Eu o Maximo fomos indicados ao Prêmio Mosquetão de Ouro, que é uma premiação nova criada pela CBME (Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada) inspirada no famoso Piolet d’Or.
Esta premiação tem como objetivo premiar os maiores feitos do montanhismo brasileiro e como montanhismo é algo muito abrangente existem 4 categorias:
- Montanhismo (trilhas, travessias e alta montanha)
- Escalada (escalada tradicional, móvel, big wall e conquistas)
- Escalada Esportiva (boulder e escalada esportiva em rocha)
- Montanhismo e Sociedade (contribuições para a organização do montanhismo, acesso e conservação)
Fomos indicados na categoria montanhismo por termos finalizado em 2014 o projeto de ter escalado todas as montanhas com mais de 6 mil metros de altitude na Bolívia.
Fora a gente, houve diversas outras realizações interessantes o que demonstra que o Brasil não é mais coadjuvante no cenário do montanhismo mundial. Inspirado no meu amigo Victor Carvalho que hoje escreveu a respeito desta premiação, irei dar minha opinião sobre os destaques do prêmio.
Antes de mais nada queria salientar que o nível está muito bom e que independente do resultado todos os indicados merecem o prêmio e que abaixo está apenas uma opinião.
Categoria montanhismo:
Sou suspeito para falar desta categoria, pois sou um dos indicados. No entanto, não acho anti ético tecer comentários sobre minha indicação e da colega Ana Elisa Boscarioli.
A Ana em 2014 escalou o Denali, montanha mais alta da América do Norte e com esta montanha finalizou o projeto 7 cumes, que é um projeto bastante famoso e que atrai bastante mídia. O ponto forte deste projeto, na minha opinião, é justamente a escalada do Denali e a do Everest, pois ela é a montanha mais alta do mundo. Ana foi o quinto brasileiro a fazer o projeto, mas a primeira mulher. Para realizar o projeto, a Ana enfrentou muitos desafios e numa das etapas ela foi sequestrada pelos índios da Papua Nova Guiné e teve que desistir do Carstenz para voltar um ano mais tarde. No entanto é preciso ressaltar que as 7 montanhas deste projeto são bastante conhecidas, estruturadas e muito escaladas.
Eu e o Max, no entanto, escalamos 14 na Bolívia. Fizemos todas as expedições àquele país por conta própria, as últimas, inclusive, fomos de carro até lá, o que em si já é uma dificuldade (vocês não têm idéia de como é complicado dirigir na Bolívia). Então há a questão da autonomia e também o fato de que muitos destes 6 mil bolivianos são montanhas remotas e pouquíssimo escaladas, como o Uturuncu e o Chaupi Orco. Há outros que são difíceis, como o Illampu e Chearoco. Outro problema é que a cartografia da Bolívia é muito ruim e não sabíamos quais eram os 6 mil daquele país. Resolvendo este problema, descobrimos que uma montanha que era tida como 5 mil tinha 6008 metros, o Capurata. Ou seja, houve muita pesquisa e exploração. Assim, neste novo formato com 14 cumes, só não fomos os primeiros no mundo a realizar pois um pouco antes o equatoriano Santiago Quintero, usando os dados que o Maximo lhe deu, fez antes. (leia mais o que escrevi deste projeto)
Acho que houve poucos indicados nesta categoria. Se eu pudesse também indicaria o Waldemar Niclevicz pela escalada no Ausangate no Peru e Marcos Costa pela escalada do Daugou Leste na China.
Acho que houve poucos indicados nesta categoria. Se eu pudesse também indicaria o Waldemar Niclevicz pela escalada no Ausangate no Peru e Marcos Costa pela escalada do Daugou Leste na China.
Categoria Escalada
Nesta categoria eu acho que o destaque é a escalada do Lucas Marques e Sergio Ricardo repetindo a via Place of Happiness em 1 dia. Esta magnifica via aberta pelo Stefan Glowacz, Ed Padilha e outros monstros mistura dificuldade extrema com parede e muitos escaladores de altíssimo nível não conseguiram escalar ela. Fazer esta escalada em um dia apenas é um feito e tanto.
Categoria Escalada Esportiva
Acho que novamente o Lucas Marques se superou nessa. Os outros indicados realizaram feitos mais atléticos e tecnicamente mais difíceis. No entanto escalar uma via de 8c em solo!!! (via Sinos de Aldebarã) Pra mim a realização deste feito ultrapassa o limite esportivo para um domínio espiritual dos próprios medos. Bastaria dizer que qualquer erro nesta escalada poderia fazer com que ele nunca mais escalasse na vida. Pra mim este feito foi o maior de todos os indicados e merece meu voto e respeito!
Categoria Montanhismo e Sociedade
Pessoalmente tenho uma grande admiração pelo trabalho de Pedro da Cunha Menezes. Não que os outros indicados não mereçam, mas acho que a contribuição de Pedro no campo das idéias e como exemplo quando elas foram postas em práticas é fenomenal!
Pensando num montanhismo do futuro, acho que os valores que Pedro defende são primordiais para que novos mosquetões e piolets de ouro continuem existindo. Infelizmente em nosso país os pilares principais da cultura do montanhismo que são a aventura e a liberdade são ameaçados por visão demasiadamente conservadoras sobre a questão da presença do homem em ambientes naturais e é isso o Pedro trata.
Pedro da Cunha Menezes mostrou como é importante haver visitação nos parques, como é importante valorizar a experiência dos visitantes, dentre eles nós montanhistas e outros esportistas. É só agregando valor às unidades de conservação que de fato vamos conseguir ter a preservação que queremos. Meu voto vai pra ele!