Blog do Pedro Hauck: Exploração das Montanhas dos Incas: Atravessando a Argentina rumos ao Andes

6 de setembro de 2015

Exploração das Montanhas dos Incas: Atravessando a Argentina rumos ao Andes

Eis que estou mais uma vez cruzando o continente. Indo do Atlântico até quase o Pacifico para escalar nos Andes. É a terceira vez que passo por estas estradas nos últimos 9 meses, mas é minha quarta vez na cordilheira neste ano de recordes pessoais. Primeiro por ter realizado tantas expedições, segundo por ter chego na marca de 32 cumes de 6 mil metros, terceiro por ter ido à cordilheira pela primeira vez de avião, motivo pelo qual não estou passando aqui pela quarta de carro vez este ano.
E é de carro que vou para as montanhas. Sempre o melhor meio de transporte, pois é independente. Sem ter um bom 4x4 esta enorme cadeia de montanhas se limita à algumas poucas que são tangenciadas por rodovias. Uma raridade.

A desvantagem de dirigir até os Andes é o tempo que isso leva. Atravessar a pampa argentina leva uns 3 dias, consome dinheiro e paciência com a paisagem monótona. No entanto é interessante ver como o homem tem influência sobre a paisagem e a mesma pode ser vista sob um olhar cultural.
Cruzando a fronteira por Barracão, na divisa Paraná/Santa Catarina/Misiones (Argentina), é impressionante como uma rua limita a hinterlândia de uma civilização inteira. De um lado a Rua 7 de Setembro e de outro a Calle San Martin. Distâncias muito maiores que apenas uma calçada e que as representações de cada país.

Cruzando a Ruta 12, a partir de Eldorado junto com a Doutora Suzie Imber da Inglaterra, paramos em San Ignácio Mini para visitar as ruínas Jesuíticas. Neste encontro com o que restou do passado, revisitamos a história de nossas fronteiras e a história da evolução da civilização gaúcha.

A Argentina foi conquistada a partir do Noroeste, não a partir do mar como o Brasil, com as tropas de Diego de Almagro seguindo o Capac Ñan (o tronco principal da estrada incaica) desde Cuzco até Catamarca. Os Andes, apesar de toda a dificuldade, no começo a região onde os Espanhóis se concentraram na colonização e o motivo para isso foi a prata em Potosi. Esta cidade hoje boliviana rendeu muita riqueza à Europa e lá certamente foi aonde foi inventado o capitalismo.

Os negros cativos nunca se adaptaram à altura dos quase 5 mil metros do Cerro Rico e logo foram realocadas em atividades econômicas acessórias. Até hoje há afrobolivianos que se dedicam a cultivar folha de coca que nesta época era um insumo importante nas minas. 

Também era importante a criação de muares, o cultivo de bens alimentícios e criação de animais. Muito desta economia acessória era realizada em Tucumán e um pouco em Salta no norte argentino, que estavam muito ligadas à economia das minas.

A vasta região dos rios da bacia platina ainda era um local apenas habitado pelos guaranis e os espanhóis sabiam que se não colonizassem aquele vasto território o perderia para os portugueses que já estavam tentando tomar posse da área entre o Rio da Prata (com a fundação de Colônia do Sacramento) até São Paulo. Toda esta região que compreende o Sul do Brasil e o Uruguai estava em disputa entre as coroas e os espanhóis obtiveram vantagem em se apossar do território através da Companhia de Jesus.

Num sistema colonizador que permitia a certos hábitos indígenas que não eram contrários ao ideal do catolicismo, os espanhóis converteram os nativos em uma nova civilização que misturou os hábitos europeus com os indígenas. Ensinou ofícios os guaranis, os protegeu das bandeiras paulistas e deu origem ao que mais tarde se tornou a cultura gaúcha, onde além de tudo isso se aproveitou as vantagens da paisagem natural, composta pelas pradarias mixtas, onde a criação de gado se desenvolveu naturalmente.

Muitas das reduções foram destruídas por guerras com os bandeirantes paulistas, mas onde o sistema se perpetuou definiu o limite entre o império espanhol e português. Do lado de cá da fronteira, a civilização gaúcha se expandiu e ela é muito homogênea até a fronteira com outra paisagem natural, a do Inca, que se dá quando deixamos as planícies pelas alturas nos Andes. Ainda que este limite esteja dentro do atual território argentino.

Mas o clima não foi de guerra o tempo todo contra o Brasil. Quando no século XVIII os bandeirantes acharam ouro em Minas Gerais, os portugueses tiveram que importar um importante meio para escoar sua produção mineral: As mulas que Centro/Norte Argentino há tanto tempo sabia criar.

Foi uma troca que supriu necessidades. Se de um lado faltavam animais para carregar a carga, no outro faltava mão de obra escrava para trabalhar nas estâncias. Já que os jesuítas não permitiam a escravidão do índio, mas achava que os negros eram desalmados, o problema foi resolvido e nossos já conhecidos tropeiros se encarregaram em fazer o comércio.

No final do século XVIII os jesuítas foram expulsos da América do Sul. As idéias iluministas, a civilização que estavam criando e outros fatores levaram a crer que eles pudessem ser uma ameaça ao rei. De fato, cerca de 40 anos depois nasceu Argentina, Paraguai e mais tarde o Uruguai após litigio com o Império brasileiro.

Com o isolamento do Paraguai no centro do continente, este pequeno país na época governado por Solano Lopez, começou a intimidar a grande potência da época, a Inglaterra, que cada vez mais buscava mercados para sua indústria que não parava de crescer. Assim, Argentina, Brasil e o recém formado Uruguai lutaram juntos contra o país guarani e o resultado foi sua destruição, assim como a destruição de várias cidades jesuíticas de outrora, que foram abandonadas para somente por volta de 1940 serem restauradas e estudadas por arqueólogos. Como foi o caso de San Ignácio.

A criação destes novos países, desfragmentando a América espanhola, no entanto, não destruiu as fronteiras da civilização inca, que permanece até hoje nos limites da Puna do Atacama. A outrora riqueza de Potosi resultou no abandono dos Andes, ficando em segundo plano com o desenvolvimento da agropecuário da região mesopotâmica da bacia platina e do enriquecimento dos porteños.

A mudança da economia mudou os rumos da história, e os Andes ficaram parados no tempo. Em plena Argentina do Século XXI há lugares que se fala o Quechua dos incas. Há ruínas de 500 anos atrás. A maioria nas montanhas, que eram sagradas por aqueles povos. A civilização gaúcha esteve sempre de costas para as montanhas e por isso elas eram mais escaladas há 5 séculos do que hoje em dia.

É este o nosso propósito. Resgatar esta história e descobrir mais sobre por que o Incas subiam montanhas, como o faziam e o que aconteceu com sua cultura.

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Fronteira Brasil Argentina em Barracão PR
Ruínas de San Ignácio na Argentina 
Parofito presente

Ruínas de San Ignácio

Cruzando o rio Paraná em direção aos Andes


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