Dizem que o Illimani é o "guardião de La Paz", mas na minha primeira ida àquela montanha, num distante ano de 2002, não encontrei a paz, pelo menos com o tempo atmosférico. Em minha tentativa de alcançar o cume peguei uma tormenta forte e vivi uma odisseia, descendo dos 6 mil metros até a La Paz fugindo da chuva.
Na segunda vez que estive ali, em 2009, havia nevado bastante e a rota estava interrompida. Acabou que eu e o Maximo abrimos caminho com neve até o joelho e alcançamos o cume pela primeira vez numa manhã de muito vento.
Seis anos se passaram e eis que estamos por lá novamente, desta vez guiando uma pequena expedição composta por mim e o Maximo como guias e a Paulinha Kapp e a Ângela Santos.
Chegamos ao acampamento base sem percalços, num dia calmo como um dia de uma caminhada trivial e montamos nosso acampamento com o privilégio de desfrutar um belo por do sol com a cidade de La Paz no horizonte sendo guardada pelo Illimani. Era tão belo o cenário que fizemos nosso jantar fora da barraca, suportando o leve frios dos 4300 metros de altitude.
O guardião pela manhã faz sombra no acampamento base, o que dificulta um pouco os planos de subida. A ascensão do acampamento base até o acampamento alto é de 1100 metros de desnível e na minha opinião é a parte mais difícil da escalada do Illimani. Dá preguiça deixar a confortável base com seu gramado e começar a subida, mas logo cedo chega nosso carregador, que havíamos contratado no dia anterior com seus ajudantes, no caso suas filhas adolescentes!
Os carregadores do Illimani são as pessoas que moram na aldeia de Pinaya. Como o local é pequeno eles acabam recrutando as mulheres e os mais jovens. É meio chocante ver as meninas carregando peso. É um tapa na cara que mostra como nós da cidade somos uns "tanga frouxa", pois apesar de ser uma cena que leva à interpretação de que estamos "explorando" eles, na verdade estes índios que moram na montanha já estão acostumados a caminhar e carregar tudo nas costas. As estradas ali são recentes e carregar peso já faz parte da história deles antes da chegada do homem branco. Hoje, com o montanhismo, isso se tornou uma fonte de renda inimaginável para eles.
Na saída do acampamento tomei o mesmo caminho que fiz nas ultimas vezes e acabei me deparando com uma dificuldade, houve um deslizamento que dificultou a passagem num certo trecho, o que forçou os locais a abrirem outra trilha, a qual acabamos encontrando depois de passar pelo trecho arruinado.
O resto do caminho continua igual. Após uma forte pendente em zig zag subimos numa crista rochosa de Ardósia, com a clivagem formando escadinhas que nem sempre dão uma boa sensação de segurança. É um trecho exposto e cansativo, onde chegamos a pegar um pouco de neve de uma tormenta que se aproximou da montanha mas depois desapareceu deixando um horizonte livre onde pudemos observar o Sajama com os Payachatas no horizonte, assim como o resto das montanhas da Cordilheira Real.
A noite foi estrelada e não muito fria. Despertamos no horário e começamos nossa marcha rumo ao cume. O gelo no começo tinha um pouco de penitentes, mas diferente das outras vezes que estive por ali, o tempo estava excelente!
No entanto, logo no começo a Ângela, que dividia a corda comigo se cansou. Fiz de tudo para incentiva-la, mas ela decidiu desistir e meus argumentos não funcionaram contra sua vontade de retornar. Acabei descendo com ela até o acampamento e dentro da barraca ela me deu o aval de subir para ajudar o Maximo e a Paula.
Tirei minha jaqueta de pluma e apertei o ritmo, já era 7 da manhã, um horário tardio para o cume, no entanto com um ritmo mais forte, fui me juntar à eles por volta dos 6200 metros, um pouco antes da grande greta do Illimani, que cruzamos por uma ponte segura sem grandes dificuldades e assim pudemos engatar na crista final, fazendo cume por volta do meio dia.
Do telefone satelital ligamos para o Brasil informando o cume, despejamos as cinzas do Parofes e comemoramos aquele dia incrível na montanha.
O Illimani pra mim é uma montanha fenomenal. Não é tão fácil, mas também não é difícil e ela é uma montanha linda tanto de ser ver de longe, como em todas as vistas dela quando se está lá. Minha terceira vez em suas encostas, o segundo cume, mas a certeza que voltarei mais vezes.
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Indo para o acampamento base do Illimani |
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Pôr do sol no acampamento base do Illimani |
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Local do acampamento base do Illimani. |
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Subida até a crista do Illimani |
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Na crista do Illimani |
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Acampamento alto do Illimani |
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Acampamento alto do Illimani, Huayna Potosi no fundo. |
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Grande rampa final do Illimani com trilha diagonal que ficou muito boa nesta temporada. Fácil e segura. |
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Chegando na crista final. |
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Condições da greta do Illimani neste ano de 2015. |
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Paula chegando na crista do Illimani |
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Galgando os metros finais do Illimani. |
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Na crista final do Illimani. |
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Maximo e Paula Kapp no cume do Illimani. |
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Maximo e Paula Kapp no cume do Illimani. |
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Pedro Hauck no cume do Illimani |
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Cume do Illimani |
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Cume do Illimani |
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Jogando as cinzas do Parofes no cume do Illimani |