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Se eu pudesse fazer um resumo do dia de hoje em uma palavra eu diria: Calor!
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Se eu pudesse fazer um resumo do dia de hoje em uma palavra eu diria: Calor!
É impressionante como o norte argentino é quente no verão. O
ar vem do chão queimando a pele, assando a gente devagarzinho, parece um forno.
Se formos ver o porquê disso, é fácil responder...
Estamos quase no centro do continente, longe de qualquer
massa de água. Então quando o sol bate pela manhã, ele esquenta tudo, deixando
as tardes insuportáveis. Talvez daí venha a necessidade do argentino fazer a
ciesta, descansar depois do almoço, já que de fato este período é improdutivo.
Nossa pele fica salina, a roupa gruda no corpo que fica mole.
Além da distância do mar, temos outro fator que faz este
clima tão quente. Aqui, na calha do Paraná, estamos numa altitude muito baixa.
É exatamente esta questão topográfica que eu acho interessante.
Curitiba, em oposição, é uma cidade alta. Fica a quase mil
metros de altitude. Antes de chegar em Foz, somos forçados a subir duas
escapas, uma logo após a capital, onde afloram os arenitos brancos da Formação
Furnas, em São Luis do Purunã, que dá o nome da escarpa de “Devoniana”, já que
esta rocha sedimentar foi depositada neste período geológico. Após esta rápida ascensão,
perdemos altitude e um pouco antes de Guarapuava, subimos a chamada escarpa da Esperança,
que pela lógica que nomeia a outra quebra no relevo deveria se chamar Escarpa Jurássica,
já que as rochas que afloram ali, o Arenito da Formação Botucatu e o Basalto
Serra Geral são deste período.
Até ai temos uma historia geológica. Confundir a historia
destas formações rochosas com a historia do relevo é um erro. Isso porque no
Devoniano e no Jurassico, o relevo era totalmente diferente de hoje.
É difícil contar toda a historia geológica em poucas
palavras, porem, chegando em tempos mais recentes, há menos de 20 milhões de
anos, saímos de uma historia geológica para uma geomorfológica, ou seja, uma
historia do relevo.
Nesta historia, nosso ponto de partida foi a grande planície
formada num ambiente semiárido que perdurou durante 40 milhões de anos no final
da era dos Dinossauros, o Cretáceo. Após este período, houve uma fase de
desestabilidade tectônica que soergueu o leste do Paraná, abriu o planalto de
Curitiba e foi aos poucos moldando a Serra do Mar. Concomitante à este evento,
houve a atuação de processos erosivos poderosos em ambientes tropicais,
leia-se, houve a atuação de um clima semi árido, que aplainou regionalmente
diversos compartimentos de relevo no Estado.
Durante muito tempo, acreditou-se que todo o sedimento
originado por este processo erosivo foi escoado pelas drenagens que se
estabeleciam a Oeste, em direção ao rio Paraná. Mais tarde, pôde-se comprovar
que partes destes sedimentos estão embaixo da cidade de Curitiba. Porém, a
atuação desta superfície à Oeste produziu sedimentos que foram de fato
escoados, como aqueles que foram originados com a esculturação da depressão
periférica de São Paulo, onde esta a cidade de Campinas.
A relação disso tudo com esta viagem de hoje vem com a
própria percepção da paisagem das províncias de Misiones e de Corrientes.
Saindo de Foz, numa altitude de quase 200 metros, vamos perdendo altitude
lentamente. Pela ruta 12, observamos colinas, cortes de estrada onde afloravam
nossos basaltos. Os solos dali evoluídos sustentam florestas tropicalizadas,
com Araucarias, mas também lianas (cipós) e Palmeiras do ambiente tropical.
