Blog do Pedro Hauck: Explorando o caminho até o Cerro Baboso

11 de janeiro de 2016

Explorando o caminho até o Cerro Baboso


No primeiro dia de 2016 realizamos nossa exploração do caminho de acesso ao Cerro Baboso. Este caminho eu nunca havia estado, mas ele havia sido georreferenciado pelo Maximo usando o Google Earth.

Na verdade, descobrimos que essa região, apesar de ter 5 montanhas acima dos 6 mil metros e ser um importante local para o andinismo, só foi explorado recentemente. O Bonete Chico, quinta montanha mais alta dos Andes, só foi escalado pela primeira vez em 1978, o Veladero apenas em 1986 e o Baboso, bom, o Baboso nem sabemos...

Saindo da RP76, a estrada que liga Vinchina ao Chile, tomamos um caminho de terra em direção à Corona Del Inca, a maior cratera vulcânica dos Andes que é frequentada apenas por turistas em boas 4x4. 

Nem chegamos a um ponto crítico da trilha e derivamos sentido noroeste por um vale sem pegadas de carro visíveis, mas presentes, que indicavam que alguém passou por ali não muito recentemente. Estas pegadas quase apagadas subiam um vale de origem glaciar composto com muitos sedimentos ora finos, como areias, ora cascalhentos. O desafio era criar um caminho longe da umidade criada pelo derretimento de gelo que ainda persistia em permanecer na paisagem mesmo no alto verão. A água infiltra pelos areais e formam atoleiros indesejáveis, ainda mais com tanto peso de equipamentos no teto.

Por sorte percorri um caminho sem imprevistos e subi o vale até os 4600 metros, onde uma barreira de gelo penitente impedia o progresso. Ali estacionei o Conway, de forma que ele nos protegesse dos ventos e montamos um acampamento. Ainda que pudéssemos avançar mais à pé, era necessário respeitar a altitude até então inédita.

Acampamento base do Baboso e ao fundo o Cerro Veladero com seus 6438 mts.

Vini, o mineiro dando uma de gaúcho.

Tivemos uma tarde agradável, com uma refeição farta. Um rio se formou com o congelamento do gelo após as 14 horas e fomos agraciados com o precioso liquido. Tudo perfeito para permanecermos em altitude aclimatando.

Tivemos uma noite excepcional, com bom tempo, apesar de um vento em rajadas que nos acordou um pouco. Ao amanhecer, após o café, arrumamos a mochila com bastante comida e um duffel bag e começamos a caminho rumo à montante à busca de um caminho até uma boa base no Baboso.

Devido a presença de muito gelo penitente no vale acima de nosso acampamento, subimos uma crista e fomos ganhando altura. A vista era espetacular, já que podíamos ver tanto o Veladero, quanto o Bonete Chico, além é claro o Baboso, a menor montanha naquela região de gigantes.

A crista era uma loma formada por depósitos glaciares do passado e era irregular, com suaves sobes e desces. Que elevados à décima potencia nos cansou muito. Após a maior subida, chegamos na entrada de um vale onde chegamos em sua meia vertente bastante abrupta e coalhada por material rochoso solto formado por placas com tamanho variado. Evidentemente fomos costeando o vale, tomando cuidado para escorregar no material solto, o que é potencialmente perigoso. Uma rocha grande pode resbalar e quebrar sua perna. 

Atravessar um terreno assim existe esforço e concentração onde pisa. Acabamos por passar por esta costa e paramos num anfiteatro onde paramos para descansar. Era fim de tarde, a luz já estava se esmaecendo e decidimos depositar as comidas ali no duffel bag. Não chegamos ao destino final, porém não seria possível ir até um acampamento mais próximo à montanha. Depositamos os quase 70 kg de equipamentos ali e começamos a descida longa. Foram 11 km de caminhada vezes 2 (ida e volta).

Começo do vale depois de nosso acampamento.

Greissy no caminho para o acampamento alto do Baboso 
Greissy e Vini com o Bonete Chico atrás.

Caminhando pela crista.

Local onde depositamos a comida a 5200 metros
Uma vista desejada: Voltando ao Conway depois de mais de 12 horas de caminhada de porteio.

Chegamos ao carro muito cansados, tendo que lutar para comer e beber. Por conta do cansaço todos dormiram mal e acordamos tarde no dia seguinte. Porém disciplinados, desmontamos acampamento e levamos o resto dos equipamentos montanha acima. Desta vez, ao invés de ir pela crista, fomos pelo vale, enfrentando o gelo penitente e cruzando pelo duffel com as comidas por volta das 18 horas.

Novamente estávamos muito cansados, porém encontrei um vale com bastante gelo e um terreno plano que me pareceu perfeito para acampar e assim fizemos, estabelecendo o acampamento alto do Baboso a uma altitude de 5320 metros.

Novamente o cansaço, mais a altitude, nos fez dormir muito mal. Ainda mais com os fortes ventos que produziram barulhos nada agradáveis para o sono. Acordei cedo, pois não tinha mais sono para continuar no saco de dormir e acabei acordando todos. Nos reunimos na barraca e após um café da manhã simples tomamos coragem de ir buscar as comidas mais abaixo, chegando lá em menos de uma hora.

A velocidade da ida com as mochilas leves foi o oposto com as mochilas pesadas. Contando com a pernada do dia anterior, chegamos ao acampamento sem vontade de fazer nada e passamos o resto do dia descansando e comendo, para dormir cedo e tentar o cume no dia seguinte...

:: Continua...

Atravessando um campo de penitentes no vale na ida para o campo alto.

Acampamento alto do Baboso a 5320 metros.

Acampamento alto do Baboso
Galera reunida para fazer um almoço a 5320 metros de altitude.

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