na metade quando passo num posto de gasolina e decido não abastecer. Acabou que o tanque foi baixando e nada de posto de gasolina.
Fui economizando e olhando as placas e vejo que estava chegando numa cidade chamada Quillagua. A quilometragem até Quillagua vai diminuindo e meu tanque também. Chegando lá dou de cara com um posto de controle aduaneiro, no meio do Chile. Não entendi muito bem, mas pergunto por informações. _ Onde tem um posto de gasolina por aqui?
_ Pra lá 100 km! Diz o policial apontado para onde eu vinha.
_ Não é possível e pra lá? Aponto eu para o meu destino...
_ Lá não tem! Só daqui a 190 quilômetros. Você não viu um posto de gasolina lá atrás?
Fico puta da vida. Como pode um país rico e desenvolvido como Chile não ter postos de gasolina em sua principal estrada, a espinha dorsal que corta o país de norte a sul?
Eu tinha talvez 2 litros de gasolina e começo a perguntar pra todo mundo se alguém em Quillagua vende combustível e me indicam um restaurante. Vou com o jipe até lá e me indicam ir aos fundos, onde funciona uma borracharia. Lá um senhor nos atende e com ele conseguimos comprar 10 litros por 12.000 pesos! A gasolina mais cara que já comprei na minha vida e que pagamos sem reclamar. Não seria nada agradável ficar no deserto sem combustível.
O senhor que nos vendeu gasolina nos explicou que numa cidadezinha chamada Maira Elena, fora de nossa rota, havia um posto de gasolina onde poderíamos encher o tanque. Dirigimos 80 km até lá e achamos o tal posto, que se resumia numa única bomba descoberta. Era incrível, num lugar super movimentado só ter aquilo e os postos de gasolina mais próximos ficavam a 180 km ao norte, 100 km ao Sul, 70 km a Oeste e 100 km a Leste, que absurdo! Vou abrir um posto de gasolina na Ruta 5 e ficar rico!
Enchemos o tanque e nosso bidão de gasolina, gastando 106 dólares para comprar um pouco menos de 60 litros, deste total, gastamos 20 litros pra rodar 180 km até San Pedro de Atacama. Muito? De fato, meu jipe é motor 1.3 e é bastante econômico, mas ele fez menos de 10 km/l devido às tantas subidas intermináveis que existem até ali. De Maria Elena até San Pedro, a gente sobe para cima dos 3 mil metros e desce diversas vezes. As subidas são em rampas de pedimentos do deserto que são enormes. Às vezes pegamos 50 km de subida contínua e o motor trabalhando sem parar, ótimo para ferver!
Cruzamos por Calama, onde fica a maior mina de cobre do mundo que é Chuquicamata e a noite vamos cruzando o que nos falta de deserto até chegar cansadíssimos em San Pedro, onde vamos dormir num hostel, a única coisa barata que pagamos em nossa estada no Chile, 14 dólares por cabeça. Após registrarmos, vamos comer algo e pegamos incríveis 60 dólares para comer um churrasco, que apesar de estar gostoso se resumia num bife de carne de vaca, um filé de peito de frango e uma lingüiça, só isso! Meu deus, estou abismado como o Chile está absurdamente caro...
Contudo, mesmo cansados, decidimos ir embora no dia seguinte, pois já havíamos gasto todos nossos pesos chilenos. Estávamos com saudades da Bolívia, ou melhor de seus preços...
Atravessando o deserto. Sim, só tenho esta foto, pois tudo que tem aí é isso, deserto.... |