Blog do Pedro Hauck: Por que Barreal tem este nome? Dificuldade em chegar na base do Cerro Mercedário

27 de maio de 2015

Por que Barreal tem este nome? Dificuldade em chegar na base do Cerro Mercedário


A cidade de Barreal, localizada na província de San Juan, no Oeste da Argentina, é um destino pouco conhecido da maioria das pessoas, mas cada vez mais comentado entre os montanhistas, pois lá é a base do Mercedário, montanha de 6740 metros que é a oitava mais alta dos Andes. Além desta famosa montanha, Barreal dá acesso à cordilheira de Ansilta, com uma dezena de montanhas acima de 5 mil metros, além também de ter a cordilheira del Tigre, com mais montanhas menos conhecidas.

É por isso e mais outras que essa cidade é uma velha conhecida. Eu estive lá pela primeira vez em 2008, quando escalei o Cerro Ramada e o Negro. Mais tarde em 2013 retornei para fazer a normal do Mercedário e agora para realizar a mesma ascensão só que guiando pela Agência GenteDeMontanha, de Maximo Kausch.

Passei primeiramente pela cidade para acertar detalhes logísticos com o Mauro, um guia local que oferece vários serviços. Apesar acertar detalhes, fui a Mendoza, localizada ha 200 km dali para me encontrar com Maximo para depois retornar mais duas vezes. Uma para levar equipamentos e outra para levar os clientes definitivamente.

Falando neles, estávamos em 8 pessoas. Os guias eram eu, o Maximo Kausch e o Edu Tonetti, um brasileiro que mora na Argentina e que também é guia. Os clientes eram a Rose de Curitiba, a Ana Licia de São Paulo, Paulo de Juiz de Fora, Edinho do Rio e o Mauro de Porto Alegre. Deles, eu conhecia o Maurão que havia feito o curso de escalada em gelo com a gente na Bolívia e a Rose, que mora na minha cidade, Curitiba.

Uma reunidos, a expedição começa quando deixamos Mendoza para trás e começamos a subir os Andes pela Ruta 7, de volta a Barreal. Nesta expedição, optamos por passar uma noite na pousada do Mauro e fazer um churrasco. O Mauro, nosso cicerone, comprou o melhor corte da região e comemos como reis. Foi a melhor carne que comi na minha vida e o nome dela é: Punta de Espalda.

No dia seguinte começamos a carregar o jipe. Como o meu é pequeno, eu tinha que fazer duas viagens. Na primeira iria eu e o Maximo, na segunda os clientes dividimos no meu carro e no do Mauro. O dia estava bonito, com céu azul, não havia motivos para ter alguma preocupação à vista. No entanto, durante a noite choveu, coisa que não ocorre por lá muito a menudo.

Tomamos a estrada em direção à montanha, por uma estrada mantida por uma mineradora que por conta da crise, está com atividades limitadas. Ainda no começo da estrada, cruzamos com uma viatura da Gendarmeria argentina, nos avisando que o caminho estava cortado. Como sei que eles são alarmistas, não dei muita atenção. O caminho, no entanto, tinha muitas poças de água, o que não é normal.

Continuamos o caminho e passamos por um local que acredito ser um dos pontos mais críticos, a travessia do rio Colorado, que não tem ponte e costuma ter um volume de água grande. Desta vez, no entanto, estava tranquilo. Andando poucos metros, no entanto, nos deparamos com a primeira dificuldade da aproximação da montanha.

Em regiões semi áridas ou desérticas, a chuva acaba tendo um poder destrutivo muito grande. Sem vegetação para proteger o solo, a água remove a camada superficial da terra e transporta para regiões mais baixas. Imagine isso acontecendo numa montanha, onde as vertentes são mais abruptas e a água pode ganhar mais velocidade. Foi isso o que aconteceu e alguns pontos da estrada viraram "piscinas de lama".

Por sorte não estávamos sozinhos, pois havia ali um grupo de pescadores em caminhonetes 4x4 ávidos para acampar numa lagoa acima de nossa base na montanha. Com eles decidimos sair da estrada e começamos a procurar um caminho no meio de pastos próximos ao rio principal.  A dificuldade acabou nem sendo o caminho off road, mas sim os abre e fecha das porteiras de arame, que eram muitas. 

Infelizmente não conseguimos transpor todas as cercas e tivemos que voltar à estrada antes que acabassem todas as poças de lama. Depois de drenar a última, da melhor maneira possível, acabamos conseguindo passar e dali chegar à Laguna Blanca, onde há uma casa em ruínas que seria a base do Mercedário, foi uma questão de tempo e paciência. 

A estrada deixa o vale principal num determinado momento e começa a subir por um sistema de zig zags que em determinado momento era íngreme o suficiente para exigir a reduzida. Eis que neste momento, ao tentar acionar, percebo que não consigo. Acabei tendo que me virar no talento e assim cheguei a Laguna Blanca, onde despejei o Maximo e as bagagens e comecei o caminho de volta de olho no telefone satelital, pois nesta altura estávamos atrasados e acabamos por isso combinando com o Mauro dele fazer duas viagens até o cruzamento do rio Colorado.

Após nova seção de abre e fecha porteira, cheguei até o cruzamento onde o Paulo, a Ana e a Rose me esperavam. Aguardamos mais um tempo e logo chegou o Mauro com o resto do grupo para começarmos a ultima viagem em direção à base da montanha, tendo eu como guia entre os caminhos alternativos.

Novamente a seção de abre e fecha porteira e o uso de habilidades para conseguir passar a ultima poça de lama sem a reduzida. Nesta forma acabamos por chegar no refúgio, todos são e salvos e atrasados. Nos brindou um céu estrelado com bastante frio e um strogonoff especialmente preparado pelo chef Maximo Kausch. A expedição começou bem, com imprevistos e perrengue, mas contornando todos os problemas.

:: Continua

Cruzando o rio Colorado

Caminho off road

Cruzando as cercas para acessar a base do Mercedário.

Muito barro no caminho.
:: Continua

Nenhum comentário: