Ao saírmos de Cachi, fomos em direção ao norte pela remota Ruta 40, que está toda sem calçamento. A estrada sobe o vale do rio Calchaqui até chegar na Abra del Acay alcançando 4900 metros sobre o nivel do mar, numa altitude que nenhuma estrada da América chega.
A estrada tem uma inclinação pequena até o povoado de La Poma, depois ela começa a subir mais bruscamente zig-zagueando as vertentes do vale fazendo curvas muito fechadas e perigosas, que ficam ainda mais se houver gelo na pista, que para nossa sorte, não havia.
O carro ia perdendo potência conforme a altitude aumentava, ao mesmo tempo em que o motor se aquecia. A pouca concentração de oxigênio no ar de altitude dificulta a combustão do motor resultando nisto.
A subida ia tudo bem, até que um pneu do carro furou. Foi aí que começamos a ter problemas. Logo quando paramos o carro, ouvimos um barulho vindo do motor e logo vimos a água do radiador se esparramar no chão, o carro havia fervido. Quando tentamos abrir o capô do carro para ver o que havia acontecido, a alavanca que se usa para isto quebrou e não pudemos fazer nada, a não ser continuar a viagem com o que restava de água no radiador, e assim subimos o pouco que faltava para se chegar no Abra del Acay e começar a descer.
Foram cerca de 40 quilômetros em estrada de terra com o carro fervendo até chegar em San Antonio de Los Cobres, um milagre não ter fundido o motor.
No dia seguinte fui procurar um mecânico para ver o que havia acontecido. Descobri que havia estourado uma mangueira do radiador. A única oficina aberta na cidade era horrível, nunca vi lugar tão sujo e cheio de de sucata, quer dizer, "peças".
Os mecânicos, que deviam ter uma ascendência direta de Manco Capac, fizeram uma gambiarra para podermos voltar à Salta e assim fomos, tendo que completar o nivel de água do radiador de 20 em 20 quilômetros. Nossa arriscada tentativa valeu a pena e conseguimos chegar na cidade a tempo de poder arrumar o carro. Lá, descobrimos que foram três mangueiras quebradas e não somente uma!
Depois de finalmente consertar o carro, pegamos a estrada novamente em direção à San Salvador de Jujuy, para adiantar nossa viagem. Sem informação, fomos por uma estrada secundário horrorosa, em que a maior parte do tempo tem apenas uma faixa de carro. Para piorar, o motor esquentou de novo e tivemos que completar o nível de água outras tantas vezes.
Em Jujuy, dormimos em um hotel super luxuoso, novidade para mim. Mesmo assim não pude dormir direito de tanta preocupação com o carro. Acordamos cedo e fomos a busca de outra oficina e assim conseguimos arrumar o carro por definitivo, o mecânico anterior simplesmente não tinha apertado direito as mangueiras.
Sedentos por estrada fomos logo deixando San Salvador para trás indo em direção aos Andes novamente. Subimos pela estrada internacional que cruza o passo de Jama, esta, inteiramente asfaltada, ainda bem!
Dormimos nosso última noite na Argentina na última cidade deste país e lá encontramos uma família paranaense viajando de Fusca! Sorte deles, pois com um carro que refrigera o motor com o ar, eles nunca iam ter problemas com as mangueiras.
Atravessamos a fronteira no dia seguinte, ontém. A divisa entre os dois países fica numa altitude de 4100 metros, entretanto, quando se chega ao Chile, a estrada sobe ainda mais chegando a incríveis 4800 metros de altitude, num lugar onde a paisagem estava coberta de neve. Lá havia algum perigo, por isso a estrada fica fechada das 16:00 ás 10:00.
Não tivemos mais problemas com aquecimento do motor e foi uma agradável viagem pela Puna do Atacama, atravessando salares e paisagens interessantes , como a região de Tara, onde existe uma série de relevos ruiniformes numa altitude de aproximadamente 4700 metros, que é altitude do altiplano da região, provavelmente o mais alto dos Andes.
São mais de 100 quilômetros em que percorremos o altiplano da Puna, até que chegamos à base do vulcão Licancahur. Lá, a estrada mergulha e desce mais de 2000 metros sem ter quase nenhuma curva. A paisagem nevada fica para trás e aos poucos vamos chegando no deserto do Atacama, quase sem cobertura vegetal numa paisagem não muito favorável a habitação humana, a não ser nos Oásis, onde existem rios ou lagoas e a umidade permite a existência de árvores e outras vegetações, um desses oásis é San Pedro de Atacama.
San Pedro é uma cidade muito turística. Ela preserva sua arquitetura típica atacameña, com casas de adobe e chão de terra poerenta. É um lugar bonito com muitos gringos mochileiros. Mas está no Chile, e aqui as coisas são muito caras e os chilenos não sabem tratar bem os turistas, sabem apenas explorar os mesmos.
É por este motivo que estamos indo embora daqui. Já estamos a mais de dez dias de viagem e ainda estamos longe das montanhas que queremos escalar. Vamos apenas conhecer alguns lugares mais famosos e depois vamos pegar a estrada novamente.
O objetivo agora é ir até Arica e de lá subir os Andes novamente até chegarmos na Bolívia.
Nossa processo de aclimatação não está concluído. Tínhamos a intenção de aclimatarmos no vulcão Láscar aqui perto, entretanto a estrada para lá está ruim, então por isso já vamos direto à Bolívia que é o que nos interessa.
Flor de um cactus (qual seria?)
Paisagem no vale de Calchaqui
Chegando no ponto mais alto da ruta 40, a Abra del Acay
Uma Lhama ao lado da Ruta 40
Guanacos no Paso de Jama
Marcio e seu carro: ¨El poderoso¨
Trecho nevado da estrada internacional no Chile
Paisagem ruiniforme (de morfologia sugestiva para uma amiga do Marcio!) no salar de Tara.
Vulcão Licancahur nevado!