Blog do Pedro Hauck: Vila Velha e as origens dos Campos Gerais e dos Planaltos das Araucárias

26 de outubro de 2012

Vila Velha e as origens dos Campos Gerais e dos Planaltos das Araucárias

Abaixo reproduzo na íntegra o capítulo de livro de minha autoria publicado na coletânia de Pesquisas sobre os Parques Estaduais de Vila Velha, Cerrado e Guartelá (PR). 

Como citar este artigo:

HAUCK, P. Vila Velha e as Origens dos Campos Gerais e das Florestas de Araucárias. In: Odete Terezinha Bertol Carpanezzi; João Batista Campos. (Org.). Coletânia de Pesquisas. Parques Estaduais: Vila Velha, Cerrado e Guartelá.  1ed.Curitiba: Imprensa Oficial, 2011, v. 1, p. 23-28.




Vila Velha e as origens dos Campos Gerais e das Florestas de Araucária
Pedro Augusto Hauck da Silva[1]
Resumo

O Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa – PR, abriga ecossistemas de campos e florestas subtropicais em total oposição sucessional. Dúvidas sobre as origens de tal paisagem conduziram o autor a buscar pesquisas paleo palinológicas e comprovar as idéias pioneiras de Maack que afirmavam que os campos eram coberturas vegetais relictuais do período mais seco e frio da última glaciação, há 10 mil anos atrás. Além de confirmar esta hipótese, o autor ainda faz importantes considerações sobre as origens das florestas subtropicais e a evolução do Domínio Morfoclimático dos Planaltos das Araucárias.

Introdução

Desde os tempos de Saint Hilaire ((PEREIRA &IEGELSKI 2002), as contradições paisagísticas existentes entre campos e florestas despertam a curiosidade dos viajantes e pesquisadores de natureza sobre suas origens. Na região dos Campos Gerais do Paraná há ecossistemas em total oposição sucessional. De um lado temos ecossistemas campestres que indicam um estágio inicial de sucessão e de outro, florestas subtropicais de Araucária, em estágio avançado de sucessão ecológica.
A história das buscas por respostas mais contundentes sobre as origens dos Campos Gerais, começam por Maack  na década de 1940, que postulou a teoria mais contundente sobre a origem desta fácie de paisagem. De acordo com ele, a vegetação campestre seria remanescente de um páleo ambiente mais frio e mais seco na passagem do Pleistoceno para o Holoceno à época da glaciação de Würm-Wisconsin (MAACK,1981).
O avanço no conhecimento sobre como se comportou as paisagens brasileiras durante esta fase de mudança climática em escala mundial levou Ab’Sáber (1992) e Vanzolini (1992) e outros autores a formular, anos mais tarde, a chamada Teoria dos Refúgios Florestais que, de acordo com Ab’ Sáber (op. cit, pag. 29) é o principal corpo de idéias referente aos mecanismos e padrão de distribuição de floras e faunas da América Neotropical. Viadana (2002, pág 20-21) realiza uma síntese das idéias da Teoria:

[...]flutuações climáticas da passagem para uma fase mais seca e fria durante o Pleistoceno terminal, a biota de florestas tropicais ficou retraída às exíguas áreas de permanência da umidade, a constituir os refúgios e sofrer,portanto, diferenciação resultante deste isolamento. A expansão destas manchas florestadas tropicais, em conseqüência da retomada da umidade do tipo climático que se impôs ao final do período seco e mais frio, deixou setores de maior diversidade e endemismos como evidência dos refúgios que atuaram no Pleistoceno terminal.

Como se nota, as idéias iniciais de Maack se encaixavam dentro do conhecimento gerado através da Teoria dos Refúgios Florestais, porém a paisagem dos Campos Gerais só foi estudada por este viés paradigmático através das pesquisas no Parque Estadual de Vila Velha realizada por Hauck (2009) e Hauck & Passos (2010) com as contribuições das pesquisas em páleo palinologia levadas à cabo pela equipe de Behling (BEHLING, 1997a, 1997b, 1998, 2002), (BEHLING; LICHTE, 1997), (BEHLING; PILLAR, 2007), (BEHLING et al., 2004), (BEHLING et al., 2007) e os dados botânicos da vegetação de cerrado presente nos Campos Gerais obtidos por Ritter (2008).

