A meu convite, Marcio (abaixo em café em Salta) escreve no Blog:
Aulas na Estrada
Salta, Argentina, 9 de julho de 2007
Por Marcio Carrilho
Pouca gente sabe, mas este é um momento histórico e uma honra para mim, pois trata-se do primeiro texto publicado no Gente de Montanha que não é de autoria dos seus dois editores montanhistas: Pedro Hauck (o criador) e Maximo Kausch (cético no início, depois um empolgado colaborador, autor da maioria dos textos técnicos do site).
Conheci os dois em fevereiro de 2004, a 4.200m, no acampamento base do Cerro Plata (estimado em 5.950m, mas inflacionado pelos hermanos argentinos em 6.300m), ponto culminante do Cordón del Plata, cadeia de montanhas perto de Mendoza (Argentina), e de onde se avista o Aconcágua, a 50km a noroeste. Na ocasião, estava na companhia do Fabio Villela - que já os conhecia do Aconcágua, em janeiro de 2002 - e todos fizemos o cume do Plata, porém, em dias diferentes. Aliás, o Maximo e o Fabio são os dois companheiros de escalada que deveriam e gostariam de estar aqui conosco, mas vão ficar na torcida e planejar uma nova expedição onde, quem sabe, possamos estar os quatro.
Bueno, feitas as apresentações devidas, aproveito esta nossa última noite fria (uns 5 graus lá fora) na simpaticíssima Salta (uma agradável surpresa, que eu recomendo a todos uma visita) para escrever estas linhas, antes de partirmos para os Andes, aqui ao lado, onde começaremos nosso lento e prazeroso processo de aclimatação antes de encararmos as montanhas da Bolívia.
Do Rio até aqui foram pouco mais de 3.000km por estradas brasileiras e argentinas. De Itatiba (SP) em diante tive a companhia do Pedro Hauck e queria contar um pouco do que aprendi nestas muitas horas ao volante. Natural da mesma Itatiba acima e geógrafo formado pela Unesp, de Rio Claro (SP), - sim, o Pedro fala “interiorrrr”, como a Hortência, o José Dirceu e os dois filhos de Francisco, e eu sacaneio o tempo todo, não resisto! -, 25 anos, ele atualmente faz mestrado em geografia na UFPR, em Curitiba, onde mora, com foco em dinâmica da paisagem.
Traduzindo: ele estuda como e porque as paisagens naturais têm hoje a configuração que têm. Isso envolve conhecimentos profundos em geologia, botânica, ecologia e geomorfologia (relevo, para os íntimos), entre outras ciências.Resumindo: o cara sabe muito! Longe do perfil clichê e previsível de um escalador acéfalo, um ogro das pedras, desses que vemos tanto por aí e que só falam de vias, agarras e equipamentos, o Pedro revelou-se um verdadeiro oráculo da geografia.
Até aqui eu tive (“de grátis!”) verdadeiras aulas sobre tudo o que vimos pela janela do carro: morros, vales, rios, solos, plantas (é impressionante como o cara sabe de cor os nomes científicos e populares de um monte de plantas – ok, “espécies vegetais”, como prefere o professor...:)), etc.
Ele explicou porque e como cada coisa estava ali. Por se tratar de muita informação, resolvi escolher dois assuntos que considerei dos mais interessantes: a araucária e o Chaco. E como esse texto já ficou enorme, vai ficar pra próxima. Assim, gero um suspense, pago um mistério e ainda fidelizo a audiência – ou então perco-a de vez! J Além disso, terei mais textos publicados
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