Blog do Pedro Hauck: Las Tórtolas 6160m

21 de janeiro de 2013

Las Tórtolas 6160m

:: Leia o relato desta expedição desde o começo
:: Leia a parte que antecede este relato

Logo após a perrengue no Mercedário, começamos nossa viagem de retorno, fazendo meia volta para o Norte, mas desta vez do lado de lá da cordilheira, pelo Chile. Nossa ideia é escalar mais algumas montanhas acessíveis no caminho e uma delas tinha nome: Cerro las Tórtolas, uma montanha de 6160 metros localizada na fronteira Chile Argentina entre a Província de San Juan e a região de Coquimbo, ao lado do Paso de Água Negra.

Logo na estrada percebemos os reflexos dos temporais que pegamos na montanha. Nos vales e nas planícies também choveu muito e as estradas foram preenchidas com sedimentos. Em nossa ida para o Chile, tivemos que esperar horas até que a estrada internacional pelo Paso de Agua Negra fosse restaurada para podermos passar. Definitivamente este não é um verão normal, pois o clima daqui é do tipo mediterrâneo, que faz seca e calor no verão e chuva e frio no inverno. Este verão daqui tá parecendo com o do Brasil, muita chuva, enchente e enxurradas.

Após ziguezaguear a estrada e chegar aos 4700 metros de altitude (mais uma vez), começamos o mesmo processo, mas pelo lado chileno, perdendo altura aos poucos e se afastando das nuvens negras que pairavam na argentina. Uma vez na aduana, aqueles velhos procedimentos de sempre: Coloca a mala no raio X, revisa a bagagem pra ver se não tem nada de origem animal e vegetal... O controle fronteiriço no Chile é levado a sério, aqui tudo é revistado e coisas que podem prejudicar a colheita e criação deles é confiscado.

Bem ao lado da aduana começa a estrada de terra que vai aos Tórtolas, 30 km numa estradinha de mineração, que percorremos rapidamente e instalamos nosso acampamento base ao lado de um riacho que dizem ser contaminado com arsênico. Passamos uma noite ali, a 3900 m.

No dia seguinte percorremos os cerca de 7 km montanha acima até o refúgio Gabriela Mistral, localizado a 5200 metros de altitude. Levamos 5 horas para fazer este caminho, que está bem mercado. No caminho tivemos uma bela vista para a montanha e a companhia de alguns guanacos que perambulavam por ali. O refugio foi uma grande surpresa, uma construção super bem planejada que dá abrigo na montanha e conforto. Dentro tem até colchões para gente usar. Ele está ali há 7 anos e parece que foi recém construído. É impressionante como o montanhista chileno sabe respeitar os outros. Se fosse no Brasil, este refugio certamente estaria destruído por vândalos.

A existência do refugio foi uma facilidade imensa, não precisar carregar a barraca, poder ficar em pé dentro de um abrigo, poder se trocar com facilidade, ter uma mesa para cozinhar, cadeiras... Tudo isso facilita muito a vida da gente. Com isso, às 8 já estávamos dormindo, em colchões.

3 da manhã todos estavam de pé. Tomamos um café da manhã rápido e sumimos na escuridão da noite rumo ao topo da montanha. O Waldemar foi na frente encontrando o caminho, a Silvia foi no meio e fechando a fila fui eu, sem me preocupar com a difícil missão de se orientar com a ausência total de luz da lua crescente.

A noite, como sempre, estava muito fria e quem sentiu primeiro foi a Silvia, que nunca tinha passado pela experiência de ficar com as mãos e os pés duros. Ela sofreu muito, até chegar os primeiros raios de sol. Mesmo com todo o sofrimento do frio, nosso encontro com o sol se deu acima dos 5900 metros. A madrugada rendeu e em pouco tempo, à 9 da manhã, estávamos todos no cume. Foi a primeira montanha de 6 mil da Silvia, e a 8 montanha minha e do Waldemar nesta viagem.

O cume é estreito e como muitas montanhas, tem indícios da presença incaica no cume. Lá tem também uma homenagem à Gabriela Mistral, poetisa chilena da cidade de Vicuñas que ganhou o premio Nobel da literatura em 1945, além da caixa de cume do projeto 6 mil do Chile patrocinado pelo Banco do Chile.

A descida transcorreu sem problemas e foi somente chegar ao refugio que caiu uma tempestade de neve. Descemos até o carro com a tempestade me nossas costas e foi somente dar a partida para a tormenta nos alcançar. Descemos os 30 km fugindo do granizo e da neve. Em um local, a chuva provocou um deslizamento de pedras, que desviamos por pouco.

Assim como no Mercedario, soubemos aproveitar a janela de tempo e fazer o cume, nosso oitavo nesta viagem.

:: Continue lendo esta história
:: Veja o tracklog do Las Tórtolas no Rumos: Navegação em Montanhas!
:: Acesse também o site do Waldemar Niclevicz.

Caminho ao Tórtolas.

Campo Base a 3900 metros.

Indo ao campo alto.

Caminho bem marcado até o refúgio




Interior do refúgio Gabriela Mistral

Refúgio Gabriela Mistral

Amanhecer na montanha

Trecho perto do cume onde há um trepa pedra.

Vista para o cume.

Chegando ao cume.

Caixa onde fica o livro de cume.

Assinando o livro de cume.

Vista do cume

Vista do cume


No cume

Nós 3 no cume da montanha. Waldemar, Silvia e eu.
:: Acesse também o site do Waldemar Niclevicz.
:: Continue lendo esta história
:: Veja o tracklog do Las Tórtolas no Rumos: Navegação em Montanhas!

Nenhum comentário: