:: Acompanhe esta viagem desde o começo
Mais uma viagem de trem bala. Desta vez entre Xiamen e Hong
Kong, cerca de 700 km em apenas 4 horas!
A manhã está tranquila. Tomo um café da manhã na estação de
trem e no horário vou até o portão que está pouco movimentado. Adentro a
plataforma e logo no vagão.
O trem vai deixando a ilha para trás e ao entrar no
continente vamos cruzando por uma cidade imensa em construção. Vejo prédios e
mais prédios residenciais vazios. As ruas já estão prontas e há até parques,
com brinquedos para crianças recém construídos. As árvores, plantadas adultas,
são escoradas por cordas e os gramados ainda estão quadriculados, pois acabaram
de ser plantados.
Assim é a China, cria-se cidades gigantes do zero. Viajo
apenas curtindo a paisagem.
Em pouco tempo chegamos em Shenzen, que é uma metrópole
colada na divisa com Hong Kong. Ex colonia britânica, Hong Kong foi devolvida
para a China no ano de 1997. Não faz muito tempo e me lembro bem de quando isso
aconteceu. Naquela época, a gente ainda achava que a China era um país pobre e
Hong Kong era um simbolo de modernidade com seus arranha céus. Nesta viagem,
pude ver que o resto da China se igualou ou ultrapassou Hong Kong daquela
época.
O trem parou na estação de Shenzen, deixou alguns passageiros
e depois rumou de volta até entrar num túnel. São mais de 30 km que o trem
percorre por baixo da terra e inclusive a estação é subterrânea, tipo um metrô.
Assim que sai da migração e cheguei na estação já aproveitei
para trocar dólares de Hong Kong. Sim, este território tem moeda própria
(impresso pelo HSBC, que significa Hong Kong Shangai Bank Company), tem código
de telefone próprio e até mesmo simbolo de internet próprio. Só não carimbam
seu passaporte.
Quando saí da estação subterrânea e cheguei na superfície,
estava desorientado. Não sabia de onde tinha vindo e qual era a direção do
centro de Kowloon, onde estava o hostel que eu havia reservado. Tive que andar
aleatório até o mapa do meu celular também se orientar para eu pegar o caminho
certo. Como estava em um novo país, meu chip de celular chinês não funcionava,
mas ainda bem que eu tinha feito download dos mapas do google, assim naveguei
off line até chegar no Hostel, que fica na rua mais famosa de Kowlong, a Nathan
Street.
A primeira impressão que tive de Hong Kong foi como se eu
estivesse em São Paulo, pois as duas cidades são parecidas. São duas selvas de
pedra, cheias de edifícios, muita correria, transito e pouca organização.
Meu hostel ficava num edifício gigante, onde haviam vários
hostels e hotéis. O térreo era um shopping do tipo galeria Pajé, cheio de
indianos e paquistaneses e bugigangas. Tive dificuldade de encontrar o elevador
que tinha que tomar para chegar no andar do Hostel, mas pelo menos em Hong Kong
todo mundo fala inglês e assim consegui obter informações.
O hostel era bem simples. Tinha paredes com azulejos brancos
e parecia uma lavanderia. Eu tinha um quarto só meu, mas ele era minusculo, só
cabia a cama e minha mochila tinha que ficar embaixo dela. Ainda que tinha ar
condicionado, pois Hong Kong faz calor! Deixei as coisas no quarto e fui dar
umas bandas.
A primeira coisa que fiz fui fazer foi conhecer a Victoria
Harbor e poder ver da costaneira a ilha de Hong Kong, onde estão os arranha
céus mais famosos.
Victoria Harbour |
A maior dificuldade foi conseguir atravessar a Salisburry
Road. Dos dois lados da rua tem cerca e na esquina tem placas para usarmos a
passagem subterrânea do metrô. No entanto, a passagem não é tão simples como da
avenida paulista. Os túneis fazem curva e dentro há verdadeiros shopping’s
centers. Você anda, anda e não acha a saída do outro lado da rua. Decido então
voltar para a superfície e ficar esperando o sinal fechar para atravessar a rua
a pé.
O trabalho foi recompensado para ver uma das paisagens
urbanas mais famosas do mundo, a qual desde criança tinha curiosidade de
conhecer: Uma Inglaterra na China!
A torre do relógio, resquício da antiga estação de trem inglesa de Kowloon. |
Após admirar a visão, passo pelo pier e vou em direção ao um
shopping onde encontro um pátio de alimentação. Dentre as várias opções, a que
mais me apetece é um restaurante japonês. Aqui no Brasil restaurante japonês é
caro, mas em Hong Kong tudo é caro, então tanto faz.. Gastei uns 150 reais! Em
Curitiba pago menos da metade pelo menos prato. Mas ok, Hong Kong é caro mesmo.
Passei a noite andando por kowloon, visitando feirinhas,
vielas e locais mais populares. No bairro há várias ruas de restaurantes com
muita vida noturna e cultura. Volto para o Hotel cansado de tanto andar.
