Blog do Pedro Hauck: Chachacomani, a montanha escondida da Bolívia

28 de agosto de 2014

Chachacomani, a montanha escondida da Bolívia

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Descansamos e nos hidratamos como diz o protocolo, mas diferente deste, acordamos tarde, pois aparentemente estávamos perto do cume. De 5200 até 6078 é pouca coisa para um ataque. Desta maneira, quinze pras seis da manhã parecia que ia sobrar tempo.

Mesmo sem a visibilidade, na madrugada, não tivemos dificuldade em encontrar o caminho em meio a um deposito de moraina lateral e assim ganhar altura até onde começa o gelo na montanha, no local onde instalamos os crampons nas botas e começamos a deslizar pelo gelo bom.

Nossa sorte, no entanto não durou muito e o gelo bom foi substituído por um gelo recoberto por uma camada de neve em pó que começou a afundar na altura da canela, passou pela altura do joelho e terminou na cintura em alguns casos. 

O desespero pela péssima qualidade da neve só não desanimou, pois eu via a aproximação do cume e achava que não duraria aquele pesadelo. No entanto foi só chegar ao topo de uma loma para perceber que aquele cume que eu estava observando não era do Chachacomani, mas sim do Kelluani, uma montanha acessória muito mais baixa. Desta loma pude observar o Chachacomani pela primeira, distante cerca de 4 quilômetros em linha reta dali, mas na real muito mais, pois deveríamos circunferenciar todo um circo glaciar onde havia uma grande quantidade de neve ruim, abrindo caminho na persistência e afundando eventualmente até a cintura.

Acho que ando com meu psicológico muito bem. Pelo menos nestas escaladas pessoais eu não tenho o compromisso de fazer algo, faço por que quero e assim eu coloco em minha cabeça que ir ao cume é apenas não desistir. Assim, mesmo com dificuldades devido a neve ruim, fomos Maximo e eu se alternando na pesada tarefa de abrir caminho. Na minha vez eu tentava acertar um ritmo e ir. Assim, sem olhar muito para o objetivo final, fomos progredindo e pudemos superar aquele terreno tão penoso para ganhar altura numa crista que ia em direção ao cume da montanha.

Já com neve boa novamente, fomos ganhando altura da crista e aos poucos o cume foi se desenhando. Era uma barbatana elevada sobre uma ombreira com falsos cumes. Esta barbatana, a que assim denominei não poderia ter outra descrição, devido seu formato afiado e circulado por vertentes abruptas e ainda em sua base ter uma grande e letal greta, a qual saltamos sem grandes dificuldades.

E foi galgando esta barbatana de tubarão que chegamos ao seu afiado cume, onde em um pé em cada vertente, pude dominar e literalmente galgar o cume da montanha. 

Assim acaba o mistério do Chachacomani, uma montanha que apenas outros dois brasileiros haviam escalado, o Waldemar Niclevicz e o Bruno Versiani, em esquemas e rota diferente da nossa.

O Chachacomani foi fácil tecnicamente, mas as condições e a grande distância do campo base (cerca de 8 km) fazem desta montanha um pico de grande dificuldade física e obriga experiência e resistência do escalar.

Continua...

Vista para o Chearoko na subida ao acampamento alto do Chachacomani.

Chegando na lagoa onde montamos no acampamento alto.

Nosso acampamento alto com o Chearoko ao fundo.

A bela lagoa a 5200 metros no campo alto do Chachacomani.

Nascer do sol durante ataque ao cume.
Primeiros passos no glaciar.


Abrindo caminho na neve no circo glaciar entre o Kelluani e o Chachacomani.

Primeira vista para o Chachacomani e caminho sem nenhuma pegada.

Maximo afundando até a canela.

Ainda distante no objetivo.

Um resumo do que foi a ascensão: Afundar na neve.

Começo da subida da crista.

Superando a greta e o começo da subida da barbatana do cume.

Max no cume.

Eu chegando no topo e imitando a logo do GenteDeMontanha.

Cavalgando no cume.

Homenagem ao Parofes no cume.

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