Viajar do Brasil ao oeste argentino é um roteiro que percorro com certa frequência desde 2006. Em linhas gerais é uma viagem lenta até a fronteira, dado que as estradas brasileiras, ou melhor, paranaenses, são obsoletas, cheias de curvas e travessias urbanas com radares e lombadas. Os 560 km da minha casa até Bernardo de Yrigoyen, Misiones parecem ser 1000!
Na fronteira aquele ritual de sempre, comprar carta verde, assinar papel, trocar dinheiro e listo! hora de comer um bife chorizo.
Os primeiros 130 km em território argentino são uma continuação, praticamente, da estrada brasileira. Ruim, mal sinalizada, cheia de curvas e obstáculos. Isso até Eldorado. Lá pego a Ruta 12 e as coisas começam a progredir, mas isso fica pro dia seguinte, pois já é tarde... Como falei, estes quilômetros iniciais são curtos, mas demorados.
Passando Posadas por seu novo rodoanel, deixo Misiones para trás e começa uma nova província e uma nova paisagem. É Corrientes, com suas planícies intermináveis recobertas por campos que são pastagem natural para o gado argentino.
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Pampa argentina |
Nos pampas a velocidade aumenta, mas as distâncias também. É necessário parar de tempos em tempos para abastecer o carro e tomar um café. Difícil ficar sem dormir numa paisagem tão monótona. Nestas paradas nos damos conta que apesar de tudo igual, é um lugar com muita vida, basta ver no para brisa e peito do carro repleto de insetos. Na próxima viagem lembrarei de levar esponja e sabão, pois é tanto inseto que de tanque em tanque é muito tempo com obstrução da visão.
No final da tarde, quando entra em ação os mosquitos, ouço um barulho de chuva. São os insetos sendo atropelados pelo carro. Estou em Santa Fé e já passei pela província do Chaco. Por ali passa o Paranazão e não por menos que seja a terra do “calor, humedad y los mosquitos”.
A noite chega. Saio da ruta 11 e começo a andar por estradas secundárias. Como sempre quero fazer caminhos diferentes para conhecer melhor por onde ando. Com isso somem os caminhões e posso andar mais rápido. Passo por uma bela cidade, Sunchales, que é onde fica a Sancor, grande empresa do ramo lácteo da argentina. Dali de estrada em estrada vou parar em Miramar, Córdoba, uma cidade balneária no centro do continente.
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Noite longa |
A laguna Mar Chiquita é um lago interior, sem saída ao mar. Ela recebe rios de vários locais, mas como lá tem um clima semi árido, há muita evaporação e por isso o lago nunca transborda para o Paraná. A água é salgada e o tamanho do lago é gigantesco. É como um mar mesmo!
Vou dormir num camping, dentro do jipe. Na chegada não encontro ninguém, na saída também. Argentino não acorda cedo...
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Laguna Mar Chiquita |
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Laguna Mar Chiquita |
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Não obrigado, não gosto de água.. |
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Rua de Miramar. |
Na estrada a paisagem começa a mudar, dos campos úmidos para uma vegetação mais savânica. A divisa Córdoba x La Rioja é uma mudança drástica. Primeiro porque ela é em um salar, depois que o lado riojano do salar já é um deserto. É com esta paisagem de fundo que chego em Patquia, onde pego uma estrada sentido Oeste.
Ali começa a surgir um relevo mais movimentado. Escarpas de arenito colorido se destacam. Logo estou na entrada do Parque de Talampaya, mas não é lá pra onde vou. Tomando uma nova estrada, recentemente asfaltada, cruzo uma linda serra seca, com muitos afloramentos de rochas sedimentares impressionantes (inclusive falhados), que são de tirar o folego.
Descendo a serrinha, que é paralela aos Andes, chego em Jachal, San Juan. Ali paro para ajudar um baqueano com o carro quebrado e já à noite continuo sentido Sul. Tomo o desvio rumo à Calingasta e começo a subir os Andes.
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Serras de Córdoba |
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Sozinho? Não, acompanhado do Parofes. |
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Perto de Talampaya, La Rioja. |
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Perto de Talampaya. |
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Talampaya. |
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Paisagem de La Rioja. |
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Serrinha da RN 149 |
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Falha inversa. |
O cansaço embaça minha vista, paro para mijar. Não aguento mais. Tiro um cochilo, as estrelas lá fora iluminam toda a paisagem. Tenho que continuar... Ando mais alguns quilômetros, não lembro quanto, ao lado vejo um bosque de eucaliptos e acho convidativo para dormir. Lá passo minha terceira noite da viagem, novamente dentro do jipe enrolado no saco de dormir. Apesar de muitos acharem um risco, num lugar como este o único perigo é ser roubado por uma raposa.
A manhã nasce espetacularmente. Finalmente posso ver picos nevados, circulados por desertos e aqui e acolá um oásis rodeado por álamos e campos verdes, uma paisagem perfeita.
Chego em Barreal com a cidade ainda fechada. Espero até que a informação turística abre e peço informação sobre arrieros no Mercedário. Entre uma e outra referência me lembro do Don Lisandro, uma empresa que conheci quando escalei a montanha em 2013 com o Waldemar. É pra lá que vou.
Chegando na “sede” da empresa, descubro que lá também é um hostel. Local aconchegante, quintal enorme também rodeado por álamos e pereiras. Acerto detalhes logísticos e logo estou na estrada novamente.
Pausas para ver o Mercedário, travessia de estrada de terra e já estou em Uspallata ao lado da ruta 7. Fazia tempo que não passava lá, na verdade desde 2006. Pude rever montanhas que fizeram parte da minha vida, o Cerro Plata.
Descendo os Andes, deixo o deserto pra trás e aparecem os parreirais. Mendoza está ali. Acesso Sul, Oeste, Avenida Zapata, Colón, San Martin e estou lá.... Mendoza, la city. Quanto tempo!
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Paisagem de Barreal |
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Paisagem de Barreal |
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Paisagem de Barreal |
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Com o Jimny na pampa del Leoncito.
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Rota percorrida. |