Blog do Pedro Hauck: Fim da expedição ao Nepal

14 de maio de 2017

Fim da expedição ao Nepal

Evidentemente cansado após ter aproximado e escalado o Mera Peak tão rápido, passo uma noite apagado em Khare.

O dia seguinte amanhece claro, mas cheio de neve no chão. Neste dia começamos nosso retorno, indo até Khote, onde chegamos debaixo de uma forte nevasca.

Lá neste pitoresco vilarejo tomo um banho depois de 10 dias. Este banho foi dentro de uma casinha de madeira, com um balde de 10 litros de água quente que tinha uma torneirinha. Foi rápido, mas muito bom para limpar também a alma.

No dia seguinte fomos até um lodge um pouco antes do passo Zatrwa. As condições de tempo, com chuva e neve, nos fizeram ficar ali, mesmo chegando cedo. Aproveitei para finalizar um livro e secar roupas ao lado de um aquecedor a lenha. Tirando a meia, vejo meu pé descascando inteiro, que não estava no dia anterior quando tomei banho. Será que lá eu peguei um fungo no pé?

Muito cedo no dia seguinte, conseguimos atravessar o passo e lá é apenas uma longa descida de 1700 metros de desnível até Luckla. Cansado vamos chegar em nosso destino apenas no meio da tarde.
Nos hospedamos no hotel do aeroporto e o dono consegue manejar a passagem sem custo. Assim conseguimos remarcar o vôo para o dia seguinte.

Novamente acordamos super cedo. Logo estávamos no aeroporto, que mesmo pequeno tem suas regras de aeroporto. Com as botas rígidas no pé e roupa pesada no corpo, consigo passar sem precisar de pagar excesso de bagagem. Mas o tempo estava ruim em Kathmandu, somos obrigados a esperar.
Um vôo antes do nosso decola, mas volta meia hora depois. Isso preocupa. No entanto um avião de nossa empresa pousa na pequena pista. Logo, somos chamados a embarcar.

A pequena aeronave bimotor imbica na cabeceira. Acelera na pista que é inclinada rumo a um grande precipício e antes que comece a cair no profundo vale começa a planar e ganhar altura. O aeroporto de Lukla sempre te reserva algumas emoções.

O visual das montanhas desaparece quando entramos no meio de uma chuva. Ao passar por ela a paisagem verde passa a estar recoberta por neve.

A paisagem pré Himalaia é composta por morros arredondados e vales profundos. Há casinhas, pastos, plantações e florestas. Num relevo tão escarpado e com solos, é difícil construir estradas, que aparecem esporadicamente rasgando as vertentes em forma de caracóis, sempre seguida de grandes erosões. Somente bons 4x4 para passar por estes lugares. Isso sem falar que são caracóis para subir e descer e no fundo de vale há sempre um rio bastante movimentado, cruzados por pontes precárias ou mesmo sem ponte alguma. É por isso que o transporte ali é feito por trilha. Construir e manter uma rodovia neste relevo é muito caro.

Em pouco tempo as casinhas esparsas se aglomeram e passamos a sobrevoar Kathmandu. Um estopido e o trem de pouso é acionado e rapidamente o bimotor toca o solo, o que faz que os passageiros aplaudissem o piloto.

Kathmandu está debaixo de uma chuva monsônica, tivemos sorte em voar.

Retiramos nossa bagagem e tomamos um táxi para Thamel, a "Batel" de Kathmandu onde iria me hospedar. Fiquei no mesmo hotel da ida, paguei um almoço ao fiel Tendu e desejei-lhe sorte. Ele ficaria mais alguns dias numa hospedagem procurando outro trabalho nas agências do bairro.

Com minha passagem marcada para dali 9 dias, eu tinha que resolver minha vida. Também trocar de hotel para um mais barato.

Gastei todo o primeiro dia em Kathmandu arrumando meus duffels. Maximo havia deixado pra trás bastante coisa para eu levar ao Brasil. Tive que comprar outra bolsa marinheira para acomodar tudo é esquecer o plano de levar alguns presentes, pois as duas malas excediam em muito o peso e o volume de uma bagagem normal.

Com a indicação do Felipe "Dawa" Diniz, fui me hospedar num hostel cinco vezes mais barato que o hotel e uma vez instalado fui dar uma banda na cidade.

Na primeira caminhada, fazia calor e como sempre a poeira levantava do chão.  Vendedores, pedintes, traficantes de drogas e golpistas me assediavam. Porém, depois de tanta caminhada já não tava afim de aguentar aquilo tudo.

O estopim aconteceu quando sai do hostel certa manhã e fui abordada por uma mulher hindu com uma criança. Ele veio me pedir ajuda. Não estava muito bem humorado e ela começou a insistir. Disse que não tinha dinheiro, mas ela falou que não queria dinheiro, queria leite para a criança e me indicou onde eu poderia comprar.

Entrei numa birosca e ela apontou para uma caixa de leite em pó. Perguntei ao senhor dono da venda quanto custava. Ela imediatamente colocou o leite embaixo do braço enquanto o homem numa calculadora digitou o valor: 1800 rupias, que dá cerca de 18 dólares!

Na hora disse que não é caí fora. Golpe! 

A mesma mulher tentou no dia seguinte fazer a mesma coisa comigo, esquecendo do dia anterior. Olhei feio pra ela e continuei meu caminho. Golpista salafrária. Usa uma criança para tomar dinheiro dos turistas.


Claro que Kathmandu tem coisas legais e gente legal. Neste tempo na volta fiz amizade com o dono de um restaurante que virei cliente, porém não é todo dia que você quer lidar com a malandragem nas ruas. Com tanta coisa a fazer no Brasil, grana curta e sozinho, decidi antecipar meu vôo e deixar para outra oportunidade de conhecer melhor os atrativos do vale de Kathmandu.

Estava na hora de voltar pra casa.

Tendu e eu em Khare
Tendu aguardando o voo no aeroporto de Luckla.
Aguardando a hora de embarcar.
Homens santos em Kathmandu
Ruas de Thamel.

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