Blog do Pedro Hauck: Corrida contra o tempo, 4o dia do Mera Peak

10 de maio de 2017

Corrida contra o tempo, 4o dia do Mera Peak

Após conseguir conectar a internet em Tangnak pela primeira vez desde praticamente Phakding, pude ver a previsão de tempo. Não era muito animador, teria o próximo dia inteiro limpo e a manhã do outro dia. Após isso não havia nenhuma janela de bom tempo.

Foi preocupante! Demorei 19 anos para vir ao Himalaia e poderia perder minha primeira oportunidade de escalar por aqui por mau tempo. Seria muita falta de sorte...

Fui dormir super cedo com uma estratégia na cabeça: Chegar cedo em Khare, conhecer meu "climbing Sherpa" e convencê-lo de fazer o ataque ao cume no dia seguinte à partir do campo base.
Assim partimos Tendu e eu pela trilha acima logo após o café. Tendu anda bem mais rápido. Minhas passadas são curtas. Chego a ficar com raiva dele por termos andado tão pouco no primeiro e terceiro dia.

Muitas coisas vão passando por minha cabeça. Seria extremamente frustrante não conseguir escalar.
Após 2 horas caminhando chegamos em Dig Kharka. Tendu me esperava ao lado do refúgio. Quando chego ele me avisa que faltava mais um hora para Khare.

_Só isso!? Pensei....

Mas não tive tempo de reagir algo. Teríamos como ter chego ali no dia anterior. Porém não disse nada. Preferi caminhar para chegar mais rápido.

A trilha fica mais inclinada e ganhamos altura rapidamente. Mantenho a velocidade de caminhada da planície. Ando sempre igual, essa é uma característica minha.

Passamos por um sistema de lagos alpinos, vamos caminhando por uma encosta pedregosa até avistar umas casas com teto verde. Lá é Khare.

Tendu aperta o passo e quando chego ao vilarejo não o vejo. Sento numa escada de pedras para tomar fôlego e quando decido continuar adentrando a vila, o Sherpa sai de dentro de um restaurante e diz:

_Pedro Sir. Come here!

Entro na construção, belamente acabada em seu interior, com piso de madeira polida, mesas e cadeiras também bem acabadas. Havia uma máquina de café italiana e muitas opções de cafés. Não para meu bolso infelizmente.

No fundo Tendu e outro rapaz falavam sherpa. Só consigo entender algumas palavras como "high camp", "climbing".

No final ele me diz:

_ Pedro Sir, it's okay. They will find a climbing Sherpa for you. You just need to make your back pack. Is your equipment ok?

Fico feliz com a notícia e já peço um macarrão frito com legumes para dar energia para o que viria.
Meu "climbing Sherpa" aparece na sequência, vê minha bota,  cadeirinha, crampon e pede para que eu alugue alguns equipamentos, piolet, jumar, mosquetões um freio 8 e um cordelete de 7 mm.

Com isso ele construiu uma solteira e faz um cabo que se liga com o jumar. Tudo pronto é hora de partir. Ainda eram 11:30.

Fico extremamente feliz, pois minha expectativa era de pernoitar no campo base, que é a 5300 metros. Khare fica a 5 mil e o campo alto fica 5700!

Seria um grande esforço inicial, mas do campo alto, o cume que está a 6470 metros seria moleza! Porém ainda teria que chegar lá.

Com a bota rígida nos pés e muito mais leve, vamos ganhando altura e deixando Khare para trás. No Nepal é proibido escalar sem um sherpa, daí a necessidade de um climbing Sherpa, uma cara que teria que me guiar goste ou não.

Meu climbing Sherpa se chamava Tengba. Ele era rápido na caminhada e não falava bem inglês. Também não gostava muito de falar e nunca me chamou pelo nome, apenas de "sir".

Pelo menos não perdia tempo. Andava rápido e eu por sorte conseguia acompanha-lo também rapidamente.

_ Crampon place! Diz Tengba.

Antes que ele estivesse cramponado, já estava com meus pés no glaciar pela primeira vez no Himalaia.

_ Finalmente, pensei eu. Estou escalando!

O Mera é uma das montanhas de 6 mil mais populares do Nepal. Um grupo de montanhistas se enfileiravam mais para cima e no gelo havia uma marca de pisoteio, uma trilha no gelo.

Tengba e eu fomos subindo rapidamente, como se ele estivesse me testando. Vamos ultrapassando todos , até que num dado momento ele pára para me esperar e diz que o acampamento está próximo.  Olho para o relógio e vejo que ainda nem eram 15 horas. Ele diz:

_ You are fast!

Aproveito o comentário e digo que na próxima vez eu vou sair direto de Lukla. Ele sorri e depois diz que na frente para pegar uma barraca pra mim. Digo ok e como Sherpa ele vai voando montanha acima.

Chego no acampamento por volta das 15:30. O local é uma plataforma de rocha ao lado de um rochedo com alto grau de metamorfismo. Tengba já tinha reservado minha barraca e ele aponta aonde devo ficar.

Após me alojar, vou dar uma volta e conhecer a barraca refeitório, onde me dão suco quente e sopa de macarrão. Facilmente vou quebrando o gelo com os sherpas e eles vão me conhecendo como o "brasileiro rápido".

Aproveito para me hidratar. Afinal nesta viagem ainda não tinha estado há 5700 metros.  Aproveito para dar uma olhada na paisagem quando as nuvens deixam e assim consigo ver o Makalu, a quinta montanha mais alta do mundo.

Vou dormir tranquilo, mas tenho que urinar 9 vezes por causa do chá. Hidratar é um saco!

Mera Peak visto de Khare
Minha mochila com a bandeira do Nepal que o Tendu me deu.
Acampamento alto do Mera Peak.
Barraca refeitório do acampamento alto do Mera.
Mera Peak visto do Campo Alto.
Chamlang (direita) e na esquerda dele, atrás das nuvens, o Makalu

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