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Minha primeira noite na altitude foi muito boa, nem tive dor
de cabeça. Porém, pra variar, foi difícil dormir. Virava na cama pra lá e pra
cá e não me sentia confortável. Tive que dormir com um pano no rosto, pra
melhor a sensação de respirar este ar tão seco. A Silvia vomitou e o Waldemar
teve dores de cabeça, no entanto, pela manhã, todos estavam bem.
O planejamento do dia era dar umas bandas pela região pra
ajudar na aclimatação. Então pegamos a Andina e fomos em direção à província de
Jujuy, visitar as Salinas Grandes, por onde eu já havia passado em 2007 com o
Marcio Carrilho. Naquela ocasião, a gente subiu direto pela Ruta 52, que é a
estrada do Paso de Jama, que vai para San Pedro de Atacama. Desta vez pegamos a
lendária Ruta 40 aqui em San Antonio, cruzamos a Puna e chegamos lá.
A paisagem é dominada pela estepe num vale largo e circulado
de montanhas, sendo que somente o Acay e o Chañi apresentam cumes nevados. Isso
porque estamos exatamente no Trópico de Capricórnio e daqui dois dias estaremos
no solstício de verão (o famoso 21/12/2012 - o fim do mundo está próximo?).
Mesmo acima dos 3 mil metros, passamos por muito calor e nos
queimamos bastante, principalmente por causa da reflexão no salar.
A volta fizemos por uma estrada provincial, a ruta 18.
Apesar de não ser pavimentada, tal estrada era boa. Cruzamos por diversas
fazendinhas, onde se criam lhamas. Estes animais, junto com vicunhas selvagens,
são muito abundantes e estão por todo lado.
A paisagem árida e pouco convidativa da Puna dá uma sensação
de que estamos no fim do mundo. Na verdade, esta é uma região que povoada há
bastante tempo. Os Incas chegaram aqui por volta de 1500 e dominaram a região
culturalmente. Daí aqui ter uma grande relação cultural e etnológica com a
Bolívia. Esta região é, literalmente, a Bolívia argentina.
Várias montanhas da região foram escaladas pelos Incas,
algumas montanhas bastante altas, como o Llullaillaco, onde foram encontradas múmias
de crianças, ofertadas aos deuses, a cerca de 6400 metros de altitude. Mas isso
não foi somente lá não, diversas montanhas apresentam sítios arqueológicos.
Pra falar verdade, acho que a própria San Antonio parece um
lugar em que a gente volta ao tempo. Suas casinhas com tijolo de adobe, povo
humilde, ruas de terra e carros velhos, parece que estamos no século passado.
Aqui a energia elétrico vem de um gerador, que faz bastante barulho à noite, e
as comunicações são bem precárias, mesmo tendo internet wi fi de graça na rua.
Ela é lenta que nem sei como consigo atualizar este blog.
Mas também, estamos a 3770 metros de altitude no meio do nada
entre o começo da civilização andina e o fim do mundo.
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Casa de adobe típica de San Antonio de los Cobres. Arquitetura kolla.
Lhamas pastam na Puna. Ao fundo se destaca o Nevado del Acay, com 5800 mts.
Silvia, Waldemar e eu no Salar Grande em Jujuy.
Niclevicz caminha sobre o Salar Grande. Um salar é uma bacia fechada preenchida por sal. Isso é bem comum nos Andes onde temos este tipo de bacias, clima seco para evaporar água e vulcões.
Cena do altiplano, com começa aqui e vai até o Peru. A planície e um morrote de quartzo, clorita fillito (?).
Isso ai é a Puna. Uma região natural entre montanhas (a mais destacadas vulcões) quase plana, mas alta (acima dos 3 mil metros) e recoberta por estepe. Em locais mais altos, como em Catamarca, Argentina, é um deserto puro. O rally Dakar vai passar por aqui.
Um morrinho no meio da Puna com os cactos gigantes, Cardones. Estes cactos podem atingir mais de 8 metros e são bastante lenhosos.
Waldemar e sua andina.
Viaduto La Polvorilla. Aqui passa o Tren a las Nubes, uma obra que começou na década de 1930, exigiu muitos viadutos impressionantes. Este é maior deles. Este trem saia de Salta, atravessava os Andes e ia até Antofagasta no Chile. Hoje está desativado para cargas.