Blog do Pedro Hauck: Hong Kong, uma selva de pedra interessante

19 de dezembro de 2018

Hong Kong, uma selva de pedra interessante

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Mais uma viagem de trem bala. Desta vez entre Xiamen e Hong Kong, cerca de 700 km em apenas 4 horas!

A manhã está tranquila. Tomo um café da manhã na estação de trem e no horário vou até o portão que está pouco movimentado. Adentro a plataforma e logo no vagão.

O trem vai deixando a ilha para trás e ao entrar no continente vamos cruzando por uma cidade imensa em construção. Vejo prédios e mais prédios residenciais vazios. As ruas já estão prontas e há até parques, com brinquedos para crianças recém construídos. As árvores, plantadas adultas, são escoradas por cordas e os gramados ainda estão quadriculados, pois acabaram de ser plantados. 

Assim é a China, cria-se cidades gigantes do zero. Viajo apenas curtindo a paisagem.

Em pouco tempo chegamos em Shenzen, que é uma metrópole colada na divisa com Hong Kong. Ex colonia britânica, Hong Kong foi devolvida para a China no ano de 1997. Não faz muito tempo e me lembro bem de quando isso aconteceu. Naquela época, a gente ainda achava que a China era um país pobre e Hong Kong era um simbolo de modernidade com seus arranha céus. Nesta viagem, pude ver que o resto da China se igualou ou ultrapassou Hong Kong daquela época.

O trem parou na estação de Shenzen, deixou alguns passageiros e depois rumou de volta até entrar num túnel. São mais de 30 km que o trem percorre por baixo da terra e inclusive a estação é subterrânea, tipo um metrô.

Como Hong Kong, mesmo pertencendo à China, ainda é um território autônomo, na própria estação há controle de migrações onde precisamos mostrar passaporte. Não sei porque uma oficial encanou com o meu visto chinês e me mandou para uma salinha para averiguação. Ela ficou olhando meu passaporte com lupa e depois me liberou. O que aconteceu? Eu não sei.


Assim que sai da migração e cheguei na estação já aproveitei para trocar dólares de Hong Kong. Sim, este território tem moeda própria (impresso pelo HSBC, que significa Hong Kong Shangai Bank Company), tem código de telefone próprio e até mesmo simbolo de internet próprio. Só não carimbam seu passaporte.

Quando saí da estação subterrânea e cheguei na superfície, estava desorientado. Não sabia de onde tinha vindo e qual era a direção do centro de Kowloon, onde estava o hostel que eu havia reservado. Tive que andar aleatório até o mapa do meu celular também se orientar para eu pegar o caminho certo. Como estava em um novo país, meu chip de celular chinês não funcionava, mas ainda bem que eu tinha feito download dos mapas do google, assim naveguei off line até chegar no Hostel, que fica na rua mais famosa de Kowlong, a Nathan Street.

A primeira impressão que tive de Hong Kong foi como se eu estivesse em São Paulo, pois as duas cidades são parecidas. São duas selvas de pedra, cheias de edifícios, muita correria, transito e pouca organização.

Meu hostel ficava num edifício gigante, onde haviam vários hostels e hotéis. O térreo era um shopping do tipo galeria Pajé, cheio de indianos e paquistaneses e bugigangas. Tive dificuldade de encontrar o elevador que tinha que tomar para chegar no andar do Hostel, mas pelo menos em Hong Kong todo mundo fala inglês e assim consegui obter informações.

O hostel era bem simples. Tinha paredes com azulejos brancos e parecia uma lavanderia. Eu tinha um quarto só meu, mas ele era minusculo, só cabia a cama e minha mochila tinha que ficar embaixo dela. Ainda que tinha ar condicionado, pois Hong Kong faz calor! Deixei as coisas no quarto e fui dar umas bandas.

A primeira coisa que fiz fui fazer foi conhecer a Victoria Harbor e poder ver da costaneira a ilha de Hong Kong, onde estão os arranha céus mais famosos.

Victoria Harbour
A maior dificuldade foi conseguir atravessar a Salisburry Road. Dos dois lados da rua tem cerca e na esquina tem placas para usarmos a passagem subterrânea do metrô. No entanto, a passagem não é tão simples como da avenida paulista. Os túneis fazem curva e dentro há verdadeiros shopping’s centers. Você anda, anda e não acha a saída do outro lado da rua. Decido então voltar para a superfície e ficar esperando o sinal fechar para atravessar a rua a pé.

O trabalho foi recompensado para ver uma das paisagens urbanas mais famosas do mundo, a qual desde criança tinha curiosidade de conhecer: Uma Inglaterra na China!

A torre do relógio, resquício da antiga estação de trem inglesa de Kowloon.

Após admirar a visão, passo pelo pier e vou em direção ao um shopping onde encontro um pátio de alimentação. Dentre as várias opções, a que mais me apetece é um restaurante japonês. Aqui no Brasil restaurante japonês é caro, mas em Hong Kong tudo é caro, então tanto faz.. Gastei uns 150 reais! Em Curitiba pago menos da metade pelo menos prato. Mas ok, Hong Kong é caro mesmo.

