Blog do Pedro Hauck: Aclimatando na região de Laguna Brava com problemas no carro, últimas ações de 2015

8 de janeiro de 2016

Aclimatando na região de Laguna Brava com problemas no carro, últimas ações de 2015

No que dia em que dei inicio à minha viagem de volta ao Brasil na “Expedição Exploratória das Montanhas dos Incas” o ar condicionado do Conway, minha Land Rover Discovery 2, ano 2001, parou de funcionar e atravessamos todo o norte argentino enfrentando o calor típico desta região.

Já em Curitiba, fui numa oficina de ar condicionado e descobri que o problema era um relé, mas tal pecinha demorou para chegar em casa e antes disso já fui em outro local para preparar o carro para esta expedição. Na oficina São José Off Road em Curitiba mandei fazer um novo para-choque dianteiro (pois o anterior havia quebrado na Puna do Atacama) e um bagageiro de teto, mas nessa fiquei por umas 3 semanas sem o Conway e em apenas 3 dias, e na véspera de natal, não tive tempo de arrumar todas as coisinhas que faltavam no carro, acabei não conseguindo.

A história do Relé é que ao substituir por um novo, o problema do ar condicionado persistiu, mas no momento em que sai de Curitiba para ir à Argentina ele estava funcionando e só tive que me preocupar com isso numa cidade chamada “Pozo de los Molles”, na Província de Cordoba, onde o ar novamente parou de funcionar. Ali, fui numa auto elétrica e o mecânico desmontou a caixa de fusíveis e arrumou o mal contato que provocava a falha no ar.

Um dia antes em Misiones, tive dificuldade em dar partida no carro, girava a chave e ele não fazia nada. Parecia que a trava Carneiro estava ligada, mas depois voltou a funcionar. Mais tarde já em Mendoza a mesma coisa aconteceu e depois de cerca de 40 minutos dei a partida normalmente.

Viajamos de Mendoza até Vinchina na Província de La Rioja, cerca de 700 km. Passamos uma noite no Parque de Ischigualasto, local que havia estado na última vez em 2006, e outra nesta cidade e no dia seguinte subimos até 4800 metros com o Conway e descemos até os 3600, no Refúgio El Peñon, sem que tivéssemos qualquer problema. 

Conway e a paisagem de Ischigualasto.

A paisagem ora lunar ora marcianda de Ischigualasto.

Vini, Greissy e Paulinha conhecendo Ischigualasto sob calor de 40 graus.

A ideia era aclimatar e nisso o cronograma e o tempo estava muito bom. No entanto, quando fui dar partida no carro novamente, ele não deu sinal de vida, como acontecera em Misiones e em Mendoza. Ainda procurei alguma solução na caixa de fusíveis, mas nada.

Eis que um pouco mais tarde chega ao refúgio um grupo de turistas guiado pelo Walter Ruiz, uma pessoa muito simpática que se prontificou em nos ajudar. Com ele fizemos vários testes e verificamos que o problema era o mal contato da caixa de fusíveis, a mesma que em Córdoba abrimos para consertar o ar condicionado. Sem ferramentas, ele desceu em Vinchina, prometendo retornar com um amigo auto eletricista. 

Com este problema desanimei e fazer qualquer coisa e fiquei no refúgio enquanto o pessoal foi caminhar pela região.  Eles subiram um vale e acabaram fazendo um cume de 4200 metros, enquanto fiquei no refúgio escrevendo e lendo um livro.

Walter acabou não retornando naquele dia, mas já imaginei que isso pudera acontecer, pois era tarde e o mecânico certamente não iria subir a cordilheira para fazer um trabalho no frio da noite.

Dormimos muito bem, já sentindo melhor aclimatados com a altitude e acordei cedo procurando noticias pelo telefone satelital. A Maria me enviou várias mensagens, mas nem ela e nem eu conseguimos falar com o Walter e pairava um clima de incerteza no ar, embora nossa situação fosse confortável. Primeiro por que precisaríamos mesmo ficar ali aclimatando, depois porque tínhamos bastante comida e depois porque ali ficava ao lado da estrada e muitos turistas sobem e descem o dia todo para conhecer a Laguna Brava. Não estávamos num local remoto e havia água e comida em abundancia.

Claro que mesmo assim a gente pensa na expedição, em não atrasar o cronograma, tendo, por exemplo, descer até a cidade para comprar mais provisões. Também pensamos no prejuízo de quanto custaria um auxilio mecânico ali em cima.

Após um farto café da manhã, com pão na chapa, café brasileiro e som do David Gilmour, Vini, Paulinha e a Greissy se prontificaram em subir outro morro e do alto tentar contato telefônico com o Walter. Estranhamente meu telefone satelital dava uma mensagem de “erro na rede” toda vez que tentava ligar para ele e do telefone da Paula não conseguia pegar sinal. Daí a ideia de subir o morro e tentar o contato, enquanto eu fiquei no carro junto com todas nossas tralhas.