Paisagem dos Campos Gerais

Nos Campos Gerais do Paraná, onde fica o Parque de Vila Velha, de acordo com Maack (1981) a temperatura média anual é branda, 17,6°C. O mês mais quente tem a temperatura de média de 21,2°C e o mais frio, 13,3°C. O mês mais chuvoso é Janeiro, com uma média de pluviosidade de 164,4 mm. O mês mais seco é Agosto, com 71,2 mm e a precipitação média anual é de 1422 mm.
A fitogeografia dos Campos Gerais é marcada pela presença de duas fácies de paisagem bastante distintas, a primeira é a formação Florestal Ombrófila Mista, onde a Araucária (Araucaria angustifolia) é o elemento mais marcante, com sua notável beleza cênica que ocupa o andar superior da floresta acima do dossel das árvores latifoliadas. As Araucárias são árvores, originalmente, muito abundantes nos planaltos sulinos. Ela é caracterizada por seu tronco largo e sua copa em formato piramidal quando jovem e umbeliforme em idade adulta. As folhas são coriáceas, glabas, agudíssimo pungentes de 3 a 6 centímetros (LORENZI 1998).
As Araucárias dominam os estratos superiores das florestas e muitas vezes estão associadas ou em competição com espécies latifoliadas, como a Ocotea porosa (Imbuia) e outras árvores da Família das Lauraceas.
A outra paisagem existente na região é de campos, que são constituídos por formas biológicas diversas, tendo como característica marcante uma vegetação herbácea e subarbustiva. Este tipo vegetacional encontra-se, de acordo com Moro & Carmo (2007) sob abundante insolação e efeito de ventos constantes que selecionam espécies adaptadas à condições secas. Além destes fatores ambientais, contribui para a existência de campos a pouca profundidade dos solos e as condições de drenagem, ou seja, grande parte da vegetação campestre está sujeita a ambientes com baixa capacidade de reter água e alta evaporação, um suporte ecológico que não dá sustentação à formações vegetais em estágios de sucessão mais avançados.
As espécies predominantes dos campos são gramíneas da família das Poaceaes. Estas espécies, de acordo com Moro & Carmo (op.cit) são muito versáteis e seu sucesso como formas vegetais predominantes nos Campos Gerais se deu devido a seu caráter semi-xeromórfico, como a presença de céspedes (tufos densos), rizomas (caules subterrâneos) enraizamento denso e sementes abundantes que se adaptam à pressões do regime hídrico, às queimadas, à presença da fauna de herbívoros e aos solos rasos e empobrecidos.
As plantas campestres que não são gramíneas e que ocorrem com abundância e tipicidade nos Campos Gerais também apresentam adaptações xeromórficas, como caules subterrâneos (rizomas, xilopódios e bulbos) que além de serem resistentes às queimadas, são também resistentes às freqüentes geadas no inverno. Muitas das plantas dos Campos Gerais apresentam também folhas coriáceas (resistentes à queimadas), corpos carnosos e tecidos que acumulam água, mesmo que muitas destas espécies encontram-se também em áreas pantanosas.
As queimadas, a topografia e principalmente os solos controlam a biomassa arbórea, arbustiva e herbácea da vegetação de campos, imprimindo as diversas fitofisionomias e ecossistemas campestres (COUTINHO,1982).
Qual seria a explicação para a ocorrência de ecossistemas tão distintos convivendo lado a lado?