Ruas de Kowloon à noite. |
Ruas populares de Kowloon à noite. |
Nathan Street à noite. |
Vista da Ilha de Hong Kong à noite. |
O próximo dia, domingo, seria destinado inteiro para passear
pela cidade. No entanto, não consigo acordar tão cedo quanto desejo devido ao
cansaço acumulado dos dias anteriores. Saio às pressas na rua às 11 da manhã
para conhecer o máximo possível.
Na direção ao pier para atravessar o canal de Victoria, paro
num Mc Donald’s para tomar um Mc Café. Havia prometido não comer comida
ocidental na China, mas como Hong Kong não é China e lás os preços estão mais
para Suíça, acabo me rendendo exatamente por ser barato e ter café. Nestes
meses de viagem, tanto no Nepal, quanto na China, senti muita falta de nosso
delicioso cafezinho.
Com o estomago forrado, pego um barco que atravessa o canal,
deixando a península de Kowloon para trás em direção à ilha de Hong Kong. Até o
final da década de 1990 Kowlong era uma área mais residencial com prédios
baixos. Isso por conta do aeroporto antigo da cidade, que obrigava os aviões a
darem verdadeiros rasantes na cidade. Com a inauguração de um novo aeroporto,
numa ilha mais distante, a lei foi alterada e hoje o prédio mais alto da cidade
está em Kowloon, o International Commerce Center, que fica aliás ao lado da
estação de trem.
Atravessando a baia de Vitória de ferry |
O International Commercial Center (ICC), prédio mais alto de Hong Kong. |
Do outro lado do canal, estão alguns dos prédios que já
estiveram entre os mais altos do mundo, mas agora perderam o status devido à
construção de outros arranha céus em outras cidades asiáticas. E é no centro
onde estão estes edifícios onde vou parar quando desembarco na ilha.
O centro financeiro de Hong Kong é muito bonito e futurista.
Como é domingo, suas ruas estão parcialmente fechadas e há muita gente fazendo
pic nic, como se estivessem em um parque. Acho este costume um tanto estranho,
pois eles não apenas fazem lanche, como há gente fazendo karaokê, outro
imitando desfile de moda. Na maioria são pessoas asiáticas, mas no meio há
alguns ocidentais. São misturas de Hong Kong.
Centro financeiro de Hong Kong |
Bondes ingleses de Hong Kong. |
Não perco tempo para ir direto onde queria ir: O mirante do
Pico Vitória, acessado por um tipo de bondinho que tem uma fila imensa. Fazer o
quê? Paciência...
A fila leva um tempão, até que chega minha vez para subir.
Obviamente pagando uma taxinha não muito barata. O bondinho é bem turistão. Ele
é antigo, talvez para a época quando foi construído, começo de 1900, fosse uma
tecnologia avançado. Hoje é mais histórico do que qualquer coisa.
No topo do morro, no entanto, há um edifício super moderno
que é um tipo de shopping center com vista panorâmica. Passo um tempão lá
apenas admirando a vista e procurando pelos picos de escalada em rocha da
cidade. Como Rio de Janeiro, Hong Kong é uma cidade litorânea cheia de
montanhas e point’s de escalada. Claro que estes points são muito menos bonitos
que no Rio, mas a vista deles para a cidade é incrível. Um deles, o Central
Crag, fica bem abaixo do Pico Vitória.
Visu do mirante do Pico Vitória |
Mirante por dentro. |
Já estou com bastante fome, mas as opções do shopping do
mirante não me atraem por causa do preço. Decido então descer o bondinho e
voltar para o centro para procurar algo para comer.
Logo quando chego na baixada, dou de cara com o prédio do
Banco da China, um edifício que já foi o maior da ilha e que é um marco da
arquitetura. Este arranha céu, hoje pequeno, fazia parte de meu imaginário
quando eu era criança. Fiquei um tempão admirando ele por baixo, era realmente
surreal estar ali.
Prédio do Banco da China. |
Minha barriga, no entanto, não me deixou ficar mais tempo e
desci até a avenida Queensway onde peguei um bonde, daqueles de 2 andares igual
ao de Londres, e fui em direção à Causeway Bay, que é um centro comercial da
ilha, onde acabei comendo em um KFC (para decepção de quem achou que iria comer
algo local).
Passei o resto do dia andando pela Hennessy Road, até me
cansar e tomar um metrô (bem caro por sinal) de volta à Kowloon.
Fui dormir relativamente cedo, pois no dia seguinte precisei
acordar às 4:30 da manhã para chegar cedo no aeroporto.
Fui à pé pela Nathan street esvaziada até a estação do
expresso do aeroporto, onde dá para fazer o checkin antes mesmo de chegar lá. O
trem é de ultra velocidade e mesmo a distancia sendo longa, cheguei bem cedo
lá, a tempo de, novamente, tomar um Mc Café e depois partir para Shangai.
Fiz uma conexão no gigantesco aeroporto de Pudong, para
chegar tarde de noite em Chengdu, dormir no saguão e tomar outro voo para
Kathmandu.
Na capital nepalesa tive um dia para arrumar minhas malas e
no dia seguinte voei para Dubai e enfim São Paulo, dando fim à esta
interessante experiência asiática.