É próximo da cidade de San Ignacio, onde estão as ruínas
jesuíticas mais bonitas das missões, que a paisagem de floresta dá lugar às
pradarias mixtas, com seus campos, arboretas de algarrobos, molles, espinhales
e substrato de arenales. Da imagem de satélite, se observa que o Paraná tinha
um curso mais retilíneo para o Sul, indo de encontro com o Rio Uruguai, mas ele
foi migrando lateralmente, deixando uma planície inundada, com antigos
terraços, meandros e lagoas ainda cheias, formando o pantanal da Argentina, os
Esteros Del Iberá. Ainda hoje eu pude fotografar o produto desta história, as
formações areníticas que são o substrato dos pampas.
Isso tudo só pode ser explicado pelo soerguimento do
planalto meridional do Brasil, hoje povoado pelas florestas de araucária, que
se alçou a altitudes maiores que mil metros, contrastando com os 40 metros da
planície onde hoje, o Rio Paraná e o Paraguai se encontram, na cidade de Corrientes.
Atravessando a ponte Manuel Belgrano, adentramos o Chaco.
Uma província que tem um nome um tanto quanto curioso. Pra mim Chaco era
sinônimo de charco, mas não é. Tive que esquecer os lagos e brejos do rio
Paraná ao lado da cidade de Resistencia, capital da província argentina do
Chaco, pra entender melhor o que é o Chaco de fato.
Pra começar, o Chaco é uma região fitogeográfica que começa
no norte de Córdoba e Santa Fé e que se estende ate o Sul da Amazônia, passando
pelo Paraguai e pela Bolívia. É uma região semiárida, plana, quase sem nenhum
alto topográfico, recoberto por diversos ecossistemas que vão do de campos até
florestas secas e espinhentas. É uma região mal drenada, quente e extremamente desagradável
para a habitação humana. O Maximo de Chaco que temos no Brasil são alguns
enclaves no Pantanal, daí nosso desconhecimento sobre este tipo vegetacional.
O Chaco sempre foi uma região desolada e pouco habitada. Na
década de 30, a região recebeu atenção especial pela guerra deflagrada entre o
Paraguai e a Bolívia, disputando território. O primeiro pais venceu o conflito
e a Bolívia perdeu ainda mais espaço. Dizem que a estrada da morte, que liga La
Paz a Coroico, foi construída com mão de obra dos prisioneiros desta guerra. No
Paraguai, de famoso, temos o nome do estádio do Cerro Porteño, os Defensores
Del Chaco.
A Argentina sempre foi um país com mais recursos e mais
projetos para esta desolada paisagem natural. No começo do século passado, foram
construídas ferrovias atravessando as províncias de Formasa e do Chaco de Leste
a Oeste, ligando as orilhas do rio Paraná com as cidades do sopé dos Andes,
Salta e Jujuy.
Estas ferrovias foram abandonadas mais tarde e transformando
as cidades chaqueñas em desertos maiores que o próprio Chaco, esquecidas e
caindo aos pedaços, verdadeiras cidades fantasmas.
Novos projetos e o dinheiro do agronegócio esta
transformando estas paisagens em centros de produção de algodão, planta típica
de ambientes secos. Terras têm sido aradas e fazendeiros estão prosperando.
Este progresso, no entanto, é mais visto até a cidade de
Presidencia Roque Saenz Peña. Depois disso, a paisagem é novamente aquela de
deserto, cidades abandonadas e esquecidas. Aos poucos, o agronegócio vem
expandindo suas fronteiras, encontrando todas as dificuldades do terreno, mas
mudando a paisagem. As toponímias, no entanto, não deixa os viajantes, como
nós, esquecer que lugar estamos. Um bom indicador para isso é o próprio local
onde estou agora: Pampa Del Infierno! Aliás, um nome que resumo bem o que é esta região natural.
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Waldemar pilotando a andina e a Silvia como co piloto
Pradaria e solo arenoso
Solo ou rocha arenosa? Este rio fica perto de Ita Ibaté e perto do rio Paraná e dos Esteros del Iberá.
Caminhonete andina nos Pampas de Corrientes
Atravessando a ponte Manuel Belgrano de Corrientes (ao fundo) até Resistencia
Sistema de navegação. GPS conectado a um netbook e o programa NRoute.
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