Blog do Pedro Hauck: Norte Misionero

9 de julho de 2007

Norte Misionero


Misiones é uma das menores Províncias da Argentina e tem uma expressão econômica pequena no País. Aqui pode-se dizer que a economia é quase toda rural, com destaque para as fazendas de mate e para a exploração de madeira.

A paisagem de Misiones é diferente daquela que conhecemos da “Pampa”. Pode-se dizer que Misiones é uma continuação do Planalto Paranaense e Catarinense, com relevo ondulado e cobertura vegetal florestal, com muitas Araucárias no Planalto e floresta tropical nos vales dos principais rios.

O nordeste da Provincia é a região mais elevada, com um planalto sustentado pelo basalto da formação Serra Geral onde a cimeira se encontra numa superfície de aproximadamente 850 metros de altitude. Indo em direção oeste, perde-se altitude rápidamente até chegarmos na beira do rio Paraná em Eldorado numa altitude de 200 metros. Durante este percurso, atravessamos uma região bastante florestal com população praticamente rural que vivem em casinhas de madeira à beira de estrada.

Pelo que pudemos notar , pela face das pessoas, seus traços, cabelo e cor de pele, esses camponeses são na maioria descendentes de índios Guaranis.

Descendo o planalto, ziguezagueando pelos vales que formam grandes gargantas que expõem em alguns pontos mais inclinados a rocha negra, chegamos a cidade de Eldorado, a terceira maior da província, mas ainda assim um pequeno centro. Chegamos na hora da siesta e o comércio estava fechado. O pequeno movimento, entretanto, revelou a influência agrícola que esse região sofre em decorrência da riqueza do solo que tinge de vermelho as calçadas e as casas, assim como os sapatos das pessoas, até as que moram nas cidades.

Ao encher o tanque de combustível com gasolina à 1,40 o litro, já sentimos a vantagem de estar em outro país. Aqui percebemos como o custo de vida no Brasil é inflacionado, assim como a violência vem solapando nossa qualidade de vida. Mais tarde, quando chegamos em Posadas, capital da província, nos hospedamos em um Apart Hotel em um bairro residencial de classe média com casas grandes e bonitas que se tornavam ainda mais bonitas sem muros e sem grades, algo impensável até em Curitiba que é uma cidade pouco violenta.

Nesta noite bati um recorde em minhas expedições em montanhas. Pela primeira vez me hospedei em um lugar confortável, à convite do Marcio, é claro! Dormir numa cama mais confortavel do que a da casa da minha mãe!

Pela manhã cedo, como planejado fomos à Encarnación no Paraguai, que fica do outro lado do Rio Paraná. Eu achava que por ser um centro fronteiriço menor que Ciudad del Este – Foz do Iguaçu, os problemas de aduana eram menores também, pura ilusão.

Pegamos uma fila de uma hora e quarenta minutos para atravessar a ponte. Já no Paraguai, fomos direto ao centro comercial para procurar as “muambas”. A cidade de Encarnación é muito contrastante, como todo Paraguai. Sem querer acabamos indo ao centro “alto” onde fica o comércio mais local. Lá, pudemos ver nas proximidades casas muito bonitas das familias mais ricas, no mesmo estilo das casas de Posadas, sem muros inclusive. Passamos pelo centro, onde tem uma pracinha muito bonita com um pequeno centro financeiro de bancos ao lado, mas continuamos para o centro “baixo” que fica perto da costa do rio onde ficam as “muambas”.

Esse centro velho era aquele velho Paraguai conhecido, com ruas comercias cheias de ambulantes, cartazes de lojas por todos os lados, crianças pedindo dinheiro e muita sujeira no chão. Apesar deste aspecto, talvez pela pouca concentração de gente, o local não é tão desagradável como é por exemplo o centro de Santa Cruz de la Sierra ou até mesmo a 25 de Março em São Paulo.

Comprei uma pequena camara digital e não imaginei a dor de cabeça que isso iria me trazer, pois quando voltei para a Argentina eu tive que legalizar a nota fiscal e para isso acontecer fiquei três horas na fila. Eu que achava que a Polícia Federal Brasileira era implicante fiquei revoltado com o rigor dos policiais argentinos.

Todas as compras que as pessoas faziam, o que inclui roupas e outras coisas de pouco valor, são contabilizados e cada pessoa não pode ultrapassar 150 dólares em compras.

O valor declarado na nota fiscal não tem valor de fiscalização, pois eles têm no computador uma lista de preços e quem ultrapassa este valor tem que pagar uma multa de 50% do valor da compra. Por sorte minha câmera estava custando 160 dólares nesta lista e não tive que pagar nenhum dinheiro por este “abuso”. Gastei apenas paciência e o dia de viagem perdido. É realmente um absurdo que dentro de um bloco econômico exista tamanho protecionismo comercial que quem tenta romper, paga muito mais do que um imposto, paga também pela humilhação e é punido com a espera e a falta de respeito.

Nossa breve experiência em Misiones nos deu um exemplo das vantagens e desvantagens de se morar na Argentina, que em teoria está no mesmo barco que o Brasil.

Entretanto, se eu não tivesse sido vítima da violência endêmica do Brasil, só teria tido a visão positiva deste lugar, pois só fui fazer compra no Paraguai por que minha câmera fotográfica foi roubada no ano passado na casa da minha mãe em Fortaleza no Brasil.

Daqui seguimos viagem em direção a Salta nos pés da cordilheira dos Andes, até a próxima.

Casinhas rurais de madeira em Misiones

Fazenda de erva Mate

Pomte que liga Posadas - Argentina à Encarnación - Paraguai.
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