A previsão do tempo acertou e tivemos uma noite anormalmente tranquila a quase 6 mil metros de altitude na Puna do Atacama, ventos quase nulos, e até um certo calor que me obrigou a dormir com o zíper do saco de dormir aberto. Tivemos uma noite de sono agradável interrompida às 5:20 da manhã com o tocar do alarme nos avisando a hora de sair.
Tomamos um café com o que tínhamos e logo saímos da barraca para calçar as botas duplas e começar a jornada rumo ao topo. O sol já começara a dar as caras, dando um calorzinho tênue na fria atmosfera e pintando de amarelo as rochas enegrecidas da atividade vulcânica.
Saí na frente para explorar o caminho sem trilha e ao olhar para traz percebo ter mais um companheiro entre nós. Um homem, com roupa preta se aproxima em velocidade. Imaginei ser do grupo que avistamos no dia anterior e que não havíamos feito contato. Em uma questão de 40 minutos ele me alcança e começamos a conversar.
Seu nome é Jiri e ele é da republica Checa e seus amigos não conseguiram aclimatar para fazer o ataque, por isso ele está sozinho. Eu mostro o que sei da rota e ela toma um pouco de distancia, pois ele caminha bem rápido. Enquanto isso, fico esperando meus parceiros que ao me alcançarem param para tomar um chá quente e trocar algumas roupas, pois já não faz tanto frio.
Dali começa um vale ascendente com piso regular e fácil de percorrer, bastando manter um ritmo contínuo. O altímetro do GPS mostra um progresso satisfatório e logo chegamos ao fim do vale no começo de uma cratera. Com um formato arredondado, ela tem uma leve depressão em direção a seu centro, uma vertente muito pouco íngreme onde se concentram alguns gelos penitentes. No horizonte vejo que Jiri cruzou esta leve depressão e rumou em direção ao cume, que em forma piramidal é de fato igual à um “Bonete”, um chapéu de festa de criança.
Olho para o GPS e vejo que o tracklog que Maximo me deu faz uma curva abrupta para o leste, subindo uma vertente na direita que é parte da cratera destruída, um caminho nada óbvio. Aviso meus colegas que estão abaixo e eles estranham, pois de fato o caminho do checo fazia mais sentido. No entanto, com o progresso da ascensão desta vertente o caminho vai se definindo e quando percebemos caímos num planalto que contorna a pirâmide do cume pelo outro lado.
À primeira vista parece que fomos enganados pelo GPS. A pirâmide do cume aparenta ser muito grande e composta de rochas soltas que formam os temíveis “acarreos”. Para piorar, sua base é circulada de uma geleira que nos obrigaria a calçar os crampons, que por recomendação do austríaco que encontramos no dia anterior, deixamos no acampamento.
No entanto, ao aproximar, percebo que a base não é tão inclinada e que há uma boa passagem por uma rocha de coloração amarela, que ao aproximar percebo ter um cheiro ocre muito forte. Era enxofre puro!
Achamos uma passagem que nos levou à base da pirâmide, que para nossa felicidade não era tão inclinada quanto parecia e assim as rochas soltas não escorregavam vertente abaixo. Para minha surpresa, ao chegar lá, encontro com Jiri, que estava um pouco mais alto que eu. O caminho que fizemos, apesar de menos obvio, era bem mais fácil e por isso conseguimos alcança-lo para fazer cume quase ao mesmo tempo.
Do alto pudemos ver o Bonete Grande, que apesar do nome tem quase 1500 metros verticais a menos que o Chico. Vimos a Corona Del Inca e ao fundo o Grande
Nevado Pissis, o terceiro mais alto dos Andes. No horizonte jaz o
vulcão Copiapó, onde estivemos em Outubro, também o
Tres Cruces,
Ojos Del Salado, Cerro Solo,
Incahuasi, Fraile. Ao Sul o
Famatina parece uma muralha e com formato semelhante distingo o desconhecido Colanguil em San Juan. Ainda naquela província se vê o Majadita, Olivares e o Nevado Toro. Todos com mais de 6 mil metros. Além destes gigantes, em minha frente e a poucos quilômetros distingo o
Vulcão Parofes, recém conquistado por nós em novembro.
|
Primeiros movimentos pela manhã. |
|
Vale ascendente. |
|
parando para descansar e a pouco profunda cratera do Bonete. |
|
A cratera do Bonete Chico |
|
Subindo para a base da piramide final |
|
Primeira vista para a piramide final. |
|
Indo para a piramide final |
|
A piramide final de perto. |
|
Atravessando o campo de enxofre |
|
Campo de enxofre |
|
Cume |
|
Vini no cume |
|
Mostrando o vulcão Parofes |
|
Todos no cume |
|
Cume do Bonete Chico 6779 |
|
Cume do Bonete Chico. |