:: Leia a parte que antecede este relato
Logo após a perrengue no Mercedário, começamos nossa viagem
de retorno, fazendo meia volta para o Norte, mas desta vez do lado de lá da
cordilheira, pelo Chile. Nossa ideia é escalar mais algumas montanhas
acessíveis no caminho e uma delas tinha nome: Cerro las Tórtolas, uma montanha
de 6160 metros localizada na fronteira Chile Argentina entre a Província de San
Juan e a região de Coquimbo, ao lado do Paso de Água Negra.
Logo na estrada percebemos os reflexos dos temporais que
pegamos na montanha. Nos vales e nas planícies também choveu muito e as
estradas foram preenchidas com sedimentos. Em nossa ida para o Chile, tivemos
que esperar horas até que a estrada internacional pelo Paso de Agua Negra fosse
restaurada para podermos passar. Definitivamente este não é um verão normal,
pois o clima daqui é do tipo mediterrâneo, que faz seca e calor no verão e
chuva e frio no inverno. Este verão daqui tá parecendo com o do Brasil, muita
chuva, enchente e enxurradas.
Após ziguezaguear a estrada e chegar aos 4700 metros de
altitude (mais uma vez), começamos o mesmo processo, mas pelo lado chileno,
perdendo altura aos poucos e se afastando das nuvens negras que pairavam na
argentina. Uma vez na aduana, aqueles velhos procedimentos de sempre: Coloca a
mala no raio X, revisa a bagagem pra ver se não tem nada de origem animal e
vegetal... O controle fronteiriço no Chile é levado a sério, aqui tudo é
revistado e coisas que podem prejudicar a colheita e criação deles é
confiscado.
Bem ao lado da aduana começa a estrada de terra que vai aos
Tórtolas, 30 km numa estradinha de mineração, que percorremos rapidamente e
instalamos nosso acampamento base ao lado de um riacho que dizem ser
contaminado com arsênico. Passamos uma noite ali, a 3900 m.
No dia seguinte percorremos os cerca de 7 km montanha acima até
o refúgio Gabriela Mistral, localizado a 5200 metros de altitude. Levamos 5 horas
para fazer este caminho, que está bem mercado. No caminho tivemos uma bela
vista para a montanha e a companhia de alguns guanacos que perambulavam por
ali. O refugio foi uma grande surpresa, uma construção super bem planejada que
dá abrigo na montanha e conforto. Dentro tem até colchões para gente usar. Ele
está ali há 7 anos e parece que foi recém construído. É impressionante como o
montanhista chileno sabe respeitar os outros. Se fosse no Brasil, este refugio
certamente estaria destruído por vândalos.
A existência do refugio foi uma facilidade imensa, não
precisar carregar a barraca, poder ficar em pé dentro de um abrigo, poder se
trocar com facilidade, ter uma mesa para cozinhar, cadeiras... Tudo isso
facilita muito a vida da gente. Com isso, às 8 já estávamos dormindo, em
colchões.
3 da manhã todos estavam de pé. Tomamos um café da manhã
rápido e sumimos na escuridão da noite rumo ao topo da montanha. O Waldemar foi
na frente encontrando o caminho, a Silvia foi no meio e fechando a fila fui eu,
sem me preocupar com a difícil missão de se orientar com a ausência total de
luz da lua crescente.
A noite, como sempre, estava muito fria e quem sentiu
primeiro foi a Silvia, que nunca tinha passado pela experiência de ficar com as
mãos e os pés duros. Ela sofreu muito, até chegar os primeiros raios de sol.
Mesmo com todo o sofrimento do frio, nosso encontro com o sol se deu acima dos
5900 metros. A madrugada rendeu e em pouco tempo, à 9 da manhã, estávamos todos
no cume. Foi a primeira montanha de 6 mil da Silvia, e a 8 montanha minha e do
Waldemar nesta viagem.
O cume é estreito e como muitas montanhas, tem indícios da
presença incaica no cume. Lá tem também uma homenagem à Gabriela Mistral,
poetisa chilena da cidade de Vicuñas que ganhou o premio Nobel da literatura em
1945, além da caixa de cume do projeto 6 mil do Chile patrocinado pelo Banco do
Chile.
A descida transcorreu sem problemas e foi somente chegar ao
refugio que caiu uma tempestade de neve. Descemos até o carro com a tempestade
me nossas costas e foi somente dar a partida para a tormenta nos alcançar.
Descemos os 30 km fugindo do granizo e da neve. Em um local, a chuva provocou
um deslizamento de pedras, que desviamos por pouco.
Assim como no Mercedario, soubemos aproveitar a janela de
tempo e fazer o cume, nosso oitavo nesta viagem.
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:: Veja o tracklog do Las Tórtolas no Rumos: Navegação em Montanhas!
:: Acesse também o site do Waldemar Niclevicz.
Caminho ao Tórtolas. |
Campo Base a 3900 metros. |
Indo ao campo alto. |
Caminho bem marcado até o refúgio |
Interior do refúgio Gabriela Mistral |
Refúgio Gabriela Mistral |
Amanhecer na montanha |
Trecho perto do cume onde há um trepa pedra. |
Vista para o cume. |
Chegando ao cume. |
Caixa onde fica o livro de cume. |
Assinando o livro de cume. |
Vista do cume |
Vista do cume |
No cume |
Nós 3 no cume da montanha. Waldemar, Silvia e eu. |
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