Evolução da Paisagem dos Campos Gerais

De acordo com Hauck & Passos (2010), os dados páleo palinológicos indicam que o Segundo Planalto do Paraná durante o Ultimo Máximo Glacial (U.M.G), entre 12 mil há 9 mil anos atrás, era recoberto exclusivamente por vegetação aberta, formado principalmente por campos secos:

Os registros palinológicos refletem um clima muito mais seco dificultando o desenvolvimento de uma grande população de Araucaria. Por outro lado, estes registros mostram que as temperaturas mais baixas e com frequentes geadas, limitaram a expansão da vegetação de cerrado arbóreo e de florestas, favorecendo a expansão de um tipo de vegetação campestre subtropical (HAUCK & PASSOS op. cit. 2010, pag. 160).

Neste momento, de acordo com os autores, as coberturas vegetais úmidas estavam bastante fragmentadas e indivíduos do pinheiro, hoje abundante por todo planalto, se encontravam refugiados em zonas mais rebaixadas, em fundos de vales onde a umidade se manteve mesmo no ápice da glaciação, como na região do baixo rio Iguaçu, onde hoje fica o Parque Nacional do Iguaçu, que na época poderia ter um clima subtropical como os existentes atualmente no topo dos planaltos:

Um antigo refúgio de matas subtropicais situado no Vale do Paraná (extremo Oeste do Paraná, que designamos provisoriamente de refúgio de Foz do Iguaçu) deve ter se tropicalizado nos últimos milênios, afogado que foi pelas florestas de climas quentes, re-expandidas a partir de refúgios situados no Norte do Paraná e Oeste de São Paulo. (Ab’SábeR 1981, pág. 20).


Com o término da glaciação e retropicalização, as Araucárias foram se expandindo para zonas de temperatura mais baixa nas regiões mais elevadas dos planaltos sulinos. Pelo vale do rio Paraná e Iguaçu foi penetrando a vegetação da Floresta Estacional Semi Decidual.No Leste do Estado, a Floresta Ombrófila Densa foi ganhando altura na Serra do Mar e penetrando o Vale do Ribeira, chegando até o limite do Segundo Planalto.
Com a constatação realizada por Ritter (2008) de que nos Campos Gerais há pelo menos 587 espécies típicas de cerrado, é inegável a participação genética da flora desse domínio de paisagem na constituição dos campos subtropicais. Isso ocorreu porque na vegetação dos cerrados há uma grande ocorrência de espécies de características ecológicas pioneiras, muito oportunas e que rapidamente colonizaram o espaço deixado pela retração de fisionomias vegetais mais exigentes. Os Campos Gerais não fazem parte do cerrado, porém parte significativa das espécies vegetais que povoam estes campos subtropicais ou descendem ou também ocorrem com tipicidade na área nuclear do Domínio dos Cerrados.
Estas espécies, que são as que compõem o substrato herbáceo e arbustivo das fácies abertas de cerrado, embora tenham como centro de origem genético um domínio tropical, ao colonizar terras mais frias, mostram que não têm como fatores limitantes as baixas temperaturas e nem mesmo as frequentes geadas e que são muito adaptadas a ambientes mais secos. Assim, enquanto perduraram as condições climáticas impostas pelo período glaciar, estas espécies não encontraram resistência e obtiveram grande sucesso na colonização dos espaços mais frios e mais secos dos planaltos do Sul, e das terras mais altas do Sudeste.
Quando as condições climáticas começaram a mudar nos planaltos, com a retomada do calor no Holoceno, período denominado de Optimum climaticum por Ab’Sáber (1980), a flora sensu strictu de cerrado e também da Floresta Semidecidual, refugiadas em sítios protegidos das geadas e de outros fatores climáticos limitantes para este tipo de vegetação, passaram a se expandir. Neste período compreendido pelo Holoceno Médio, as massas de ar tropicais continentais invadiam os planaltos sulinos e não permitiam a atuação mais incisiva das frentes polares, resultando em aumento de temperaturas, mas não de pluviosidade.
Com a redução das temperaturas a partir do Holoceno tardio, como atesta Bigarella (1964), a cerca de 3.000 anos, houve um acentuado aumento na umidade dos planaltos, com grande expansão da Floresta de Araucária, devido suas estratégias de dispersão muito oportunas, fazendo retrair outras formações florestais e campestres Este fenômeno não foi limitado ao Sul, ocorrendo também no Sudeste do país que abrigava refúgios antigos de Araucárias em vales protegidos (BEHLING, 1997a; BEHLING, 1998; BEHLING, 2002; BEHLING; LICHTE, 1997; BEHLING et al., 2007).

Origens das Florestas de Araucária

A Araucária é um indivíduo arbóreo que pode ser considerado um fóssil vivo por ter suas origens remetentes ao Triássico (Mecke et. al. 2005). Este pinheiro apresenta hábitos ecológicos ímpares, de acordo com Soares (1972), as Araucárias têm sido consideradas por pesquisadores ora uma espécie pioneira ora clímax nos estágios sucessionais da floresta subtropical dos planaltos sulinos. Entretanto, de acordo com o autor, esta espécie não se encaixa em nenhuma destas escalas de sucessão.
As Araucárias não apresentam algumas características fundamentais das pioneiras para que assim sejam classificadas. Para Soares (op. cit.), as pioneiras precisam, em primeiro lugar, apresentar uma grande mobilidade, ou seja, devem ser capazes de se disseminar através de extensas áreas. A Araucária não apresenta uma eficiência dispersiva para assim ser classificada. Suas semente são grandes, de acordo com Lorenzi (1998), têm entre 4 e 7 centímetros de comprimento, são pesadas e perdem rapidamente o poder germinativo. As espécies pioneiras também são capazes de suportar ambientes inóspitos, ao menos em suas regiões de ocorrência. De acordo com Soares (op. cit.) as Araucárias jovens com menos de 3 anos não suportam geadas e morrem. Considerando que este fenômeno climático é comum nas regiões dos planaltos sulinos, isto prova a fragilidade da espécie diante de seu ambiente natural. Esta espécie se desenvolve bem quando jovem no sub bosque formado por indivíduos de sua mesma espécie mais velhos, desenvolvendo-se bem neste estágio à claridade de apenas 25%, o que as torna intolerantes ao sol em um estágio de vida, ao contrário das pioneiras que são, sem exceção, heliófitas em todos os estágios de suas vidas.
As Araucárias também não podem ser consideradas clímax, pois velhos povoamentos desta espécie são comumente substituídas por espécies latifoliadas de crescimento lento, tais como as Lauraceas, família de arbóreos que dominam o dossel das formações florestais do Domínio Tropical Atlântico, o que indica que as folhosas são espécies clímax desta comunidade. Soares (op. cit.) justifica que as coníferas como as Araucárias são espécies rústicas e primitivas e a tendência natural do processo evolutivo na superfície terrestre é a substituição destas pelas latifoliadas mais evoluídas e especializadas.
De acordo com o Soares (op.cit.), em uma situação hipotética, as pioneiras são as primeiras a ocupar o sítio. Elas preparam o local para as espécies séries, mas não conseguem elas próprias se regenar em seu sub-bosque. As espécies séries preparam o local para espécies mais adiantadas na escala sucessional, este seria então o posicionamento da Araucária dentro dos estágios de sucessão. Isso explica a ausência de regeneração natural em povoamentos naturais onde a sucessão evolui sem nenhum distúrbio que pudesse perpetuar estágios intermediários.
A constatação de que a Araucária é uma espécie série, implica em diversas indagações sobre sua abundante presença e predominância nas florestas subtropicais brasileiras, o que significa dizer que as espécies clímax que habitariam os planaltos sofrem de algum impedimento ou distúrbio para que elas não ocupem seu devido local nos andares superiores das florestas do Sul.
Um dos distúrbios ambientais mais freqüentes da natureza e que são responsáveis por imprimir grandes transformações imediatas na paisagem e adaptações e tolerâncias ao longo do tempo nas espécies é o fogo. O fogo é de acordo com Soares (op.cit.), um poderoso agente ecológico de intervenção natural. Sua freqüente ocorrência potencializa a permanência das espécies séries que passam a se comportar como as espécies dominantes devido à reciclagem do habitat:
Em um estudo sobre a flamabilidade em reflorestamentos de Araucaria angustifolia, Beutling et. al. (2005), constataram que um capão desta espécie arbórea apresenta uma carga de material combustível composto por matéria morta numa proporção de 9:1 entre os combustíveis vivos, sendo que a maior participação eram materiais finos e uniformes em decomposição e a grimpa, que é o conjunto de ramos secundários compostos por folhas característicos do gênero Araucaria, o que confirma a hipótese de que esta árvore é de alta flamabilidade e sugere que ela dependeria das queimadas para permanecer abundante na paisagem.
Incêndios florestais são comuns no Brasil em todos os domínios de paisagem e não é diferente nos planaltos meridionais. Apesar de comum, são poucos os trabalhos que estudam suas causas, mas em um dos poucos estudos disponíveis sobre incêndios florestais de Araucária. Soares & Cordeiro (1974) apontam que a maior causa é antrópica, mas incêndios naturais provocados por raios vêm em segundo lugar, o que nos possibilita afirmar a existência de incêndios naturais pelos planaltos do Sul.
Através de estudos paleoambientais, Behling (1997b) pôde datar a ocorrência de carvão e material carbonizado, assim como também coletar pólens das plantas e determinar qual era o tipo de cobertura vegetal existente na região dos Campos Gerais durante todo o Holoceno. De acordo com o autor, durante o Pleistoceno Terminal (de 12.480 a 9.660 AP) eram raros os registros de incêndio e predominavam campos em detrimento das florestas. No Holoceno inferior e médio (9669 – 2850 AP), houve um acréscimo de florestas e os campos recuaram. Houve neste período um registro significativo de ocorrência de carvão e material carbonizado. Behling (op.cit.) atribui a esta mudança um acréscimo de espécies da família das Poaceaes (gamíneas), que tem alta flamabilidade. Ao mesmo tempo, ocorrem registros de presença humana, pois já nesta época e não é descartado que grupos páleo indígenas faziam uso do fogo. As Araucárias ainda não dominavam a paisagem.
É no Holoceno tardio (2850 – 1530 AP), que segundo Behling (op.cit), as Araucárias começam a sair dos refúgios e habitar os planaltos. Neste período foi encontrado o maior porcentual de carvão e material carbonizado. Isso indica de um lado que houve uma redução do tempo de estiagem anual que proporcionou uma expansão da Araucaria angustifólia, de outro lado evidencia que o incêndio independe de um período seco, e está relacionado com a presença de material combustível, no caso, proveniente da espécie arbórea predominante: A Araucária.
Nos povoamentos maduros de Araucária, as árvores apresentam uma altura média, segundo Soares (1972), de 15 metros. De acordo com o mesmo autor, os indivíduos adultos apresentam casca de 5 a 10 cm de espessura que suportam altas temperaturas externas. A forma peculiar de um indivíduo de Araucária adulto de copa em formato umbeliforme sem ramos laterais na maior parte do tronco são em parte uma adaptação que protege a árvore de incêndios na copa, o que faz da Araucária uma espécie arbórea de resistência maior à incêndios do que outras árvores folhosas com quem ela poderia entrar em competição  (Lauráceaes). No caso de um incêndio moderado, a Araucária não somente elimina seus “oponentes” ecológicos, como também limpa o sub bosque e áreas adjacentes para a geminação de novos indivíduos de sua espécie, sendo que este pode ser um argumento para explicar a ocorrência muito comum de capões de Araucária com muitos indivíduos adultos apresentando a mesma altura: São árvores que colonizaram o ambiente que sofreu a intervenção de uma queimada.