Passei a noite andando por kowloon, visitando feirinhas, vielas e locais mais populares. No bairro há várias ruas de restaurantes com muita vida noturna e cultura. Volto para o Hotel cansado de tanto andar.

Ruas de Kowloon à noite.

Ruas populares de Kowloon à noite.

Nathan Street à noite.

Vista da Ilha de Hong Kong à noite.


O próximo dia, domingo, seria destinado inteiro para passear pela cidade. No entanto, não consigo acordar tão cedo quanto desejo devido ao cansaço acumulado dos dias anteriores. Saio às pressas na rua às 11 da manhã para conhecer o máximo possível.

Na direção ao pier para atravessar o canal de Victoria, paro num Mc Donald’s para tomar um Mc Café. Havia prometido não comer comida ocidental na China, mas como Hong Kong não é China e lás os preços estão mais para Suíça, acabo me rendendo exatamente por ser barato e ter café. Nestes meses de viagem, tanto no Nepal, quanto na China, senti muita falta de nosso delicioso cafezinho.

Com o estomago forrado, pego um barco que atravessa o canal, deixando a península de Kowloon para trás em direção à ilha de Hong Kong. Até o final da década de 1990 Kowlong era uma área mais residencial com prédios baixos. Isso por conta do aeroporto antigo da cidade, que obrigava os aviões a darem verdadeiros rasantes na cidade. Com a inauguração de um novo aeroporto, numa ilha mais distante, a lei foi alterada e hoje o prédio mais alto da cidade está em Kowloon, o International Commerce Center, que fica aliás ao lado da estação de trem.

Atravessando a baia de Vitória de ferry

O International Commercial Center (ICC), prédio mais alto de Hong Kong.

Do outro lado do canal, estão alguns dos prédios que já estiveram entre os mais altos do mundo, mas agora perderam o status devido à construção de outros arranha céus em outras cidades asiáticas. E é no centro onde estão estes edifícios onde vou parar quando desembarco na ilha.

O centro financeiro de Hong Kong é muito bonito e futurista. Como é domingo, suas ruas estão parcialmente fechadas e há muita gente fazendo pic nic, como se estivessem em um parque. Acho este costume um tanto estranho, pois eles não apenas fazem lanche, como há gente fazendo karaokê, outro imitando desfile de moda. Na maioria são pessoas asiáticas, mas no meio há alguns ocidentais. São misturas de Hong Kong.

Centro financeiro de Hong Kong

Bondes ingleses de Hong Kong.

Não perco tempo para ir direto onde queria ir: O mirante do Pico Vitória, acessado por um tipo de bondinho que tem uma fila imensa. Fazer o quê? Paciência...

A fila leva um tempão, até que chega minha vez para subir. Obviamente pagando uma taxinha não muito barata. O bondinho é bem turistão. Ele é antigo, talvez para a época quando foi construído, começo de 1900, fosse uma tecnologia avançado. Hoje é mais histórico do que qualquer coisa.

No topo do morro, no entanto, há um edifício super moderno que é um tipo de shopping center com vista panorâmica. Passo um tempão lá apenas admirando a vista e procurando pelos picos de escalada em rocha da cidade. Como Rio de Janeiro, Hong Kong é uma cidade litorânea cheia de montanhas e point’s de escalada. Claro que estes points são muito menos bonitos que no Rio, mas a vista deles para a cidade é incrível. Um deles, o Central Crag, fica bem abaixo do Pico Vitória.

Visu do mirante do Pico Vitória

Mirante por dentro.
Já estou com bastante fome, mas as opções do shopping do mirante não me atraem por causa do preço. Decido então descer o bondinho e voltar para o centro para procurar algo para comer.

Logo quando chego na baixada, dou de cara com o prédio do Banco da China, um edifício que já foi o maior da ilha e que é um marco da arquitetura. Este arranha céu, hoje pequeno, fazia parte de meu imaginário quando eu era criança. Fiquei um tempão admirando ele por baixo, era realmente surreal estar ali.

Prédio do Banco da China.

Minha barriga, no entanto, não me deixou ficar mais tempo e desci até a avenida Queensway onde peguei um bonde, daqueles de 2 andares igual ao de Londres, e fui em direção à Causeway Bay, que é um centro comercial da ilha, onde acabei comendo em um KFC (para decepção de quem achou que iria comer algo local).

Passei o resto do dia andando pela Hennessy Road, até me cansar e tomar um metrô (bem caro por sinal) de volta à Kowloon.

Fui dormir relativamente cedo, pois no dia seguinte precisei acordar às 4:30 da manhã para chegar cedo no aeroporto.

Fui à pé pela Nathan street esvaziada até a estação do expresso do aeroporto, onde dá para fazer o checkin antes mesmo de chegar lá. O trem é de ultra velocidade e mesmo a distancia sendo longa, cheguei bem cedo lá, a tempo de, novamente, tomar um Mc Café e depois partir para Shangai.
Fiz uma conexão no gigantesco aeroporto de Pudong, para chegar tarde de noite em Chengdu, dormir no saguão e tomar outro voo para Kathmandu.

Na capital nepalesa tive um dia para arrumar minhas malas e no dia seguinte voei para Dubai e enfim São Paulo, dando fim à esta interessante experiência asiática.


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