Sem muito que fazer, fiquei lendo um livro, o manual do Conway e vira e outra tentando achar meus amigos na montanha. Eis que por volta das 2 da tarde apareceu um guia de turismo com um pequeno grupo. Como de praxe, ele me perguntou como eu estava e respondi do problema do carro. Ele quis ver o problema, perguntou do motor de arranque e sem nem ver a caixa de fusíveis mexeu no cabo da bateria, num exato momento em que eu mostrava a falta de sinal. O carro pegou!

Fiquei abobado. O carro pegou! 

Vini fotografando o Cerro Veladero

Refúgio Laguna Brava e ao fundo o Cerro Fandango. Estes refúgios tem quase 150 anos de idade.

Conway e a Laguna Brava

Flamingos da Laguna Brava.

Café da manhã no refúgio El Peñon
Bricando com a luz no interior do refúgio de quase 150 anos
Meio que rindo o guia de turismo concluiu que o problema era alguma falta de contato no cabo da bateria ou no motor de arranque e neste exato momento eu soube que teria que descer para Vinchina para resolver este problema antes que o “resgate” do guia Walter subisse e cobrasse por um resgate.

Deixei comida nas barracas e um bilhete e vazei para a cidade, indo encontrar o Walter no caminho a bordo de uma caminhonete Toyota com o mecânico, Jorge Beron e um motorista. Expliquei que o carro funcionara, conversamos um pouco, ele veio no meu carro e fomos juntos conversando. Claro que eu fui tentando já negociar o preço da ajuda.

Chegamos a Vinchina e paramos diretamente na oficina mecânica. Lá combinei o valor da caminhonete. Tive que pagar 1000 pesos argentinos, o que dá uns 250 reais, mas o conserto do carro eu veria depois.

O mecânico, um sujeito muito inteligente que entende como funciona a engenharia das peças, desmontou o motor de arranque, limpou por fora e começou a abrir. Por dentro ele estava muito sujo e os contatos elétricos prejudicados com a sujeira. Ele gastou umas 2 a 3 horas limpando e depois montando. No final tudo ficou bom. Paguei 700 pesos pela mão de obra, comprei umas comidas no mercado e vazei pra cima, chegando ao acampamento 10 da noite.

Comemoramos o conserto do Conway e contamos as histórias. Eles ligaram para a Maria no Brasil e já sabia de parte do ocorrido, pois na cidade consegui conectar a internet e falar com minha mulher. Fomos dormir otimistas e acordamos bastante motivados.

Tomamos um café da manhã demorado e regado a conversas sobre montanhismo e montanhistas. Quando estávamos quase saindo apareceu outro guia que foi meio “mala” com a gente, dando opiniões e pedindo satisfações por estarmos sozinhos, pois para ele precisaríamos de um guia, como ele, para estar lá. Nem demos bola e fomos pra cima.

Percorremos cerca de 120 km até o complexo fronteiriço entre Argentina e Chile, um lugar chamado “Barrancas Blancas” que era nosso destino. Ali há estrutura, com um refugio para mais de 200 camas por um preço que não pesa muito. No entanto o Gendarme que estava de plantão tinha ordens de não deixar ninguém dormir no abrigo e jogou a bola para o responsável do mesmo, um funcionário da “Vialidad”, que é tipo um DNIT da Argentina. Este funcionário não podia dar ordens. Ele tentou falar com o superior em Vinchina, mas em quase duas horas de espera não recebeu resposta. Sem poder esperar mais decidimos voltar e acampar no refúgio Veladero, que fica a 4400 metros.

Eu queria muito ficar em Barrancas, que era mais baixo e mais protegido do vento. Sabia que em Veladero teríamos que montar a barraca dentro do velho refúgio, que tem quase 150 anos. Há alguns meses atrás fiz isso com o Maximo e a Suzie no refúgio El Peñon, não foi muito agradável pelo pó e sujeira, além dos ratos, mas fazer o que? 

E não foi que ao chegar ao refúgio Veladero todos ficaram decepcionados, pois de fato o local era insalubre e não era o local que desejávamos passar o réveillon. Com o dia acabando, não tínhamos outra opção. O vento soprava forte lá fora e tivemos que espremer as barracas dentro da antiga casa, tampando o nariz por conta da quantidade de poeira que subia.

Jogamos uns pedaços de madeira no chão para evitar que a poeira subisse e começamos a cozinhar um strogonoff vegetariano. Comemos bem, tentando não pensar no lugar insalubre que estávamos e ficamos dentro da barraca conversando e esperando o tempo passar. A trilha sonora era o vento.

Não pudemos esperar até meia noite e comemoramos a passagem do ano como se estivéssemos em algum lugar no meio do Atlântico. Pouco importa, pois ali no meio do nada não havia mesmo fogos e nem agito. No maximo estrelas cadentes rasgando o céu. Coisa que não tive muito ânimo de ficar olhando, pois o frio negativo me levou para dentro do saco de dormir rapidamente. Foi meu quarto réveillon seguido na Puna do Atacama.

Local onde passamos 
:: Continua...

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