:: Leia a parte anterior a este relato
Não dormi bem à noite devido à ansiedade de estar fechando este ciclo de três montanhas tão desafiadoras e misteriosa, fechar um ciclo que durante anos eu sonhei e que estava prestes a realizar. Evidentemente havia o medo de falhar e pensar em ter que voltar a Bolívia para fazer esta montanha de novo com o jipe, era algo a se temer, pois hoje é dia é muito complicado dirigir por aqui por conta da política.
Não dormi bem à noite devido à ansiedade de estar fechando este ciclo de três montanhas tão desafiadoras e misteriosa, fechar um ciclo que durante anos eu sonhei e que estava prestes a realizar. Evidentemente havia o medo de falhar e pensar em ter que voltar a Bolívia para fazer esta montanha de novo com o jipe, era algo a se temer, pois hoje é dia é muito complicado dirigir por aqui por conta da política.
Assim, o despertador acabou tocando antes mesmo de eu achar que estava preparado para o ritual de ataque ao cume. Mesmo assim, meio sem achar que estava preparado, executei todos os procedimentos e as 4:30 da manhã começamos a caminhada.
O tramo inicial parecia com o do Chaupi Orko. Novamente tivemos que escalar uma parede de barro congelado com clastos de seixos e calhaus não muito agradável que foram depositados por uma antiga geleira que ali esteve. O bom desta vez é que pelo menos o tramo foi curto, no entanto a escalada continuou, desta vez num granito que havia na crista mais acima. Executamos trechos de 4 grau de escalada em rocha, novamente com bota dupla e mochila nas costas, no entanto este esforço valeu a pena e ganhamos 300 metros com bastante rapidez, para começar a escalar no gelo logo que os primeiros raios de sol iluminaram o horizonte.
Tivemos que fazer uma pequena travessia num colo preenchido por neve em pó que como em todas as outras montanhas, afundava até o joelho. Esta foi nossa aproximação até o começo da crista, que tinha uma inclinação aproximada de 65 graus no começo. De longe avistávamos uma superfície peluda nesta crista e quando chegamos neste local demos conta que eram pequenos penitentes emergindo de uma superfície de gelo verglass, que é gelo duro de congelamento, fiquei frustrado, pois todas as montanhas técnicas que escalei tinha gelo ruim e nesta não dói diferente.
_ Andes tá foda! Afirmava Maximo. _ Nunca vou escalar gelo de qualidade por aqui. Desabafava meu parceiro que ao contrário de mim, já escalou gelo bom em outras cordilheiras.
Como não havia alternativa, prosseguimos com nossos parcos equipamentos técnicos, já que por falta de informação, não havíamos levado ferramentas apropriadas para aquele terreno. Eu, por exemplo, tinha uma piqueta martelo técnica e uma piolet de travessia ultra leve da Kong que peguei emprestado do Hilton Benke, que é uma ferramenta boa para travessia em glaciar, mas não para escalada em gelo. O Maximo por sua vez, esqueceu de afiar os crampons que arredondados não se prendia ao gelo duro da montanha.
E assim, subindo como dava, superamos esta crista mais inclinada de gelo ruim e chegamos num local menos íngreme de gelo glaciar, onde se podia ficar em pé e progredir também rapidamente.
Atravessamos algumas gretas e ganhando bastante altura vertical chegamos na mãe de todas as gretas, que circulava toda a crista. Encontramos um local onde a greta era mais angosta e conseguimos superar esta adversidade, dando direto numa outra parte inclinada da crista. Parecia perto e ficou ainda mais quando chegamos ao fim deste tramo e a nossa esquerda se erguia um cimo.
Fizemos uma travessia bastante exposta pela crista que levava a este cimo, num local que era o topo de uma cornija e subimos este topo, onde percebemos que se tratava de um falso cume. Após a descida deste cume, chegamos a um colo que era mais amigável, onde pudemos beber chá e respirar aliviados. Lá combinamos que no cume verdadeiro não iríamos fazer muitas fotos e nem depositar as cinzas de nosso amigo Parofes devido à fragilidade e periculosidade do terreno. Foi o que fizemos.
Galgamos os metros finais do cume verdadeiro do Chearoko com rapidez, chegando a seu cimo que era extremamente afiado e pequeno. O tempo estava bom, ainda bem, mas devido a instabilidade do cume mal pudemos comemorar, como prevíamos.
A volta não foi menos tensa, pois mais difícil que escalar é desescalar uma rota técnica. Como estava com o crampon mais afiado, eu descia o Max de baldinho dos trechos de verglass e desescalava o tramo, o que não foi nem um pouco tranquilo. No entanto, ao longo destes anos de montanha, aprendi a manter a calma e ser menos ansioso em momentos difíceis. Como diz um ditado argentino: “Com paciência e muita saliva, um elefante comeu uma formiga”. Assim, duas formiguinhas venceu um gigante de pedra e gelo.
Chegar de volta ao colo a 5300 metros foi um alívio. Só ali pude deixar as cinzas de nosso amigo Parofes serem levados pelo vento. Levados pela gravidade, fomos deslizante geleira abaixo, descendo onde pudemos até mesmo de ski bunda.
Assim, cansados, porém realizados, chegamos de volta ao lago quando os últimos raios de sol iluminavam o horizonte.
No dia seguinte ainda tivemos que desbravar um caminho novo, descendo pelo vale de Jallpa e fazendo uma travessia até o vale do Kelluani onde estava nosso jipe, no total 13 km de caminhadas.
Descobrimos na descida que uma mineradora está construindo uma estrada no vale de Jallpa, o que irá facilitar bastante o acesso ao Chearoko, se eles deixarem os montanhistas passarem por lá. Se não, o caminho deverá ser este que seguimos nestes 5 dias de exploração nestas montanhas misteriosas. Falei misteriosas? Agora não são mais...
Continua...
Continua...
Maximo no começo do primeiro paredão pela manhã |
Subindo o primeiro paredão. |
Por cima, a inclinação da parede. |
Continuidade da crista. |
Trecho menos íngreme. |
Chegando na grande greta. |
Chegando no local de travessia da grande greta. |
Inicio da crista. |
Travessia no falso cume. |
Colo e o cume verdadeiro. |
Maximo no cume. |
Vista para o resto da cordilheira Real. |
Nós dois no cume do Chearoko. |
Parofito na base! |