Considerações finais

Como se pôde observar, os ecossistemas florestais e campestres dos Campos Gerais apresentam disparidades em seu aspecto sucessional e adaptação à condições de umidade opostas. Porém ambos têm hábitos ecológicos semelhantes no que tange à resistência e até mesmo dependência de queimadas para se regenerar, assim como a adaptação ao frio. A diversidade morfopedológica dos planaltos, onde há desde neosolos litólicos até latossolos, também dá condições de permanência de ecossistemas tão distintos.
A questão da ecologia do fogo no Domínio dos Planaltos das Araucárias é um importante argumento ecológico para a compreensão do estado sucessional das florestas sub tropicais do Brasil que aliados aos dados páleo palinológicos confirmam uma idade juvenil à esta região natural ao ponto de que domínio  não havia atingido seu clímax até sua desestruturação realizada a partir da colonização européia.
Na composição florística dos Campos Gerais há a presença de espécies oriundas de diversos domínios morfoclimáticos que têm sua área nuclear situada a centenas ou milhares de quilômetros de distância, são eles o Domínio dos Cerrados e o Domínio Tropical Atlântico, cada qual “cedeu” alguns indivíduos que se rearranjaram ecológicamente de acordo com as condições climáticas e ambientais dos planaltos sulinos ao término da última glaciação, dando origem apenas recentemente ao mosaico vegetacional de florestas e campos subtropicais.
Os aspectos morfopedológicos, climáticos e botânicos interagem de uma maneira sistêmica, dando origem à Paisagem Geográfica strictu sensu que tem uma espacialidade definida em escalas territoriais e temporais, apresentando sua dinâmica e fisiologia própria: Os domínios morfoclimáticos.
De acordo com Ab’Sáber (2003), o interior dos domínios são passíveis de subdivisões regionais baseadas nas compartimentações topográficas combinadas com atributos pedológicos e do embasamento geológico sob atuação de climas regionais. Estes ecossistemas identificáveis e estudados localmente são projetados em níveis de geossistemas. Estes conjuntos de paisagens não evoluíram separadamente, eles apresentam uma história biogeográfica e geomorfológica, sendo resultado de inúmeras mudanças de energia ao longo do tempo.
Desta maneira, os seis domínios que são reconhecidos no Brasil não apresentam entre eles uma delimitação clara e linear. Seus limites são por meio de áreas de transição onde elementos típicos de um ou outro domínio se alternam de acordo com as condições locais que favorecem ou desfavorecem uma formação de um ou outro domínio.
Estas faixas de transição apresentam não somente as características dos dois domínios morfoclimáticos vizinhos, mas muitas vezes a combinação deles que conforme Ab’Sáber (op.cit.) pode ser conformado como uma terceira paisagem, um enclave ou então uma paisagem tampão onde certas espécies se aproveitam da instabilidade das condições ecológicas passando a dominar localmente o espaço onde as condições climáticas e ecológicas eram diretamente desfavoráveis para a fixação da paisagem no interior das áreas nucleares ou o oposto, eram favoráveis ao adensamento e à expansão de determinadas floras.
Estabilidade e instabilidade agregações e desagregações de antigas paisagens que evoluíram para o atual quadro dos conjuntos paisagísticos, os quais representam um “clímax” evolutivo. Neste sentido, os campos e as florestas dos planaltos sul brasileiros não são uma área de transição entre o Domínio Tropical Atlântico e o de Cerrado, mas sim comporta um domínio novo, o Domínio dos Planaltos das Araucárias, estabilizado com sua dinâmica ecológica própria e independente dos domínios que deram origem genética à ele há cerca de 2000 mil anos.

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[1] Doutorando em Geologia Ambiental, Programa de Pós Graduação em Geologia UFPR. Email: falecom@pedrohauck.net

Vegetação campestre no PEVV

 Contraste entre campos e florestas de araucaria no PEVV

Floresta de Araucária com Syagrus no PEVV

 Bromélias de chão

Latifoliadas heliófitas e Araucarias

Contato campo e floresta





 Arenitos com formas evoluidas em ambiente umido



 Topografias ruiniformes do PEVV.



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